quarta-feira, 26 de novembro de 2014

RIGOLETTO, Coliseu do Porto, Novembro de 2014





 Mais uma contribuição de José António Miranda que muito enriquece o blogue e que, mais uma vez, agradecemos ao autor o magnífico contributo.

Rigoletto de Guiseppe Verdi é uma opera em três actos com libreto de  Francesco Maria Piave, segundo Le roi s’amuse de Victor Hugo

Direcção musical: José Ferreira Lobo
Encenação: Giulio Ciabatti
Cenografia: Platon Bardhi
Roupas: Carla Soveral e Berta Cardoso
Luzes: Platon Bardhi
Coreografia: Cátia Esteves
O Duque de Mântua: Sang-Jun Lee
Rigoletto: Luís Rodrigues
Gilda: Cristiana Oliveira
Sparafucile: Rui Silva
Maddalena: Cátia Moreso
O Conde Monterone: Pedro Telles
Marullo: Diogo Oliveira
Borsa: Samuel Vieira
O Conde de Ceprano: João Oliveira
A Condessa de Ceprano: Sara Cruz
Giovanna: Leila Moreso
Guarda: Tomé Santos
Pagem: Ana Isabel Santos
Orquestra do Norte
Coro da Orquestra do Norte
Produção: AACP

Uma oportunidade de ver em papeis principais alguns dos cantores nacionais que em Lisboa surgem frequentemente em papeis secundários, e julgar.

E ao mesmo tempo uma oportunidade de ver como se concretiza hoje o esforço dos que, no Porto, têm persistido teimosamente em manter viva a chama da ópera.


Quanto ao segundo ponto, no conjunto o espectáculo ultrapassou aquilo que seria de esperar num teatro de província sem tradição de apresentar ópera. Mas a ultrapassagem foi pela tangente, e a diferença principal estará sobretudo na questão da tradição, que embora seja reduzida no Porto, existe.

A minha escassíssima experiência na Coruña mostra uma realidade infinitamente mais reconfortante, e surpreendeu-me por isso ver que no público do Coliseu havia um notável número de galegos.

A encenação de Giulio Ciabatti teve duas características principais. Em primeiro lugar trata-se de uma proposta de um total convencionalismo, sem qualquer intuito de nos fazer minimamente entrar no drama, para além da escolha da actualidade (?)  como contexto cénico. Mesmo assim alguns pormenores, como os jornais en inglês (News) manuseados pelos elementos do coro nas cenas de corte, ou o chapéu tricórnio dourado envergado por vezes pelo bobo parecem gratuitos ou no mínimo fora de contexto, dada a opção realista escolhida. E depois, a completa ausência de um trabalho dramatúrgico é óbvia. Os cantores, os figurantes, as bailarinas, todos deambulam pelo vasto palco claramente seguindo as marcações atribuídas, e visivelmente preocupados com isso… e nada mais.

O resultado é um espectáculo de grande monotonia dramática. Os personagens são claras ficções teatrais, plácidas mesmo quando, como por vezes acontece com a Gilda de Cristiana Oliveira, ultrapassam a fase de figuras inertes cantando. Cenografia e luzes acompanham na indigência a encenação.


Quanto aos cantores, a melhor prestação coube a Pedro Telles (Monterone), que aparentemente poderia com vantagem ter sido o Rigoletto da noite.

Luís Rodrigues, talvez por excesso de nervosismo, mostrou muita dificuldade na respiração e cantou quase sempre em esforço, com terríveis consequências ao nível da extensão, dimensão (muitas vezes inaudível), fraseado, e mesmo por vezes timbre vocal.

Cristiana Oliveira fez uma Gilda quase perfeita, sendo deste vez evidente a melhoria no registo agudo, em que raramente foi estridente.

O Duque (Sang-Jun Lee) foi como um toro de madeira a cantar, apesar do timbre bonito. Raramente assisti a uma La donna e mobile sem palmas, e aqui isso aconteceu.

Nos restantes papéis apreciei o desempenho vocal de Cátia Moreso.

A direcção de José Ferreira Lobo foi muito deficiente, com frequentes desacertos com os cantores, completa inoperância com o coro, e grande dificuldade em controlar o entusiasmo da orquestra.

Esta orquestra, aparentemente sem treino de ópera, parece muito incipiente enquanto formação de conjunto. O mesmo problema afecta aparentemente o coro. Gostaria de os ver noutro contexto para poder julgar melhor.
José António Miranda

2 comentários:

  1. É muito triste, já nem lá vou, o provincianismo, amadorismo e mau gosto reinam e a sala do Coliseu é péssima de acústica.

    Há muitos anos fui ao Teatro Principal de Ourense assistir a um Dido e Eneias. É uma cidadae pequena mas... que diferença ! A orquestra era reduzida ao mínimo, uma orquestra de câmara, fácil de manter afinada e a bom ritmo. Tocava a um canto do palco, junto ao cenário ! A encenação também era mínima, recorria a luzes e sombras e panejamentos caídos ou a esvoaçar. Lindo ! e sobretudo digno. E ninguém cantava verdadeiramente mal.

    No Coliseu, é sempre a mania das grandezas, para redundar em total miséria.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "Mania das grandezas, para redundar em total miséria" tantas vezes...

      Eliminar