A Gulbenkian oferece-nos, esta semana, um trio de obras interessantes, duas delas corais, motivo pelo qual decidimos incluir este concerto neste blog.
O concerto para órgão, orquestra de cordas e timbales de Francis Poulenc é uma obra surpreendente. De início algo áspero e dissonante, evolui para linhas melódicas suaves, agradáveis, por vezes valsiadas, pairando na maior parte do tempo um espírito bucólico. Yves Rechsteiner esteve seguro no órgão, hábil na mudança de registos, utilizando até, perto do final, um dos pés para este fim.
Não posso dizer que Vivaldi seja um dos meus compositores favoritos. A esta impressão não foge o seu Gloria. Não é uma obra marcante do Barroco. Vive do seu primeiro número, cuja melodia todos facilmente poderão identificar. O restante é muito vivaldiano, claro está, mas pouco imaginativo e vibrante. O Coro Gulbenkian esteve muito bem. Ana Quintans e particularmente Lucia Duchonova, dotadas de vozes profundas e de timbre limpo e bonito, equipararam-se à performance do Coro. Senti a Orquestra muito mais no sentido Clássico. Tive alguma dificuldade em sentir o espírito Barroco em algumas das passagens.
O ponto alto deste concerto era e foi, sem dúvida, o Requiem de Fauré. Considero que esta obra é talvez a mais celestial das criações musicais de todo o sempre. Contudo, ocupa o 2º lugar do meu pódio de Requiem. Após um início (Intróito e Kyrie) solene e possante, a obra encontra as suas melhores passagens no Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei e In paradisum. Luís Rodrigues esteve bem, melhor no Libera me do que no Ofertório mas a estrela foi Ana Quintans. Voz celestial num Pie Jesu sublime e tocante. A Orquestra esteve fantástica sob a direcção de Rolf Beck e o Coro Gulbenkian, mais uma vez ao mais alto nível.
A assistir ainda a 29 de Outubro às 19h e a descobrir ou reviver em duas das melhores gravações disponíveis:
Sob a direcção de John Eliot Gardiner...
Ou com um Bryn Terfel cristalino e uma Cecilia Bartoli celestial...
Fauré's Requiem and extras - Calouste Gulbenkian Foundation - 28th October 2010
The Calouste Gulbenkian Foundation offers us, this week, a trio of interesting works, including two choral ones, which is why we decided to include this concert on this blog.
The concerto for organ, timpani and string orchestra by Francis Poulenc is a striking work. It starts harshly and discordant, but the melodic lines develop into a soft, pleasant, sometimes valse-like, bucolic spirit. Yves Rechsteiner was secure in the organ, skilled in changing registers even using, near the end, a foot for this purpose.
I cannot say that Vivaldi is one of my favorite composers. His Gloria does not escape this feeling. It is not a landmark work of the Baroque. It lives of its first number, whose melody we can all easily identify. The rest is very vivaldi-like, of course, but unimaginative and unvibrant. The Gulbenkian Choir was perfect. Ana Quintans and particularly Lucia Duchonova, with their deep voices and clean and beautiful tone, matched to the performance of the Choir. I felt the Orchestra much more towards a Classic style. I had some difficulty in feeling the spirit of the Baroque in some passages.
The highlight of this concert was, without doubt, the Fauré’s Requiem. I believe that this work is perhaps the most heavenly of musical creations of all time. However, it occupies the 2nd place of my Requiem podium. After a slow solemn and powerful start (Introit and Kyrie), the work finds its best passages in the Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei and In Paradisum. Luís Rodrigues sang very well better than in the Libera me than in the Offertory, but the star was Ana Quintans. Her heavenly voice created a sublime and touching Pie Jesu. The Orchestra was superb under the direction of Rolf Beck and the Gulbenkian Choir was, once again, at the highest level.
To see again on the 29th of October at 7pm and to discover or hear again in two of the best available recordings.
Under the direction of John Eliot Gardiner...
Or with a cristal clear Bryn Terfel and a celestial Cecilia Bartoli...
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
BORIS GODUNOV – Met Live em HD, Fundação Gulbenkian, Outubro de 2010
Na segunda transmissão da temporada do Met para Portugal e primeira ao vivo, a Gulbenkian volta a proporcionar-nos um espectáculo notável.
Baseada na peça de Alexander Pushkin, Boris Godunov é uma ópera grandiosa passada no final do Século XVI e início do Século XVII que narra a ascensão e queda do Czar Boris Godunov. A música e libreto são da autoria de Modest Mussorgsky.
É uma história que retrata o sofrimento e ambição do povo da Rússia, centrada no czar que vive dilacerado pela culpa, por ter mandado matar Dimitri, o herdeiro natural do trono, que ocupou. É um drama de proporções épicas que termina com a morte de Boris Godunov, enlouquecido, acusado do assassínio de Dimitri por um religioso idiota – Simplório – a quem é permitido, pela tradição, falar sem medo. Antes de morrer, nomeia o filho Fyodor seu sucessor. O povo russo lincha nobres da corte e jesuítas e aclama um impostor, Grigory, que se faz passar por Dimitri, que marcha sobre Moscovo acompanhado por Marina, uma princesa católica polaca que ambiciona ser czarina. A ópera termina com o Simplório a chorar pela Rússia.
A encenação de Stephen Wadsworth é algo minimalista, com cenários abstractos (mosteiros, Kremlin, floresta, tudo pouco explícito) mas que não deixa de ser eficaz. O guarda-roupa é rico e variado.
A direcção musical foi do maestro Valery Gergiev. A Orquestra da Metropolitan Opera teve uma prestação que fez justiça à riqueza tímbrica da obra de Mussorgsky.
O Coro da Metropolitan Opera, que nesta ópera é uma das peças mais importantes do espectáculo, foi constituído por 120 elementos. Teve uma actuação de grande nível, tanto vocal como artisticamente.
O baixo alemão René Pape, um dos poucos solistas não russos, interpretou Boris Godunov. Foi autoritário no papel, embora tenha um registo vocal médio mais elevado do que a personagem exige. Mas fez-se ouvir bem e a voz tem um belo timbre. Os dois monólogos foram, vocalmente, emocionantes. Em cena esteve muito bem, a capacidade de transmitir emoção nos gestos e expressões faciais é impressionante. Contudo, no quarto acto, já louco, os movimentos corporais faziam lembrar mais um embriagado que um atormentado.
Mikhail Petrenko foi outro baixo que se destacou. Fez o papel de Pimen, monge ermita que escreve a história da Rússia. Possuidor de uma voz poderosa, segura e, esta sim, capaz de graves profundos e prolongados.
Ainda outro baixo que deu boa conta do papel foi Vladimir Ognovenko que fez de Varlaam, outro monge.
O tenor Aleksandrs Antonenko foi Grygori / Dimitri. É detentor de uma voz potente, com agudos imponentes, mas algo “rígida” e pouco emotiva. Cenicamente foi um desastre.
O meio-soprano Ekaterina Semenchuk foi Marina, a princesa polaca. A voz é escura mas, ocasionalmente, deixava-se afogar pela orquestra.
Evgeni Nikitim, baixo-barítono, foi o jesuíta Rangoni e não convenceu. A voz era banal e o artista mau em palco, cheio de trejeitos bocais a cantar, sempre a olhar para o maestro e não teve qualquer preocupação com a representação.
O contrário pode dizer-se do tenor Andrey Popov que fez de Simplório, numa interpretação curta mas notável tanto cénica como vocalmente.
Merecem ainda uma palavra de elogio os filhos de Boris Godunov (no programa não constam os seus nomes), sobretudo Fyodor, interpretado de forma impressionante por um jovem adolescente de bela voz e grande presença em palco.
(Grande parte das fotografias são de Ken Howard)
****
sábado, 23 de outubro de 2010
Edita Gruberova confirma o seu triunfo como Lucrezia Borgia na Wiener Staatsoper - 18 de Outubro de 2010
(Please see review in english below)
No passado dia 18, Edita Gruberova fez o último duma série de 5 concertos com Lucrezia Borgia na Ópera de Viena. A Première teve lugar no dia 2 de Outubro e já tive ocasião de comentá-la neste blog, pelo que não irei alongar-me muito acerca deste concerto.
No passado dia 18, Edita Gruberova fez o último duma série de 5 concertos com Lucrezia Borgia na Ópera de Viena. A Première teve lugar no dia 2 de Outubro e já tive ocasião de comentá-la neste blog, pelo que não irei alongar-me muito acerca deste concerto.
A lotação da sala estava mais do que esgotada e eram muitos os que, em vão, desesperavam no exterior por um bilhete. Foram muito afortunados todos aqueles que puderam ver e ouvir Edita Gruberova nesta noite de glória na Wiener Staatsoper. A cantora, que recebeu um avassalador aplauso mal entrou em cena, não desiludiu o público que, com fervoroso entusiasmo, a louvava.
Logo nas primeiras notas, a cantora transportou-nos para uma dimensão etérea: o legato irrepreensível, o timbre cristalino da voz, a coloratura acrobática executada de modo exímio, os agudos em pianissimo, absolutamente milagrosos.
A acrescentar à sua extraordinária perfeição vocal, Edita fez uma representação formidável do papel de Lucrezia, confirmando os seus dotes de grande actriz, amplamente reconhecidos em todo o mundo: a gestualidade, a expressão facial, as exclamações que o seu olhar e a sua voz transmitiam, a dor no seu rosto, a vivência física e psicológica da personagem. E, notem, tudo isto numa ópera em versão de concerto. Mesmo sem o suporte cénico, Edita Gruberova trouxe-nos uma Lucrezia completa e eximiamente representada.
O clímax da acção, bem como da dificuldade técnica e interpretativa, surge no final, quando Lucrezia Borgia enfrenta a dor pela morte do seu filho, bem como um sentimento de culpa avassalador. Nesta noite, fiquei apenas a duas filas de distância do palco, pelo que pude sentir de perto toda a emoção de Edita. Pude ver que as lágrimas corriam pela sua face e que os seus lábios tremiam, quando cantava Era desso il figlio mio. Foi absolutamente arrepiante. Toda a sala estava em transe, perante aquele desempenho magnífico e inigualável. Com efeito, Edita Gruberova confirma, cada vez mais, o merecidíssimo título de Primadonna Assoluta.
Após o fantástico e demorado mi sobreagudo com que Edita Gruberova encerra esta ópera, todo o público se colocou instantaneamente de pé e gritou "Brava" arrebatadoramente. Dezenas de pessoas aproximaram-se do palco e ofereceram flores e outros presentes a Edita que, gentilmente, se curvava com um sorriso para aceitar as oferendas que o entusiástico público lhe fazia. Choviam "flashs" da imensidão de máquinas fotográficas e telemóveis com que toda a gente procurava captar a imagem de Edita Gruberova.
Os restantes cantores, em particular José Bros e Michele Pertussi tiveram desempenhos formidáveis. Menos segura e brilhante, todavia muito correcta e digna, esteve Laura Polverelli, que deixou sempre transparecer algum nervosismo.
Os aplausos duraram seguramente meia hora. O público clamava "Edita, Edita", pois queria que Edita Gruberova regressasse uma e outra vez ao palco, apesar de já terem praticamente desligado as luzes da sala, na tentativa de que o público desmobilizasse. Dum dos camarotes, alguém pendurou um cartaz onde podia ler-se: "Edita, quale incanto".
Cá fora, largas dezenas de fãs esperaram por Edita Gruberova, que a todos atendeu, a todos deu autógrafos. Os aplausos e os gritos de "Brava" soaram na Herbert von Karajan Platz à medida que Edita Gruberova se afastava a pé do edifício da ópera, acenando ao público e levando consigo vários ramos de flores.
Bravissima, Edita!
Edita Gruberova confirms her triumph as Lucrezia Borgia at the Wiener Staatsoper –October 18th, 2010
Last October 18th, Edita Gruberova made the last of a series of five concerts as Lucrezia Borgia at the Vienna Opera. The Premiere was held on October 2nd and I had the opportunity to comment on it in this blog, so I will not dwell on too much about that concert.
Tonight the capacity of the room was more than exhausted and there were many who, in vain, desperate for a ticket outside. Those who could see and hear Edita Gruberova in this night of glory in the Wiener Staatsoper were, indeed, very lucky. The singer, who received an overwhelming applause when stepping in, did not disappoint the public, who praised her with fervor enthusiasm.
Immediately after the first few notes the artist took us to an ethereal dimension with the faultless legato, the crystalline tone of her voice, the perfect acrobatic coloratura, the treble in pianissimo, absolutely miraculous.
In addition to her extraordinary vocal perfection, Edita did a great representation of the role of Lucrezia, confirming her talent as a great actress, widely recognized throughout the world: the gestures, the facial expressions, the exclamations that her look and her voice conveyed, the pain in her face, experiencing the physical and psychological feelings of the character. And, please note, all in a concert version of an opera. Even without the support scenarios, Edita Gruberova brought us a complete and expert staged Lucrezia.
The climax of the action, as well as the technical and interpretative difficulty, arise in the end, when Lucrezia Borgia faces the pain of her son's death, and an overwhelming sense of guilt. Tonight, I was only two rows from the stage, so close that I could feel the emotion of Edita. I could see that tears were streaming down her face and her lips trembled as she sang Era desso il figlio mio. It was absolutely shivering. The whole audience was in a trance, before that magnificent and unparalleled performance. Indeed, Edita Gruberova confirms, increasingly, the well-deserved title of Primadonna assoluta.
After the fantastic and lengthy high E with which Edita Gruberova ends the opera, the entire audience stood up and instantly shouted "Brava" ecstatically. Dozens of people approached the stage and offered flowers and other gifts to Edita that, gently, bowed with a smile to accept the gifts from the enthusiastic audience. Endless "flashes" came from the multitude of cameras and mobile phones as everyone sought to capture the image of Edita Gruberova.
The other singers, particularly José Bros and Michele Pertussi, had tremendous performances. Less secure and bright, but very correct, was Laura Polverelli, who always seemed to be a little nervous.
The applause lasted for no less than half an hour. The crowd cried "Edita, Edita” because they wanted Edita Gruberova to return to the stage again and again, despite having the room lights partially off, trying to demobilize the public. From one of the boxes, someone hung a banner that read: "Edita, quale incanto".
Outside, dozens of fans waited for Edita Gruberova, who all attended and signed autographs for all. The applause and cries of "Brava" sounded throughout the Herbert von Karajan Platz as Edita Gruberova walked away from the opera house, waving to the public and carrying several bouquets of flowers.
Bravissima, Edita!
(Concerning translation, this is the best we can do. Please do not hesitate to comment if you feel it is not correct. We decided to translate this post into english because we know we have several visitors from abroad that, we guess, do not understand portuguese. Thank you).
Edita Gruberova confirms her triumph as Lucrezia Borgia at the Wiener Staatsoper –October 18th, 2010
Last October 18th, Edita Gruberova made the last of a series of five concerts as Lucrezia Borgia at the Vienna Opera. The Premiere was held on October 2nd and I had the opportunity to comment on it in this blog, so I will not dwell on too much about that concert.
Tonight the capacity of the room was more than exhausted and there were many who, in vain, desperate for a ticket outside. Those who could see and hear Edita Gruberova in this night of glory in the Wiener Staatsoper were, indeed, very lucky. The singer, who received an overwhelming applause when stepping in, did not disappoint the public, who praised her with fervor enthusiasm.
Immediately after the first few notes the artist took us to an ethereal dimension with the faultless legato, the crystalline tone of her voice, the perfect acrobatic coloratura, the treble in pianissimo, absolutely miraculous.
In addition to her extraordinary vocal perfection, Edita did a great representation of the role of Lucrezia, confirming her talent as a great actress, widely recognized throughout the world: the gestures, the facial expressions, the exclamations that her look and her voice conveyed, the pain in her face, experiencing the physical and psychological feelings of the character. And, please note, all in a concert version of an opera. Even without the support scenarios, Edita Gruberova brought us a complete and expert staged Lucrezia.
The climax of the action, as well as the technical and interpretative difficulty, arise in the end, when Lucrezia Borgia faces the pain of her son's death, and an overwhelming sense of guilt. Tonight, I was only two rows from the stage, so close that I could feel the emotion of Edita. I could see that tears were streaming down her face and her lips trembled as she sang Era desso il figlio mio. It was absolutely shivering. The whole audience was in a trance, before that magnificent and unparalleled performance. Indeed, Edita Gruberova confirms, increasingly, the well-deserved title of Primadonna assoluta.
After the fantastic and lengthy high E with which Edita Gruberova ends the opera, the entire audience stood up and instantly shouted "Brava" ecstatically. Dozens of people approached the stage and offered flowers and other gifts to Edita that, gently, bowed with a smile to accept the gifts from the enthusiastic audience. Endless "flashes" came from the multitude of cameras and mobile phones as everyone sought to capture the image of Edita Gruberova.
The other singers, particularly José Bros and Michele Pertussi, had tremendous performances. Less secure and bright, but very correct, was Laura Polverelli, who always seemed to be a little nervous.
The applause lasted for no less than half an hour. The crowd cried "Edita, Edita” because they wanted Edita Gruberova to return to the stage again and again, despite having the room lights partially off, trying to demobilize the public. From one of the boxes, someone hung a banner that read: "Edita, quale incanto".
Outside, dozens of fans waited for Edita Gruberova, who all attended and signed autographs for all. The applause and cries of "Brava" sounded throughout the Herbert von Karajan Platz as Edita Gruberova walked away from the opera house, waving to the public and carrying several bouquets of flowers.
Bravissima, Edita!
(Concerning translation, this is the best we can do. Please do not hesitate to comment if you feel it is not correct. We decided to translate this post into english because we know we have several visitors from abroad that, we guess, do not understand portuguese. Thank you).
terça-feira, 19 de outubro de 2010
WF – No meu “gira-discos” – Die Zauberflöte – W. A. Mozart
(review in english below)
Não tendo podido assistir ao Cosi fan tutte na Fundação Calouste Gulbenkian no passado mês de Setembro, e após ler a entusiasmante crítica por FanáticoUm, fiquei curioso em conhecer o Mozart de René Jacobs.
Tendo visto em DVD, há poucas semanas, uma encenação da Flauta Mágica da Zürich Opernhaus, decidi apostar em escutar a nova gravação desta Ópera por René Jacobs.
Cantores exímios, de grande beleza vocal, transportam-nos instantaneamente e sem recurso à imagem, para o ambiente por todos conhecido, da última ópera de Mozart, escrita no ano da sua morte.
As opções de Jacobs são, em algumas passagens inovadoras, alterando o habitual de outras gravações. Por exemplo, o texto é mais rico, por vezes sobrepondo-se intervenções no início das árias como em “Der Vogelfänger bin ich ja”, ária que termina de forma original; e opta por andamento muito lento no início do célebre dueto entre Papageno e Papagena (não posso dizer contudo que admiro esta opção... a única que me causou alguma estranheza e que me impede de considerar absolutamente esta gravação absolutamente próxima da perfeição). É excelente o lirismo de Tamino na ária “ªDies Bildnis ist bezubernd schön” e a presença vocal da Rainha da noite na ária “O zitte nicht, mein lieber Sohn!” e na célebre “Der Hölle Rache”.
Os efeitos sonoros são muito bons e a qualidade sonora e sensação de espaço que se obtém são únicas e marcantes, muito fruto do local de gravação por certo, mas também pela utilização de instrumentos da época.
Uma referência moderna desta ópera, a ter lugar em qualquer estante de um fanático.
A juntar na estante após ser vista, está a gravação em DVD da Zürich Opernhaus por Nikolaus Harnoncourt– encenação que se mantém ainda em cena na mesma casa de ópera.
Aqui dominam Harnoncourt, um autêntico Mestre em Mozart, e Ruben Drole com o Papageno. O jovem cantor, além de voz de barítono fantástica, alia um sentido cómico tão espontâneo e livre que impressiona qualquer um.
Elena Mosuc é forte como a Rainha. Julia Kleiter é celestial como Pamina. Matti Salminen mantém o seu nível habitual, como Sarastro, embora tenda a olhar muito para Harnoncourt o que, em cenas de aproximação, descaracteriza a personagem. Christoph Strehl começa a ópera a menos bem vocalmente embora evolua para um Tamino aceitável.
A encenação é moderna mas dinâmica, labiríntica em que portas e movimento de cenário fazem a acção rolar em palco de forma consistente.
Um bom complemento à gravação de Jacobs.
Boa música para todos.
WF – On my “Gramophone” – Die Zauberflöte – W. A. Mozart
I was unable to attend the Cosi fan tutte at the Calouste Gulbenkian Foundation last September. After reading the enthusiastic review of FanáticoUm, I was curious to listen to the Mozart of René Jacobs.
Having seen on DVD, a few weeks ago, a staging of the Magic Flute by the Opernhaus Zürich, I decided to bet on hearing the new recording of this opera by René Jacobs.
Vocally strong singers, with beautiful voice, are able to transport us instantly to the environment of Mozart’s last Opera, written in the year of his death.
Jacobs options are innovative in some passages, different from other recordings,. For example, the text is richer, sometimes overlapping interventions at the beginning of arias such as "Der Vogelfänger bin ich ja”, which ends in an original way; and he opts for a slower pace at the beginning of the famous duet between Papageno and Papagena (I cannot say that I admire that ... this is the only passage that caused me some surprise and keeps me from considering this recording absolutely close to perfection). It is excellent the lyricism of Tamino in the aria "Dies Bildnis ist th bezubernd schön" and the vocal presence of the Queen of the Night in the aria "The Zitte nicht, mein lieber Sohn!" and in the famous "Der Hölle Rache.".
The sound effects are very good, and the sound quality and sense of space you get are unique and striking, in part due to the recording location but also, for sure, also due to the use of period instruments.
This recording is a modern reference of this opera and a must have for any opera lover.
Also a must have to add to the Jacobs set is the DVD recording by Nikolaus Harnoncourt at the Opernhaus Zürich – a production which is still on the scene at this Opera House this season.
Harnoncourt rules as a true Mozart Master, and Ruben Drole as Papageno is the ultimate singer. Young and with a great baritone voice, he combines a spontaneous and free humorous way that impresses everyone.
Elena Mosuc is strong as the Queen. Julia Kleit is heavenly as Pamina. Matti Salminen retains his usual level, as Sarastro, but tends to look too much towards Harnoncourt while he sings. Christoph Strehl does not begin well vocally but he ends up to be a very acceptable Tamino.
The scenario is modern but dynamic, labyrintic, where doors and a sense of movement on stage make the action roll consistently.
A good addition to the Jacobs recording.
Good listening and viewing to everyone.
Não tendo podido assistir ao Cosi fan tutte na Fundação Calouste Gulbenkian no passado mês de Setembro, e após ler a entusiasmante crítica por FanáticoUm, fiquei curioso em conhecer o Mozart de René Jacobs.
Tendo visto em DVD, há poucas semanas, uma encenação da Flauta Mágica da Zürich Opernhaus, decidi apostar em escutar a nova gravação desta Ópera por René Jacobs.
Cantores exímios, de grande beleza vocal, transportam-nos instantaneamente e sem recurso à imagem, para o ambiente por todos conhecido, da última ópera de Mozart, escrita no ano da sua morte.
As opções de Jacobs são, em algumas passagens inovadoras, alterando o habitual de outras gravações. Por exemplo, o texto é mais rico, por vezes sobrepondo-se intervenções no início das árias como em “Der Vogelfänger bin ich ja”, ária que termina de forma original; e opta por andamento muito lento no início do célebre dueto entre Papageno e Papagena (não posso dizer contudo que admiro esta opção... a única que me causou alguma estranheza e que me impede de considerar absolutamente esta gravação absolutamente próxima da perfeição). É excelente o lirismo de Tamino na ária “ªDies Bildnis ist bezubernd schön” e a presença vocal da Rainha da noite na ária “O zitte nicht, mein lieber Sohn!” e na célebre “Der Hölle Rache”.
Os efeitos sonoros são muito bons e a qualidade sonora e sensação de espaço que se obtém são únicas e marcantes, muito fruto do local de gravação por certo, mas também pela utilização de instrumentos da época.
Uma referência moderna desta ópera, a ter lugar em qualquer estante de um fanático.
A juntar na estante após ser vista, está a gravação em DVD da Zürich Opernhaus por Nikolaus Harnoncourt– encenação que se mantém ainda em cena na mesma casa de ópera.
Aqui dominam Harnoncourt, um autêntico Mestre em Mozart, e Ruben Drole com o Papageno. O jovem cantor, além de voz de barítono fantástica, alia um sentido cómico tão espontâneo e livre que impressiona qualquer um.
Elena Mosuc é forte como a Rainha. Julia Kleiter é celestial como Pamina. Matti Salminen mantém o seu nível habitual, como Sarastro, embora tenda a olhar muito para Harnoncourt o que, em cenas de aproximação, descaracteriza a personagem. Christoph Strehl começa a ópera a menos bem vocalmente embora evolua para um Tamino aceitável.
A encenação é moderna mas dinâmica, labiríntica em que portas e movimento de cenário fazem a acção rolar em palco de forma consistente.
Um bom complemento à gravação de Jacobs.
Boa música para todos.
WF – On my “Gramophone” – Die Zauberflöte – W. A. Mozart
I was unable to attend the Cosi fan tutte at the Calouste Gulbenkian Foundation last September. After reading the enthusiastic review of FanáticoUm, I was curious to listen to the Mozart of René Jacobs.
Having seen on DVD, a few weeks ago, a staging of the Magic Flute by the Opernhaus Zürich, I decided to bet on hearing the new recording of this opera by René Jacobs.
Vocally strong singers, with beautiful voice, are able to transport us instantly to the environment of Mozart’s last Opera, written in the year of his death.
Jacobs options are innovative in some passages, different from other recordings,. For example, the text is richer, sometimes overlapping interventions at the beginning of arias such as "Der Vogelfänger bin ich ja”, which ends in an original way; and he opts for a slower pace at the beginning of the famous duet between Papageno and Papagena (I cannot say that I admire that ... this is the only passage that caused me some surprise and keeps me from considering this recording absolutely close to perfection). It is excellent the lyricism of Tamino in the aria "Dies Bildnis ist th bezubernd schön" and the vocal presence of the Queen of the Night in the aria "The Zitte nicht, mein lieber Sohn!" and in the famous "Der Hölle Rache.".
The sound effects are very good, and the sound quality and sense of space you get are unique and striking, in part due to the recording location but also, for sure, also due to the use of period instruments.
This recording is a modern reference of this opera and a must have for any opera lover.
Also a must have to add to the Jacobs set is the DVD recording by Nikolaus Harnoncourt at the Opernhaus Zürich – a production which is still on the scene at this Opera House this season.
Harnoncourt rules as a true Mozart Master, and Ruben Drole as Papageno is the ultimate singer. Young and with a great baritone voice, he combines a spontaneous and free humorous way that impresses everyone.
Elena Mosuc is strong as the Queen. Julia Kleit is heavenly as Pamina. Matti Salminen retains his usual level, as Sarastro, but tends to look too much towards Harnoncourt while he sings. Christoph Strehl does not begin well vocally but he ends up to be a very acceptable Tamino.
The scenario is modern but dynamic, labyrintic, where doors and a sense of movement on stage make the action roll consistently.
A good addition to the Jacobs recording.
Good listening and viewing to everyone.
domingo, 17 de outubro de 2010
Das Rheingold – MetLive em HD – Fundação Calouste Gulbenkian – 16 de Outubro de 2010 (récita em diferido de dia 9) – Levine e Lepage marcam nova Era?
(review in english below)
Permitam que faça um breve momento de silêncio antes de proferir o que solenemente pretendo.
Obrigado.
À quarta temporada das transmissões em directo do Met, finalmente temos a oportunidade de assistir às célebres matinés das 13h, que até agora apenas podíamos viver através da Antena2. Deixo uma palavra de apreço e de estímulo à Fundação Calouste Gulbenkian que, como penso que todos concordamos, é neste momento, a maior entidade promotora da boa música erutida no nosso país.
Como estamos em Portugal, a estreia do MetLive só podia ser... em diferido e não em directo. Compreendeu-se claramente a razão pela qual esta récita de dia 9 só hoje ser apresentada: compromissos com outros artistas impediram a estreia em directo. Foi só um apontamento meio jocoso que achei interessante incluir...
Agora... outro momento de silêncio e este mais solene...
Obrigado.
Com uma gestação de 5 anos, assistimos hoje ao início da nova produção do Anel do Nibelungo Lepage-Levine, da Metropolitan Opera House.
Como profundo amante da ópera que sou, e sem desprimor para aqueles que gostam mas não amam, estou perfeitamente convencido que esta produção marca um virar na história da Ópera e que feliz fico ao ver que é através do meu tão estimado Richard Wagner. Wagner se tivesse ouvido este Das Rheingold voltaria a morrer de novo enfarte, não de terror, mas de alegria e satisfação extremas.
Para este Das Rheingold (O Ouro do Reno), o Met conseguiu reunir um leque de cantores que primaram não só pelo timbre perfeito e idade ajustada para cada personagem que interpretam, bem como pela excelente forma da voz e capacidade dramático-interpretativa. Se aliarmos a isto a perfeita abordagem de Levine, com uma Orquestra sublime, e uma encenação simplesmente de tirar o folgo, temos a perfeição em Ópera. E foi essa perfeição que sinto que assisti hoje. É-me difícil diferenciar este ou aquele cantor porque estiveram todos, pelos motivos que apresentei previamente, no seu melhor. Mas tentarei dizer algo individualizado.
Eric Owens foi uma surpresa colossal! O seu Alberich foi simplesmente fantástico! Que voz perfeita e que fusão com o papel em termos interpretativos. Excelente! Lá lhe faltou a voz por momentos (não percebi se tossiu ou se espirrou) no 4º quadro, mas disfarçou de modo sublime e não destoando da situação vivida no momento em palco.
Gerhard Siegel é o melhor Mime da actualidade e tem mostrado isso frequentemente. Hoje não foi excepção. Timbre perfeito para o papel e a sua postura em palco, os maneirismos interpretativos são inigualáveis... A referência que tenho no papel é Heinz Zednik e atrevo-me a dizer que, apartir de hoje, é Siegel. O aperitivo que nos deixou faz ansiar pelo Siegfried da próxima temporada.
Bryn Terfel esteve muito, muito bem. É fantástico como, sendo esta a segunda produção em que aborda o papel de Wotan, tenha já adquirido uma maturidade tão profunda no papel. A voz mais cristalina do que o habitual, menos “ladrada” como muitos definem, reflete o excelente momento do cantor. Esperemos que dure ainda uns 10 anos com a qualidade de interpretação que nos deu hoje.
Richard Croft foi um Loge convincente. Timbre excelente para o papel do (semi)deus do fogo, a interacção com Terfel no 3º quadro, enquanto tenta ludibriar Alberich, foi sublime.
Tanto Fasolt como Fafner foram brilhantemente interpretados por Franz-Josef Selig e Hans-Peter Konig. Mas o que me dizem de Franz-Josef Selig? Que Fasolt!!! Que profundidade de baixos, que beleza na linha melódica, que presença dramática. Como se despede de Freia quando a perde pelo Ouro... Arrepiante!
Nas cantoras, a maior surpresa foi Erda. Patrícia Bardon dominou a sua cena de forma incisiva e de grande efeito. Um “legato” perfeito, dramaticamente eficiente e de beleza extra-sensorial, numa das passagens que marca o rumo do drama deste Anel. Stephanie Blythe é uma Fricka com presença em palco e não compromete na sua abordagem ao papel. As Rhinmaidens, que abrem a Ópera em termos vocais, foram musicalmente perfeitas.
Estiveram todos a um nível superlativo!
James Levine, já um dos maiores maestros Wagnerianos desde há várias décadas, hoje e ainda muito mais quando virmos este ciclo do Anel terminado, será coroado, por certo, como o maior de todos. Sempre fui fã da abordagem de Levine a Wagner. Guardo com grande apreço a gravação do seu Parsifal em Bayreuth da Phillips. Talvez a melhor interpretação orquestral de sempre para mim.
Levine vive Wagner. A dinâmica e pacing que imprime em tudo me enchem as medidas e só posso dizer que, juntamente com a excelente Orquestra do Met, nos deu uma interpretação digna de deuses. Sem falhas! Perfeito!
Deixo para o fim o mais esperado: a encenação de Robert Lepage. Atrevo-me a dizer que, pelo menos para as encenações de óperas de Wagner, passará a existir a A.L e D.L (antes de Lepage e depois de Lepage).
A ideia da plataforma multiusos é simplesmente genial e eficaz. Como é possível com tão pouco (embora toda a engenharia por detrás de tal seja complexa) conseguir-se navegar pela Ópera do início ao fim, produzindo ambientes diferentes e adequados?
A simulação das águas do Reno com as Rhinmaidens ao se moverem e cantarem, levarem à emissão de bolhas de ar é simplesmente divinal.
A imagem de fogo que circunda Loge sobre a plataforma, o acender dos seus dedos ao sopro é genial.
Pormenores como a serpente com extremos reais e corpo sobre a plataforma...
...o sapo que parece com vida em movimento, a descida e subida de Wotan e Loge ao reino dos Nibelungos com actores suspensos em andamento sobre a plataforma...
...o arco íris de Froh com os deuses a entrarem em Valhalla... Espectacular!!!
O que dizer do efeito de Loge com as mãos e dedos iluminados sobre Freia como que a enaltecendo como Mulher pela luz e ao mesmo tempo a protegendo como o bem que é a Mulher através do calor, enquanto canta que em lado nenhum encontrou alguém que não achasse que o amor de uma mulher é o maior bem que se pode ter?
E o pormenor da lança de Wotan a entrelaçar-se no braço de Alberich para sobresair o anel? E o momento em que Alberich chama os nibelungos para lhe trazerem o ouro e estende a sua mão com o anel em completa sincronia dramática com a orquestra? Todos os fatos são de um bom gosto raro, muito originais, sem excessos... A armadura de Wotan, o pormenor do cabelo sobre o olho que não tem... SUBLIME!!!
Estou rendido a esta produção e Abril parece ainda muito longe para esperar por Die Walkure...
Para terminar (não querendo parecer presunçoso), a quem tenha ido e reparado no que o senhor que apresentou a ópera no palco da Gulbenkian disse, a ópera Das Rheingold dura durante sensivelmente 2h30 minutos SEM intervalo não porque Lepage (o encenador) o quis, mas sim porque WAGNER o quis! Esta ópera é impossível de ter intervalo porque a linha melódica, como feita por Wagner, é contínua.
(todas as fotos apresentadas são de Ken Howard e podem ser encontradas em http://metoperafamily.org/metopera/news/photos/gallery.aspx?id=12628)
Das Rheingold - MetLive HD - Calouste Gulbenkian Foundation - October 16th, 2010 (pre-recorded October 9th) - Levine and Lepage mark a new Era?
Allow me one brief moment of solemn silence
Thank you.
In the fourth season of live broadcasts from the Met, we finally have the opportunity to attend the famous 1pm matinees, which until now could only be heard live through the radio station Antena2 in Portugal. I leave a word of appreciation and encouragement to the Calouste Gulbenkian Foundation, as I think we all agree, is currently the largest organization promoting good music in our country.
Now ... another moment of silence and this even more solemn ...
Thank you.
With a pregnancy of of 5 years, today we are witnessing the beginning of the new production of the Ring of the Nibelung Lepage-Levine, at the Metropolitan Opera House.
Being a profound opera lover, I am perfectly convinced that this production marks a turn in the history of the Opera and I am happy to see that this is through my highly esteemed Richard Wagner. If Wagner had the opportunity to listen to this Das Rheingold he would probably die again with heart infarction, not of terror but of extreme joy and satisfaction.
For this production of Das Rheingold, the Met managed to gather a range of excellent singers not only for the perfect pitch and adjusted age for each character they are playing, but also by the momentum quality of the voice and and dramatic / interpretative ability. If we add to this the perfect approach of James Levine along with his sublime Orchestra, and a staging capable of leaving us with no breath, we have perfection in Opera. We reached this perfection today. I find it difficult to distinguish this or that singer because they were all at their best. But I will try to say something individually.
Eric Owens was a huge surprise! His Alberich was simply fantastic! What a voice and how he merged with the part... Excellent! There was only one moment in which he lacked his voice (did he cough or sneezed?) in the 4th frame, but disguised it so well that it sounded perfect.
Gerhard Siegel's Mime is the best nowadays and he has been showing that from some years now. Today was no exception. Perfect pitch for the role and great attitude on stage – his interpretive mannerisms are unparalleled ... The reference I have on this role is Heinz Zednik and I dare say that, from today, is Siegel. He gave us a very good appetizer for Siegfried in the next season.
Bryn Terfel was very, very well. It's amazing how, being his second production as Wotan, he has already acquired a maturity in such a profound role. The voice sounded more crystalline than usual, less "barked" as many define it. This reflects the excellent voice momentum of the singer. I hope it last for at least 10 years more with the quality of the interpretation that he gave us today.
Richard Croft was a convincing Loge. Excellent voice for the role of the (semi) God of Fire. The interaction with Terfel in the 3rd scene, while trying to hoodwink Alberich, was sublime.
Fasolt and Fafner were brilliantly interpreted by Franz-Josef Selig and Hans-Peter Konig. But what about Franz-Josef Selig? What a Fasolt! What depth in the lower range of his voice... what pure and lovely voice... what a dramatic presence on stage! His farewell to Freia was superb!
In women singers, the biggest surprise was Erda. Patricia Bardon dominated his scene incisively and with great effect. A perfect “legato”, dramatically effective, in one of the passages that mark the course of the drama of the Ring. Stephanie Blythe’s Fricka has a perfect presence on stage. The Rhinmaidens were musically perfect.
They were all at a superlative level!
James Levine, one of the greatest Wagnerian conductors, will probably become the greatest of all after today and even more when we see the end of this Ring. I have always been a fan of Levine's approach to Wagner. I cherish, with great appreciation, his recording of Parsifal in Bayreuth made by the recording label Phillips. Perhaps the best orchestral interpretation ever, in my humble opinion.
Levine lives Wagner. The dynamics and pacing that he prints to the opera are perfect and I can only say that, along with his superb Orchestra, he gave us an interpretation worthy of the gods. Flawless! Perfect! Can we call him James Divine?!
I leave for the end the biggest revolution: the staging by Robert Lepage. I dare say that, at least for the productions of Wagner's operas, there will be a B.L (before Lepage) and a A.L (after Lepage) period.
The idea of multi-purpose platform is simply brilliant and effective. How is it possible to make so much with so little? (although all the engineering behind this being so complex). This is able to produce lots of different environments in the course of the operas and always seeming appropriate.
The simulation of the waters of the Rhine with Rhinmaidens leading to the release of air bubbles motion sensed is simply divine.
The image of fire that surrounds Loge on the platform, the lighting of his fingers with a breath is great.
Details like the snake with real and extreme body on the platform...
...the frog that looks alive, the Wotan and Loge journey to the kingdom of the Nibelungs, with actors suspended in progress on the platform...
... Froh´s rainbow in which the Gods enter Valhalla... Awesome!
What about the effect of Loge with his hands and fingers laying over Freia? He lights her as a Woman and, at the same time, he warmly protects her as a heavenly gift – the gift of Woman – as he sings that no where in the Universe he found a person who did not find the love of a Woman the most precious gift.
And what about the detail of the spear of Wotan uplifting Albreich’s armin order to see expose the Ring? And the moment when Alberich calls his slaves in order for them to bring him the gold and extends his hand with the Ring in complete sync with the orchestra? SUBLIME!
I am surrendered to this production and April seems too far away to wait for Die Walkure ...
(all the presented photos belong to Ken Howard and they can be found at http://metoperafamily.org/metopera/news/photos/gallery.aspx?id=12628)
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Tristan und Isolde – Opernhaus Zϋrich – 10 de Outubro de 2010 – Peter Seiffert reinventa o papel de Tristão, cantando-o em disfonia progressiva…
(english version below)
Esta produção de Tristão e Isolda na Ópera de Zϋrich, que se estende durante este Outubro, prometia. Reuniam-se 4 colossos wagnerianos: Waltraud Meier, Peter Seiffert, Matti Salminen e Bernard Haitink.
Alguns dias antes da estreia a 5 de Outubro, Waltraud Meier abandonou a produção, alegadamente por divergências artísticas com Bernard Haitink, sendo substituída pela, para mim desconhecida, Barbara Schneider-Hofsteter.
Bilhetes comprados, que fazer? Ir, claro. De 4 passavamos a 3. No Domingo, quando antes do início da récita, alguém da casa vem ao palco, temi o pior: Salminen, que havia cantado na véspera a última récita do Der Fliegende Hollander em Paris (récita de 24/09 revista neste blog), não cantaria? Não, não era isso. Alívio. Peter Seiffert não se encontrava em boa forma vocal mas ia cantar mesmo assim. Todos aplaudiram. Eu estremeci por dentro! Em má forma vocal e aventurar-se no Tristão? Ia dar “buraco”, para não dizer outra coisa que a moderação deste blog não permite… Com lugar na primeira fila da plateia, assisti a um 1º acto onde Seiffert , embora chupando uns rebuçados (provavelmente de ervas suíças…), nos brindou com uma voz forte, sem vacilar muito, com um ou outro sinal discreto de quem padece de algo laríngeo, mas facilmente resolvido no curso do canto. O final do 1º acto foi bastante intenso musical e dramaticamente e, no geral, em conjunto com a abertura e os 2 monólogos do Rei Marke, o melhor da récita.
Se o 1º acto foi aceitável, o 2º foi um pesadelo! Logo desde o início do dueto de amor, a voz de Seiffert quebrou. O “fantasma” que assombrou a voz de Ben Heppner no Tristão de Londres em 2009 e a que os Fanáticos assistiram (revisto neste blog) voltava a atacar agora em Zϋrich. Períodos de instabilidade vocal caracterizados por sensação de catarro e “altos e baixos” tipo oscilação sobre a linha de base nas notas longas, entrecruzavam-se com alturas melhores em que, forçando ainda mais a voz, lá vinha um pouco do verdadeiro Seiffert que ainda existe de base e em excelente vivacidade vocal (não estamos a falar de um cantor que já não tem voz mas sim um cantor com a voz pontualmente doente). O resultado foi a completa quebra do ambiente dramático da ópera e o início da queda de uma récita que ainda podia vir a ser muito boa, aparte de tudo o que de menos bom havia tido até então. Além dos rebuçados, agora era a água e a imitação de vinho (adereços do cenário) que procuravam ajudar Seiffert. Quando no final do 2º acto se cumpre o ferir de Tristão, onde quer que Wagner esteja, deve ter sentido um grande alívio… era o que melhor se aplicava à voz de Seiffert naquele momento.
Se o 2º acto foi pesadelo, o 3º foi de Terror! Nunca tinha assistido a nada assim. Dois a três minutos foi o tempo necessário para Seiffert quebrar por completo a um nível deplorável. Desejo a todos que nunca tenham de passar por isto quando assistirem a uma ópera. Completamente disfónico, ao mais alto grau – houve alturas em que abriu a boca e o som simplesmente não saiu… nenhum som vocal… puramente silêncio… - afonia pura e dura! Nem rebuçados, nem água, nem nada!! A voz simplesmente não existia! Embora não sendo a sua área, acho que Villazon teria cantado melhor este Tristão… e DURANTE a sua própria cirurgia às cordas vocais (ironia…)!...
É justo colocar um cantor nesta situação, mesmo que Seiffert o queira ter feito?! Isto não deve acontecer numa casa de ópera desta dimensão! Relembro um episódio semelhante e não tão gravoso. Há 2 anos, ouvia eu pela Internet, a 2ª Valquíria dos últimos ciclos do Anel de Otto Schenk no Met. Um aviso inicial informava que Plácido Domingo estava indisposto mas que mesmo assim cantaria. No meio a ¾ do 1º acto, é feita a troca por Gary Lehman que termina o acto e a ópera. Mais palavras para quê?
Passemos então àquilo que posso dizer de melhor em relação à récita (depois disto, quase tudo pode parecer melhor…)
Começamos do menos bom para o melhor, deixando para o final a encenação.
A Brangäne de Michelle Breedt foi mediana. Dotada de figura e voz pouco potente, com timbre tímido em relação a outras cantoras que já interpretaram excelentemente este papel, mal se conseguiu ouvir no 2º aviso durante o dueto do 2º acto entre Tristão e Isolda.
Barbara Schneider-Hofsteter foi uma boa substituta de Waltraud Meier. Sinceramente acho que Meier já não consegue muitos dos agudos que o papel exige, embora o pudesse compensar com aspecto interpretativos. Mas agudos + interpretação estiveram presentes em Schneider-Hofsteter. Boa actriz, sem excessos, teve o seu pior momento interpretativo talvez na passagem após ambos os amantes beberem o filtro, não evidenciando um esperado transe clássico. Potência de voz aliada a agudos não gritados permitiram, por momentos, esquecer o horror de Seiffert. Tem, contudo, um defeito que, a mim, me faz confusão ao ver: quando canta as vogais abertas, principalmente com agudos, esboça um bocejo com a boca, cenicamente feio, embora vocalmente eficaz.
O Kurwenal de Martin Gantner foi excelente. Barítono fantástico com voz firme, deslumbrou no 3º acto, oposto a um Seiffert esgotado.
Matti Salminen é um colosso! Soberbo Rei Marke, em especial no 3º acto onde não teve de cantar maioritariamente sentado. Foi o melhor da noite, com graves que ainda ressoam por todo o teatro.
A Orquestra e a direcção de Bernard Haitink foram sublimes! O som que saiu do fosso foi rico, texturado, compreendendo-se claramente cada linha melódica de cada naipe; ataques síncronos (apenas com uma excepção com entrada precoce dos violinos) e dinâmica perfeita.
A encenação de Claus Guth é curiosamente inteligente e original. Transporta a acção para a casa de Otto Wesendonk, imprimindo o real do triângulo amoroso Richard – Mathilde – Otto para Tristão – Isolda – Marke, que está na génese desta ópera. Várias salas – quarto (em tons de vermelho), sala de jantar (em tons de azul e visível no vídeo em baixo), jardim (com vasos grandes de plantas) e parede com 3 portas em branco – vão rodando, maioritariamente no sentido dos ponteiros do relógio, com as personagens passando através de portas, de uma sala para a outra.
Curiosamente, o 2º acto que originalmente se passa no jardim do palácio de Marke, não encontra paralelo no jardim da casa desta encenação. Este serve de palco ao 1º encontro (1º acto) entre Tristão e Isolda.
Pormenor interessante é a abordagem dada ao aviso de Brangäne sobre Melot no início do 2º acto. Paredes rodam e vemos a sala de jantar com as personagens estáticas tal e qual figuras da Madame Tussauds, simulando a apresentação de Isolda por Tristão a Marke, com Melot vigil em cena. Brangäne move-se livremente enquanto Isolda vai dando e largando a mão de Tristão. O início do dueto do 2º acto é na mesma sala onde se simula do mesmo modo, um baile de boas vindas e onde Tristão e Isolda deambulam como que indiferentes a todos e a tudo o que os rodeia e que permanece estático, incluindo Melot observador a um canto da sala. O “O sink…” é já sob a parede com 3 portas em branco, onde se vai projectando sombras de folhas de árvore. No momento do interlúdio do dueto, o cenário move-se e revela Melot escutando por detrás de uma das portas… No geral é uma abordagem diferente, interessante e eficaz, pecando apenas na sua descontextualização relativa, quando se fazer referências a navio, quer no 1º quer no 3º acto.
O site da Opernhaus oferece algumas fotos da produção em http://opernhaus.ch/de/media_pr/fotodb/fotodb.php?prodID=94 que convido a visitar (não publicadas aqui por motivos de copyright)
A Opernhaus de Zϋrich mistura estilo clássico com moderno de forma harmoniosa. Achei particularmente interessante a existência de pequenos cestos de metal, patrocinados pela marca suíça Ricola, contendo os conhecidos rebuçados de ervas.
Uma hora antes do início da récita estavam todos assim:
No final do 1º acto – 1º intervalo estavam assim:
Talvez muitos deles no bolso de Peter Seiffert, não?
Deixo-vos com as habituais fotos e vídeo da chamada ao palco, chamando particular atenção para o gestual pedido de desculpa e agradecimento pela compreensão de Peter Seiffert, tendo como fundo aplausos, no meu ponto de vista, misericordiosos, de uma plateia que o conhece e acaricia muito.
Tristan und Isolde - Opernhaus Zϋrich - 10 October 2010 - Peter Seiffert reinvents the role of Tristan, singing it in progressive dysphonia ...
This production of Tristan and Isolde at the Zϋrich Opera House, which goes all along this October, was very promising. The presence of four Wagnerian giants: Waltraud Meier, Peter Seiffert, Matti Salminen and Bernard Haitink was a real treat.
A few days before the premiere, Waltraud Meier walked away, allegedly by artistic differences with Bernard Haitink. She was replaced by the unknown to me Barbara Schneider-Hofsteter.
What to do with the tickets in my hand? Use them, of course. From 4 we went to 3 giants… Last Sunday, when a person from the opera showed on stage to give an announcement, I feared the worst: Salminen, who had sung Der Fliegende Hollander in Paris (24/09 reviewed in this blog) will not be singing? No, it was not that. What a relief. Peter Seiffert was not in good vocal form, but he would sing anyway. Everyone applauded. I felt a cold sensation on my spine. In vocal bad condition he would adventure himself in the role of Tristan? This was not going to find a happy ending… With a first row place, I watched a 1st act where Seiffert, while sucking on a candy (probably herbal Swiss ...) offered us a strong voice, without much hesitation, with one or two discrete signals typical of those suffering from laryngeal problem, but easily solved. The end of the 1st act was pretty intense and, in general, along with the opening and the two monologues of King Marke, it was the best moment of the evening.
If the 1st act was acceptable, the 2nd was a nightmare! Right from the beginning of the love duet, his voice broke. The "ghost" that haunted the voice of Ben Heppner in the London Tristan in 2009 to which the Fanatics went (reviewed in this blog) was striking back, this time in Zurich. Periods of instability characterized by vocal sensation of phlegm and "boom and bust" type oscillation over the baseline in long notes, came along with better moments where, even forcing the voice, the true Seiffert showed himself (we're not talking about a singer who has no voice but a singer with the voice occasionally ill). The result was the complete breakdown of the dramatic setting of the opera and the beginning of the fall of an evening which could still prove to be very good, apart from everything that had been not so good so far. In addition to sweets, now it was the water and the fake wine who tried to help Seiffert.
If the 2nd act was nightmare, the 3rd was of Terror! I had never seen anything like that. Two to three minutes was all it took to Seiffert voice to enter a deplorable level. Fully dysphonic to the highest degree - there were times when he opened his mouth and the sound simply did not come out! No sweets could help, no water could help, nothing! The voice simply did not exist! Villazon, despite not being a role to him, he could have sung this part better ... and DURING his own vocal cord surgery…
It's fair to put a singer in this situation, even if Seiffert wanted to do it?! This should not happen in an opera house like this! I recall a similar episode and not so onerous. Two years ago, I heard over the Internet, the second Valkyrie in the last stages of the Ring at the Met by Otto Schenk. Placido Domingo was ill and not feeling well but he would still sing. He was replaced in the middle of the first act and exchanged places with Gary Lehman who ended the act and the opera. Need I say more?!...
Let us now turn to what of positive I can tell you about the evening.
Brangäne was performed by an average Michelle Breedt. Endowed with little figure and not so powerful voice we could barely hear second warning during the Act 2 duet between Tristan and Isolde.
Barbara Schneider-Hofsteter was a good substitute for Waltraud Meier. I honestly think that Meier´s voice has lost most of what it takes to play Isolde, although she could compensate it with interpretative abilities. But these were present in sharp Schneider-Hofsteter. A good actress, she had perhaps his worst moment in the interpretive passage after both lovers drink the filter. Power combined with an unshouted voice allowed, for a brief moment, to forget the horror of Seiffert. It has, however, a tick that I dislike: when she sings the open vowels, especially with sharp outlines, she makes a yawn with her mouth, scenically ugly, though vocally effective.
Kurwenal by Martin Gantner was excellent. Fantastic baritone. Firm voice, dazzled in the 3rd act, opposed to an exhausted Seiffert.
Matti Salminen is a colossus! A superb King Marke, especially in the 3rd act where he did not have to sing sitted. It was the best of the night with a bass voice that still resonates throughout the theater.
The Orchestra and Bernard Haitink were sublime! The sound that came out of the pit was rich, textured, allowing to understand clearly each melodic line of each group; synchronous attacks (with one exception with early entry of the violins) and perfect dynamics.
The production by Claus Guth is curiously clever and original. It transports the action to the home of Otto Wesendonk, printing the actual love triangle Richard - Mathilde - Otto for Tristan - Isolde - Marke, who is in the genesis of this opera. Several rooms - bedroom (in red), dining room (in shades of blue and visible in the video below), garden (with large pots of plants) and a wall with three doors in white - will run, mostly clockwise, with the characters going through doors from one room to another.
Interestingly, the Act 2 that originally takes place in the palace garden, has no parallel in the garden of this scenario. This serves as stage to the 1st meeting (1st act) between Tristan and Isolde. Interesting detail is the approach to the warning about Melot made by Brangäne, at the beginning of Act 2. Walls run and you see the dining room with the characters just like static figures of Madame Tussauds, simulating the arrival of Isolde with Tristan before Marke. Melot observes the scene. Brangäne moves freely while Isolde is giving and leaving the hand of Tristan. The beginning of the duet of Act 2 is in the same room. A ball of welcoming is in course but Tristan and Isolde wander as if they were the only ones in the room. All the other remain static, including the observer Melot. The "O sink ..." is already on the wall with three doors in white, were shadows of tree leaves are projected. At the time of the duet interlude, the scene moves and reveals Melot listening behind a door ... Overall this is a different approach, interesting and effective only less consistent in its decontextualization when making references to ships.
The website of the Opernhaus offers some photos of the production at http://opernhaus.ch/de/media_pr/fotodb/fotodb.php?prodID=94 which I invite you to see (unpublished here due to copyright).
The Opernhaus Zϋrich mixes classic with modern style smoothly. I found particularly interesting the fact they have small metal baskets, sponsored by Ricola Swiss brand, containing the famous herbs sweets.
An hour before the opera they all looked like this:
At the end of the 1st act - 1st interval, they were as follows:
Perhaps many of them in the pocket of Peter Seiffert, no?
I leave you with the usual photos and video of the curtain call. Please see how Seiffert gestures to the audience asking for apology and thanking for the understanding of the opera fans. The applause was a merciful one from an audience who knows and loves him.
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