CARMEN, O SOBRENATURAL DE ALMEIDA E O CONSELHEIRO ACÁCIO NO
THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA EBALLET.
O TMSP escala dois elencos para suas apresentações, em
teatros pelo mundo esses elencos se alternam nas apresentações, no nosso teatro
eles se alternam nas primeiras récitas e depois se misturam mostrando diversas
combinações de elencos, algumas interessantes e outras sem a menor sintonia.
Essas combinações mostraram que o Sobrenatural de Almeida entrou no palco.
O primeiro a surpreender foi o tenor Fernando Portari, cantor tarimbado com interessante carreira
internacional. No dia 10 de Junho seu Don José se mostrou cenicamente
impecável, desfilou emoções a rodo, humanizou o personagem exibindo seu lado
sentimental. O problema do Portari foi vocal, fugiu dos agudos o tempo todo,
sua voz se apresentou sem brilho e muitas vezes tendendo para a rouquidão.
Abusou dos pianíssimos tentando compensar a falta de agudos. Seu francês é de
excelente qualidade e nos diálogos foi o melhor da trupe. Um grande tenor em
uma noite infeliz, acontece com qualquer um. Olha o Sobrenatural de Almeida ai!
Cena de Carmen com
Luisa Francesconi e Fernando Portari, divulgação/Sheila Guimarães.
A soprano chilena Andrea
Aguilar fez uma Micaëla ingênua e apaixonada, em suas intervenções sua voz
esteve lírica, melódica e leve. Agudos claros com projeção que enche o teatro,
conseguiu expressividade na ária Je dis que rien ne m'épouvante . Uma cantora
correta com bons dotes vocais. Nem toda a pureza vocal e cênica da jovem
comoveu Don José, o amor pela cigana Carmen falou mais alto.
David Marcondes
encarnou o toureiro Escamillo, papel de barítono que tem mostrar bravura, força
vocal e cênica. Marcondes pecou no fraseado, sua voz esteve travada e seus
graves opacos. Conseguiu emprestar dignidade cênica ao personagem, mas nada que
empolgasse.
Luisa Francesconi,
o que dizer desse mezzo-soprano. Fiquei meio ressabiado quando vi que ela foi
escalada para essa ópera, tinha outra cantora em mente. Já a conhecia pelo Werther
do Theatro São Pedro e sabia que era uma grande cantora, mas Carmen é Carmen e
o Municipal é bem maior que o São Pedro. A bela jovem (pode colocar bela nisso)
mostrou ser uma Carmen empolgante em todos os quesitos. Cenicamente fez sua
personagem ousada e sensual, daquelas com capacidade de seduzir até um monge
tibetano. Mostrou-se sempre à vontade no palco com um bom francês nas partes
faladas e cantadas, sua dicção prima pela qualidade. Sedutora quando necessário
e dramática na medida certa no terceiro e quarto ato. Vocalmente esteve
excelente em todos os registros: Agudos limpos e graves fortes e sólidos em um
timbre de grande beleza. Mostrou personalidade e impôs seu estilo para a
personagem com gestos e expressões na medida, Francesconi compreende as necessidades
da Carmen e a interpreta na medida certa. Fiquei de queixo caído com a moça.
Olha o Sobrenatural de Almeida de novo ai!
Cena Carmen, foto
Internet.
Vinícius Atique
fez um Moralès com voz consistente, barítono que evolui a cada apresentação e
que deveria ter se apresentado em todas as récitas. Lembro aos leitores que sua
participação na ópera é pequena e não vejo a necessidade de um cantor de fora
dividir com ele o papel.
O clima no Theatro Municipal de São Paulo esteve leve nas
récitas da Carmen, do mais humilde funcionário ao mais graduado solista estavam
relaxados e trabalhando felizes. O motivo de tanta alegria é que o diretor da
casa John Neschling esteve na Europa nesse período. Lembro que John disse a
revista Veja São Paulo que o Parque do Ibirapuera cheira a xixi, sabemos que
ele ama o velho continente. Em um texto de sua autoria no Facebook ele escreve
sobre literatura, ele já escreveu sobre psicanálise, fez uma crítica da Carmen
que ele mesmo produziu e agora pensa que é crítico literário. Estranho para
quem defende que cada um fique restrito a sua área de estudo, virou o
Conselheiro Acácio.
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