sábado, 30 de julho de 2011

TURANDOT – Teatro Scala, Milão, Maio de 2011


Turandot foi a derradeira ópera de G. Puccini que morreu antes de a terminar. Foi acabada (o último dueto e o final) por Franco Alfano. O libretto é de Giuseppe Adami e Renato Simoni, segundo a obra Turandotte do veneziano Carlo Gozzi.

Na China antiga, numa praça de Pequim, o povo aguarda a execução do príncipe da Pérsia, o último a tentar conquistar a fria e distante princesa Turandot. Para o conseguir há que ultrapassar uma prova que consiste na resolução de três enigmas. Na confusão, um velho, Timur, cai ao chão e é ajudado por uma jovem escreva Liù. Calaf ajuda-o e reconhece nele o seu pai, o rei Tártaro deposto. Liù está secretamente apaixonada por Calaf. A execução do príncipe da Pérsia consuma-se e Calaf fica encantado com a beleza de Turandot e, contrariando os conselhos de Timur, Liù e dos três ministros imperiais, Ping, Pang e Pong, decide tocar o gongo, anunciando a intenção de se sujeitar à prova.

Turandot surge altiva e diz que a sua castidade e crueldade se destinam a vingar o sofrimento de uma antiga princesa. Mas Calaf soluciona os três enigmas e Turandot, desesperada, pede que a libertem da sua obrigação. Calaf diz-lhe que, se ela descobrir o seu nome até ao amanhecer, ele morrerá.
Ninguém dorme em Pequim e Turandot tenta desesperadamente saber o nome. Liù diz-lhe que só ela o sabe mas não o dirá. Turandot pergunta donde lhe vem tanta força e Liu diz-lhe que é do amor. Apunhala-se mortalmente, impressionando todos.
Calaf beija Turandot e revela-lhe o seu nome. Perante a população e o imperador, Turandot anuncia que sabe o nome do estrangeiro, é Amor. Abraçam-se e acabam felizes.


Na boa tradição italiana, a récita do dia anterior fora cancelada por greve, situação vivida aqui pelo meu colega de blogue wagner_fanatic há meses. Escapei por um dia a esta experiência desagradável mas, em Itália, há sempre que contar com estes percalços!




A encenação de Giorgio Barberio Corsetti é clássica e eficaz. Tem momentos de grande inovação dado que os diferentes cenários vão aparecendo no palco em plena execução da ópera, vindos de baixo ou de trás. O espectáculo foi também enriquecido com a actuação de acrobatas chineses ao longo de toda a récita. Contudo, não deixou de ter algumas perplexidades. Por exemplo o adorno na cabeça da Princesa Turandot era igual ao dos outros elementos do povo. Pequim parecia mais um lugarejo rural do que a capital do império, dadas as pequenas dimensões das casas que constituíam os cenários.


O maestro italiano Daniele Callegari teve um desempenho banal ao qual a Orquestra do Scala respondeu com qualidade. O Coro do Scala foi excepcional e, dada a sua importância no espectáculo, representando o povo de Pequim, foi o “melhor personagem” da récita.


O tenor americano Stuart Neill foi um Calaf contido no primeiro acto mas brilhante no terceiro. A famosíssima ária Nessum dorma saiu-lhe muito bem e obteve um estrondoso aplauso. A voz é heróica e poderosa, embora o timbre não seja cativante. Cenicamente foi fraco e a figura (excessivamente obeso) também não ajudou. Preocupou-se apenas com o canto e conseguiu atingir um patamar muito bom.


Timur foi interpretado pelo baixo italiano Marco Spotti que teve uma boa prestação tanto vocal como cénica. A voz é de inegável beleza e o cantor teve uma presença em palco marcante.

Maija Kovalevska, soprano da Letónia, foi uma Liù comovente e de excepcional qualidade. A voz é doce, de uma beleza invulgar, mas cheia e muito lírica. Cenicamente esteve perfeita. Foi a melhor intérprete da récita.


A princesa Turandot foi interpretada pelo soprano americano Lise Lindstrom. A figura é excelente, alta e magra e teve uma presença marcante, dada a expressividade que emprestou à personagem. A voz é poderosa e de timbre claro. Contudo, acho que seria ainda mais benéfica uma interpretação mais dramática e menos lírica.


Ping, Pang e Pong foram os italianos Angelo Veccia, Luca Casalin e Carlo Bosi que tiveram interpretações banais, sem interesse.









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Turandot - Teatro alla Scala, Milan, May 2011

Turandot was the last opera by G. Puccini. He died before finishing it. It was finished (the last duet and the finale) by Franco Alfano. The libretto is by Giuseppe Adami and Renato Simoni, after Turandotte by the Venetian Carlo Gozzi.

In ancient China, in a square in Beijing, the people await the execution of Prince of Persia, the last to try to seduce the cold and distant princess Turandot. To achieve this it is necessary to overcome a proof that consists in solving three enigmas posed by the princess. In the confusion, an old man, Timur, falls to the ground and is helped by a young woman slave, Liù. Calaf helps her and recognizes his father, the deposed Tartar king. Liù is secretly in love with Calaf. The execution of Prince of Persia is done and Calaf is impressed by the beauty of Turandot and, against the advice of Timur, Liù and the three imperial ministers, Ping, Pang and Pong, he decides to play the gong, announcing the intention to undergo the proof. Turandot appears and says proudly that her chastity and cruelty are intended to avenge the suffering of an ancient princess. But Calaf solves the three enigmas. Turandot, desperate, calls for the release of her obligation. Calaf tells her that if she finds out her name until dawn, he will die. No one sleeps in Beijing and Turandot tries desperately to know the name of the man. Liù tells her that only she knows it, but she will not tell her, even after being tortured. Turandot asks her where does her strength comes from and Liù tells her that it is from love. Liù stabs herself to death, impressing everyone. Calaf kisses Turandot and tells her his name. To the people and the emperor, Turandot announces that she knows the name of the foreigner. It is Love, she says. They embrace and all ends up in happiness.

In the good Italian tradition, the performance of the previous day had been canceled due to a strike, a situation lived by my blog colleague wagner_fanatic a few months ago. I escaped for one day to this unpleasant experience, but in Italy, there is always the risk of these disappointing events.
 
The staging by Giorgio Barberio Corsetti is classic and effective. There are moments of great innovation as different scenarios are appearing on stage during the performance, from below or behind stage. The performance of Chinese acrobats was also spectacular and very interesting. However, there were some perplexities. For example, the headdress of Princess Turandot was equal to the other elements of the people. Beijing seemed more a rural village than the capital of the empire, given the small size of the houses and other settings of the scenarios.

Italian conductor Daniele Callegari was trivial, without enthusiasm, but Scala Orchestra responded with quality. The Scala Choir was exceptional and, given its importance in the opera, representing the people of Beijing, it was the "best character" on stage.

American tenor Stuart Neill was a contained Calaf in the first act but brilliant in the third. The very famous aria Nessum dorma was very well interpreted and he got a thunderous applause. The voice is powerful and heroic, though the tone is not appealing. Artistically he was not convincing and the figure (obese) did not help. He was only concerned with the singing and in it he achieved a high level.

Timur was Italian bass Marco Spotti. He had a good performance both vocal and artistic. The voice is of undeniable beauty and the singer had a striking presence on stage.

Maija Kovalevska, Latvian soprano, was a moving Liù of exceptional quality. The voice is sweet, very lyrical and unusually beautiful. On stage she was perfect. She was the best soloist of the performance.

Princess Turandot was interpreted by American soprano Lise Lindstrom. Shi is tall and slim and had also an excellent artistic performance on stage. The voice is powerful and has a clear timbre. However, I think it would be even more beneficial a more dramatic and less lyrical interpretation.

Ping, Pang and Pong were the Italians Angelo Veccia, Luca Casalin and Carlo Bosi. They had trivial uninteresting performances.

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8 comentários:

  1. I was only at the Teatro alla Scala on one occasion, but I would think that any opera at that setting would be very interesting, even in light of some weak individual performances.

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  2. Mais uma crónica interessantíssima, Fanático!É uma ópera lindíssima, ao vivo é sempre espectacular de ouvir e ver...
    Obrigada pela partilha!

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  3. Caro Fanático,
    como sempre a sua crítica é uma obra à parte!
    O enredo, o figurino, cenários e principalmente
    o desempenho dos cantores/atores.
    Bela crônica sobre uma bela ópera!
    Um abraço

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  4. @ JJ,
    You are absolutely right. When we enter La Scala to see an opera, we feel we are in temple. Even if the performance is not as good as we imagined!

    @ Elsa Mendes,
    Obrigado por mais este comentário simpático, como é habitual nos seus. Concordo consigo, a Turandot é uma ópera de grande espectáculo. Sempre que posso, tento vê-la.
    Cumprimentos

    @ António Machado,
    Muito obrigado pelas suas amáveis palavras. Vindas de um dos Grandes Artistas contemporâneos enchem-nos de alegria e orgulho.
    Muito obrigado e receba aquele abraço de Portugal.

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  5. Nem me recorde do cancelamento do Simão Boccanegra, FanaticoUm... Milão é um local caro para se ver ópera mas realmente as produções têm uma qualidade invejável. O Marco Spotti parece-se ser um cantor de grande volume...

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  6. Bravissimo for the beautiful costume!
    Turandot should be just like this. Totally different from Turandot at the Deutsche Opera Berlin which I've seen. The costume there was so ugly and shabby that the whole production was spoilt:-(

    This Calaf! He must have a voice like his figure:-)

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  7. @ lotus-eater,
    Turandot is such an impressive opera that I think it is hard to spoil, even when the costumes do not fit our expectations. But if the choir (and the soloists) are bad, well, that might happen. Fortunately, it was not the case here in Milano.

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  8. @ wagner_fanatic,
    Por saber do seu desaire em Milão (que eu quase vivi também, apesar de não me ter deslocado lá apenas para a ópera) é que, ainda hoje, mesmo vendo anunciados espectáculos de excepção, não me aventuro a ir à ópera em Milão, para não ter destes dissabores! Admiro a sua coragem em insistir...

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