Dando sequência a temporada de óperas
o Theatro Municipal de São Paulo
apresentou no dia 18 de Outubro de 2014 a dobradinha mais famosa da
ópera: Cavalleria Rusticana e I Pagliacci.
Ambas sucesso em todo mundo e por serem curtas são apresentadas na mesma noite.
Representantes máximas do verismo, gênero do final do século XIX que trás o
povão para ópera. Uma das características principais do movimento é o realismo
exacerbado, descreve a vida cotidiana com nuances sanguinárias mostrando a
realidade nua e crua no palco. Desaparecem as rainhas e nobres e gente simples
e comum do povão dão vida aos personagens.
Apresentada ano passado ao lado da
ópera Jupyra a Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni reprisada faz uma
transposição temporal para o século XX com mafiosos parecidos com capangas de
Al Capone. A idéia de mudar o período histórico para os anos 30 é uma solução
que não prejudica o enredo. Os cenários, figurinos e luz dialogam com essa
transformação e se harmonizam com a concepção do diretor cênico Pier Francesco Maestrini.
Para encarar a Santuzza convocaram Tuija Knihtlä, o soprano apresentou voz
consistente com agudos e médios escuros e uma interpretação cênica convincente.
Grande cantora com excelentes qualidades vocais e cênicas. O tenor Giancarlo Monsalve esteve aquém do
personagem Turiddu. Voz fechada com agudos sem brilho, procura o conforto na
região média e o timbre se mostra sem vigor e ocre. Tenor sem condição técnica
para se apresentar no palco do municipal que recebeu vaias por pequena parte do
público ao final da apresentação. Alberto
Gazale é barítono de bons graves, cantou com dignidade e fez um bom Alfio. Luciana Bueno como Lola esbanjou
qualidade vocal em sua pequena participação, todo o caráter da personagem que
aceita trair o marido foi mostrado com uma voz escura e um timbre penetrante.
A estreante I Pagliacci de
Ruggero Leoncavallo teve direção
cênica William Pereira, o diretor
optou por carregar nas tintas, encheu o palco de tudo. Solistas, figurantes,
coristas e cenários lotaram o espaço cênico e instalaram uma confusão
generalizada. A exibição de um vídeo transmitindo a cena ao vivo é um recurso
manjado que poluí o cenário. Os cantores atuaram de forma coerente com o
enredo. A transposição da ópera para os anos 80, em uma periferia de uma grande
cidade não acrescenta nada de novo ou revolucionário.
Walter Fraccaro
cantou com força vocal, seu Canio é todo drama do início ao fim. Atuação correta
e voz de tenor condizente com o personagem. Inva Mula trouxe ao palco do Municipal excelentes agudos,
explorou-os com potência e grande volume. O barítono Alberto Gazale fez um Tonio mediano, que não chega a emocionar
embora não comprometa a apresentação. Davide
Luciano e Daniele Zanfardino
cantaram de forma satisfatória os personagens Silvio e Beppe.
A Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo regida por Ira Levin apresentou precisão rítmica
em uma interpretação com brilho e volume correto em ambos os títulos.
Andamentos que acompanham os cantores e volume que respeita a linha vocal foram
a tônica de toda a apresentação. Ira Levin já foi diretor do Theatro Municipal
de São Paulo e além de um excelente pianista é um regente que entende os
meandros da ópera. O Coro lírico Municipal de São Paulo mostrou uniformidade
entre os naipes e conseguiu transmitir as emoções que os dois títulos
apresentam.
Cavalleria
Rusticana e I Pagliacci são óperas apresentadas
de diversas formas pelos teatros do mundo e de todos os modos ambas têm a
capacidade de deixar o espectador tenso. Transmitem uma dramaticidade que
perturba os sentidos levando muitos as lágrimas. Um amigo que assistiu as
óperas pela primeira vez sai do teatro com os olhos marejados, diz que I
Pagliacci provocou nele uma emoção que afeta os sentidos. Por isso amo a arte, por isso amo a ópera.
Ela tem a capacidade de nos transportar a outra dimensão, quem é tocado e tem
sensibilidade artística sente na pele o drama vivido por Santuzza e por
Nedda.
Ali Hassan Ayache
Fonte:http://operaeballet.blogspot.pt/2014/10/cavalleria-rusticana-i-pagliacci.html
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