quinta-feira, 30 de agosto de 2012

DON GIOVANNI – Royal Opera House, Londres – Fevereiro 2012


O FanaticoUm já vos transmitiu a impressão sobre a reposição do Don Giovanni na Royal Opera House na passada temporada

Tive a oportunidade de assistir a 2 récitas com os dois elencos e gostava de vos deixar umas fotos e a minha impressão comparativa.

DON GIOVANNI





Gerald Finley foi melhor que Erwin Schrott. Schrott fez um Don menos especial, menos nobre, encarando tudo com piada e leveza, cercando tudo com sedução física e beijos, menos psicológico no primeiro acto. No início do segundo acto, principalmente no início onde domina a intervenção cómica esteve excelente ao simular uma crise de asma quado Leporello lhe pede para deixar as mulheres; interagiu com expectadores nesta passagem e esteve muito bem na troca de papéis com Leporello. Schrott é principalmente eficaz nas passagens cómicas  mas quando a acção pede mais dramatismo não o faz tão bem como Finley. O final da ópera foi bombástico com Finley, enquanto que com Schrott tudo pareceu muito pouco sentido.


LEPORELLO

Alex Esposito fez um Leporello mais interessante do ponto de vista cénico do que Lorenzo Regazzo. Altamente cómico na troca de papéis com Don Giovanni – finge que se mata com a espada, treme as pernas deitado como que a “esticar o pernil”, Don faz-lhe massagem cardíaca e quando vai para a ventilaçãoo desiste e ri-se; agarra-e a Elvira de modo apaixonado, mexe-lhe de modo sexualmente hilariante e inesperado nas mamas, insinua-se com moviemntos pélviso sobre ela de modo tão cómico que em nada se pareceu ordinário. Na cena da estátua revelou o medo na voz e na postura de modo credível. Do mesmo modo fez crer que temia estarem ambos mortos quando o Comendador entra para jantar. Excelente!!!





DONNA ANNA

Carmela Remigio vence Hibla Gerzmava em presença física (grande classe e beleza) e na voz, levando ao júbilo sensorial na sua última ária. Profundamente irritante o vibrato nos agudos de Gerzmava...





DONNA ELVIRA

Ruxandra Donose com timbre mais quente e meloso que Katarina Karnéus.





ZERLINA

Kate Lindsey mais chamativa, particularmente pela cumplicidade e química ternurenta especial que revelou com Matthew Rose.



DON OTTAVIO

Pavol Breslik com voz mais cristalina e muito expressivo no “dalla sua pace” e “il mio tesoro”, embora Matthew Polenzani tenha estado em grande nível.





MASETTO

Adam Planchetka e Matthew Rose perfeitos, sobressaindo talvez mais Rose ao dar um ar mais rústico à personagem.





COMENDADOR

Reinhard Hagen preferível a Marco Spotti, com voz mais profunda e sem vibrato.



Constantino Carydis não esteve perfeito. Melhor no segundo elenco mas a abertura sempre pouco sentida, muito rápida, pouco melosa e sem se sentir o medo, nem na abertura, nem na entrada do Comendador. Na minha opinião é porque escolhe fazer estas passagens muito rápidas e pouco solenes. A entrada dos camponeses muito lenta... Melhor no lamento de Anna, mais lento e lírico.


No geral, gostaria de ter assistido ao segundo elenco (Esposito, Remigio, Donose, Lindsey, Breslik, Rose e Hagen) mas com Gerald Finley como Don Giovanni.




sábado, 25 de agosto de 2012

NOITES EM SÃO CARLOS – Imperdível!



 Em Portugal, o Teatro Nacional de São Carlos foi um local mítico para os amantes da lírica.

Nos tempos áureos vinham cantar ao nosso teatro de ópera os grandes nomes da cena lírica internacional de então, consagrados ou promissores, e as produções eram assinaláveis. Contaram-me amigos que viveram intensamente esses períodos que, em início de carreira, quem não triunfasse em São Carlos, não teria grande projecção internacional. E, pelo contrário, quando as actuações eram memoráveis, outras portas se abriam mais facilmente por essa Europa fora. Também o público era então mais conhecedor e exigente.

Apenas um exemplo, as produções de La Traviata e os nomes que cantaram a Violetta Valéry após a reabertura do teatro em 1940 e até à revolução de Abril: Maria Caniglia em 48, Renata Tebaldi em 50, Marguerita Carosio em 52, Virgínia Zeani em 57, Maria Callas em 58, Mary Costa em 64, Renata Scotto em 68 e Joan Sutherland em 74 (estava em Lisboa quando foi o 25 de Abril e há histórias deliciosas sobre a sua saída do País, mas não é isso que agora recordamos).






 É um pouco desse grandioso passado que podemos ver nesta exposição diversificada e muito bem conseguida. Guarda-roupa, cenários, figurinos, adereços, maquetas, caricaturas, homenagem a grandes cantores portugueses, um pouco de tudo se pode apreciar.



A montagem de uma produção esplendorosa da Madama Butterfly na sala principal, repleta de público, é do melhor que se pode ver neste tipo de exposições em qualquer parte do mundo.









Vai-se a São Carlos, assiste-se em São Carlos. Apesar de haver quem considere uma forma elitista e snob de o dizer, só o Teatro de São Carlos é assim referido!

A magnífica exposição agora disponível é imperdível! Numa viagem guiada (para iniciados) ao passado glorioso do Teatro podemos também visitar áreas interessantes que habitualmente não estão acessíveis ao público (palco, bastidores, camarins) e ver “apenas” uma pequena parte do seu espólio valiosíssimo e único.




 É permitido fotografar. Há uma boa colecção de imagens no site do Teatro. Também a leitura e imagens do texto do Paulo do blogue valkirio aguça o apetite de qualquer um.

Mas. tal como a ópera, ao vivo é que é! Por isso, “corram” a São Carlos porque a oportunidade é única e termina já no dia 4 de Setembro. Não se vão arrepender.

Espero que os responsáveis pela cultura no nosso País também visitem a exposição. As instituições têm, ao longo da sua existência, momentos altos e outros menos bons. Aqui podemos admirar quão grande foi o São Carlos e, olhando para a realidade actual, no que se transformou.

Esperemos que, mesmo em tempos de crise, os responsáveis pelo nosso único teatro nacional de ópera tenham o engenho e a arte para voltar a prestigiá-lo com programações dignas da sua história e, sobretudo, de um teatro de ópera de uma capital europeia, neste início do Século XXI.

Um óptimo elenco internacional, uma que outra vez, será excelente mas, como já aqui escrevi várias vezes, recorrendo ao que é nacional, desde que de qualidade (e há muita por cá e pelo estrangeiro, basta saber identificá-la e ter a coragem de dar oportunidades), penso que se poderá e deverá fazer muito melhor!

 Bravo São Carlos!



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

As Estações / The Seasons, Haydn, Fundação Gulbenkian, Novembro de 2011



 As Estações (The Seasons) é uma das grandes oratórias de Joseph Haydn, com libretto de Gottfried van Swieten. Baseia-se em episódios da vida rural e é composta por quatro partes, correspondentes às estações do ano. A música é de uma beleza assinalável e, entre outros, os Adagios do Verão e do Inverno são belíssimos.

(programa de sala)

Na direcção musical esteve o conceituado maestro inglês Paul McCreesh que fez justiça à sua reputação e ofereceu-nos um excelente espectáculo. A Orquestra Gulbenkian esteve à altura do que lhe foi exigido.

(fotografias do programa de sala da Gulbenkian)

O Coro Gulbenkian (maestro do coro, Fernando Eldoro) teve um desempenho excepcional e, para mim, foi o responsável pelos momentos musicais mais empolgantes da tarde.

Os três solistas foram homogéneos e de elevada qualidade. A opção de os colocar à esquerda, na zona média do palco, mesmo ao lado das 4 trompas fez com que, frequentemente, tivessem que tapar os ouvidos para não ensurdecerem com o som, o que foi particularmente notório (e claramente evitável!) na segunda parte.

Andrew Foster-Williams, baixo-barítono inglês, tem uma voz bonita e cheia. A qualidade manteve-se ao longo de toda a récita, tanto nas árias como nos recitativos.


 O soprano sueco Miah Persson mostrou segurança e versatilidade na interpretação e esteve sempre ao mais alto nível. Canta aparentemente sem esforço e o timbre é muito agradável, sobretudo na interpretação das árias.


 O tenor inglês Robert Murray esteve muito melhor hoje do que na abertura da temporada, onde cantou “A Criação” também de Haydn. As suas intervenções foram seguras, a beleza tímbrica assinalável e foi sempre bem audível, mesmo quando usou, de forma notável, a mezza voce.


 Um dos melhores concertos da temporada da Gulbenkian que só agora é aqui comentado.

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The Seasons, Haydn, Gulbenkian Foundation, November 2011

The Seasons is one of the great oratorios of Joseph Haydn, with libretto by Gottfried van Swieten. It is based on episodes of rural life and is composed of four parts, corresponding to the seasons of the year. The music is beautiful and among others the Adagios of summer and winter are remarkable.

Musical director was the renowned British conductor Paul McCreesh. He did justice to his reputation and offered us a great performance. The Gulbenkian Orchestra was excellent, as required.

The Gulbenkian Choir (conductor of the choir, Fernando Eldoro) had an outstanding performance and, for me, it was responsible for the most exciting musical moments of the performance.

The three soloists were homogeneous and of high quality. The option of placing them on the left, at the middle zone of the stage, right next to the four tubes obliged them frequently to cover their ears from deafened with the sound, which was particularly evident (and clearly avoidable!) in the second part.

Andrew Foster-Williams, English bass-baritone, has a beautiful full voice. The vocal quality was maintained throughout the recital, both in the arias and in recitatives.

Swedish soprano Miah Persson has shown a sound and versatile interpretation and she was always at the top level. The singing seemed effortless and the vocal timbre was very nice, especially when singing the arias.

English tenor Robert Murray was much better today than in the season premiere, when he sang "The Creation" also by Haydn. His interventions were safe, the beauty and remarkable timbre of his voice were always noticeable, even when he sang, with great quality, in mezza voce.

It was one of the best concerts of the season at Gulbenkian Foundation that only now is reviewed here.

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sábado, 18 de agosto de 2012

GÖTTERDÄMMERUNG / O CREPÚSCULO DOS DEUSES, Theatro Municipal de São Paulo, Brasil



WAGNER DE NÍVEL INTERNACIONAL: O CREPÚSCULO DOS DEUSES NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

Assistir a ópera O Crepúsculo dos Deuses de Richard Wagner é uma verdadeira maratona, você tem que ficar seis horas no teatro. Em tempos de internet e redes sociais isso é uma eternidade, a surpresa foi o público, não arredou o pé até o fim da récita. Outra encrenca nessa ópera é o público entendê-la. Sabemos que é a quarta parte de uma tetralogia e os genais dirigentes do teatro resolveram fazer a tetralogia fora de ordem, começaram por A Valquíria (segunda parte) e agora montam a quarta. Destaque para um casal, ele interessadíssimo na ópera e a loira com cara de poucos amigos. A moça descobriu que ópera dá um sono danado, tirou uma pestana em todo o segundo e terceiro ato, será que a cor do cabelo influencia em algo?
Mais uma vez os dirigentes do teatro erraram na conta, faltaram programas para muitos espectadores, eu fiquei sem o meu. Já aconteceu na ópera A Valquíria e aconteceu de novo nesse Götterdämmerung. Felizmente o grande teatro paulistano acertou mais que errou, ninguém lembrou a falta do programa quando subiu a cortina.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

A Orquestra Sinfônica Municipal, nas mãos do maestro Luiz Fernando Malheiro começou arrastada, lenta. Nesse ritmo a ópera duraria umas sete horas, após a primeira cena o maestro acertou a mão. Mostrou um Wagner potente nas partes sinfônicas e diminuiu o volume nas partes cantadas. Uma regência correta, cheia de belas harmonias e com o brilho da música wagneriana. O maestro mostra mais uma vez que conhece Wagner a fundo.
O elenco esteve equilibrado, nivelado para cima, muitas vezes soberbo. Eliane Coelho mostrou uma voz de timbre escuro e encorpado. Sua Brünnhilde é voz e pura interpretação, vestiu a camisa da personagem e empolgou. Sua participação final é deveras inesquecível, mostrou força na voz dando credibilidade a personagem e ainda sustentou as notas no limite. Grande soprano.
O Siegfried de John Dazsak tem agudos interessantes, carece de médios e graves. Fez um Sigfried correto, falta o timbre e a pegada que todo o tenor wagneriano deve ter. Sua voz não tem a potência, a emissão e a maturidade que a ópera de Wagner exige, é uniforme, estática e algumas vezes metálica. Denise de Freitas mais uma vez arrasou, como Waltraute foi soberba, mostra que está em plena forma vocal. Sua voz mostra diversas nuances da personagem e coloridos que só se ouvem ao vivo. CDs e DVDs nem chegam perto.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

Outra que está em grande forma é Claudia Riccittelli, interpretação magistral de Gutrune. Sua voz tem belo timbre, matizada, de ouro. Mostrou paixão e ódio quando necessário e exibiu força nos agudos. Soprano correta em todas as suas participações e com qualidade vocal em todos os registros. Claudia Riccittelli jura de pé junto que não lê o que os críticos escrevem sobre ela, é uma pena, vai ficar sem ler as belas e poéticas palavras que escrevi sobre ela. Quem sabe o maridão Martin de o recado.
O Gunther de Leonardo Neiva mostra força nos graves, com timbre maduro e estável. Uma voz que evolui a cada apresentação e em boa forma vocal. Interpreta um Gunther mais que interesseiro e com grandes atributos cênicos. Gregory Reinhart mostra graves de baixo puro como Hagen, voz cavernosa e marcante.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

A direção cênica comandada pelo experiente André Heller-Lopes acerta na concepção. Impossível descrever em palavras as idéias originais do diretor. A primeira cena é um primor, jogo de luz e cores combinam e se harmonizam. Soluções atemporais unidas a cenários sóbrios e figurinos corretos. Luz que participa e faz parte da ação, projeção de imagens que leva a reflexão. Diversos pontos da concepção fazem um elo de ligação com a ópera A Valquíria dirigida pelo mesmo diretor em 2011.
Sua leitura de Wagner coloca o amor em primeiro plano, leva o espectador a pensar e consegue agilidade em uma obra que é estática por natureza. Sua cena final resume a vitória do amor sobre tudo. Todos se beijam , temos homens com mulheres, mulheres com mulheres e homens com homens. O amor vence tudo, até o preconceito.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

Ali Hassan Ayache

terça-feira, 14 de agosto de 2012

AIDA: Gran Teatre del Liceo, Barcelona - 30 de Julho de 2012



Aida é uma ópera composta em 1871 por Giuseppe Verdi (1813-1901), a partir de um libretto de Antonio Ghislanzoni (1824-1893), por seu turno, fundado num argumento elaborado pelo egiptólogo Auguste Mariette (1821-1881), posteriormente, expandido por Camille Du Locle (1832-1903) com base em fontes tão diversas como Nitteti de Pietro Metastasio (1698-1782) ou Bajazet de Jean Racine (1639-1699).


A encenação de José Antonio Gutiérrez, estreada em 2003, propõe um resgate evocativo de algumas criações cenográficas da autoria do emérito artista plástico catalão Josep Mestres i Cabanes (1898-1990), remontantes a 1945, a cargo de Jordi Castells. Por intermédio da multíplice disposição de diversos telões modelados em função dos elementos cénicos a representar (colunas, templos, vegetação, interiores), Gutiérrez sucede na obtenção de efeitos visuais, apropriadamente, sugestivos da monumentalidade, comummente, associada a encenações de cariz mais tradicional, evitando, contudo, resvalar para a mera ostensão de um fausto, cenicamente, vácuo e, em derradeira instância, condicionador da dramaturgia que a obra encerra.

Em Radames, Marcello Giordani surgiu a um nível, genericamente, recomendável, não obstante um notório défice de emissão no registo mais grave, tendente à inaudibilidade. Dotado de um instrumento robusto com suficiente volume e generosa extensão, o tenor logrou alcançar um plano assinalável nos duetos nucleares dos terceiro e quarto actos, maugrado a evidenciação de alguns óbices no ensejo de apianar no limiar da região aguda. Dramaticamente, lamenta-se a expressão, ainda que esporádica, de trejeitos algo desadequados.


Do mesmo modo, a Amneris de Ildiko Komlossi (substituindo Luciana D’Intino) denotou, num estágio inicial, uma vocalidade algo destimbrada, acrescida de uma laboriosa projecção. Conquanto, transversalmente, comprometida por um insistente vibrato, ameaçando distorcer, amiúde, o fraseado, releva-se, sobremaneira, o palpável engajamento dramático numa performance, parcialmente, congenial, culminando num quarto acto de relevante efeito.


Em récita que assinalou o desfecho da carreira artística, o veterano Juan Pons compôs um Amonasro, dramaticamente, assertivo, numa abordagem convincente. Conservando suficiente robustez vocal, mormente, no registo médio, o barítono catalão sucedeu em defender-se, eficazmente, em ambos os extremos da tessitura, domando, com propriedade, a linha de canto. Um epílogo comovedor, fragorosamente ovacionado pelo público.


Numa caracterização irrepreensível, o Ramfis de Vitalij Kowaljow primou pela nobreza tímbrica, num instrumento assaz homogéneo, não obstante a ausência da expectável ressonância nos graves, designadamente, na cena com Radames no Templo de Vulcano.

Stefano Palatchi patenteou a necessária autoridade na assunção do monarca egípcio, a despeito de uma generalizada debilidade na coluna de som, enquanto Josep Fadó (um mensageiro) e Elena Copons, no papel de uma sacerdotiza, lograram prestações correctíssimas, integrando-se favoravelmente no conjunto.


A princesa etíope da norte-americana Sondra Radvanovsky foi, absolutamente, notável. Possessora de um instrumento de basta amplitude e privilegiando uma emissão, constantemente, sul fiato, assombrou pelo incessante desenho e suspensão de uma insuspeita pureza tímbrica na melhor tradição verdiana, considerando a matriz de laivos, intrinsecamente, metálicos característica do material vocal. O soprano foi, inequivocamente, modelar, na negociação da terrífica cadência em O patria mia, sem qualquer decréscimo de qualidade, concomitantemente, explorando de modo activo a paleta dinâmica, num exercício de controlo admirável, evidenciado pela sucessiva abordagem triunfante dos pianissimi. Destaca-se, de forma análoga, a consistência do jogo cénico, contribuindo para um salutar envolvimento dramático no âmbito das possibilidades ofertadas pela natureza da encenação. Uma estupenda intérprete do papel-titular.


Sob a batuta de Renato Palumbo, o Coro e a Orquestra do Gran Teatre del Liceo exibiram-se em plano idiomático, não obstante um relativo pendor para a adopção de tempi algo lestos por parte do maestro italiano.




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AIDA: Gran Teatre del Liceo, Barcelona - 30 de Julho de 2012

Aida is an opera composed in 1871 by Giuseppe Verdi (1813-1901), after a libretto by Antonio Ghislanzoni (1824-1893), in its turn, based on a story created by the Egyptologist Auguste Mariette (1821-1881), expanded, afterwards, by Camille Du Locle (1832-1903) from such diverse sources as Pietro Metastasio’s Nitteti and Jean Racine’s Bajazet.

Premiered in 2003, José Antonio Gutiérrez’s staging proposes an evocative restoration of some scenographic creations designed by the illustrious Catalan artist Josep Mestres i Cabanes (1898-1990), dated from 1945, adapted by Jordi Castells. Through the manifold disposition of several screens modelled according to the scenic elements to represent (columns, temples, vegetation, interiors), Gutiérrez succeeds in achieving visual effects, appropriately, suggestive of the monumentality, usually, associated to more traditionally-natured stagings, avoiding, however, slipping into the mere ostentation of a scenically hollow pageantry and, ultimately, the conditioning of the work’s dramaturgy.

As Radames, Marcello Giordani emerged at a, generally, commendable, level, notwithstanding, a notorious deficit of emission in the lower register, tending to inaudibility. Gifted with a robust instrument with sufficient volume and generous extension, the tenor succeeded in reaching a remarkable level in the fundamental duets of the third and fourth acts, despite evincing some difficulties when taking a note in pianissimo at the upper part of the voice. Dramatically, one regrets the expression, tough sporadic, of somewhat inappropriate mannerisms.

Likewise, the Amneris of Ildiko Komlosi (subbing for Luciana D’Intino) denoted, at an early stage, a whitish vocalism, accompanied by an elaborate emission. Even though, transversely, compromised by an insistent vibrato, threatening, in several instances, to distort the phrasing, the blatant dramatic involvement stood out in a, partially, congenial performance, culminating in a fourth act of nice effect.

In his farewell performance, veteran Juan Pons drew a, dramatically, assertive Amonasro, in a convincing portrayal. Preserving sufficient vocal strength, especially, in the middle voice, the Catalan baritone managed to defend himself, effectively, at both ends of the range, taking hold of the vocal line, with property. A moving epilogue, soundly cheered by the public.

In a faultless depiction, Vitalij Kowaljow’s Ramfis distinguished himself through the nobility of the tone, in a markedly even instrument, despite the lack of the required resonance in the lowest notes, namely, in the scene with Radames at the Vulcano Temple.

Stefano Palatchi exhibited the expected authority, in spite of a generalized fragility in the sound column, while Josep Fadó (a messenger) and Elena Copons, in the role of a priestess, turned in extremely correct performances, blending themselves, positively, in the ensemble.

The Ethiopian princess of the American Sondra Radvanovsky was, absolutely, remarkable. Possessing an instrument of great amplitude and favouring an emission, constantly, sul fiato, she astounded by the incessant spinning and sustaining of an unsuspected purity of tone in the best Verdian tradition, considering the intrinsically metallic nature of the voice. The soprano was, unequivocally, exemplary in the negotiation of the terrific cadenza in O patria mia, without any loss of quality, at the same time, exploring, actively, the dynamic range, in an admirable exercise of control display, evinced by the triumphant way in which she, successively, approached pianissimi. One should also highlight the consistency of the stage deportment, contributing to a wholesome dramatic involvement, within the possibilities offered by the character of the staging. An outstanding interpreter of the title-role.

Under the baton of Renato Palumbo, the Gran Teatre del Liceo Chorus and Orchestra presented themselves in an idiomatic level, notwithstanding the Italian maestro’s penchant for the adoption of rather fleet tempi.

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