sexta-feira, 24 de abril de 2015

CAETANO VILELA SALVA UM HOMEM SÓ E AINDAMAR NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO



Crítica de Ali Hassan Ayache do blog Ópera & Ballet

O Theatro Municipal de São Paulo apresentará em 2015 uma temporada repleta de óperas conhecidas do grande público, sendo assim é possível incluir na programação uma ou outra raridade exótica. A direção escolheu duas óperas curtas para sair do lugar comum. Um Homem Só de Camargo Guarnieri e a inédita por essas terras Ainadamar de Osvaldo Golijov. Duas óperas completamente diferentes e que tem em comum a opressão do indivíduo como tema central. De um lado um brasileiro simplório e do outro Frederico Garcia Lorca, homossexual e crítico do fascismo.
   
A composição musical de Um Homem Só de Camargo Guarnieri é banal, não sai do lugar comum, sem impacto e carece de inspiração. Passeia entre trechos românticos do século XIX e tenta ser moderna como no século XX. Não consegue nem uma coisa nem outra. O libreto de Gianfrancesco Guarnieri tem qualidades, mostra as dores e mazelas do Homem Só, embora as cenas não saiam da banalidade. Ainadamar lembra um musical americano melhorado, música de inspiração espanhola, quente e emotiva. O compositor Osvaldo Golijov consegue cores e contrastes dramáticos nas partes agitadas e também em cenas densas. O problema da ópera é a longa duração, um final que parece não terminar. Morre o personagem central e música e libreto continuam com quase meia hora de choro contínuo.
   
Um Homem Só e Ainadamar são excelentes devido a uma pessoa, Caetano Vilela assina a concepção, encenação e iluminação. Trabalha com diversos elementos modernos do teatro, mostrando agilidade e esbanjando criatividade. Em Um Homem Só distorce o cenário fazendo desfilar nele todo tipo de ambiente. A movimentação ágil dos cantores e uma luz que dialoga com as cenas só enriquecem a apresentação. Neurótico e repleto de dramas pessoais, assim é retratado José, um brasileiro simples que vive perdido entre seus dramas pessoais. 



Ainadamar tem menos elementos, um tablado e dez portas são o cenário e mais uma vez a luz é comovente e faz parte das cenas. A leitura de Vilela é repleta de representações, onde o subjetivo toma conta das cenas e provoca a analise do espectador. Um relógio enorme, a lua e papéis que caem e o homem que anda e não vai a lugar algum são cenas que cada indivíduo pode fazer uma leitura pessoal e dizem muito. Vilela é um grande diretor, antenado com o mais moderno teatro em uma leitura que provoca sem perder a essência do texto.
   
As vozes foram no geral eficientes, na ópera Um Homem Só, Rodrigo Esteves mais uma vez arrasou, desfilou qualidades vocais e cênicas para compor o personagem José. O barítono sempre acerta em fazer tipos transtornados, vide seu Iago da ópera Otelo excelentemente composto em Belém e em São Paulo. Luciana Bueno é uma excelente mezzo-soprano, perdi a conta das inúmeras vezes que a vi cantando em alto nível. Como Mariana/Rita e Velha não mostrou o melhor. Sua voz esteve fria e sem o brilho e volume que lhe é característico. Saulo Javan e Miguel Geraldi mantiveram o alto padrão vocal e cênico que lhes é característico nos seis personagens que interpretaram.
   
Ainadamar teve vozes microfonadas, fato esse que torna difícil uma avaliação vocal. Posso afirmar que o volume esteve excessivamente alto para quem sentou nas poltronas próximas ao placo, Marisú Pavon tem uma bela voz, Camila Titinger continua em ascensão vocal e cênica e Carla Cottini esbanja a beleza de sempre. As cenas dançantes mostram coreografias adaptadas à obra com figurinos exagerados. A Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo regida Rodolfo Fischer defendeu a partitura com musicalidade adequada a linguagem da ópera.  

Ali Hassan Ayache
Fotos: Cenas de Ainadamar e Um Homem Só, foto Internet.

L’ELISIR D’AMORE, Royal Opera House, Londres, Dezembro 2014 /London, December 2014

(review in English below)

Ainda não tinha tido oportunidade de ver esta produção de Laurent Pelly de L’Elisir d’Amore de G Donizetti na Royal Opera House, que foi estreada já em 2007.

(Fotografia Alastair Muir)

A acção é trazida para os anos 50-60 do século passado, num ambiente rural italiano. Os cenários são em ambiente campestre cheios de fardos de palha. A figura do Doutor Dulcamara, o perfeito charlatão, é dominante nesta produção. A sua primeira aparição, numa carrinha ambulante, é sensacional. Da cortina de segurança deixo aqui alguns pormenores deliciosos!






O guarda roupa é agradável, toda a encenação é muito jovial e tem vários componentes interessantes, como as bicicletas, scooters, um tractor e, sobretudo, um cão, que atravessa o palco em momentos bem escolhidos. Confesso-me um conservador no que às encenações respeita, mas esta, diferente, foi talvez a que mais gostei de entre as várias que já vi do Elixir.

A direcção musical foi óptima, pela batuta do maestro Daniele Rustioni.


Todos os solistas tiveram desempenhos de elevada qualidade. A Adina de Lucy Crowe foi excelente. Tem uma voz de soprano lírico leve e bonita, com agudos fáceis e aparentemente sem esforço. Em palco foi muito expressiva e a figura também ajudou muito.


O tenor Vittorio Grigolo foi um Nemorino acima das minhas expectativas. É certo que a voz não é das mais adequadas para este papel porque não tem a doçura necessária. Contudo, teve um bom desempenho e cenicamente esteve muito bem, encarnou na perfeição o rapaz simples, modesto e apaixonado. E, felizmente, minimizou uma postura que lhe é muito característica, a de macho latino convencido.


O baixo-barítono Bryn Terfel foi um Doutor Dulcamara excelente. Confesso que não o consigo desligar facilmente dos papeis wagnerianos, mas esteve em excelente forma vocal e foi dos mais cómicos em palco. A encenação também o favorece muito.



O Belcore do baritono Levante Molnár foi o que menos me impressionou mas, ainda assim, cumpriu bem o papel.


Uma lufada de ar fresco e boa disposição numa noite fria do outono londrino.







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L'ELISIR D'AMORE, Royal Opera House, London, December 2014

I had not yet the opportunity to see this production of Laurent Pelly of L'Elisir d'Amore by G Donizetti at the Royal Opera House, which was premiered in 2007.

The action is brought for the years 50-60 of the last century, to an Italian rural environment. Straw bales and the country setting dominate the scenarios. The figure of Doctor Dulcamara, the perfect quack, is dominant in this production. His first appearance in a traveling van, is sensational. The clothes are very nice, the whole scenario is very jovial and has several interesting components, such as bicycles, scooters, a tractor and, above all, a dog that crosses the stage twice in well-chosen moments. I confess myself a conservative with respect to stagings, but this was not a conventional one and, perhaps, the one I liked most among several that have seen of L’ Elisir.

Musical direction was excellent by conductor Daniele Rustioni.

All soloists had high quality performances. Lucy Crowe’s Adina was excellent. She has a light lyric beautiful soprano voice, with seemingly effortless top notes. On stage she was very expressive and the figure also helped a lot.

Tenor Vittorio Grigolo was a Nemorino above my expectations. His voice is not the most suitable for this role because it does not have the necessary sweetness. However, he had a great vocal performance and on stage he was very good, perfectly embodied the simple, modest and passionate boy. And fortunately, he avoided a typical behavior that he likes, the convinced Latin male.

Bass-baritone Bryn Terfel was a great Doctor Dulcamara. I confess that I can not easily forget him in his the wagnerian roles, but he was in excellent vocal form and was the most comic on stage. The production also favors it.

Belcore’s baritone Levante Molnár was the least impressive to me but he performed also very well.

A breath of fresh air and good mood on a cold night of the London autumn.


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domingo, 19 de abril de 2015

Don Giovanni – Metropolitan Opera NY – Fevereiro 2014 – Crítica de Francisco Casegas

   (Foto – Metropolitan Opera)

No passado dia 14 de Fevereiro tive a oportunidade de assistir a uma récita da ópera Don Giovanni na Metropolitan Opera de Nova Iorque.

A produção foi de Michael Grandage, estreada em 2011. É uma produção interessante na minha opinião. Destaco os efeitos pirotécnicos usados na morte de Don Giovanni que foram de grande espectacularidade.

            (Foto – Metropolitan Opera)

A orquestra da Met foi superiormente dirigida por Alan Gilbert. Particularmente, ficou-me na memória a interpretação em “Finch’han dal vino” em que foi adoptado um tempo rapidíssimo e que mostrou a técnica apuradíssima dos músicos presentes. Excelente momento.

Peter Mattei foi Don Giovanni. Como já foi referido anteriormente neste blog, tem um timbre e uma presença corporal quase perfeita para esta personagem e eu subscrevo a 100%. E nesta récita, particularmente, esteve em excelente nível.

Luca Pisaroni foi um Leporello extraordinário. Sem dúvida o melhor solista da noite. Alia o seu excelente aparelho vocal a uma representação cénica irrepreensivel. Sem dúvida um dos melhores cantores da actualidade nesse capítulo.

Elza van der Heever foi Donna Anna. Não me agradou particularmente a sua interpretação. Embora tenha um excelente aparelho vocal, o seu timbre não é dos mais bonitos, retirando algum brilho à sua interpretação.

Emma Bell foi Dona Elvira. Sempre bastante segura e dotada de um timbre muito bonito, sendo que nunca desafinou durante toda a récita. Uma prestação muito positiva.

Kate Lindsey foi Zerlina e foi a interpretação que mais gostei, a seguir a Pisaroni. Tem um timbre de beleza superior e representou muito bem cénicamente a inocente Zerlina. As suas interpretações em “Batte Batte Bel Masetto” e “Vedrai Carino” foram brilhantes.

James Morris como comendador, Adam Plachetka como Masetto e e Dmitry Korchak como Don Octavio também estiveram em muito bom plano não destoando nada dos restantes solistas. Destaque para a interpretação de Korchak em “Dalla sua pace”. Foi sublime.

No geral foi uma récita de excelente nível com os solistas e a orquestra a estarem em perfeita sintonia numa produção simples, mas muito interessante.




Francisco Casegas

domingo, 12 de abril de 2015

500.000 Visitantes! e Quiz / 500,000 visitors and Quiz - SOLUÇÃO


(text in english below)


SOLUÇÃO

Aquém das expectativas, só recebemos 4 respostas, todas correctas! Não quiseram arriscar os que tiveram dúvidas? Ou, como escreveu a Gi do Garden of Philodemus, é nestas situações que percebemos quão pequeno é o universo dos nossos leitores (apesar dos 500.000, digo eu). 

Muito Obrigado e Parabéns ao Mário Gonçalves, Plácido Zacarias, João Baptista e João Alves.


Caros Amigos,
Acabámos de ultrapassar o meio milhão de visitas ao Fanáticos da Ópera!
Um valor impensável quando nós, autores, começámos. Como em tudo, uns ficaram pelo caminho, outros juntaram-se, outros mantêm-se. Obrigado a todos.
Enquanto houver ânimo para continuar, aqui ficam imagens de algumas das catedrais de ópera mais citadas neste blogue.

Como reconhecimento a todos, desafiamos os leitores a identificar os teatros de ópera indicados de 1 a 10, todos já mencionados neste blogue.
Não publicaremos os resultados individuais, mas indicaremos os resultados finais da votação, nomeadamente quais os teatros mais identificados. 
Colabore, divirta-se e surpreenda-nos:

Dear Friends,
We just past half a million visitors to Opera Fanatics! An unthinkable number when we (authors) started. As with everything, some gave up, others joined, others remain. Thank you all. 
While there is the courage to continue, here are pictures of some of the opera cathedrals most cited in this blog.

To express our thanks to all, we challenge readers to identify opera houses listed 1-10, all already mentioned in this blog.
We will not publish the individual results, but will indicate the final results of voting, especially which theatres were more identified.

Participate, have fun and surprise us:




1- Metropolitan Opera, New York

2- Gran Teatre del Liceu (Liceo), Barcelona


3- Teatro Nacional de São Carlos, Lisboa


4- Palais Garnier, Opéra Paris


5- Royal Opera House, Covent Garden, London


6- Teatro alla Scala, Milano


7- Bayerische Staatsoper, München (Munique)


8- Wiener Staatsoper, Wien (Viena)

9- Teatro Real, Madrid

10- War Memorial Opera House, San Francisco