(text in english below)
L’Elisir d’Amore
é uma ópera de G. Donizetti com
libreto de Felice Romani. Confesso que está longe de ser uma das minhas óperas
preferidas mas por ser frequentemente interpretada por grandes cantores tenho-a
visto regularmente.
E o Met não fez a coisa por menos, juntou 4 dos melhores
cantores da actualidade neste reportório: Flórez, Damrau, Kwiecien e Corbelli!!
Os leitores habituais deste blogue sabem que Juan Diego Flórez e Diana Damrau
integram a escassa lista de cantores pelos quais tenho uma admiração
incondicional. Para além disso, o trio amoroso foi composto por 3 cantores
jovens, com boa aparência e muita agilidade em palco, tornando muito credível a
actuação. Imperdível!
A encenação de John
Coplei é simples, muito colorida, mas muito pirosa. Há um patamar elevado a
meio do palco, ladeado por duas escadarias, e tudo se passa por aí, mudando
cenários simples em tela pintada maioritariamente de cor de rosa. Nada de mal a
apontar à forma, mas o gosto de tudo é muito discutível e, nem se pode dizer
que está exagerado para dar sentido cómico (se é assim, não consegue o objectivo). Também alguns comportamentos
(pseudo)cómicos dos cantores, especialmente do Nemorino, para além de não terem
qualquer graça, são autênticas macacadas (apesar de haver sempre quem ria).
Foi o último ano que esta produção subiu à cena no Met (e
ainda bem) porque brevemente é precisamente uma nova produção desta ópera, com
a Netrebko, que serve de reclame à temporada 2012-2013.
O maestro italiano Donato
Renzetti foi responsável por uma má direcção musical. Os desencontros foram
uma constante e várias vezes os cantores se “perderam”. Uma das piores
direcções musicais a que assisti no Met. No final foi vaiado (aqui são Buuuus)
por alguns, o que também não é nada habitual por estas bandas.
Juan Diego Flórez,
tenor peruano, foi um Nemorino vocalmente fantástico. É o tipo de reportório
que mais se adapta às características da sua voz, que é belíssima e, nas notas
mais agudas, não tem rival. Não vou aqui repetir o que já escrevi várias vezes.
Para mim, Flórez está no auge das suas capacidades vocais, mas há quem não
pense como eu. Melhor é impossível.
Diana Damrau, soprano
alemão, foi uma Adina deslumbrante. Para além do à vontade em palco, foi a
melhor cantora da noite. A voz é de uma beleza ímpar, a potência é brutal, a
coloratura fabulosa e nunca grita nem desafina. Outra intérprete que está no
auge e canta cada vez melhor.
Mariusz Kwiecien,
barítono polaco foi um Belcore muito credível. Excelente actor, a voz é forte,
harmoniosa, de belo timbre e sempre audível sobre a orquestra.
Alessandro Corbelli,
um barítono italiano veterano, fez um Dr Dulcamara perfeito. Tem um enorme
sentido teatral, foi o mais cómico em palco, cantou com segurança e eficácia.
Coube-lhe a parte mais engraçada da encenação, as garrafas de vinho com o
suposto elixir vão aumentando de tamanho à medida que vai “convencendo” os
outros dos seus poderes. O papel parece escrito para a sua voz que é cheia,
quente e mantém a qualidade em toda a sua extensão.
Ao contrário do que é hábito por estas paragens, em que os
espectadores se comportam bem (exceptuando os aplausos prematuros antes da
música terminar), estive numa situação única. Estava sentado na primeira fila
do Dress Circle. À minha frente não tinha ninguém, claro.
À minha esquerda estava um homem novo e muito obeso que
dormiu toda a récita, incluindo o intervalo, ressonando ocasionalmente e
estrebuchando também com regularidade.
Mesmo atrás de mim estava um homem muito idoso, com uma
respiração ruidosa e com características que indicam morte próxima (paz à sua
alma pois hoje, dia em que publico este texto, já estará no céu).
À minha direita, uma senhora idosa que frequentemente tirava
os óculos de uma pequena bolsa para os colocar, voltando a arrumá-los pouco
tempo depois. Acontece que essa bolsa tinha 3 pequenos guizos na base! No
intervalo, duas pessoas chamaram-na à atenção para o barulho dos guizos, mas a
cena atingiu o ponto culminante com a velhota a abanar a bolsa, dizer que não
se ouvia nada, e a perguntar aos outros (eu incluído) se ouvíam algo, todos
respondendo que sim. Bom, pelo menos, na segunda parte não mexeu nos óculos e
não ouvimos mais os ruídos dela. Mas a senhora não deve ter ouvido a ópera,
pois a surdez não deveria ser específica para os guizos!
Apesar do maestro e de toda esta envolvência, foi um
festival de belcanto, que teria sido perfeito em condições normais.
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L'Elisir d'Amore,
Metropolitan Opera, New York,
March 2012
L'Elisir d'Amore is an opera by G. Donizetti with libretto by Felice Romani. I confess that it is not one
of my favorite operas but because it is often performed by great singers I have
seen it regularly.
And the Met put it at the top level. Four of the best singers in this
repertoire today joined to sing it: Flórez, Damrau, Kwiecien and Corbelli! Regular
readers of this blog know that Juan Diego Florez and Diana Damrau integrate the
sparse list of singers for whom I have an unconditional admiration. In addition, the trio of lovers was
composed by young singers with good looks and agility on stage, making the performance
very credible. A Must See!
The staging
of John Coplei is simple, very
colorful, but very kitsch. There is a high platform in the middle of the stage,
flanked by two staircases, and everything happens there, with changing simple painted
rose scenarios. Nothing wrong with that, but I would not say it is exaggerated
to make it comic. Also some behaviors (pseudo) comic of some singers,
especially Nemorino, in addition to being no fun, they are authentic monkey
performances (although there are always those who laughed).
It was the last year that this production has appeared at the Met (and
thankfully). Next season a new production of this opera, with Netrebko, will be
premiered and it is just this new production that is used in the announcement
of the Met’s new 2012-2013 season.
Italian
conductor Donato Renzetti was
responsible for a bad musical direction. Coordination issues were a constant
and often the singers were "lost." This was one of the worst musical
directions that I attended at the Met. At the end the maestro was booed by
some, which is usual here.
Juan Diego Flórez, Peruvian tenor,
was a vocally fantastic Nemorino. It's the kind of repertoire that best fits
the characteristics of his voice, which is beautiful and the top notes, has no
rival. I will not repeat here what I wrote several times. For me, Flórez is at
the peak of his vocal abilities, but some people do not think like me.Better is
impossible!
Diana Damrau, German soprano, was a fabulous Adina. Apart
from being perfectly comfortable on stage, she was the best singer of the
night. The voice has a unique beauty, the power is brutal, the coloratura fabulous
and she never shouts and is always in tune. Another performer at her best and
that sings better and better.
Mariusz Kwiecien, Polish baritone was
a very credible Belcore. Na excellent actor, with a strong harmonious,
beautiful timbre and always audible over the orchestra.
Alessandro Corbelli, a veteran Italian baritone, was a perfect Dr
Dulcamara. Also a great actor, he was the most comic on stage, sang with conviction
and efficacy. He had the funniest part of the staging, the bottles of wine with
the supposed elixir that increased in size as he would "convince"
others of his powers. The role seems written for his voice which is full, warm
and maintaining quality in all its range.
Contrary to
what is customary in the Met, where the audience behave well (except for the
premature applause before the music ends), I faced a unique situation. I was
sat in the front row of the Dress Circle. Ahead of me is there was nobody, of
course.
To my left there was a very obese young man. He slept the whole performance,
including in the intermission, snoring and twitching regularly.
Just behind me there was a very old man with a wheezing with characteristics
that indicate imminent death (peace to his soul because today, the day I
publish this text, he is already in heaven, I guess).
To my right, there was an elderly woman who often took the glasses from a small
wallet to put them back there frequently. It turns out that this wallet had
three small bells at the bottom! In the intermission, two people called her
attention to the sound of her bells, but the episode reached its peak when the
old lady shook her wallet, saying that she could not hear anything, and asked
others (myself included) if we were hearing something. All answered yes. Well,
at least in the second part she has not put her glasses on and we did not hear
her bells. But the lady should not have heard the opera as well, as her
deafness precluded her from hearing the bells!
Despite a bad conductor and all this environment, it was a feast of belcanto,
which would have been perfect under normal conditions.
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