AIDA, MONUMENTAL ÓPERA? CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOGDE ÓPERA E BALLET.
(Mais uma vez apresentamos, na íntegra, um texto de Ali Hassan Ayache que, como habitualmente, agradecemos)
A Grand-Opera é um gênero que se caracteriza pelo exagero.
Tudo é monumental nesse estilo nascido na frança na primeira metade do século
XIX e suas principais características são: Temas históricos em lugares
exóticos, grandes massas corais, orquestras enormes, efeitos cênicos de
arrasar, cenários e figurinos repletos de luxo e extravagância, grandes
elencos, quatro ou cinco longos atos e a presença obrigatória do balé.
Giuseppe Verdi já
tinha se aventurado no gênero quando compôs I Vespri Siciliani , relutou em
compor uma ópera em homenagem à nova Casa de Ópera da cidade do Cairo a pedido
do soberano Ismail Paxá. Uma bolada em grana e um pouco de conversa fiada
fizeram Verdi aceitar a empreitada, assim nasce Aida, com todas as características da Grand-Opera francesa e um dos
maiores sucessos verdianos.
Título que rodou o mundo e agora aporta em São Paulo para
abrir a temporada de óperas. Noite de teatro lotado e tensão no ar, no saguão
uma abundância enorme de fotógrafos e a Guarda Civil Metropolitana em traje de
gala.
A produção do Teatro
Municipal de São Paulo apresentada no último dia 09 de Agosto é de uma Aida
menos monumental e mais intimista. Os cenários de Italo Grassi não são grandiosos e sim simples e funcionais.
Transportam para o Egito antigo com cores e desenhos característicos da época.
Cumprem muito bem seu papel e não pecam pelo exagero. Os figurinos de Simona Morresi seguem a mesma
tendência, com roupas simples e cores contrastantes conseguem levar o
espectador ao Egito Antigo. O que destoa de tudo isso é um dançarino vestido
como um personagem do filme Avatar, totalmente fora do contexto. A luz de Virginio Levrio interage com cenários e
figurinos e cria efeitos interessantes, abusa do contraste claro e escuro, cria
um clima interessante que realça o palco cênico.
Cena da ópera
Aida, TMSP, foto Internet
A Orquestra Sinfônica
Municipal de São Paulo regida por John
Neschling apresentou bela musicalidade, andamentos corretos e sonoridade
com bom volume. Orquestra que vem mostrando evolução a cada apresentação nas
mãos do regente. O coral lírico mostrou espetacular desempenho, alguns
desencontros entre as vozes não prejudicaram o todo. Vozes potentes e com as
características do canto italiano. O Balé da Cidade de São Paulo dançou
coreografias interessantes e adequadas à ideia do libreto. Dessa vez ninguém
deu nenhuma cambalhota.
A direção de cena de Marco
Gandini opta pela simplicidade, visão que louva o amor e mostra a tortura
de personagens divididos e apaixonados. Mais importante que a guerra ou o
Estado é o ser humano que prevalece e é o mais importante. Acaba com o
monumental da ópera, tira a grandeza dela em troca do intimismo. A movimentação
dos cantores é econômica, as massas corais e de prisioneiros não fazem
estripulias no palco e os gestos e as expressões dos solistas se mostram
satisfatórias.
Maria Jose Siri,
Foto Internet
Os solistas estiveram a contento, Maria Jose Siri interpreta Aida com bela voz, timbre escuro e
profundo. Dominadora de uma bela técnica vocal com emissão de notas de grande
qualidade em todos os registros. Voz com enorme projeção, que enche o teatro e
encanta pela luminosidade. Sua interpretação cênica mostra os estados da alma
da personagem, dividida entre o amor e a pátria. O Radamés de Gregory Kunde tem fartos agudos e briga
com os graves, a carência deles é nítida em diversas passagens. Consegue
luminosidade em seus agudos e com eles se destaca. Cenicamente razoável
conseguiu passar longe da nota Si no final da ária Celeste Aida.
Tuija Knihtlä faz
uma Amneris com voz possante munida de graves em abundância, belo fraseado e atuação
cênica convincente. O barítono Anthony
Michaels-Moore encara um Amonasro de forma mediana, falta uma pegada nos
graves. Quem mandou muito bem foi o baixo Luiz-Ottavio
Faria, seu Ramphis tem graves portentosos, fartos e pujantes.
O programa entregue ao público é de excepcional qualidade,
informativo, com entrevista do diretor de cena, melhores gravações e todo o
libreto na língua original e traduzido para o português. Como sempre pessoas
chegaram atrasadas e entraram após o início e alguns tiraram fotos, uma que
estava próximo a mim se esbaldou com a câmera profissional.
Não sei se o autor da crítica acede a este espaço, mas fiquei algo curioso com uma afirmação que fez quando caracterizou a prestação do tenor que cantou o papel de Radamés: disse que conseguiu passar longe da nota Si no final da ária Celeste Aida.
ResponderEliminarTendo em conta que o Si b é precisamente a nota da última palavra da romaza, fiquei sem perceber o que se passou de facto.
É certo que muitas soluções têm sido adoptadas pelos diversos tenores que cantam o papel, em virtude de o que Verdi escreveu ser (penso eu) virtualmente impossíve de cantar. Desde o terminar em fortissimo, o recorrer ao falsetto, ao descer uma oitava, penso que já se ouviu de tudo. Mas mudar a nota, acho que nunca ouvi, a não ser que se transponha a romanza para outra tonalidade.
Cumprimentos,
J. Baptista
Hey,amigos
ResponderEliminarAlways correct and objective .
Abraço,Willy
Vi a Aida pela primeira vez no Coliseu. Mais tarde vi-a numa superprodução que se revelou pateta e infra, no Estádio Nacional. Não sei se foi esta má experiência o certo é que não aprecio a Aida, embora tenha gostado de a ouvir num Coliseu cheio de ecos (antes da correcção que fizeram). Porque o ouvi citar John Neschling, senti saudades da sua passagem pelo São Carlos.
ResponderEliminarI saw Aida for the first time last week, and I loved it! The week before, I saw La Traviata. My wife loved it, but I did not like the production so much.
ResponderEliminarWow! Kunde sang Radames? I'm curious. I have heard him only in Belcanto operas like Les huguenots and La donna del lago, and will hear him in La Straniera in Zürich coming October.
ResponderEliminarDon't forget "Don Carlo" tomorrow! You have no problem to get Arte-TV, do you?
Dear lotus-eater,
Eliminarthank you for reminding us about tomorrow´s Don Carlo. I hope we will be able to watch at Arte-TV.
Ótima crônica!
ResponderEliminarSempre mantendo a qualidade e despertando o interesse pela arte.
Um grande abraço