segunda-feira, 22 de março de 2010

IL BARBIERE DI SIVIGLIA, The Israeli Opera, Tel-Aviv-Yafo, Março de 2010

O Barbeiro de Sevilha foi a minha primeira experiência operática em Israel. A ópera de Tel-Aviv é, na sua arquitectura exterior, um edifíco moderno e de grande beleza. Contudo, a sala de espectáculos é escura e pouco atraente. Foi uma experiência interessante assistir a este espectáculo onde grande parte do público era jovem e, apesar de ser uma estreia, a informalidade dominou.


Como nota muito negativa apenas o facto de, começado o espectáculo (e mesmo depois do intervalo) ser permitido aos atrasados tomarem os seus lugares.



A produção moderna, de Mariame Clément, deixou-me sentimentos contraditórios. A acção é passada nos dias de hoje, nos subúrbios de um qualquer lugar, num modesto consultório dentário (do Dr. Bartolo) onde, face à rotatividade do palco, são visíveis outras partes da casa. Rosina, na sua primeira aria (una voce poco fà), está na cama a depliar-se e faz coincidir as notas mais agudas com os momentos em que arranca os “adesivos” de depilação. No final, acaba por depilar também parte do seu urso de peluche. Ao longo da récita vêem-se personagens dentro de caixotes de lixo ou a urinar na parede (Fígaro e Almaviva), sentadas na sanita (Rosina) e na cama (Almaviva e Rosina), entre outras situações menos comuns. Mas a coisa até tem alguma graça e o guarda roupa, kitsch, também está bem escolhido para o enquadramento criado.
A orquestra, dirigida por George Pehlivanian, ao contrário do que esperava, esteve aquém das minhas expectativas, limitando-se a cumprir a partitura, sem brilho.


Os cantores, com uma excepção, estiveram muito bem e à altura dos papeis que representaram.
Lionel Peintre, barítono francês, foi o Dr. Bartolo. Esteve bem cenicamente e também vocalmente, embora revelando algumas dificuldades nas partes mais exigentes, sobretudo aquelas que obrigam a grande agilidade vocal. Também Ugo Guagliardo (baixo italiano) teve uma boa prestação como Don Basilio e a aria da calúnia foi particularmente bem cantada. Javier Abreu, americano, encarnou o Conde de Almaviva e foi o único que esteve muito aquém das exigências da personagem. A voz é pequena, revela grandes dificuldades nos agudos e é desastroso na coloratura. Oliver Grand (francês) foi Figaro e mostrou possuir uma voz de barítono de grande extensão, capaz de encher qualquer teatro de ópera e foi também muito bom em cena. Shira Raz, mezzo israelita, cantou e representou bem o papel de Berta, mas a noite foi do soprano israelita Chen Reiss que foi a Rosina. Possuidora de uma excelente voz, bem projectada, bom timbre e segura em toda a extensão do registo vocal, mostrou também ser uma excelente actirz.
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Tamerlano - Royal Opera House, Covent Garden - Londres - 20 Março 2010

Handel espectacular este fim-de-semana em Londres (Royal Opera House, Covent Garden)!!!

Comprei bilhetes em Setembro para esta produção. Lembro-me das duas opções no site: "Tamerlano with Kurt Streit" e "Tamerlano with Domingo". Claro está que, como grande fã do Maestro (aparte de ser também grande wagneriano), escolhi "Tamerlano with Domingo" No final de Fevereiro recebi a triste notícia de que, por problemas de saúde, Domingo não iria cantar nesta produção. Frustração completa! Não foi por Handel que decidi ir a Londres, foi por Domingo. Tudo parecia menos interessante agora. Confesso que a ideia de ir foi a de não perder o dinheiro já investido, em passagens low-cost (como quase sempre e com grande antecedência) e nos próprios bilhetes (na gama dos mais em conta mas em lugar onde se vê bem - Anfiteatro - com sorte nas primeiras filas por ser Friend of Covent Garden) embora me tenham oferecido 20% de desconto num vale por Domingo já não cantar (nem todas as casas de Ópera o fariam - tiro o chapéu à Royal Opera que considero a minha Casa de Ópera Mãe por me ter estreado em Julho de 2005 na Ópera ao vivo lá, com uma então espectacular Valquíria - Placido Domingo, Waltraud Meier, Bryn Terfel).

Antes ainda de começar, um pequeno papel no programa e mais tarde uma figura feminina em palco, dão conta que Christianne Stotijn não cantaria e seria substituída por Tara Vendetti.

Confesso que não sou versado em Handel. Tenho alguns CDs com árias (sim, incluíndo o do Villazon... não o considero tão mau como muitos pensam neste repertório) e algumas que prefiro mas nunca tinha assistido a nenhuma ópera deste compositor ao vivo.

No lugar de Domingo estava então Kurt Streit, que acordou em cantar as récitas de Domingo para além das suas a 13 e 17 de Março. Nunca pensei dizer isto mas acho que a récita tinha sido pior de Domingo tivesse cantado. Kurt Streit foi espectacular. Voz perfeita para Handel, ao contrário de Domingo que, pelos excertos que vi no youtube canta Handel como se fosse Verdi, com a sua voz não limpida e por vezes arfada quando tenta transmitir o sentimento. Isso não funciona em Handel, como penso que todos concordarão. Mas não se pense que Streit não foi capaz de transmitir emoção. Claro que sim, e sem perder a beleza na voz. Só achei que parecia demasiado novo em palco para imaginarmos que era pai de Asteria, mas o que é isso ao pé do que se ouviu? Nada de importante.




Asteria foi cantada por Christine Schafer. Como a única coisa que ouvi dela previamente foi um CD de árias de Mozart e Strauss, pareceu-me que cantava Handel mas soava-me a Mozart. Este sentimeto dissipou-se ao longo da ópera e logo no 1º acto. Que voz espectacular. conseguiu sem dúvida transmitir o drama interior da personagem (apaixonada por Andronico e ter de casar com Tamerlano por vontade deste, contra o pai Bajazet, e contra a sua própria vontade, tendo tentado matar Tamerlano com punhal, depois com veneno, quase obrigada a escolher em matar o pai ou o seu amante... enfim... quem conhece sabe o que refiro, quem não conhece acha que isto é um contínuo de parvoíces...).
A grande surpresa para mim foi Sara Mingardo. Haverá melhor voz para o papel que ela? Que contralto!!! Soberbo!!! Fico fã e espero poder ter a possibilidade de a ouvir novamente. Voz forte, rica, timbre único e capacidade emotiva superlativa.


Tara Vendetti, embora substituta, esteve igualmente espectacular como Tamerlano. Voz de mezzo perfeita!! Excelente actriz!!! Mais uma boa surpresa.


Renata Pokupic, desconhecida para mim, surpreendeu (mais uma vez igualmente) com uma voz fantastica, potente, emotiva. Viva aos Mezzo-sopranos e Contraltos - esta é a ópera deles (talvez outras existam mas ainda não as conheço)!!!

A encenação de Graham Vick (aquele que "baralhou" a sala do São Carlos para um Anel que foi das melhores coisas que tivemos neste teatro nos últimos anos), jogando com preto e branco, meio clássica no traje, meio abstracto no resto, foi interessante e não desorientadora. Houve até um pequeno apontamento de humor, embora por erro técnico. Um dos elefantes azuis que foram andando no palco durante o 1º acto acabou por tombar e lá foram conseguindo endireitá-lo de forma a que concluísse o percurso. Muitos se riram, enquanto Christine Schafer nos brilhantava com uma das árias... eu incluído (sorry...).

A Orquestra (Orchestra of the Age of Enlightenment) esteve à altura das vozes, sem falhas, guiada soberbamente por Ivor Bolton, mostrando-me algo que tinha de certa maneira esquecido com tanto Wagner e Verdi (após muito tempo de Bach...): o barroco foi um dos períodos mais produtivos e imaginativos da História da Música, com árias capazes de nos penetrar a alma e de lá não sair para sempre.


Obrigado Handel!!!


quarta-feira, 17 de março de 2010

Ópera de Paris (Bastille e Palácio Garnier) - Temporada 2010-2011



No passado dia 10 de Março foi dada a conhecer a nova temporada da Ópera de Paris 2010-2011.

Para os amantes de Wagner este poderá ser um dos destinos possíveis.

Um Holandês Voador e o completar do Anel do Nibelungo iniciado nesta temporada (Ouro de Reno em cena e em Maio - Junho a Valquíria) com Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses.

Mas nem só de Wagner vive a temporada.

Não sendo pessoalmente um profundo conhecedor profundo de muitas das representações que subirão ao palco, ousarei humildemente dar a minha opinião sobre o que me parece poder vir a ser o melhor.

Pontos fortes:
Holandês Voador - Richard Wagner (Setembro - Outubro 2010):
Matti Salminen: Daland
Adrianne Pieczonka: Senta
Klaus Florian Vogt: Erik
Marie-Ange Todorovitch: Mary
Bernard Richter: Der Steuermann
James Morris: Der Höllander

Elenco wagneriano por excelência para uma das primeiras óperas de Wagner.

Matti Salminen tem historial wagneriano de peso (ainda não tive a oportunidade, infelizmente, de o ver em palco... esperança caiu por terra no Tristão de Londres em Outubro de 2009 por ter feito cirurgia ao joelho) e fará por certo um Daland convincente. James Morris, embora já não com a qualidade vocal de outros tempos em que se passeava pelo palco do Met como um dos melhores Wotans de todos os tempos, poderá ser uma boa surpresa (surpresa na medida da idade e ainda conseguir convencer) ou uma grande desilusão. Algumas deficiências, principalmente na ausência de graves, foi visível na recente transmissão do Simon Boccanegra do Met, ao lado de Plácido Domingo. Na mesma récita ouviu-se Pieczonka que transmitiu um lirismo interessante como Amelia mas não sei se conseguirá transmitir a obecessão e ao mesmo tempo a ingenuidade amorosa de Senta.

Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses - Richard Wagner (Março e Junho 2011)
Torsten Kerl: Siegfried
Wolfgang Ablinger-Sperrhacke: Mime
Juha Uusitalo: Der Wanderer
Peter Sidhom: Alberich
Stephen Milling: Fafner
Qiu Lin Zhang: Erda
Elena Tsallagova: Waldvogel
Katarina Dalayman: Brünnhilde
Iain Paterson Gunther
Hans-Peter König: Hagen
Christiane Libor Gutrune, Troisième Norne
Sophie Koch: Waltraute
Nicole Piccolomini: Première Norne, Flosshilde
Caroline Stein: Woglinde
Daniela Sindram: Wellgunde

Se olharmos para os nomes a negrito, facilmente encontramos dos melhores cantores wagnerianos da actualidade.

Juha Uusitalo é um dos melhores Wotans que podemos desejar ver no presente, embora para mim, o melhor e o a se procurar sempre seja Bryn Terfel (pena o cancelamento passado em Londres... mas regresso em Nova Iorque já este ano...). Peter Sidhom fez este papel no Anel de Londres 2007 e tem o carisma, o timbre e a capacidade cénica para um Alberich ao mais alto nível. Torsten Kerl possui uma voz limpa e clara de clássico Heldentenor, como se pode assistir no papel de Erik no Holandês de Londres 2009. A presença de Matti Salminen como Hagen tornaria este elenco ainda mais forte, embora assuma que Hans Peter Konig poderá fazer um bom papel.

Ariadne auf Naxos - Richard Strauss (Dezembro 2010)

Franz Mazura: Der Haushofmeister
Detlev Roth: Ein Musiklehrer
Sophie Koch: Der Komponist
Stefan Vinke: Der Tenor (Bacchus)
Xavier Mas: Ein Tanzmeister
Vladimir Kapshuk: Ein Perückenmacher
Diana Damrau: Zerbinetta
Ricarda Merbeth: Primadonna (Ariadne)

Elenco cheio de celebridades para esta ópera de Strauss. Não sabia que Franz Mazura ainda se arriscaria a participar numa ópera (???!!!!) Tem 86 anos... :) Detlev Roth é um perito em Mozart e Wagner (presentemente faz o papel de Amfortas no Parsifal do Festival de Bayreuth e, este mês, na Ópera de Genebra). Sophie Koch, mezzo expressivo e potente, será uma boa aposta no papel de compositor. Quem se recorda de Stefan Vinke, o nosso Siegfried de Lisboa, Anel do São Carlos? Dúvidas sobre o seu brilhantismo? Acho que não temos. Diana Damrau é uma das minhas paixões mais recentes depois de um Elixir do Amor ao lado de Giuseppe Filianoti em 2009 em Londres: excelente voz, magnífica actriz, culminando numa beleza e charme arrebatadores... A não perder!!!

As Bodas de Fígaro - W.A. Mozart (Outubro - Novembro e Maio-Junho 2011)

Christopher Maltman: Il Conte di Almaviva
Dorothea Röschmann: La Contessa di Almaviva
Erwin Schrott: Figaro
entre outros...
A escolher elenco de Maio - Junho (principais intérpretes em cima - Peritos em Mozart!!!).

Otello - Giuseppe Verdi (Junho - Julho 2011)

Aleksandrs Antonenko: Otello
Lucio Gallo / Sergei Murzaev: Jago
Michael Fabiano: Cassio
Renée Fleming / Tamar Iveri: Desdemona

Nunca assisti a Antonenko como Otello ao vivo mas já tive oportunidade de ver excertos da sua interpretação moura e acho um pouco rude demais. Renée Fleming fez parte do melhor Otello que assisti embora e infelizmente só em DVD - produção do Met em 1996 com Placido Domingo e James Morris nos papeis principais (disponível na Deutsche Grammophon), altamente recomendável. Não sei se estará ao nível neste papel e neste momento...

Pode-se conhecer por completo a temporada em:

http://www.operadeparis.fr/cns11/live/onp/Saison_2010_2011/Operas/index.php?lang=fr


Boa pesquisa!

segunda-feira, 8 de março de 2010

METropolitan OPERA, Nova Iorque, 2010-2011


Foi recentemente anunciada a nova temporada do Met 2010-2011. Podem consultar-se todos os pormenores em:
http://www.metoperafamily.org/metopera/
É mais uma temporada excelente que conta com 28 produções, onde apenas a ópera barroca não está incluída. Como seria de prever, actuarão muitos dos cantores mais notáveis da actualidade.


Arrisco um “top 10” (embora tivesse vontade de apontar um “top 20”) com base nas obras, intérpretes e preferências pessoais, por ordem de aparecimento em cartaz:
- Das Rheingold
- Don Pasquale
- Don Carlo
- Simon Boccanegra
- Lucia di Lammermoor
- Roméo et Juliette
- A Dama de Espadas
- Le Comte d’Ory
- Il Trovatore (elenco de Abril)
- Die Walküre


Para quem quiser e puder passar um fim de semana alargado (ida à Quinta-feira e regresso no Domingo) que permite assistir a 4 óperas, aqui vão sugestões para cada mês, referindo os cantores que, em minha opinião, poderão proporcionar interpretações marcantes:

- Outubro - dias 28, 29 e 30 – La Bohème (Maija Kovalevska, Vittorio Grigolo) , Don Pasquale (Anna Netrebko), Boris Godunov (René Pape) e Il Trovatore (Patricia Racette, Marcelo Álvarez).

- Novembro – dias 11, 12 e 13 ou 18, 19 e 20 – Carmen (Elina Garanca), Il Trovatore (Patricia Racette, Marcelo Álvarez) , Così Fan Tutte (Miah Persson, Danielle de Niese) e Don Pasquale (Anna Netrebko).

- Dezembro – dias 2, 3 e 4 – Così Fan Tutte (Danielle de Niese), Don Carlo (Simon Keenlyside, Ferruccio Furlanetto, Eric Halfvarson), La Bohème (Krassimira Stoyanova, Joseph Calleja) e Carmen (Elina Garanca).

- Janeiro – dias 20, 21 e 22 ou 27, 28 ou 29 (Um verdadeiro fim de semana verdiano!) – Simon Boccanegra (Dmitri Hvorostovsky, Barbara Frittoli, Ferruccio Furlanetto), Tosca (Sondra Radvanovsky, Marcello Álvarez), Rigoletto (Carlos Alvarez, Joseph Calleja) e La Traviata.

- Fevereiro – dias 24, 25 e 26 (Para os amantes do belcanto) – Lucia di Lammermoor (Natalie Dessay, Joseph Calleja, Kwangchul Youn), La Bohème (Maija Kovalevska), Iphigénie en Tauride (Susan Graham, Plácido Domingo, Paul Groves) e Armida (Renée Fleming).

- Março – dias 24, 25 e 26 – Le Comte d’Ory (Juan Diego Flórez, Diana Damrau, Joyce DiDonato), Tosca (Violeta Urmana, Salvatore Licitra), A Dama de Espadas (Karita Mattila, Dolora Zajick) e Roméo et Juliette (Angela Gheorghiu, Piotr Beczala).

- Abril – dias 21, 22 e 23 - Le Comte d’Ory (Juan Diego Flórez, Diana Damrau, Joyce DiDonato), Die Walküre (Deborah Voigt, Eva Maria Westbroek, Jonas Kaufmann, Bryn Terfel), Capriccio (Renée Fleming, Sara Connolly), Il Trovatore (Sondra Radvanovsky, Dolora Zajick, Marcelo Álvarez, Dmitri Hvorostovsky).


Se viermos a ter hipótese de assistir ao Met Live em HD o programa é:
Das Rheingold, 9 de Outubro
Boris Godunov, 23 de Outubro
Don Pasquale, 13 de Novembro
Don Carlo, 11 de Dezembro
La Fanciulla del West, 8 de Janeiro
Iphigénie en Tauride, 26 de Fevereiro
Lucia di Lammermoor, 19 de Março
Le Comte d´Ory, 9 de Abril
Capriccio, 23 de Abril
Il Trovatore, 30 de Abril
Die Walküre, 14 de Maio

domingo, 7 de março de 2010

Tristan und Isolde - Gran Teatre del Liceu - Barcelona - 20 Fevereiro 2010




Um Tristão e Isolda sem sal em Barcelona.

A encenação, da qual já havia visto imagens no site do Liceu e me parecia algo diferente do habitual, deixando-me com curiosidade, penso que foi um ponto fraco e que em nada ajudou no viver desta récita. Parecia mais uma encenação para o Hansel und Gretel do que propriamente para um Tristão e Isolda. Muito infantilizado em termos de cores, arquitectura, etc, ao contrário do tema da ópera que até é bastante sério. Tudo muito curvilíneo (com graça até muito Gaudiano...).

Em relação ao publico, muito mau. Sebastian Weigle teve de começar a ópera 2 vezes porque alguém se esqueceu de desligar o telemóvel... muita tosse (no solo de oboé do início do 3º acto devem ter tossido 50 vezes, sem exagero), muitos shsss!!! Muitas vozes em surdina... Muitas "damas" com pulseiras de argolas que chocalham ao mínimo movimento... horrível!! Não foi pior que em Sevilha mas esteve quase lá. Aqui não tivemos nenhuma mulher a descalçar frequentemente um sapato de salto alto e a batê-lo no chão... mas esteve lá quase.



Em relação aos cantores:

Deborah Voigt não enche as minhas medidas como Isolda. Não sei explicar mas a expressão mais popular do "não tem sal" é o que me vem à cabeça. Não gostei simplesmente e acho que isso me impediu, juntamente com a encenação e arredores de disfrutar da ópera.

Peter Seiffert finalmente largou o tradicional bigode espesso que lhe dava um ar muito antiquado. Esteve vocalmente muito bem. Boa dicção, agudos fortes sobre a orquestra, cenicamente credível.

Bo Skovhus, que havia feito um Sixtus Beckmesser bastante bom nos Mestres do ano passado também em Barcelona, estragou um pouco a interpretação com um excesso de maneirismos cénicos que não eram muito apropriados. Não foi como Michael Volle no Tristão em Londres (que recebeu até um prémio por essa actuação...). Todo ele parecia um fantoche e a dicção muito fraca na maioria das passagens (não sei alemão com perfeição mas conheço o que vão dizendo...).

O grande peso pesado foi o rei Marke de Kwanchoul Youn. Este coreano é um baixo à baixo. Soberbo no Lohengrin de Londres (apesar do défice de encenação), soberbo como Fiesco no Simão em Berlim e agora um Marke vocalmente marcante. Gostei mais no 2º acto. No 3º muito estático e pouco sentimento na voz mas mesmo assim, superando muitos dos pontos fracos que vivi ao longo da ópera.

A orquestra e Sebastien Weigle estiveram bem, como esperava encontrar depois da produção do ano passado, sem desilusões neste ponto.

Lohengrin - Deutsche Oper Berlim - 13 Fevereiro 2010

Encontro de novo com... Ben Heppner. Nada semelhante ao que se viu em Londres no Tristão e Isolda - Outubro 2009, onde a voz falhou desde o final do 1º acto até ao fim. Esteve muito bem vocalmente (um ou outro "tremor" da voz em algumas passagens, fruto de não "limpar" a garganta como Domingo hoje em dia faz em Wagner, aí umas 50 vezes / récita...) mas sem ir buscar a voz muito aos brônquios como quem vai literalmente cuspir notas. Cenicamente um pouco rígido nas marcações de palco mas superou tudo isso com a parte vocal.

A Elsa foi Ricarda Merberth que esteve igualmente muito bem, aparte de algumas caretas a cantar.

Destaco o grande motivo que me levou a ver este Lohengrin - Waltraud Meier. Finalmente completo um ciclo de a ver como Sieglinde, Isolda, Kundry e agora Ortrud. É realmente uma referência em Wagner. Nota-se, comparativamente às vezes que a vi em palco, que tem dias para o seu timbre. Aqueles agudos com uma sonoridade que não engana ao se pensar que vem do seu aparelho vocal, soam mais belos ou mais gritados, consoante o dia... Aqui esteve um misto que se aplica até bem à personagem. O final, na despedida de Lohengrin, foi particulamente bonito o efeito que deu na voz... parestesias... E a excelente actriz que é! 2º acto soberbo! A encenação também muito tradicional, mais ainda que o Tannhauser. Achei particularmente conseguido o final do 2º acto, quando antes de entrar na igreja para se casar com Lohengrin, Elsa não resiste a olhar para trás e foca nos olhos Ortrud... a dúvida de quem é e de onde vem o cavaleiro... O maior grau de parestesias foi aí, e curiosamente não por um momento unicamente musical, mas sim cénico (interessante...).

O Coro mais uma vez soberbo!!!



Tannhauser - Deutsche Oper Belim - 12 Fevereiro 2010


Não tendo disponibilidade de tempo e dinheiro para completar uma semana (diga-se 5 dias) de Wagner na Deutsche Oper (Rienzi, Navio Fantasma, Tannhauser, Lohengrin e Mestres Cantores), optei (em Abril do ano passado) em compara bilhetes para Tannhauser e Lohengrin.

Tannhauser


Sensação mista - Stephen Gould foi espectacular como Tannhauser; um verdadeiro Heldentenor, que conhecia apenas pelas gravações da antena2 de Bayreuth. Desde o início até ao fim mantendo excelente qualidade vocal e interpretativa. Apesar de ser um peso pesado (menos que o Johan Botha, acho), mexe-se bem e disfarçava-se bem no traje. Muito bom, boa surpresa ao vivo.


Nadja Michael fez de Vénus e de Elisabete. Esteve melhor enquanto Vénus. Como Elisabete falta-lhe alguma tessitura e acabou por gritar 2 ou três vezes. Não aprovo muito estas manias de fazerem os dois papeis pela mesma cantora mas enfim... Não fiquei particularmente fã da senhora.


A grande desilusão foi Dietrich Henschel. Ouvi o senhor na Gulbenkian há uns anos nas Cenas de Fausto de Goethe de Schumann. Na altura o timbre lembrava o de Fischer-Dieskau, embora sem comparação máxima possível. Grande desilusão. Embora cenicamente bem, cantou um Wolfram em força mas sem voz. As passagens do 3º acto em que se pede lirismo, ofereceu rudeza, indo buscar a voz, por vezes, a uma rouquidão lá do fundo dos brônquios principais (...). A encenação também foi algo ingrata para ele no 3º acto: começou a cantar em cima do cavalo mas no fundo do palco... resultado? Não se ouviu nada de uma das melhores passagens vocais da personagem. Até um senhor à nossa frente se virou para o lado (para a esposa que devia ser crítica de ópera ou coisa do género porque esteve quase sempre a tirar notas...) e fez o tradicional gesto de indicador aproximado do polegar em distância curta. Este mesmo fez o tradicional som gutural de reprovação aquando da "puxada brônquica" que já referi.


A encenação foi meio clássica meio moderna - palco preenchido, contudo. Sem grandes controvérsias aparentes mas também não perdi muito tempo a pensar no que significaria tudo. Pode ser visto no site da casa de Ópera um pequeno video de resumo para quem quiser ter uma ideia.




A Orquestra espectacular e o Coro sublime. Sem dúvida do melhor possível em Wagner, aos meus olhos. A Orquestra espectacular e o Coro sublime. Sem dúvida do melhor possível em Wagner, aos meus olhos.


LA BOHÈME – Met Opera, Nova Iorque, Fevereiro de 2010

La Bohème de G. Puccini é uma das óperas mais conhecidas do compositor e conto-me entre os que a incluem entre as melhores. Nesta história de amor entre o poeta Rodolfo e a tuberculosa Mimi há momentos musicais de grande lirismo e intensidade dramática que tornam inesquecível uma récita bem encenada e bem interpretada. Foi isto que aconteceu, nesta magnífica produção de Franco Zeffirelli, superiormente dirigida por Marco Armiliato.
Já tive oportunidade de assistir a várias produções de Zeffirelli no Met e tenho dificuldade em eleger a melhor! Apesar de serem encenações já de há duas ou três décadas, é com pena que vejo que Peter Gelb (actual “manager” do Met) as está a substituir progressivamente por outras de menor qualidade (a nova Tosca deste ano, de Luc Bondy, que substituiu a de Zeffirelli, foi um escândalo colossal, segundo o que li e, sobretudo, o que ouvi lá). Mas, felizmente, ainda se pode assistir a esta Bohème. Toda a encenação é excelente mas a pujança do 2º Acto no Café Momus no Quartier Latin e a eficácia do 3º Acto na Barrière d’Enfer são de cortar a respiração.


Mimi foi Anna Netrebko. Que poderei mais escrever em relação a esta fabulosa cantora? Está cada vez melhor, a voz de soprano é de uma beleza única, os agudos são estratosféricos e arrepiantes, dá-nos sempre umas interpretações fabulosas e quando a ouvimos passamos para outra dimensão. Penso que, vocalmente, não há melhor na actualidade e, pelo que ouvi nas gravações das antigas, será uma das melhores de sempre.


Piotr Beczala foi um Rodolfo à altura e, mais uma vez, mostrou que é um tenor seguro, de invulgar beleza tímbrica, voz grande e consistente em todos os registos, particularmente notável nos agudos. E, em palco, está cada vez melhor! É, sem dúvida, um dos melhores tenores da actualidade.



Nicole Cabell foi uma Musetta de qualidade mas, face aos restantes, não brilhou tanto. Marcello foi Gerald Finley, Colline foi Sheyang e Schaunard foi Massimo Cavalletti. Todos estiveram bem, com particular destaque para Gerald Finley


(Algumas fotografias apresentadas são de Andrea Mohin / The New York Times)
Esta récita foi um daqueles espectáculos mágicos que sempre ansiamos mas, poucas vezes, vivemos. Felizmente foi isso que aconteceu!
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O PÚBLICO NO MET


Um comentário em relação ao público americano que é, de facto, muito especial. Tem uma impulsão para o apluso fácil e aplude tudo, desde o divinal ao banal. Aplaude intensamente os cantores mais conhecidos quando entram em palco, mesmo antes de cantarem (repetindo os aplausos no final de cada aria), aplaude a abertura do pano (presumo que será para os cenários que, de facto, são frequentemente excelentes) mas, infelizmente, aplaude também quando pensa que o final se aproxima, sem deixar ouvir a música até ao fim e também sem deixar ouvir os cantores em algumas das notas mais marcantes – chocante!
Seguramente que, entre todos os presentes, haverá conhecedores, mas ficam diluídos no meio dos aplausos da maioria que deverá ser constituida por espectadores ocasionais. Contudo, durante as récitas, comportam-se bem, não falam e, com sorte, não se apanham umas velhinhas a desembrulhar rebuçados nos momentos mais impróprios. Nos intervalos, metem conversa frequentemente e são de uma cordialidade e simpatia invulgares, sendo raros os snobs, tão frequentes noutras paragens.

sábado, 6 de março de 2010

ARIADNE AUF NAXOS – Met Opera, Nova Iorque, Fevereiro de 2010

Ariadne auf Naxos de Richard Strauss é “uma ópera dentro de uma ópera” que está longe de ser das minhas favoritas. A encenação, de Elijah Moshinsky, foi bastante aceitável, atendendo à história bizarra do argumento.
A direcção musical, de Kirill Petrenko, foi intensa e contribuiu de forma significativa para a boa prestação dos cantores.


Na primeira parte quem brilhou foi, sobretudo, Sarah Connolly, no papel do Compositor. Uma voz bonita, extensa e cheia, aliada a um excelente sentido teatral.
Zerbinetta foi interpretada pela coreana Kathleen Kim e foi uma agradável surpresa. Detentora de um soprano ligeiro de timbre agradável, alcançando as notas mais agudas com aparente facilidade e sem quebra de qualidade interpretativa, esteve bem ao longo de todo o espectáculo.
Nina Stemme foi Ariadne e a “Prima Donna”. Bem na primeira parte, foi arrasadora na segunda. Uma enorme voz de soprano, segura e marcante tanto no registo médio como no agudo, encheu o palco, a sala e a alma de quem lá estava. Sensacional!
Lance Ryan foi Bacchus e O Tenor. Claramente o elo mais fraco da noite, não esteve à altura das suas parceiras femininas. Uma voz banal e pequena, e uma presença em palco estática e desinteressante.


No cômputo geral, um espectáculo que acabou por ser bastante agradável.

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LA FILLE DU RÉGIMENT – Met Opera, Nova Iorque, Fevereiro de 2010

Desta vez em Nova Iorque, voltei a tern a possibilidade de ver La Fille du Régiment de Donizetti na encenação de Laurent Pelly, a mesma que vi em Covent Garden. Já anteriormente salientei a sua qualidade e eficácia. A direcção musical, correcta qb, foi de Marco Armiliato.


Juan Diego Florez foi Tonio, como em Londres. Imediatamente antes do início do espectáculo, foi anunciado que, apesar de constipado, iria cantar, o que desencadeou a primeira grande ovação da noite. Mesmo constipado, foi um intérprete à altura das exigências da personagem. Como tenor ligeiro penso que não tem rival nos tempos que correm. Os agudos são luminosos e mantidos com segurança e o timbre é lindíssimo. Apesar de não ser um bom actor em palco, mantém uma figura excelente para o papel que desempenha. O público, sobretudo aqui no Met, já aplaude efusivamente qualquer intervenção. Contudo, na aria “Pour mon àme”, falhou um dos dós de peito, que disfarçou bem, mas foi a primeira vez que o vi falhar. Mesmo com este pequeno percalço, devo confessar que é um dos tenores que mais gosto de ouvir na actualidade.


Marie foi interpretada por Diana Damrau. Cantou bem e revelou uma boa presença em palco, mas não posso esquecer a interpretação de Natalie Dessay neste papel. Depois dela, penso que ninguém a conseguirá igualar.


(As fotografias apresentadas são de Mary Altaffer)
Maurizio Murano foi um Sulpice credível e Meredith Arwady também esteve bem no papel da Marquesa de Berkenfield, mas nenhum deles nos brindou com uma interpretação memorável.
Kiri te Kanawa na Duquesa de Krakenthorp foi muito aplaudida, mais pelo seu passado do que pela prestação nesta ópera. Se no início trauteou com qualidade as frases musicais, nas partes faladas quase não se ouviu.
Um espectáculo sempre muito agradável para rever embora, no presente caso, aquém da representação em Londres.
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STIFFELIO – Met Opera, Nova Iorque, Janeiro de 2010

Stiffelio, ópera de G. Verdi, numa produção também de Giancarlo del Monaco, foi mais uma encenação clássica, como é habitual no Met, mas não deslumbrante, apesar de alguma complexidade cénica.
A direcção musical foi de Placido Domingo, que cumpriu a tarefa sem brilho.


José Cura foi Stiffelio e emprestou ao papel uma excelente voz de tenor, segura, bem timbrada, potente em toda a sua extensão e sem vibrato. Cenicamente não esteve mal e foi o único que representou.
Lina, sua mulher, foi cantada por Julianna Di Giacomo, que revelou uma voz poderosíssima mas pouco ágil e sem conseguir transmitir emoção. Cenicamente muito fraca, como todos os outros.
Raffaele foi Michael Fabiano que cumpriu vocalmente, mas sem entusiasmo ou capacidade cénica. Também Andrej Dobbler que cantou o papel de Strakar, pai de Amélia, não se salientou, embora tenha cantado com correcção. Dos restantes, nada digno de relevo.
Um espectáculo bem encenado, com bons cantores (sobretudo Jose Cura numa excelente interpretação), mas cenicamente muito fracos.
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SIMON BOCCANEGRA – Met Opera, Nova Iorque, Janeiro de 2010

Simon Boccanegra, ópera de G. Verdi, foi uma produção imponente de Giancarlo del Monaco, muito bem encenada, numa abordagem clássica que tanto gosto, donde se realçam pela qualidade estética as cenas no palácio do Doge.
A direcção musical esteve a cargo do maestro titular, James Levine, que conduziu de forma suberba a excelente Orquestra do Met. A obra é musicalmente muito rica e abundam os duetos e outros belos ensembles.



Os cantores eram todos bons, ao melhor nível do que se ouve nestes teatros, mas nenhum atingiu aquele desempenho arrebatador que nos transporta para outra dimensão.
Placido Domingo foi um magnífico Simon Boccanegra. Continua a cantar bem, não se faz favor nenhum em vê-lo por ali, pois está ao nível ou acima dos outros com quem contracena. Foi a primeira vez que o vi num papel de barítono, mas como o timbre é inconfundível, não foi clara para mim a diferença marcada para tenor. Foi um barítono com timbre "tenorial". No palco foi um Senhor, pois mantém intactas as suas capacidades cénicas. Foi muito aplaudido, mas isso é habitual por estas bandas, onde o público é bem menos selectivo e mais generoso com os grandes nomes que do outro lado do atlântico.
Amélia foi interpretada por Adrianne Pieczonka, soprano com fracas qualidades cénicas mas solidez vocal, embora com alguma tendência para gritar nas notas mais agudas.
Marcello Giordani (tenor) foi Gabriele e esteve bem. Como habitualmente, mostrou ser possuidor de uma voz com potência inexcedível mas nem sempre bonita, sobretudo no registo médio. No palco também não é grande actor, revelando-se frequentemente rígido e estático.
Merece ainda uma referência James Morris, que foi o baixo Andrea, pela sua ainda boa prestação vocal.
Mais um bom espectáculo, a deixar boas memórias.
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CARMEN – Met Opera, Nova Iorque, Janeiro de 2010

Carmen, uma nova produção do Met, de Richard Eyre, foi um espectáculo muito respeitável. A encenação é clássica e sofisticada, com algum dinamismo no palco, mas menos espectacular que a de Londres, que vira poucos meses antes.
O maestro foi Yannick Nézet-Séguin que imprimiu um ritmo fernético à peça mas, mesmo assim, foi uma interpretação notável e a orquestra esteve em grande.



O elenco foi próximo do da ROH, mas melhor. Elina Garanca foi, mais uma vez, excelente - voz grande e potente, beleza de timbre, capacidade cénica com excelente presença em palco. Contudo, no 3º acto, quando lê nas cartas o destino – a sua morte – poderia ter feito melhor.
Roberto Alagna cumpriu sem brilhar e foi menos intenso na interpretação que em Londres. Também a encenação lhe é menos favorável.
Escamillo foi Mariusz Kwiecien que, apesar de ter uma voz pequena, projecta-a bem e, no palco, é um bom actor.
Barbara Frittoli fez uma Michaela muito convincente. Soprano de belo timbre, extensão notável e agudos alcançados aparentemente sem dificuldade, esteve muito bem sempre que entrou em cena.
Um bom espectáculo, bem encenado, bem tocado e bem cantado, mas aquém da Carmen de Londres.

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TURANDOT – Met Opera, Nova Iorque, Janeiro de 2010

Turandot de Puccini foi a primeira de quatro óperas a que assisti numa primeira breve estadia em Nova Iorque neste ano. O Met é um dos poucos teatros de ópera do mundo em que é possível, num muito curto espaço de tempo, ver vários espectáculos.
A encenação, velhinha, de Franco Zeffirelli é de uma riqueza e variedade que deslumbra qualquer um e mostra que a grandiosidade de um espectáculo de ópera passa necessariamente também pela encenação. Para além dos cenários, os fatos, os movimentos em palco, os adereços, enfim, tudo de grande riqueza, cor e diversidade, presenteando-nos com aquela sensação mágica de que se está a assistir a algo único!


O maestro foi Andris Nelsons, um desconhecido para mim, que extraiu da orquestra um fantástico desempenho, com a sonoridade ideal para o espectáculo. O coro também esteve excelente.
No papel da pérfida princesa Turandot esteve Maria Guleghina, detentora de um soprano dramático de grande potência, bem para este papel. Recordo com saudade as récitas na Gulbenkian (heroínas verdianas) mas devo confessar que achei a voz um tanto gasta e com vibrato excessivo. Também não brilhou nas suas capacidades cénias mas, apesar de tudo isto, fou uma Turandot credível e bem audível.
Calaf foi Salvatore Licitra, um tenor italiano de timbre forte e bonito mas sem grandes dotes de representação e com ligeiros problemas de afinação em algumas partes.
Maija Kovalevska, dotada de um belíssimo soprano, foi a melhor da noite, tanto cénica como vocalmente. Fez uma Liu muito comovente e convincente, talvez a melhor que vi até à data. É possuidora de timbre claro, boa extensão vocal e agudos fáceis, sem gritar. Timur, seu pai, foi Hao Jiang Tian que revelou um uma extensão vocal notável e um belo timbre, tendo cumprido com elevação o papel. Já o mesmo não se pode dizer de Bernard Fitch, o imperador, que mal se ouvia. Joshua Hopkins, Tony Stevenson e Eduardo Valdes fizeram bem os Ping, Pang e Pong, também muito benificiados pela indumentária e encenação.
No cômputo geral, um grandioso espectáculo, de encher todos os sentidos, apesar de, vocalmente, ter estado ligeiramente abaixo de tudo o resto.



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