Nabucco é uma das
primeiras óperas de Verdi, com
libretto de Temistocle Solera, que
conta a história do rei Nabucodonosor da Babilónia. Foi o primeiro grande êxito
do compositor, estreado durante a ocupação austríaca do norte da Itália. O
famoso coro dos escravos hebreus Va, pensiero, sull'ali dorate tornou-se
um hino do nacionalismo italiano.
Desta vez vou falar menos da ópera e mais da vivência que
tive em Tóquio.
O New National
Theatre faz parte do Opera Palace
da cidade, uma construção muito recente, moderna e de uma beleza de cortar a
respiração. A arquitectura é belíssima, o espaço de uma harmonia formidável,
com lagos entrecortados por estruturas de pedra criando um ambiente repousante
e de um impacto visual marcante.
O teatro é uma das muitas salas existentes no complexo, tem
uma entrada ampla e magnífica e é de grandes dimensões. Tudo está
imaculadamente limpo e arranjado, a decoração é sóbria, a funcionalidade inexcedível
e o conforto assinalável.
Imediatamente antes do início do espectáculo há os habituais
avisos sobre a proibição de tirar fotografias ou fazer gravações durante o
espectáculo. Mas nestes há sempre aspectos interessantes (sobre os quais, um
dia mais tarde, escreverei algo). Desta vez, em japonês e em inglês, também se
pede às pessoas para não se inclinarem para a frente porque perturbam a visibilidade
de quem está sentado atrás e informa-se que, em caso de sismo, deveremos
permanecer sentados até nos indicarem uma saída em segurança, dado que o
edifício foi construído com a mais avançada tecnologia anti-sísmica.
Sendo o povo japonês talvez aquele que, no mundo, mais gosta
de tirar fotografias, ninguém o fez dentro do teatro e sempre que tentei
registar fotograficamente, para memória futura, alguns dos momentos
inesquecíveis para mim desta experiência única, fui imediatamente convidado,
com toda a correcção, a não fotografar. Por isto a escassez de imagens.
E passo já a comentar a postura dos japoneses. São o povo
mais cortês e educado que conheci até hoje! No dia a dia não há ninguém que não
tente ajudar empenhadamente, apesar da barreira da língua. Só vindo ao Japão se
consegue apreciar a dignidade e respeito com que tratam os estrangeiros (e
entre si). Há uma influência significativa do ocidente, sobretudo na imagem
corporal e vestuário, mas a essência da cultura oriental nipónica é constante e
impressionante. A sensação de segurança é absoluta e, no mar de gente que
circula por Tóquio, a ordem e respeito pelos outros não são frequentes, são a
única forma de estar!
Em relação ao espectáculo em si, diria que o “eurotrash”
chegou em força a Tóquio. A encenação do inglês Graham Vick é horrorosa. Do pior que já vi. O cenário é rico, toda
a acção se passa dentro de um moderníssimo centro comercial actual com vários
andares e escadas rolantes entre eles. Os hebreus são os sofisticados visitantes
e compradores, e os assírios um grupo de assaltantes mal vestidos com cabeças
de porco, máscaras dos “anonymous” ou outras, que tudo saqueiam e destroem. E é
assim até ao fim do espectáculo. Um nojo!
Pelo contrário, a música foi de elevada qualidade. A
direcção musical esteve a cargo do maestro Paolo
Carignari. A Tokyo Philarmonic
Orchestra foi grande e competente e o New
National Theatre Chorus foi absolutamente excepcional.
Também os solistas tiveram interpretações notáveis. O
barítono Lucio Gallo fez um Nabucco
vocalmente muito aceitável, bem audível e expressivo, o mezzo Mariane Coretti foi a melhor da noite
na Abigaille pérfida que nos ofereceu. A cantora tem uma voz enorme e soube
utilizá-la de forma superior, cativando sempre em todas as intervenções. Também
o baixo Konstantin Gorny foi um
Zacharia competente, com um timbre muito interessante e um registo grave
assinalável. Os cantores japoneses foram excelentes, nomeadamente o tenor Higuchi Tatsuya como Ismael e o mezzo Taniguchi Mutsumi como Fenena. Nos
papéis secundários foram também muito bem o soprano Ando Fumiko como Anna, o tenor Uchiyama
Shingo como Abdallo e o baixo Tsumaya
Hidekazu como Grande Sacerdote.
O público manteve-se totalmente silencioso durante o
espectáculo. Não se ouviu uma tosse ou qualquer outro ruído, apenas os
aplausos, calorosos, mas sempre só depois de a música terminar.
Apesar da encenação abjecta, foi uma noite que não
esquecerei.
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Nabucco,
New National Theater, Tokyo, June 2013
Nabucco is one of the first operas
by Verdi, with libretto by Temistocle Solera, which tells the
story of King Nabucco of Babylon. It was the first great success of the
composer because it was released during the Austrian occupation of northern Italy.
The famous chorus of the Hebrew slaves Va,
pensiero, sull'ali dorate became an anthem of Italian nationalism.
This time I will talk less on the opera and more of the experience I had in Tokyo.
The New National Theatre is part of
the city Opera Palace, a very recent, modern construction
of breathtaking beauty. The architecture is beautiful, the place is of a
formidable harmony with lakes interspersed with stone structures creating a
relaxing environment and a striking visual impact.
The theater is one of the many existing rooms in the complex, and has a wide magnificent
and large entrance. Everything is immaculately clean and organized, the decor
is sober, of unsurpassed functionality and remarkable comfort.
Immediately before the start of the performance we heard the usual warnings
about the prohibition to take photographs or make recordings during the
performance. But there are always interesting aspects on these warnings (on
which, later on, I will write something). This time, in Japanese and in
English, they also urged people not to lean forward because they disrupt the
visibility of who is sitting back and inform that, in case of earthquake, we
should remain seated until we were indicated a way out in safety, since the
building was built with the most advanced technology against earthquakes.
The Japanese people are, perhaps, those in the world who like more to take
photographs, but nobody did it within the theatre. When I tried to take some
for future memory of the unforgettable moments for me during this unique
experience, and for this blog, I was immediately invited not to do it, in the
most polite way. Hence the lack of pictures in this post.
And I now comment on the the Japanese public. This people is the most courteous
and polite I met until today! On day by day there is none that does not try to
help assiduously, despite the language barrier. Just when we are in Japan we can
appreciate the dignity and respect with which they treat foreigners (and each
other). There is a significant influence of the West, especially in body image
and clothing, but the essence of oriental japsnese culture is constant and
impressive.
The feeling
of safety is absolute, and the constant characteristics of the thousands of people flowing through Tokyo are sympathy,
order, discipline and respect for others!
Regarding the performance, I would saythe that
"Eurotrash" arrived in full to Tokyo. The staging by English director
Graham Vick is horrible. The worst
I've seen. The scenery is
rich, the action happens inside a modern shopping mall with several floors with
escalators between them. The Hebrews are sophisticated buyers and visitors, and
the Assyrians a group of robbers dressed in evil pig heads, masks of "anonymous"
or similar. They plunder and destroy everything. And i tis so until the end of
the performance. Disgusting!
In contrast, the music was of high quality. Musical director was conductor Paolo Carignari. The Tokyo Philharmonic Orchestra was great
and competent and the New National Theatre Chorus was
absolutely exceptional.
Also the soloists gave
outstanding interpretations. The baritone Lucio
Gallo was a vocally very acceptable, very audible and expressive Nabucco. Mezzo
Mariane Coretti was the best of the
night as the perfidious Abigaille. The singer has a big voice and knew how to
use it, always captivating in all interventions. Also the bass Konstantin Gorny was a competent Zacharia,
with a very interesting timbre and remarkable bass register. The Japanese singers
were excellent, especially tenor Tatsuya Higuchi as Ishmael and mezzo Taniguchi Mutsumi as Fenena. In
supporting roles also were well, soprano Ando Fumiko as Anna, tenor Shingo Uchiyama as Abdallo, and bass Tsumaya
Hidekazu as High Priest.
The public remained completely silent during the performance. A cough or any
other noise was not heard, just the warm applause, but always only after the
music ended.
Despite the abject staging, it was a night I will not forget.
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