(review in english below)
A sonata para violino e piano não é o género de música de câmara que mais aprecio. Exceptuo a de César Franck e a de Debussy, que sempre me transportaram para um universo diferente das outras. Contudo, dei uma hipótese ao ouvir, ao vivo, 3 (nº 3, 4 e 9) das 10 que Beethoven escreveu.
Viktoria Mullova não precisa de se afirmar como uma excelente violinista porque há muitos anos que o é e hoje, na Gulbenkian, expôs e deslumbrou com a sua irrepreensível técnica, numa escolha inteligente de repertório, incluindo a talvez mais célebre sonata para violino e piano de Beethoven – “Kreutzer”.
Kristian Bezuidenhout, ao piano, ofereceu um som quente e doce bem como vigoroso e preciso, consoante as passagens assim o exigiam.
Para mim, pelo motivo que referi, foi um agradável final de tarde. Para os amantes do género, terá sido, por certo, um momento inesquecível.
Penso que o génio de Beethoven não teria conseguido imaginar o quão especial fica, como cadenza no 1º e 2º andamentos da “Kreutzer”, o coro de tosses cavernosas (som mais intenso que a passagem das carruagens do metro) oferecida por talvez mais de 50% do auditório da Gulbenkian. A beleza da Música também está no silêncio quando termina.
VIKTORIA Mullova in Beethoven’s sonatas for violin and piano - Calouste Gulbenkian Foundation - March 6, 2012
The sonata for violin and piano is not the kind of chamber music I most appreciate. Exceptions are those of Cesar Franck and Claude Debussy, who have always transported me to a special world, different from the others. However, I gave a chance to then genre, hearing, live, 3 (numbers 3, 4 and 9) of the 10 Beethoven wrote.
Viktoria Mullova does not need to assert herself as an excellent violinist because she has been it for many years and today she exposed and dazzled with her flawless technique, in a smart choice of repertoire, including perhaps most famous sonata for violin and piano Beethoven wrote – the "Kreutzer".
Kristian Bezuidenhout, in the piano, offered a warm and sweet sound along with a strong and precise one, in the different moments the works required.
For me, due to the reason I mentioned, it was a pleasant evening. For the lovers of the genre, it was, perhaps, an unforgettable moment.
I think the genius of Beethoven could not have imagined how special it is, as a cadenza in the 1st and 2nd movements of the "Kreutzer", the chorus of cavernous coughs (a sound more intense than the passage of the chariots of the subway) offered for perhaps more than 50% of the auditorium. The beauty of music is also in the silence when it ends.
De facto, aquele concurso que ocorre em quase todos os concertos da Gulbenkian (quem tosse mais e mais alto!) é cada vez mais misterioso para mim.
ResponderEliminarDeverá haver alguma explicação sociológica ou antropológica para o fenómeno porque médica não há, a menos que as pessoas decidam ir gravemente doentes para os concertos, hipótese que não coloco porque seria mau para as pessoas (poderiam agravar a doença e, eventualmente, "apanhar" uma pneumonia que as levasse à morte) e ainda pior para os outros (que estarão em risco elevado de contágio).
Estou neste momento em Nova Iorque e já fui algumas vezes ao Met que é o maior teatro de ópera do mundo e, durante os espectáculos, praticamente não se ouve tossir. E aqui é inverno a sério, ainda com temperaturas negativas.
Peculiaridades lusitanas (ou ibéricas)…
Aqui as pessoas se ajeitam nas cadeiras fazendo estalos sem contar os celulares etc...
ResponderEliminarTextos como o seu ajudam a educar.
Parabéns pela crônica sonora como sempre
Caro António,
ResponderEliminarNo início deste blog continha-me um pouco nestes comentários mas agora não consigo. Há dias melhores e outros piores. Não procuro educar nem ofender as pessoas porque todos temos telhados de vidro mas gostava de ser respeitado nestes concertos do mesmo modo que eu respeito as outras pessoas.
Abraço para si e para todos no atelier.
My father played the violin, so I tend to gravitate to the sound.
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