(review in English below)
A Fundação Calouste Gulbenkian ofereceu-nos a magnífica ópera Così fan tutte de Mozart numa versão semi-encenada, muito bem conseguida, de Marcos Fink, que permitiu a compreensão fácil do enredo.
Se há óperas que se prestam a encenações fáceis, esta é uma delas. O libreto de Lorenzo da Ponte (simplificando) retrata duas irmãs (Fiordiligi e Dorabella) muito apaixonadas pelos seus noivos militares (Ferrando e Guglielmo), jurando-lhes fidelidade eterna. Don Alfonso, um filósofo, aposta com eles que as suas noivas se deixarão seduzir por outros homens assim que eles se afastem, facto liminarmente rejeitado por ambos. Combinados com Don Alfonso, fingem partir para a guerra e aparecem disfarçados de albaneses. As duas irmãs acabam por se deixar seduzir, cada uma pelo noivo da outra, em menos de um dia. Há ainda participações importantes de uma criada experimentada na vida (Despina), incluindo no papel de médico e no de notário.
A direcção musical competente foi de Nuno Coelho e a Orquestra Gulbenkian teve mais uma interpretação de qualidade.
Também o Coro Gulbenkian foi muito bom. Os cantores solistas eram todos jovens, com boa figura, e cantaram e representaram de forma irrepreensível. Estava garantido o sucesso do espectáculo.
A soprano moldava Valentina Nafornita foi uma Fiordiligi arrebatadora. Tem uma voz fabulosa, com enorme extensão e grande versatilidade. O papel é muito exigente e interpretou-o na perfeição.
A mezzo francesa Natalie Pérez também foi excepcional como Dorabella. Voz magnífica, muito bonita, sempre afinada. Interpretação superlativa.
O tenor turco Ilker Arcayürek foi muito bom. O timbre estranha-se um pouco no início mas, com o decorrer do espectáculo, faz um Ferrando de grande qualidade.
O barítono alemão Samuel Hasselhorn foi um Guglielmo perfeito, tanto na interpretação cénica como vocal.
A Despina foi interpretada pela sul-coreana Sunhae Im. Muito expressiva e engraçada em palco, o papel presta-se a isso. A voz de soprano lírica ligeira é menos poderosa mas nem por isso menos expressiva e eficaz.
Finalmente o Don Alfonso foi magnificamente interpretado pelo baixo argentino Marcos Fink que mantém uma voz respeitável e de timbre muito agradável.
Termino fazendo referencia à excelente (!) introdução à ópera feita por Jorge Rodrigues uma hora antes do início, noutro auditório da Gulbenkian (Que saudades do Ritornelio).
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COSÌ FAN TUTTE – Fundação Calouste Gulbenkian, March 2022
The Calouste Gulbenkian Foundation offered us the magnificent opera Così fan tutte by Mozart in a semi-staged version, very good and effective by Marcos Fink, which allowed for an easy understanding of the plot.
If there are operas that lend themselves to easy staging, this is one of them. Lorenzo da Ponte's libretto (simplifying) portrays two sisters (Fiordiligi and Dorabella) very much in love with their military fiancés (Ferrando and Guglielmo), swearing eternal fidelity to them. Don Alfonso, a philosopher, bets with them that their brides will allow themselves to be seduced by other men as soon as they leave, a fact that both of them reject outright. Combined with Don Alfonso, they pretend to go to war and appear disguised as Albanians. The two sisters end up being seduced, each by the other's fiancé, in less than a day. There are also important participations of a maid experienced in life (Despina), including in the role of doctor and notary.
The competent musical direction was by Nuno Coelho and the Gulbenkian Orchestra had another quality interpretation. The Gulbenkian Choir was also very good. The singers were all young, good looking, and they sang and performed flawlessly. The show's success was guaranteed.
Moldovan soprano Valentina Nafornita was a breathtaking Fiordiligi. She has a fabulous voice, with enormous range and great versatility. The role is very demanding and she played and sung it perfectly.
French mezzo Natalie Pérez was also exceptional as Dorabella. Magnificent voice, very beautiful, always in tune. Superlative interpretation.
Turkish tenor Ilker Arcayürek was very good. The timbre is a little strange at the beginning but, as the performance progresses, he is a Ferrando of great quality.
German baritone Samuel Hasselhorn was a perfect Guglielmo, both in scenic and vocal interpretation.
Despina was played by South Korean Sunhae Im. Very expressive and funny on stage, the role lends itself to that. The light lyrical soprano voice is less powerful but no less expressive and effective.
Finally, Don Alfonso was fantastically interpreted by the Argentine bass Marcos Fink, who maintains a respectable voice with a very pleasant timbre.
I end by referring to the excellent (!) introduction to the opera by Jorge Rodrigues an hour before the start, in another Gulbenkian auditorium.
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