LE NOZZE DI FIGARO – Gran Teatro del Liceu, Barcelona – 1 Fevereiro 2012

(review in english below)

Recorrendo essencialmente a prata da casa, a preço de “saldo” e intercalando com Il Burbero di buon cuore (supostamente rivalizando com esta ópera), o Gran Teatro del Liceu de Barcelona recuperou encenação da talvez a mais célebre e especial ópera da trilogia Mozart – Da Ponte. Mas desenganem-se os que pensam que com elementos menos conhecidos não se pode montar uma excelente produção – estas Bodas foram brutais!.

A encenação é clássica e o que de mais singular tem é a criação da cena do jardim recorrendo a paredes móveis a toda a altura do palco, onde se projectam árvores. A direcção de actores é simplesmente perfeita, muito fiel ao texto e com sentido cómico exímio. O exemplo mais flagrante foi toda a cena no quarto da Condessa, com Figaro altamente expressivo e um António ultra cómico.

A direcção de Christopher Rousset foi jovial mas ao mesmo tempo intensa.

Os cantores estiveram a um nível muito acima da média, com vozes expressivas, aliadas a uma interpretação física altamente credível e apaixonante. De um modo geral, posso dizer que as vozes femininas foram as que mais me surpreenderam.

A condessa de Maite Alberola foi sublime, com timbre quente e forte, com agudos estáveis, oferecendo um “dove sono” melodioso e fazendo com que a música de Mozart se entranhasse no nosso corpo de forma inebriante.

Igualmente belo é o timbre de Ainhoa Garmendia que fez de Susanna... simplesmente viciante.

Como Cherubino, Maite Beaumont fez um papel notável e, embora algo neuróticos, os “brava” que se ouviram vindos do 5º piso do teatro sempre que terminava uma ária, foram claramente merecedores.

Marie McLaughlin fez de Marcellina e foi fantástica, numa papel que é já dela.

O elenco masculino foi uniforme, destacando-se principalmente o Fígaro de Joan Martín-Royo que me marcou pela excelência de interpretação no seu todo. Como já referi, toda a cena no quarto da Condessa, uma das cenas mais interessantes da trama, foi sublime e muito à custa deste Figaro. Toda a sua expressão cénica transmitia de forma naturalmente cómica o texto.

Embora tenha estado bem vocalmente, pareceu-me que Borja Quiza se aventurou muito cedo no papel de Conde. Ao lado da Condessa parecia um miúdo, ainda mais acentuado por um bigodinho ralo... mais uns anos, com voz ainda mais encorpada, fará um Conde irrepreensível, embora nesta produção, e principalmente nas cenas de maior irritação do Conde, tenha conseguido uma abordagem vocal bastante credível.

LE NOZZE DI FIGARO - Gran Teatro del Liceu, Barcelona - February 1, 2012

By using mostly local singers, with tickets at “sale” price and interspersed with the same year opera “Il Burbero di buon cuore”, the Gran Teatro del Liceu in Barcelona brought a revival of perhaps the most famous and special opera of the Mozart – Da Ponte trilogy. But if you think these less known singer could not mount an excellent production you are wrong – this Le Nozze were superb!

The sets are classical and what is more unique is the creation of the garden scene using movable walls along the entire height of the stage, where trees are projected. The direction of actors is just perfect, very faithful to the comic sense of the text. The most striking example was the whole scene in the bedroom of the Countess, with a highly expressive Figaro and and ultra-comic Antonio.

The direction of Christopher Rousset was intense.

The singers were at a level well above average, with expressive voices, combined with a physical interpretation highly credible and passionate. In general, I can say that women's voices were the ones that most surprised me.

The Countess of Maite Alberola was sublime, with warm and strong tone, with stable high notes, offering a melodious "dove sono" and making the music of Mozart to penetrate our bodies in an intoxicating way.

Equally beautiful is the timbre of Ainhoa Garmendia who did Susanna ... simply addictive.

As Cherubino, Maite Beaumont made a remarkable performance, and although somewhat neurotic, the "brava" heard from the 5th floor of the theatre, whenever she ended an aria, were clearly deserving.

Marie McLaughlin was fantastic as Marcellina, a role that is now hers.

The male cast was uniform, emphasizing especially the Figaro of Joan Martín-Royo. As I mentioned, the whole scene in the bedroom of the Countess, one of the most interesting scenes of the plot was very sublime and specially at the expense of Figaro. All his moves conveyed so naturally the comic sense of the text.

Although very good in the vocal aspect, it seemed that Borja Quiza ventured too early in the role of the Count. Beside the Countess he looked like a kid, further accentuated by a thin mustache ... a few more years, with more full-bodied voice, he will make a flawless count, although in this production, especially in the scenes of greatest irritation of the Count, he has achieved a very credible vocal approach.