segunda-feira, 26 de março de 2012

La Traviata, Theatro Municipal de São Paulo, Março 2012 (Parte 2)

Na sequência do texto publicado ontem, segue uma segunda parte sobre a mesma Traviata, enviada pelo Ali Hassan Ayache:


FESTIVAL DE ABORRECIMENTOS: LA TRAVAIATA, THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 25/03/2012

Tem dias que o público do Theatro Municipal de São Paulo se comporta como se estivesse no Scala de Milão. O silêncio é sepulcral e se aproveita toda a música com prazer e emoção. Tem dias que a coisa desanda, mas até o grande Homero às vezes cochila. A récita da ópera La Traviata do dia 25/03/2012 foi um festival de aborrecimentos, uma senhora ou moça, não vi quem era, resolveu cantarolar todo o primeiro ato. O público paga para assistir aos cantores. Celulares tocaram diversas vezes, pessoas se levantavam e as poltronas do teatro rangiam com agudos estridentes. Conversas do público passaram a ser rotina. Lamentável!

Cena da ópera La Traviata.

O soprano Adriane Queiroz mostrou uma Violeta madura, uma mulher realizada. Sua voz é pura potência, um fraseado correto e timbre escuro. O problema são os agudos, às vezes ásperos e muitas vezes forçados e agressivos. Penou nas coloraturas, forçou ao limite para atingir as notas. Sua atuação cênica regular não convence, uma interpretação contida e travada. Um soprano convencional.

Marcello Vanucci imprimiu belos agudos para Alfredo, cantou em casa , com desenvoltura e facilidade. Voz limpa e clara aliada a uma atuação cênica precisa. Qualidade em todos os quesitosdo início ao fim da récita. Grande tenor.

O barítono Rodolfo Giulianni tem uma voz pequena, seu timbre é deveras interessante, claro e consistente. Fez um Goirgio Germont comum, sem grande expressão. Os aplausos magros são um sintoma disso.

A segunda cena do segundo ato da ópera La Traviata mostra uma grande festa. A ideia do diretor colocar máscaras em todos foi interessante, a encrenca foram os dançarinos. Descordenados em todos os passos em uma coreografia de péssimo gosto. Se eu estivesse num rega bofe desses sairia a francesa.

Giuseppe Verdi

Ninguém é perfeito, sem o programa na mão imaginei que Daniele Abaddo fosse mulher na crítica publicada no dia 23/03/2012, quebrei a cara. Amigos me chamaram a atenção e corrigi rapidinho no blog, felizmente meus textos são publicados em diversos outros sítios e a lambança ja estava feita. Pessoas que estiveram na récita do dia 23/03/2012 relataram algumas vaias misturadas com aplausos no baixar das cortinas do primeiro ato. Sinal que a galera não digeriu bem essa La Traviata.

Ali Hassan Ayache

Theatro Municipal de São Paulo

3 comentários:

  1. Eu acho que a popularização da ópera terá que ser acompanhada de educação pública - justo o que mais falta ao nosso bom povo e nosso grandioso país!
    Meus pêsames pelo que ocorreu no Municipal de São Paulo!

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  2. Ups.
    E eu a queixar-me das intermináveis tosses nos teatros portugueses.

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  3. Tive a oportunidade de acompanhar pessoalmente La Traviata no Municipal com Adriane Queiroz, apesar de eu pensar que ela não foi a soprano ideal para interpretar Violeta é inegável que ela seja uma das maiores sopranos brasileiras.

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