domingo, 6 de novembro de 2011

SIEGFRIED – MetLive – Fundação Calouste Gulbenkian – 5 de Novembro 2011

(review in english below)

Robert Lepage e o MET continuam, em grande estilo, o ciclo do Anel do Nibelungo.

Hoje pudemos assistir ao Siegfried, até hoje, para mim, a menos estimulante das óperas que contituem a tetralogia.





A plataforma multiusos continua a sua capacidade imensa de caracterização, ao que se juntam impressionantes pormenores de cada personagem, como a impossível de passar despercebida lente de contacto negra no olho ausente de Wotan, o volumoso pergaminho que desenrola da sua lança, o boneco animado do gigante Fafner...




...o vestido de Erda, os óculos multioculares de Mime, a Notung iluminada reluzindo para um Siegfried que a acabou de forjar, o rio ficar com coloração avermelhada aquando da morte de Fafner, o fantástico pássaro que voa por todos os cantos da plataforma e inclusivamente pousa no colo e na mão de Siegfried, o passar de Siegfried pelas chamas do rochedo...



Não existem momentos de acção estática e a imensidão de detalhes do texto estão globalmente contemplados. Todas as personagens fluem em interpretação de um modo contínuo e com sentido, nenhum gesto está a mais ou a menos.

Gerhard Siegel fez a sua centésima interpretação de Mime e de um modo sublime! O seu sentido de comédia é exímio e, juntamente com o timbre perfeito para o papel, consegue uma caracterização global que nos cativa em todos os sentidos. Vemo-nos frequentemente a rir ou a esboçar um sorriso durante a sua interpretação.



Bryn Terfel esteve fabulástico! Talvez tenha sido a sua melhor interpretação se considerarmos juntamente com o Ouro do Reno e a Valquíria. A voz inconfundível e ao seu estilo pessoal, segura e envolvente. Conseguiu transmitir a gravidade, a sabedoria e a resignação da personagem do Viandante e assim alcançar a evolução perfeita da personagem de Wotan.

Deborah Voigt entrou muito bem e assim se manteve, notando-se uma química cénica com Siegfried que nos antevê um Crepúsculo dos Deuses cheio de emoções.

Eric Owens, embora menos cenicamente activo do que no Ouro do Reno e confiando mais na sua expressão facial, esteve muito bem como Alberich.

Hans-Peter König esteve com a habitual profundidade de baixo que o caracteriza, ao mais alto nível.

Patricia Bardon foi uma Erda eficaz, num fato impressionante.

Mojca Erdmann confirmou que é um passarinho novo na fama do mundo da ópera, em papel pequeno mas tão importante na evolução da obra.



Jay Hunter Morris foi a maior surpresa de hoje! O jovem cantor americano, numa modéstia verdadeira mas com uma grande força de carácter, misturada com um toque de incredibilidade pessoal e deslumbramento, acabou por construir, após 4 anos de estudo do papel, o melhor Siegfried a que já assisti. Na minha opinião, é a maior revelação wagneriana dos últimos anos e um heldentenor que vai conseguir vingar com facilidade neste papel. Tem boa aparência, consegue transmitir a inocência e ao mesmo tempo a força e confiança da personagem, através de uma caracterização física e vocal não ao alcance de todos. Sabe o que está a cantar, sente o que está a cantar e, acima de tudo, transmite-nos esse sentimento. O timbre, embora de início algo metalizado (não nos podemos esquecer que era meio-dia em Nova Iorque quando começou a cantar o papel de tenor talvez mais difícil do repertório operático), evoluiu para uma qualidade quente e envolvente, desculpando-se uma ou outra passagem em que os agudos parecem mais em esforço ou um pequeno catarro acompanha a emissão de som como no final do primeiro acto.



Jay Hunter Morris vive o sonho americano que qualquer artista gostaria de viver e, no seu sentido de generosidade, através da sua interpretação, vai-nos permitindo vivê-lo com ele.




Esta produção do Anel parece começar a tornar-se única não só pela inovação da encenação, mas também pela qualidade interpretativa e uma dupla direcção, com Fabio Luisi a suceder a James Levine. Este último facto não parece preocupar (e não deve) Peter Gelb, que já anunciou a edição em DVD do ciclo completo no Outono de 2012…


SIEGFRIED - MetLive - Calouste Gulbenkian Foundation - November 5, 2011

Robert Lepage and the MET continue, in great style, the cycle of the Ring of the Nibelung.




Today we could see Siegfried, to me and until now, the less exciting of the tetralogy operas.
The multiuse platform continues its enormous capacity for characterization, along with the impressive details of each character, as the impossible to go unnoticed black contact lens in Wotan’s lost eye, the massive unwinding scroll of his spear, the animated puppet of the giant Fafner...



...the Erda dress, the glasses of Mime, the bright shining Notung for a Siegfried that has just forgeg it, the river water becoming reddish with Fafner’s blood, the bird that flies to all corners of the platform and even sits on Siegfried’s lap and hand... There are not moments of static action and the multitude of details of the text are broadly contemplated. All the characters flow in a continuous mode of interpretation and meaning.



Gerhard Siegel made his hundredth interpretation of Mime and in a sublime way! His sense of comedy excels and together with the perfect pitch for the role, he can globally captivate us in every way. You often laugh or show a smile in the face during his interpretation.



Bryn Terfel was fabulous! Perhaps his best performance if we consider it along with the Das Rheingold and Die Walküre. The unmistakable voice and his personal style was present in a safe and clear way. He managed to convey the gravity, wisdom and resignation of the character of the Wandarer and thus achieve the perfect evolution of the character of Wotan.

Deborah Voigt started very well and kept it well, showing a great chemistry on stage with Siegfried, which foresees a Twilight of the Gods full of emotions.

Eric Owens, although scenically less active than in Das Rheingold and relying more on his facial expression, was a very good Alberich.

Hans-Peter König remained his usual deep bass voice, at his highest level.

Patricia Bardon was an effective Erda, with a superb dress.

Mojca Erdmann confirmed that she is a new bird in the world of Opera, in small but very important role in the evolution of the action.



Jay Hunter Morris was the biggest surprise today! The young American singer, with an honest modesty but with a great strength of character, mixed with a personal touch of disbelief and wonder, eventually constructed, after 4 years of study of the role, the best Siegfried I have ever seen. In my opinion, he is the greatest revelation in Wagner singers of the last years and a Heldentenor who will triumph with ease in this role. Good-looking, he manages to convey innocence and at the same time the strength of character and confidence through physical and vocal characterization in a way that few are capable of. He knows what he is singing, he feels what he is singing and, above all, he can transmit us that feeling. The tone, though at first somehow metallic (we cannot forget that it was noon in New York when he began to sing probably the hardest tenor role in the operatic repertoire), has evolved into a warm and enveloping quality, allowing, with no harm, one or another passage in which the high notes seemed in an effort way (despite audible and in good sound) and the phlegm that accompanied the voice at the end of the first act.



Jay Hunter Morris is living the American dream that any artist would like to live and, in his sense of generosity, through his interpretation, allows us to live it with him.




This production of the Ring threatens to become unique not only due to the innovating staging, but also due to the quality of the interpretations and a dual direction, with Fabio Luisi succeeding James Levine. The latter seems not to care (and it should not) Peter Gelb, who has announced the DVD edition of the complete cycle in the autumn of 2012...

12 comentários:

  1. Também tive o privilégio de assistir a este espectáculo na Gulbenkian e concordo com quase tudo o que o wagner_fanatic referiu.
    Para mim os cantores mais notáveis da récita foram Siegel (o melhor), Terfel, König e Owens. Também muito bem os restantes: Voigt, Morris, Erdmann e Brandon.
    Em relação à encenação, sou um admirador confesso de Lepage e da sua máquina. Uma estrutura moderna que consegue dar-nos uma encenação "clássica" de qualidade. Tenho apenas um pormenor negativo a assinalar (e discordante do wagner_fanatic) - o dragão pareceu-me excessivamente infantil, tendo em conta a complexidade e subtileza dos outros pormenores.
    A maior surpresa foi o tenor Jay Hunter Morris que não conhecia. Começou trémulo mas foi um Siegfried muito bom. Foi pena no último acto estar sempre a olhar para o maestro, o que quebrou a composição dramática da personagem. Contudo, face à sua interpretação, este foi apenas um pequeno pormenor negativo.
    Mais um espectáculo de grande qualidade que nos deixa antever um "Crepúsculo dos Deuses" inesquecível.

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  2. Amigos,

    Que récita memorável... as quase cinco horas de apresentação passaram rápidas...

    Fiquei impressionado com principalmente com a orquestra e com os detalhes da montagem. A estrutura é fantástica, a quantidade de efeitos que ela gera é surpreendente (não vi as duas montagens anteriores).

    Fiquei impressionado com o baixo americano que faz o Alberich. Até falando na entrevista ele impressiona.

    E achei a Mojica Erdmann hoje mais bonita como ela mesma do que como Zerlina!

    O Met é insuperável. É uma dádiva divina poder acompanhar suas montagens. Agradeço por viver no século XXI e poder acompanhar essas montagens ao vivo pelo cinema!

    Sds,

    Eduardo

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  3. It was the best of the three evenings at the met in this season. Thank you for you review

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  4. Pessoalmente, Gosto mais do Siegfried do que da Valquiria. Nao me perguntem porquÊ mas há qualquer coisa na musica.
    Relativamente ao terfel, fico satisfeito que tenha melhorado enquanto Wotan. Quando o vi no ouro do reno fiquei muito desapontado com ele. Felizmente vai haver uma edição em dvd. Tal como espero que façam da Ana Bolena.
    Relativamente ao fabio Luigi, mantenho as minhas reservas.

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  5. Excellent review. Thank you. I was not going to - although I did have high hopes for Morris and Voigt - but I think I will have to catch it this run

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  6. I don't know this one, but it is interesting. Terrific review.

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  7. so sorry! my comment is off topic, I would need an e-mail adress dear FanaticoUm to be able to comunicate better. Thank you very much!
    simphony

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  8. Dear simphony
    You can use the following e-mail:
    fanaticoum@gmail.com
    regards

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  9. Caro Fanático,
    ouvi a sua crônica! Os detalhes da emissão da voz
    metalizada que se torna quente e envolvente...
    Fantástica!!!
    Um grande abraço desse seu fã brasileiro

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  10. Gostei muito deste "Siegfried". Um excelente trabalho de Fabio Luisi e da orquestra e uma encenação mais interessante que nas óperas anteriores, apesar de aquele dragão destoar da alta tecnologia da máquina.
    Quanto aos cantores, achei sublimes Terfel e Siegel e muito bem os restantes intérpretes masculinos. Morris surpreendeu-me. Não gostei muito da sua voz mas ele conseguiu tornar credível a personagem de Siegfried. O cansaço era bem visível na cena final mas todos sabemos como o papel é extenso e esgotante.
    Voigt também me pareceu melhor que na "Fanciulla" e na "Valquíria", mas a dificuldade em manter os agudos (e dá-los) é notória. As dificuldades de Voigt e o cansaço de Morris fizeram com que o final da ópera saísse um bocadinho aldrabado.
    Ainda assim, um "Siegfried" muito entusiasmante. Principalmente graças a Luisi.

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  11. Também gostei muito desta transmissão, e concordo com vários comentadores: as horas passaram depressa, Terfel e Siegel estiveram fantásticos, Morris construiu muito bem o seu personagem, Luisi e a orquestra entusiasmaram.
    E espero que o Blogger não me mande outra mensagem de erro em vez de enviar este comentário, como fez há bocado...

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  12. Caros bloggers, obrigado pelos comentários que tornam ainda fresco este Siegfried. Que possamos continuar a explorar esta produção do Anel, cujo final se aproxima em Fevereiro.

    Dear bloggers, thank you for your posts which keep this Siegfried still alive. I hope we can continue to explore this Ring whose end is near next February.

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