sábado, 28 de maio de 2016

LUCIA DI LAMMERMOOR – Polémica na Royal Opera House, Londres, Controversy at the Royal Opera House, London



A nova e polémica produção da Lucia di Lammermoor de G Donizetti, da autoria de Katie Mitchell, na Royal Opera House de Londres motivou o envio de um aviso pelo Director da Royal Opera, Kasper Holten, a todos os que haviam comprado bilhetes. Transcrevo abaixo parte do texto:

The new and controversial production of Lucia di Lammermoor by G Donizetti, produced by Katie Mitchell at the Royal Opera House in London prompted the sending of a notice by the Director of the Royal Opera, Kasper Holten, to all those who had bought tickets. I quote below a part of the text:

From: "Royal Opera House" <no-response@roh.org.uk>
Subject: Important information about The Royal Opera’s Lucia di Lammermoor
Date: 14 Mar 2016 12:43:46 WET
To: Fanatico_Um

Dear Fanatico_Um
I am writing to you as our records show you have booked tickets for The Royal Opera’s new production of Lucia di Lammermoor, staged by one of the UK’s most acclaimed directors, Katie Mitchell.
Katie and her team have set the production around the time of the opera’s creation in the 19th century, and they use this as a platform to explore deeply all the aspects of human relationships in the story – sexual, emotional, physical and psychological. As Katie observes of the famous ending, ‘after all if on your wedding night you took a sharp implement and tried to kill a very strong man, and it went horribly wrong… We’re going to see all of that’.
The rehearsals have had a terrific start with a strong sense of excitement coming from the rehearsal room. But as they have progressed it has also become clear to us that the team's approach will lead to scenes that feature sexual acts portrayed on stage, and other scenes that – as you might expect from the story of Lucia – feature violence.  As a result, we have recently updated our website with a message about this. As you have already booked, we wanted to draw your attention to it. If there are any members of your party who you feel may be upset by such scenes then please email us at onlinebooking@roh.org.uk and we will, of course, discuss suitable arrangements.
Best wishes,

Kasper Holten,
Director of Opera, The Royal Opera

Num próximo texto relatarei a minha experiência como espectador de uma das récitas.


In a next post I will report my experience as an atendee of the performance.

sábado, 21 de maio de 2016

TANNHÄUSER, Royal Opera House, Londres, Maio 2016 / London, May2016

(review in English below)

Tannhäuser é uma ópera com libretto e música de Richard Wagner. De entre as suas primeiras obras é, musicalmente, a mais rica e sofisticada. No centro do enredo estão os torneios poéticos trovadorescos medievais, muito do agrado do compositor. Grande parte da obra wagneriana está imbuída da redenção pelo amor, tema dominante nesta ópera, apesar de a sua magnitude ultrapassar largamente o confronto entre o amor carnal (simbolizado por Vénus) e o espiritual (por Elisabeth).

A belíssima abertura da ópera é, talvez, a primeira grande página sinfónica do compositor e inclui os temas principais da ópera com valor simbólico. Os Leitmotive virão a ser uma marca indelével nas partituras de Wagner.

Nesta produção da Royal Opera House de Londres, que já tinha visto há alguns anos, a excelente direcção musical foi do maestro Hartmut Haenchen. Os Coros da Royal Opera foram bons mas, ocasionalmente, ouviram-se desacertos. A Orquestra da Royal Opera foi excelente, merecendo especial destaque os metais, nas cordas os violoncelos e, sobretudo, as harpas, que têm um papel fulcral na obra e foram tocadas de forma imaculada. Estavam colocadas no “stalls circle” mesmo à minha frente!


A encenação de Tim Albery é excessivamente austera e pouco eficaz. Começa bem, com a visão por Tannhäuser de Elisabeth. O Venusberg é representado pelo palco da Royal Opera House. É uma Royal Opera dentro da Royal Opera (ideia interessante mas já usada por outros encenadores em outras óperas). A orgia inicial é dançada por seis casais de bailarinos que, com uma longa mesa como adereço, saltam sobre ela e à sua volta, abraçam-se intensamente à medida que vão despindo as camisas, aumentam freneticamente a intensidade da execução, concretizando no final a relação sexual (com toda a decência esperada para um teatro como este). A movimentação em palco é vertiginosa mas perturba a audição da abertura da partitura.

Entra Vénus em cena, vestida de negro, numa cama de lençóis de cetim brancos e este é o único adereço, para além de uma cadeira onde Tannhäuser se senta durante grande parte da récita. Quando abandona o Venusberg surge uma criança sentada à sombra de uma árvore e depois os trovadores amigos de Tannhäuser, no palco totalmente vazio. 

O 2º acto abre com o palco da Royal Opera em ruínas e toda a acção se passa aí. Quando entra o coro, os homens vêm armados de metralhadoras e as mulheres com velas nas mãos, que acendem e colocam juntas no chão. 

Finalmente no 3º acto o palco está ainda mais vazio e coberto de neve, só restando algumas das peças do teatro mais degradadas pelo tempo. O florescer final do báculo é representado pelo plantar de uma pequena árvore plástica por uma criança. 


Enfim, uma encenação desinteressante.

tenor Peter Seiffert foi um Tannhäuser para esquecer. Esteve mal no primeiro acto, logo evidenciando dificuldades e canto muito irregular. No 2º foi ainda pior, as intervenções no concurso de canto foram confrangedoras e já não cantou mais. Foi substituído no 3º acto por Neal Cooper que, não sendo brilhante, fez um bom trabalho, dado ter sido uma substituição imprevista. Tem uma voz bonita, afinada, mas a potência esteve muito aquém do exigido pelo papel.

(Neal Cooper)


Venus foi interpretada pela mezzo Sophie Koch que, como habitualmente, esteve muito bem. Tem uma voz bonita, poderosa e mantém uma linha de canto coerente. Também nos oferece sempre boas interpretações cénicas.


A soprano Emma Bell fez uma Elisabeth excelente. Começou ao mais alto nível no início do 2º acto com Dich, teure Halle mostrando um soprano potente, seguro e, aparentemente, sem esforço. No 3º acto, quando pede à Virgem que a deixe morrer por Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) mantém uma qualidade interpretativa superior. Uma das melhores nesta atribulada récita.


Wolfram, interpretado pelo barítono Christian Gerhaher foi, de longe, o melhor da noite. Um cantor sublime que já ouvi várias vezes neste papel, como aqui tenho escrito, e que esteve novamente ao mais alto nível. O timbre é claro, suave, doce e de beleza inigualável. Nunca cantou em esforço e ouviu-se cada palavra do que cantou, dada a sólida firmeza da emissão vocal. Verdadeiramente assombroso! Protagonizou os momentos mais belos da récita, entre eles, no 2º acto, o concurso de canto (com a orquestra e as suas imaculadas harpistas) e, principalmente, no 3º acto, o canto à estrela da noite (O du, mein holder Abendstern) que foi de uma sensibilidade arrepiante. Só ele teria valido a récita.


Muito bem foi também o menino pastor no início do 2º quadro do primeiro acto, Thomas John.


Tiveram ainda boas prestações o baixo Stephen Milling como Herrmann e os trovadores Walther (tenor Ed Lion), Heinrich (tenor Samuel Sakker), Biterolf (baixo Michael Krauss) e Reinmar (baixo Jeremy White).



Alguma decepção em Covent Garden, parcialmente salva pelas duas senhoras e, sobretudo, por Christian Gerhaher que, sempre que cantava, levava a récita da mediania ao nível estratosférico.








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TANNHÄUSER, Royal Opera House, London, May 2016

Tannhäuser is an opera with libretto and music by Richard Wagner. Among his early works this is, musically, the richer and more sophisticated one. In the center of the plot are the medieval poetical tournaments, much to the liking of the composer. Much of the Wagnerian work is imbued with the redemption through love, the dominant theme in this opera, despite its magnitude largely overcome the confrontation between carnal love (symbolized by Venus) and the spiritual love (by Elisabeth).

The beautiful opening of the opera is perhaps the first great symphonic page by the composer and includes the main themes of the opera with symbolic value. The Leitmotive will become an indelible mark on Wagner's music.

In this production of the Royal Opera House in London that I had seen a few years ago, the excellent musical direction was by the conductor Hartmut Haenchen. The Choirs of the Royal Opera were good but occasionally I have heard some discrepancies. The Orchestra of the Royal Opera was excellent, deserving highlight the metals, the cellos and, above all, the harps, which have a key role in the work and played immaculately. They were placed in the "stalls circle" just in front of me!

The staging of Tim Albery is too austere and ineffective. The opera starts well, with the vision of Elisabeth by Tannhäuser. Venusberg is represented by the stage of the Royal Opera House. It's a Royal Opera into the Royal Opera (interesting idea but already used by other directors in other operas). The initial orgy is danced by six couples of dancers who, with a long table as a prop, jump on it and around it, hugging each other intensely as they strip off shirts, frantically increase the intensity of execution, ending in sex (decency as expected for a theater like this). The movement on stage is dizzying but disturbs the hearing of the opening score.

Venus enters the scene, dressed in black, on a bed of white satin sheets and this is the only prop, in addition to a chair where Tannhäuser sits for much of the performance. When leaving Venusberg a child appears, sitting in the shade of a tree, and then enter the troubadours, friends of Tannhäuser, on a totally empty stage.
The 2nd act opens with the stage of the Royal Opera in ruins and all the action is happening there. When the choir enters, men come armed with machine guns and women with candles in their hands, that light and put together on the floor.
Finally on the 3rd act the stage is even more empty and covered in snow, leaving only some of the most degraded by time theater pieces. The final flourish of the Pope's staff is represented by the planting of a small plastic tree by a child.
Anyway, unclear and overly austere staging.

Tenor Peter Seiffert was a Tannhäuser to forget. He was bad in the first act, showing difficulties and irregular singing. In the 2nd act he was even worse, his interventions in the singing contest were dreadful and he no longer sang the 3rd act. He was replaced by Neal Cooper that, although not brilliant, did a good job, because he had to replace Seiffert unexpectedly. He has a nice tuned voice but the vocal power fell far short of that required by the role.

Venus was played by Sophie Koch who, as usually, was very good. She has a beautiful, powerful and always tuned voice. She also always offers good scenic interpretations.

Soprano Emma Bell was an excellent Elisabeth. She started at the highest level at the beginning of the 2nd act with Dich, teure Halle showing a powerful soprano, secure and apparently effortless. In the 3rd act, when she asked the Virgin to let her die by Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) she maintained a top interpretative quality. One of the best of the performance.

Wolfram, played by baritone Christian Gerhaher was by far the best of the night. A sublime singer I've heard several times in this role, as I have written here, and he was again at the highest level. The tone is light, soft, sweet and unparalleled beauty. He never sang in effort but one could heard every word he sang. Truly amazing! Starred in the most beautiful moments of the performance, among them the singing contest of the 2nd act (with the orchestra and its fabulous harpists) and mainly in the 3rd act, the song to the evening star (O du mein holder Abendstern) which was a chilling sensitivity. He alone would have been worth the performance.

Very well was also the shepherd boy at the first act, Thomas John.

Also with good performances were bass Stephen Milling as Herrmann and troubadours Walther (tenor Ed Lyon), Heinrich (tenor Samuel Sakker) Biterolf (bass Michael Krauss) and Reinmar (bass Jeremy White).

Some disappointment in Covent Garden, partially saved by the two ladies, and especially by Christian Gerhaher. Whenever he sang, he transported the performance from trivial to stratospheric.


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sábado, 14 de maio de 2016

GIANNI SCHICCHI, Royal Opera House, Londres, Fevereiro de 2016 /February 2016



A ópera Gianni Schicchi  de G. Puccini concluiu Il Trittico. Foi mais uma encenação fabulosa de Richard Jones para uma ópera que também não conto entre as minhas favoritas. Mas numa produção como esta, é absolutamente irresistível. De entre as óperas cómicas que já vi esta encenação foi, talvez, a mais bem conseguida. Mais uma vez, tudo o que está em palco é faz sentido e é engraçado. O guarda-roupa é também engraçadíssimo.


A casa do abastado e moribundo Buoso Donati está revestida de papel de parede florido e está mobilada num estilo “latino” e desarrumado. A sua numerosa família aguarda a morte que acontece logo no início. A encenação é muito bem conseguida e os momentos de comicidade sucedem-se continuamente, sem nunca resvalar para o gratuito nem para o ordinário. São muitas as situações verdadeiramente hilariantes, como a procura do testamento, a visita do médico, o relato do novo testamento, o comportamento das crianças e reacção dos pais e a postura de Gianni Schicchi.


Lucio Gallo, barítono italiano, foi um Gianni Schicchi muito engraçado, fazendo justiça à personagem. A voz foi sempre bem audível, esteve afinado e conseguiu imprimir a comicidade e astúcia que o papel exige. Foi o melhor em cena.



Rinuccio foi interpretado pelo tenor italiano Paolo Fanale. Esteve bem cenicamente, mas a voz é pequena e, em comparação com os colegas, a diferença foi marcada. Frequentemente deixou-se abafar pela orquestra e quando se ouvia, era sempre em esforço nas notas mais agudas, que saiam sem brilho.


Lauretta foi interpretada pela soprano inglesa Susanna Hurrell. A voz é bonita mas idêntica a tantas outras. Cantou bem a aria O mio babbino caro, uma das mais belas escritas por Puccini e pouco mais fez, mas o papel é mesmo assim.


Foram também participantes com qualidade homogénea outros cantores, incluindo Gwynne Howell, Elena Zilio, Jeremy White, Marie McLaughlin, David Kempster, Carlo Bosi e Rebecca Evans.








Um final em beleza de mais uma noite inesquecível na Royal Opera de Londres.

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Gianni Schicchi, Royal Opera House, London, February 2016

The opera Gianni Schicchi by G. Puccini completed Il Trittico. It was another fabulous staging of Richard Jones for an opera that I do not include in my favorites. But in a production like this, it is absolutely irresistible. Among all the comic operas I've seen so far, this staging was perhaps the best achieved. Again, everything on stage is makes sense and is funny. The clothes of the performers are also a must.

The house of the rich and dying Buoso Donati is lined with flowered wallpaper and is furnished in a "Latin" and messy style. His large family awaits his death that happens early on. The staging is very good and the moments of comedy happen continuously, without ever sliding into the vulgar. There are many truly hilarious situations, as the demand of the will, the doctor's visit, the writing of the new testament, the behavior of the children and their parents and the attitude of Gianni Schicchi.

Lucio Gallo, Italian baritone, was a very funny Gianni Schicchi. The voice was always very audible and tuned, and he managed to show the comic and cunning characteristics required. He was the best on stage.

Rinuccio was interpreted by Italian tenor Paolo Fanale. He was well on stage, but the voice was small and, in comparison with the other soloists, the difference was marked. Often he was submerged by the orchestra, and he sang always in effort the top notes, that were not beautiful.

Lauretta was interpreted by English soprano Susanna Hurrell. The voice is beautiful but identical to many others. She sang well the aria O mio babbino caro, one of the most beautiful written by Puccini, and it was it, but the character is just like that.

The other singers were also very good, including Gwynne Howell, Elena Zilio, Jeremy White, Marie McLaughlin, David Kempster, Carlo Bosi and Rebecca Evans.

A beautiful ending of another unforgettable evening at the Royal Opera in London.


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