segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

AIDA, METropolitan OPERA, Dezembro / December 2022

(Review in English below)

É a última vez que a monumental encenação clássica da Aida, de Sonja Frisell, estará em cena na Metropolitan Opera. É uma produção grandiosa, que ilustra como nenhuma outra o significado de “grande ópera” que, embora datada, tem cenários sumptuosos, muitos elevadores, centenas de elementos em palco incluindo cavalos que, nesta noite, um deles quase destruiu uma parte do cenário mas conseguiu, a custo, ser controlado. É um contraste absoluto com a encenação deplorável que vi há poucos meses em Londres.



O maestro foi Paolo Carignani e a Orquestra e o Coro tiveram interpretações excelentes. A ópera presta-se a isso.


De entre os solistas, algumas diferenças qualitativas. Começando pelos melhores, brilhou a mezzo Olesya Petrova que foi uma Amneris de excelência. Voz poderosa, registo grave impressionante e sempre afinada.

Também o Radamés de Brian Jadge esteve ao mais alto nível, tanto na interpretação vocal como cénica. Muito bom.


Os baixos Alexandros Stavrakakis (Rei) e, sobretudo, Christian Van Horn (Ramfis) também marcaram muito positivamente as suas interpretações vocais.  


O barítono George Granitze fez um Amonastro algo estático mas muito bem no canto, sempre correcto e bem audível.


A grande decepção foi a Aida de Latonia Moore. Em cena foi muito estática e no canto esteve muito abaixo do desejável. Cantou alto, foi bem audível, mas a Aida é muito mais que potência vocal. Falhou várias notas, foi pouco expressiva e a aria principal do 3º acto foi um desastre, sobretudo no (ausente) registo agudo! Como cantora “da casa” foi muito aplaudida, mas esperava-se muito melhor!




Com outra Aida teria sido um espctáculo próximo da perfeição.





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AIDA, MEtropolitan OPERA, December 2022

It is the last time that Sonja Frisell's monumental classic production of Aida will be staged at the Metropolitan Opera. It is a grandiose production, illustrating like no other the meaning of “grand opera” which, although dated, has sumptuous sets, many elevators, hundreds of elements on stage including horses. Tonight one of them almost destroyed part of the set but managed, with difficulty, to be controlled. It is an absolute contrast to the deplorable staging I saw in London a few months ago.

The maestro was Paolo Carignani and the Orchestra and Chorus had excellent performances. Opera lends itself to this.

Among the soloists, some qualitative differences. Starting with the best, mezzo Olesya Petrova was an Amneris of excellence. Powerful voice, impressive bass register and always in tune.

Brian Jadge's Radamés was also at the highest level, both in vocal and scenic interpretation. Very good.

Bass Alexandros Stavrakakis (King) and, above all, Christian Van Horn (Ramfis) also marked their vocal interpretations very positively.

The baritone George Granitze made an Amonastro somewhat static but very good in the singing, always correct and very audible.

The big disappointment was Latonia Moore's Aida. On stage she was very static and in the singing she was far below desirable. She sang loudly, it was very audible, but Aida is much more than vocal power. She missed several notes, was not very expressive and the main aria of the 3rd act was a disaster, especially in the (absent) high register! As a “house” singer, she was highly applauded, but much better should be expected!

With a different Aida it would have been a performance close to perfection.


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domingo, 8 de janeiro de 2023

RIGOLETTO, METropolitan Opera, Dezembro / December 2022

(review in English below)

A realização de Bartlett Sher da ópera Rigoletto de Verdi foi novamente levada à cena na Metropolitan Opera de Nova Iorque. 

A acção passa-se na Alemanha, na república de Weimar, mas é uma encenação clássica, vistosa e onde as componentes principais da opera estão presentes e representadas de forma bem perceptível.


A direcção musical de Speranza Scappucci não esteve à altura do espectáculo. Houve vários desencontros entre a orquestra e os cantores e os ritmos impostos nem sempre foram os mais adequados à acção. Foi pena porque a Orquestra e o Coro estiveram em grande.


Desta vez aconteceu algo raro na ópera, todos os solistas foram excelentes!


O tenor francês Benjamin Bernheim foi um Duque fabuloso. Tem uma voz ampla, fresca, timbre muito bonito, potencia impressionante e grande musicalidade. E em palco foi um verdadeiro actor, a figura jovem e magra ajuda muito.


A soprano italiana Rosa Feola fez uma Gilda perfeita. Voz sempre audível sobre a orquestra, afinada, bonita e expressiva. Em palco também esteve perfeita.


O barítono norte-americano Quinn Kelsey foi um Rigoletto como há muito tempo não via ao vivo. É um papel difícil, actualmente há poucos cantores que o cantam e representam correctamente e Kelsey é um deles. Foi fantástico.


Merecem também destaque pelas suas óptimas actuações Bradley Garvin como Monterone,


o fantástico John Relyea como Sparafucile,


e a impressionante Aigul Akhmetshina como Maddalena.


Um espectáculo fabuloso.





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RIGOLETTO, MEtropolitan Opera, December 2022


Bartlett Sher's performance of Verdi's opera Rigoletto was again performed at the Metropolitan Opera in New York.

The action takes place in Germany, in the Republic of Weimar, but it is a classic, showy staging and where the main components of the opera are present and represented in a very perceptible way.

Speranza Scappucci's musical direction was not up to the performance. There were several disagreements between the orchestra and the singers and the imposed rhythms were not always the most suitable for the action. It was a pity because the Orchestra and the Chorus were grate.

This time something rare happened in opera, all the soloists were excellent!

French tenor Benjamin Bernheim was a fabulous Duke. He has a wide, fresh voice, very beautiful timbre, impressive power and great musicality. And on stage he was a real actor, the young and thin figure helps a lot.

The Italian soprano Rosa Feola made a perfect Gilda. Voice always audible over the orchestra, in tune, beautiful and expressive. On stage she was also perfect.

The American baritone Quinn Kelsey was a Rigoletto like I haven't seen live in a long time. It's a difficult role, nowadays there are few singers who sing and represent it correctly and Kelsey is one of them. He was fantastic.

They also deserve mention for their excellent performances Bradley Garvin as Monterone, the fantastic John Relyea as Sparafucile, and the stunning Aigul Akhmetshina as Maddalena.

A fabulous performance.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

DON CARLO, METropolitan Opera, Dezembro / December 2022

(review in English below)

A opera Don Carlo de Verdi, com encenação de David McVicar esteve em palco na Metropolitan Opera, na versão italiana, mais curta (e mais curto é também menos na qualidade e na compreensão do enredo). É uma produção clássica, vistosa, fluida, algo escura mas de entendimento fácil. A componente negativa é a presença de um bobo durante o auto-da-fé.


O maestro foi Carlo Rizzi que dirigiu com interesse a óptima Orquestra da casa. O Coro foi excelente.



De entre os solistas, dois foram absolutamente fantásticos. O Günther Groissböck como Filipe II foi talvez o melhor intérprete que vi e ouvi neste papel. Que presença em palco e que voz! Sempre afinada, audível no mais recôndito canto da enorme sala, de uma beleza ímpar e sempre muito emotivo. 


O Rodrigo do Peter Mattei foi também inesquecível. Tem um barítono de uma beleza invulgar, voz sempre perfeitamente colocada e toda a interpretação foi de uma musicalidade inultrapassável. Fantástico! E em palco sempre muito bem, é alto e magro e ágil, o que ajuda muito.


John Relyea com o seu baixo cavernoso e potente foi também um Grande Inquisidor marcante e, no esperado dueto com o Filipe II no 3º acto, foi um dos momentos mais altos da récita.


Ainda referindo os baixos, Toni Marie Palmertree teve interpretações curtas mas excelentes como o fantasma do imperador Carlos V.


O Don Carlo do tenor Rafael Davila (uma substituição), em substituição de Russell Thomas completou o conjunto de intérpretes masculinos de qualidade. Esteve à altura do papel, a voz é agradável, a emissão muito boa e teve um desempenho cénico adequado.


A mezzo Yulia Matochkina foi uma Princesa Eboli muito competente, vocalmente irrepreensível, com graves imponentes, boa extensão vocal e uma presença em palco muito agradável.


A Elisabete de Angela Meade não esteve bem no canto. A voz é muito potente e com uma extensão notável. Contudo, tem um vibrato incomodativo e nos agudos é inconstante e perde qualidade. Outro problema é a presença em palco. A cantora é excessivamente volumosa, mexe-se com dificuldade e praticamente só canta sem representar, o que prejudica a personagem, sobretudo quando rodeada por colegas da categoria dos seus parceiros.


Mas foi um espectáculo excelente e teria sido soberbo com outra Elisabete.





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DON CARLO, METropolitan Opera, December 2022

The opera Don Carlo by Verdi, staged by David McVicar, was on stage at the Metropolitan Opera, in the Italian version, shorter (and shorter is also less in terms of quality and understanding of the plot). It is a classic production, showy, fluid, somewhat dark but easy to understand. The negative component is the presence of a jester during the auto-da-fe.

The maestro was Carlo Rizzi, who conducted with interest the excellent Orchestra of the house. The Choir was excellent.

Among the soloists, two were absolutely fantastic. Günther Groissböck as Philip II was perhaps the best performer I have seen and heard in this role. What a stage presence and what a voice! Always in tune, audible in the most secluded corner of the huge room, of a unique beauty and always very emotional.

Rodrigo by Peter Mattei was also unforgettable. He has a baritone of unusual beauty, voice always perfectly placed and the whole interpretation was of an unsurpassable musicality. Fantastic! And on stage he's always very good, he's tall, thin and agile, which helps a lot.

John Relyea with his cavernous and powerful bass was also a striking Grand Inquisitor and, the expected duet with Filipe II in the 3rd act, it was one of the highest moments of the performance.

Still referring to the bass, Toni Marie Palmertree had short but excellent interpretations as the ghost of Emperor Charles V.

Rafael Davila's Don Carlo, replacing Russell Thomas, completed the set of quality male performers. He lived up to the role, the voice is pleasant, the emission is very good and he had an adequate stage performance.

Mezzo Yulia Matochkina was a very competent Princess Eboli, vocally impeccable, with imposing low register, good vocal range and a very pleasant stage presence.

Angela Meade's Elizabeth didn't do well in the singing. Her voice is very powerful and has a remarkable range. However, it has an annoying vibrato and in the top notes it is inconsistent and loses quality. Another problem is her stage presence. The singer is excessively bulky, moves with difficulty and practically only sings without acting, which harms the character, especially when surrounded by colleagues of the category of her partners.

But it was an excellent performance, and it had been superb with a different Elisabeth..

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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

ORATÓRIA DE NATAL, J S Bach, Fundação Gulbenkian, Dezembro de 2022


A Fundação Gulbenkian ofereceu-nos as Cantatas I, III e VI da Oratória de Natal de J.S. Bach interpretada pela Orquestra e Coro Gulbenkian, sob a direcção do  maestro Peter Dijkstra

Como solistas actuaram a mezzo alemã Anke Vondung, o tenor belga Reinoud Van Mechelen, o barítono alemão Tobias Brendt e a soprano escocesa Rachel Redmond.

Foi um concerto suave, muito agradável, com óptimas interpretações do Coro e da Orquestra e um conjunto muito equilibrado de solistas de grande qualidade, do qual destaco o tenor Van Mechelen.




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CHRISTMAS ORATORY, J S Bach, Fundação Gulbenkian, December 2022

The Gulbenkian Foundation offered us Cantatas I, III and VI from the Christmas Oratory by J.S. Bach performed by the Gulbenkian Orchestra and Choir, under the direction of maestro Peter Dijkstra.

As soloists, German mezzo Anke Vondung, Belgian tenor Reinoud Van Mechelen, German baritone Tobias Brendt and Scottish soprano Rachel Redmond performed.

It was a smooth concert, very pleasant, with excellent interpretations by the Choir and the Orchestra and a very balanced set of soloists of great quality, of which I highlight the tenor Van Mechelen.

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

THE HOURS, METropolitan Opera, Dezembro / December 2022

(review im English below)

A opera The Hours é uma adaptação musical de Kevin Puts da novela homónima de Michael Cunningham. Encenação de Phelim McDermott.


A  acção decorre em 3 períodos distintos. O primeiro em 1923 é Richmond, um subúrbio de Londres onde Virginia Woolf vive com o marido Leonard enquanto escreve Mrs Dalloway. O ambiente calmo local procura ajudar a já débil saúde mental da autora, mas ela considera-o opressivo. 

O segundo é em los Angeles em 1949 onde Laura Brown (que lê Mrs Dalloway), o marido Dan no dia do seu anivesário, e o filho Richie tentam viver uma vida suburbana ao estilo americano da época. 

O terceiro é em Manhattan, Nova Iorque no final do Século XX onde Clarissa Vaughan prepara uma festa ao poeta Richard que é um doente terminal com SIDA.

As 3 mulheres, deprimidas, têm em comum a necessidade de fugirem das suas realidades e acabam por se encontrar num espaço e tempo transcendental.

O teatro não se poupou na propaganda a esta nova produção. Estava anunciada por todo o lado.




O maestro foi Yannick Nézet-Séguin


Os e papéis solistas foram interpretados por 3 grandes cantoras americanas, Clarissa Vaughan por Renée Fleming, Virginia Woolf por Joyce DiDonato e Lara Brown por Kelli O’Hara. Mas, vocalmente, foi uma excelente interpretação – Joyce Didonato – e as outras medianas, especialmente a Fleming. Outrora marcante, a voz está degradada e, frequentemente, mal se ouve.



Dos restantes cantores os mais destacados foram Kyle Ketelsen (Richard) Kathleen Kim (Barbara). Sean Pannikar (Leonard Woolf), Tony Stevenson (Walter), Kai Edgar (Richie), William Burden (Louis) e Brandon Cedel (Dan Brown) cumpriram sem deslumbrar.




Um espectáculo conceptualmente conseguido mas por vezes um pouco confuso e musicalmente de interesse reduzido para mim.

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THE HOURS, METropolitan Opera, December 2022

The opera The Hours is a musical adaptation by Kevin Puts of the homonymous novel by Michael Cunningham. Directed by Phelim McDermott.

The action takes place in 3 different periods. The first in 1923 is Richmond, a London suburb where Virginia Woolf lives with her husband Leonard while writing Mrs Dalloway. The calm local environment seeks to help the author's already weak mental health, but she finds it oppressive.

The second is in Los Angeles in 1949 where Laura Brown (who reads Mrs Dalloway), her husband Dan on his birthday, and their son Richie try to live a suburban life in the American style of the time.

The third is in Manhattan, New York at the end of the 20th century, where Clarissa Vaughan prepares a party for the poet Richard, who is terminally ill with AIDS.

The 3 women, depressed, have in common the need to escape their realities and end up finding themselves in a transcendental space and time.

The theater was not spared in advertising this new production. It was advertised everywhere.

The conductor was Yannick Nézet-Séguin. The soloist roles were performed by 3 great American singers, Clarissa Vaughan by Renée Fleming, Virginia Woolf by Joyce DiDonato and Lara Brown by Kelli O'Hara. But, vocally, it was an excellent performance – Joyce Didonato – and the other medians, especially Fleming. Once imposing, the voice is degraded and often barely audible. 

Of the other singers, the most outstanding were Kyle Ketelsen (Richard) Kathleen Kim (Barbara). Sean Pannikar (Leonard Woolf), Tony Stevenson (Walter), Kai Edgar (Richie), William Burden (Louis) and Brandon Cedel (Dan Brown) performed without dazzling.

A conceptually accomplished show but sometimes a little confusing and musically of little interest to me.

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