domingo, 30 de outubro de 2011

DON GIOVANNI – METLive – Fundação Calouste Gulbenkian, 29 de Outubro 2011




(review in english below)


Chegou a vez de Mozart em HD, com a novíssima produção de Don Giovanni.


O recentemente apontado maestro principal do MET, Fabio Luisi, dirigiu a Orquestra do MET de forma sublime, oferecendo-nos um som de qualidade superlativa, embora amplamente potenciado pela transmissão HD e, por vezes, não perfeitamente balanceado. Tomando as rédeas do cravo nos recitativos, tornou-se num maestro mais próximo dos cantores e foi clara a interacção milimétrica entre ambos.


A encenação de Michael Grandage é clássica e simples, onde dominam fatos fantásticos que vão de uma simplicidade com classe do vestido de Zerlina a uma classe com simplicidade do vestido de Donna Elvira. Quase que apetece passar pela rua com os prédios de fundo, entrar na sala de Don Giovanni e até mesmo no cemitério que em nada assusta com as várias figuras em pedra, incluindo a do Commendadore que literalmente se permite a movimentos mecânicos, seguindo o texto.



Mariusz Kwiecien foi Don Giovanni e já brilhou, segundo consta, neste papel nos melhores palcos da Europa, tendo chegado agora a vez de NY. Assombrado pelo problema musculo-esquelético que o levou a cirurgia há 15 dias, mesmo assim esteve recuperado para participar nesta transmissão em directo. Kwiecien canta o papel com uma qualidade invejável para qualquer barítono mas, na minha opinião, tivemos dois Don Giovanni em palco hoje e o que os separou foi o intervalo. No primeiro acto, a sua interpretação foi pouco convincente. Não vi um homem seguro na sedução ou maléfico nas artimanhas e na morte. Na ária de Donna Elvira “Non ti fidar, o mísera” esteve pouco entrosado com a mesma e muito abaixo do esperado ao fazer crer a Donna Anna e Don Ottavio que Elvira é louca. O segundo acto, iniciado com a troca de papéis com Leporello, foi magnífico em termos interpretativos, culminando na fantástica última cena com o Commendadore.





Luca Pisaroni foi um Leporello fantástico. Um sentido de comédia, que também senti em evolução durante a ópera, aliado a uma voz de excelente qualidade.


Num leque de estrelas que estiveram, no geral, ao mais alto nível, Barbara Frittoli foi, sem dúvida, a líder interpretativa. A idade trouxe-lhe a maturidade necessária para o papel de Elvira. Em cada gesto, em cada expressão, em cada nota, sente-se a personagem de forma limpa e clara. Soberba!



Marina Rebeka foi Donna Anna. É díficil, ao primeiro veslumbre, não nos perdermos nos seus olhos azuis, contrastando com o cabelo moreno e a face de traços redondos… A voz é cristalina, de timbre bonito e potente. Contudo, parece por vezes cantar o papel de Donna Anna como se se tratasse da Rainha da Noite de A Flauta Mágica – em potência e força. As expressões faciais procuram transmitir as emoções mas a voz não as segue, a dinâmica é demasiado subtil, impedindo que só por ela transmita as emoções. Talvez seja apenas artefacto da transmissão e ao vivo se sinta de modo diferente.



O Don Ottavio de Ramón Vargas foi lírico e nobre, fazendo as árias da capo como deve ser, com a repetição expressivamente um pouco diferente da exposição. No início pareceu-me não ter o timbre ideal para o papel mas cedo me rendi à sua interpretação.



Stefan Kocán foi perfeito como Commendatore. A voz tem a profundidade e o timbre perfeitos para o papel e a última cena foi colossal.





Mojca Erdmann e Joshua Bloom fizeram o par Zerlina e Masetto. Conheci a voz de Erdmann há uns meses atrás com o seu disco com árias de Mozart maioritariamente e fiquei apaixonado. Adorei a sua interpretação embora ache que nem sempre esteve ideal, com muitos sorrisos em alturas que os mesmos não seria o esperado para a personagem. Mas a voz é tão pura e bonita que quase nos questionamos como pode sair de tão franzino corpo. Bloom foi talvez o mais coeso dos intérpretes masculinos. Desde cedo as suas capacidades exímias como actor nos cativam e mantém-se, aliadas a uma voz forte. Cheguei a pensar, no primeiro, acto que preferia vê-lo como Don do que Kwiecien… A interação com Erdmann foi apaixonante.





Mais uma produção de elevado nível a que tivemos a possibilidade de assistir pela Fundação Calouste Gulbenkian. Um verdadeiro serviço público de reconhecido mérito, em prol da Música e da Ópera.




DON GIOVANNI - METLive - Calouste Gulbenkian Foundation, 29 October 2011






Mozart arrived in HD, in a new production of his Don Giovanni.


The newly appointed principal conductor of the MET, Fabio Luisi, directed the MET Orchestra in a sublime way, offering us a superlative sound quality, though largely enhanced by the HD broadcast, and sometimes not perfectly balanced. Taking the reins of the harpsichord in the recitatives, he became a conductor closest to the singers and was a millimetric and clear interaction between the two.

The staging by Michael Grandage is classic and simple, where the fantastic costumes dominate ranging from the simple and classy dress of Zerlina to a classy and simplicity of the dress of Donna Elvira. We almost felt the desire to walk down the street with the period buildings in the background, entering the room of Don Giovanni and even the cemetery which was no frightening at all with the various figures in stone, including the Commendadore one that literally allows the stated mechanical movements of the libretto.





Mariusz Kwiecien was Don Giovanni and he has made a great impact in several European opera houses in this role. Now it was time for NY. Haunted by the musculoskeletal problem that led him to surgery two weeks ago, he was perfectly recovered to participate in this live broadcast. Kwiecien sings the role with an enviable quality for any baritone but in my opinion, we had two Don Giovanni on stage today and what separated them was the interval. In the first act, his interpretation was unconvincing. I saw a man unsafe in the art of seduction and with no skill in the tricks and murderer. In Donna Elvira's aria "Non ti fidar, o misera" he was not in a convincing interaction with the female character, and he was below the expected when trying to convince Donna Anna and Don Ottavio that Elvira is insane. The second act begins with the exchange of roles with Leporello and it was magnificent in terms of interpretation, culminating in the fantastic last scene with the Commendadore.



Luca Pisaroni was a fantastic Leporello. A great sense of comedy, which I also felt in progress along the opera, coupled with a voice of excellent quality.

In a group of stars that were, in general, at their highest level, Barbara Frittoli was undoubtedly the leading interpretive. The age brought her the maturity to the role of Elvira. In every gesture, every expression, every note, the character feels so clean and clear. Superb!



Marina Rebeka was Donna Anna. It is difficult, at a first glance, not to get lost in her blue eyes, contrasting with the brunette hair and round face features ... The voice is crystal clear, with a beautiful and powerful tone. However, it seems at times to sing the role of Donna Anna as if it were the Queen of the Night from The Magic Flute - in power and strength. Facial expressions seek to convey the emotions but do not follow the voice, the dynamic is too subtle, not allowing it to convey the emotions only by itself. Maybe it's just an artifact of the live transmission and it will feel differently in the opera house.



Don Ottavio by Ramón Vargas was lyrical and noble, doing the da capo arias as it should be done, with a little interpretative change, different from the exposure. At first he seemed not to have the right tone for the role but soon I surrendered to his interpretation.



Stefan Kocán was perfect as the Commendatore. The voice has the perfect depth and pitch for the role and the last scene was colossal.




Mojca Erdmann and Joshua Bloom did the Zerlina and Masetto couple. I knew Erdmann recently with her album with Mozart arias and I fell in love with her. I loved his interpretation although I think that was not always ideal, with many smiles at times that they would not be expected for the character. But the voice is so pure and beautiful that we almost can question how it comes out from such an apparent frail body. Bloom was perhaps the most cohesive of the male performers. From the beginning of the opera his excelent capabilities as an actor captivate us and remains until the end, coupled with a strong voice. I even thought I would prefer to see him on the first act as the Don instead of Kwiecien... The interaction with Erdmann was passionate and exciting.




Another high level production from the MET that we were able to watch due to the Calouste Gulbenkian Foundation. A real public service of recognized merit, supporting the music and the opera.

sábado, 29 de outubro de 2011

IL GUARANY DOS PAMPAS GAÚCHOS, Theatro de São Pedro, São Paulo,Brasil, Outubro de 2011


Mais um texto de Ali Hassan Ayache, do Brasil, que muito enriquece este blogue. 
Em nome dos Fanáticos da Ópera, muito obrigado.

O imaginário popular pensa na ópera Il Guarany de Carlos Gomes como uma ópera genuinamente brasileira. Primeiro erro do povão é chamá-la de O Guarani, esse livro de José de Alencar que deu origem ao libreto. Sua abertura, popularizada pelo chatíssimo e por muitos anos obrigatório programa de rádio “A Voz do Brasil”, é conhecida pela maioria dos brasileiros e considerada por muitos como o segundo hino nacional. A verdade é única e cruel: Il Guarany é ópera italiana, cantada em italiano, adaptada ao gosto do romantismo italiano do século XIX, apresentada pela primeira vez na Itália no famoso teatro Scala de Milão. A única ligação da ópera com o Brasil é o tema, esse sim brasileiro.

Montada em diversos teatros nacionais e esquecida pelo resto do mundo, uma grande injustiça com Carlos Gomes. Compositor a altura e às vezes muito melhor que muitos italianos de sua geração. O Theatro São Pedro/SP apresentou no último dia 26/10/2011 mais uma versão da afamada ópera.


 Torci o nariz quando soube que o soprano Edna D’Oliveira iria interpretar a personagem Ceci. Conheço a cantora e imaginei sua voz inadequada a personagem. Quebrei a cara, o soprano conseguiu com seu belo timbre e uma técnica firme fazer uma grande Ceci. Agudos luminosos, quentes e uma emissão clara das notas foram o determinante. Coloraturas que exploram todas as nuances, muitas delas de baixo volume, mas de grande beleza. Um soprano que se superou, entendeu as dificuldades do texto, estudou e conseguiu dar grande credibilidade melódica a personagem.

Edna D'Oliveira

Marcello Vanucci é veterano como Peri, já o conhecia nesse personagem, Teatro Alfa /2000. Sua voz tem agudos brilhantes e consistentes. Sua técnica é excelente . Uma interpretação convincente, com grande qualidade do início ao fim da récita. Para Vanucci esse personagem é uma moleza, ele tira de letra. Inácio de Nono foi um Gonzáles mediano, sua voz não tem o brilho fundamental nos graves, muitas vezes soa agressiva e desigual.

Marcello Vanucci

A surpresa fica com Lício Bruno, seu Cacique esbanja potência na voz , escura e amedrontadora . Mostrou um vigor que empresta credibilidade ao personagem. Eduardo Janho-Abumrad fez um Don Antonio regular, com destaque na interpretação.
Cenários com painéis que reproduzem os locais onde se passa a ação . Apresentados em preto e branco : corretos, simples e funcionais. Fabulosos no terceiro ato, dando a impressão tridimensional. Unidos a uma bela iluminação, muitas vezes estática. A direção de João Malatian é arroz com feijão, básica e correta. Fez um Il Guarany simples, sem frescuras.

Os figurinos mostram aventureiros portugueses com roupas de inverno e trajes que lembram os conterrâneos gaúchos. Será que a ópera se nos pampas gaúchos? Será  o figurinista  gremista ou colorado? Só faltou o chimarrão. Trajes dos índios aimorés com desenhos geométricos, Peri usando uma longa bermuda cargo e as enormes galochas dos portugueses e espanhóis não convencem.
 
A Orquestra do Theatro São Pedro fez a famosa abertura (não é protofonia como dizem por aí) desigual, no decorrer da récita o maestro Roberto Duarte acertou a mão e tudo se harmonizou. O coro abriu o primeiro ato em total falta de sintonia entre as vozes, melhorou no segundo ato e foi primoroso no terceiro. O volume excessivamente alto incomodou em muitas passagens. A coreografia do balé esteve correta, passos modernos com um pequeno número de dançantes encheram o palco de magia.

Um Il Guarany de bom nível em quase todos os quesitos. Ópera montada com funcionalidade e pratica, sem as frescuras de muitos diretores que se dizem moderninhos. Que adoram inventar “conceitos” inexistentes (esses só existem em suas mentes). O Theatro São Pedro está montando um excelente repertório de óperas em seu acervo, destaco: Carmen, Don Pasquale e Il Guarany. Longa vida as óperas do Theatro São Pedro/SP.


Texto de Ali Hassan Ayache.


IL GUARANY, SEGUNDO ELENCO- THEATRO SÃO PEDRO/SP - 27/10/2011

SÓ FALTOU O CHIMARRÃO! IL GUARANY DOS PAMPAS GAÚCHOS.


 Uma récita nunca é igual à outra. Já vi cantores sofríveis em uma apresentação e bons em outra. Acontece sempre. A segunda noite da ópera Il Guarany de Carlos Gomes evidencia essa verdade. A vantagem de assistir ao mesmo espetáculo duas vezes (embora com elencos diferentes) é perceber alguns fatores que nos escapam à primeira vista.

Inexplicável é a luz azulada no teto do teatro, aparece como um fantasma na abertura e no quarto ato. Ao término da ópera , segundos antes de fechar as cortinas, desce uma cruz , simbolizando o nascimento do cristianismo no Brasil, ideia interessante. O traje dos índios Aimorés tem figuras geométricas, calças largas e umas máscaras que parecem ser  Zorro, tudo muito esquisito. A Orquestra do Theatro São Pedro melhorou na execução da abertura. O coro canta a toda voz, quarenta coristas fazendo isso encobrem a tudo e a todos, ensurdecem os jovens e acordam os vovôs .


  Os solistas foram desiguais, Nadja Souza fez uma Ceci jovem e inocente. Sua voz é leve, pequena e lírica. Defendeu as coloraturas com  dificuldades. Destaque para seu belo timbre, encanta aos ouvidos, penetra com maciez na alma e nos corações apaixonados. Um soprano que pode evoluir muito com o tempo.

O tenor  Rinaldo Leone continua como sempre, seu Peri tem agudos fracos compensados com gritos, timbre opaco e de difícil audição. Um grande corista, não um solista.

 Leonardo Páscoa interpretou bem  o personagem Gonzales, sua voz é robusta, com graves às vezes frios. Gustavo Lassen mostrou bela voz, encorpada, volumosa e brilhante, um bom Don Antônio. O papel do Cacique aimoré coube Jeller Felipe, bela interpretação cênica aliada a uma voz possante.

O Don Alvaro do tenor Gilberto Chaves mostrou , em sua pequena participação, um belo timbre com agudos fáceis e brilhantes. Apostaria nele para o papel de Peri, um jovem tenor que merece um papel maior nessa ópera.

Texto de Ali Hassan Ayache do blogue Ópera & Ballet.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Castelo do Barba-Azul - Fundação Calouste Gulbenkian - 24 Outubro 2011

(review in english below)

A ópera o Castelo do Barba-Azul de Béla Bartók subiu ao palco da Fundação Calouste Gulbenkian no passado dia 24 de Outubro.





Esta ópera em um acto, composta em 1911 e estreada em 1918, com libreto de Béla Balázs, inspirado num conto popular, pode ser encarada como uma viagem ao interior do Duque Barba-Azul. Numa sequência de abertura de portas do seu Castelo pela sua 4ª mulher Judith, onde conhecemos o seu jardim, o seu reino, o seu tesouro… chegamos à 7ª e última porta onde se encontram as suas 3 ex-mulheres, ainda vivas, à qual se junta Judith, terminando assim a ópera.

A música de Bartók é marcadamente envolvente, criando um misto de ambiente sinistro e acolhedor, muito longe de ser incomodativa a ouvidos menos preparados, como outras composições da mesma altura temporal.

O palco da Gulbenkian foi transformado numa produção multimédia que podia facilmente ser um cenário clássico para apresentação numa Casa de Ópera. O Castelo é personificado por estrutura simétrica em forma de pilares, onde são projectadasimagens que refletem o que por detrás de cada porta se vai desvendando. No centro, uma estrutura hexagonal, suspensa por cabo, abre-se em 2 pirâmides quando Judith abre a última porta. Por detrás são projectadas imagens das mulheres de Barba-Azul e é lá que Judith termina a ópera olhando para o palco, pouco antes de tudo escurecer.

Sir John Tomlinson foi o Barba-Azul. Com a sua pose característica e aparência tradicional com cabelo branco penteado para trás e barba acertada, encarna na perfeição o papel, para o qual contribuiu a capa e colete de cabedal negros. A voz mantém a mesma qualidade que já por várias vezes descrevi neste blog. O timbre é característico e os agudos parecem frequentemente em esforço mas saem sem quebrar. Talvez seja pelo timbre vocal e não pela idade da mesma.



Michele DeYoung foi Judith. Excelente qualidade vocal aliada a uma expressão corporal sentida e natural.



Esa-Pekka Salonen dirigiu a Philharmonia Orchestra de forma tão intensa e cativante que chegou a rasgar o casaco na região axilar direita…



Natália Luiza fez prólogo narrado que introduziu, em bom português, o ambiente da ópera.

A anteceder a ópera, podemos escutar a sinfonietta de Leos Janacek. Uma escolha ajustada e coerente.

Mais uma grande noite na Gulbenkian!








The Bluebeard's Castle - Calouste Gulbenkian Foundation - 24 October 2011




The opera Bluebeard's Castle by Béla Bartók was brought to the stage of the Calouste Gulbenkian Foundation on the 24th October.





This one-act opera, composed in 1911 and premiered in 1918, with libretto by Béla Balázs, inspired by a folk tale, can be seen as a voyage into the Duke Bluebeard soul. In a sequence of opening doors of his castle by his 4th wife Judith, where we can meet his garden, his kingdom, his treasure ... we come to the 7th and last door where his three ex-wives, still alive, to which joins Judith, thus ending the opera.

Bartók's music is remarkably engaging, creating a mix of sinister and friendly environment, far from distracting the less prepared ears, like other compositions of the same period of time. The stage of the Gulbenkian was transformed into a multimedia production that could easily be a classic setting for presentation at an Opera House. The castle is personified by the symmetrical structure in the form of pillars, in which are projected images that reflect what is behind each unlocked door. In the center, a hexagonal structure, suspended by cables, opens in two pyramids when Judith opens the last door. Behind are projected images of Bluebeard’s wifes and it is there that Judith ends looking at the stage, just before the opera ends and everything goes dark.

Sir John Tomlinson was the Bluebeard. With his characteristic pose and traditional look with white hair slicked back and a beard, perfectly embodies the role, to which contributed the hood and black leather vest. The voice has the same quality that has repeatedly described in this blog. The sound is distinctive and often appears stressed in the high notes but without breaking out. Maybe it is due to his vocal timbre and not just due to his voice age.



Michelle DeYoung was Judith. Excellent voice quality combined with a true felt natural body language.



Esa-Pekka Salonen led the Philharmonia Orchestra in a so intense and captivating way that he even teared his coat just below his right arm pit…



Natalia Luiza did the narrated prologue in portuguese, which introduced the environment of the opera.

Prior to the opera, we could hear the Sinfonietta by Leos Janacek. A smart and consistent choice.

Another great night at Gulbenkian!

domingo, 23 de outubro de 2011

DON CARLO – Teatro Nacional de São Carlos – 23 de Outubro 2011 – A visão de um Wagneriano...



Assisti hoje à última récita do Don Carlo no São Carlos e gostava de deixar a minha visão sobre esta produção. Esta foi a segunda vez que assisti a esta ópera ao vivo e, embora reconheça o seu grande valor na história da mesma, não posso dizer que seja a minha favorita das de Verdi e, por isso, talvez não seja muito versado na mesma. Aproxima-se de Wagner, pelo menos em 2 coisas: a duração e o pseudoleitmotiv da união entre amigos – Carlo e Rodrigo.

Esta produção do São Carlos é simplesmente, e como frequentemente costumo adjetivar, BRUTAL!!! É talvez a melhor produção desde o Anel do Nibelungo, ousando dizer que talvez o supere nas devidas proporções.

A encenação de Langridge é moderna, de palco cheio, e com pormenores de sublime excelência como é o caso do simbolismo da amizade e cumplicidade entre Carlo e Rodrigo com a inventada situação da quebra de um vaso por bola de ténis por Rodrigo em criança e o assumir da culpa por Carlo perante o pai Fillipo II. A retribuição desta lealdade encontra resposta, como sabemos, no decurso da ópera. A presença constante do túmulo de Carlos V toma também um papel de coerência necessária na encenação e que muito apreciei.

Martin André dirigiu uma Orquestra Sinfónica Portuguesa que nos ofereceu uma sonoridade confiante que há muito não ouvia. Foi forte o suporte para a presença em palco de um dos elencos mais equilibrados dos últimos tempos, cada um com qualidades exímias de representação.



Elisabete de Matos esteve ESTRATOSFÉRICA!!! e é sentida a sua estrela interior e a capacidade de elevar qualquer récita a um nível acima da média. Mas quem, à partida para esta produção, achava que só Matos seria um nome a considerar, enganou-se com os restantes intérpretes. Dimitri Platanias foi SOBERBO!!! Que barítono, que voz, que segurança nas diferentes alturas da tessitura!!!... O dueto com Giancarlo Monsalve “Dio, che nell’alma infondere” foi de síncrona qualidade superlativa, apoiados por um andamento perfeito por André. Giancarlo é um tenor jovem com agudos cristalinos e fortes mas por vezes com alguma sonoridade metalizada, principalmente no término das frases quando terminadas em vogais abertas. O Fillipo II de Enrico Iori foi imponente, com muito boa profundidade de voz, oferecendo uma ária “Ella giammai m’amo” de grande brilhantismo. O “rosnar” interpretativo de Ayk Martirossian conferiu o ajuste perfeito à personagem do Grande Inquisidor. A Princesa Eboli de Enkelejda Shkosa completou o grupo das personagens principais numa excelente interpretação.


Confesso que houve momentos em que já não sabia se estava em Lisboa ou... se em Londres...


Grande início de Temporada no São Carlos!

Tive pena de ler o comunicado do Sindicato dos Músicos-Cena em que revelam as dificuldades por que passam todos aqueles capazes de levar a cena estes espectáculos. Curioso que, em alturas de maior dificuldade, se consiga levar a palco uma das melhores produções do São Carlos dos últimos anos. Assim se revela a qualidade da ALMA ARTÍSTICA PORTUGUESA. Juntos conseguiremos chegar a bom porto...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PARSIFAL – Zurich Opera House, 9 de Outubro 2011


(review in english below)

Em jeito de coda da temporada passada, a Zurich Opera House trouxe, no início da presente temporada, 2 récitas do Parsifal com a já celebrizada encenação de Claus Guth.

A quem queira ler a descrição da mesma pode fazê-lo neste link.

Mesmo à 3ª visualização ao vivo da encenação, esta ainda causa impacto pela forma inovadora de concepção da obra por Guth e realço em especial, o final em que Amfortas se encontra com Klingsor e como que ambos fazem as pazes sem dizer uma só palavra e tudo por gestos sentidos – puro momento de teatro exclusivo em ópera (ou não exclusivo porque se continua a ouvir a música de Wagner).



A minha maior expectativa para este Parsifal era ouvir o Gurnemanz de Matti Salminen e talvez isso tenha sido o menos impressionante de tudo…



Os cantores em maior nível foram, sem dúvida, Stuart Skelton como Parsifal e Egils Silins como Klingsor.

Stuart Skelton já tinha sido muito bom em Londres em Março mas aqui todos os seus movimentos no monólogo do 2º acto foram impressionantemente sentidos e relacionados com o que estava a cantar, algo que nunca tinha visto como próximo da perfeição (nem mesmo Domingo). A prestação vocal foi também exímia e Skelton sabe que foi espectacular, até pelo modo como agradeceu, com um salto de contentamento em palco.





O Klingsor de Egils Silins foi ao mesmo nível embora num papel que sabemos mais curto. A voz e a praticamente completa imersão na personagem elevam a mesma e ao próprio cantor.



Yvonne Naef é uma Kundry eficaz, com voz potente e expressão muito boa.



O Amfortas de Detlef Roth não foi mau, melhor no 2º monólogo que no primeiro, principalmente porque no 1º era visível o seu quase permanente desvio do olhar para o maestro. Não posso dizer que tenha ficado particularmente impresionado com Roth, talvez por ter como referência outros cantores que considero mais expressivos, como Falk Strukmann e Thomas Hampson (este outra expectativa que voltasse a cantar o papel nestas duas récitas mas algo que não se concretizou).



Matti Salminen foi a minha desilusão... Entrou extremamente contido na potência de voz e a sua emissão foi muito inconstante, embora complementasse bem com uma interpretação de quem maturou muito o papel. Por diversas vezes me pareceu que existia alguma dissincronia entre Salminen e as opções de andamento de Gatti, o que talvez o tivesse levado a diminuir o volume para poder ouvir bem a orquestra. Isso levou a que frequentemente fosse abafado pela mesma.



Pavel Breslik foi um Titurel bastante bom mas não iguala a profundidade vocal de Ante Jerkunika.




Daniele Gatti dirige e tira um som das entranhas da terra daquela orquestra mas, e estando a 1m do mesmo, não pude deixar de ouvir os seus ruidos aspirativos, guturais e por vezes canto, durante a récita.



Foi uma récita que valeu muito pelo fabuloso 2º acto, numa encenação que merece ser vista além de Barcelona e Zurique.





PARSIFAL - Zurich Opera House, 9 October 2011



As a coda from last season, the Zurich Opera House brought at the beginning of this season, only 2 nights of the already made famous in our blog Parsifal staged by Claus Guth.

Who desires to read a full description of it can do so at this link.

Even being this the third live view of the staging, it can still cause impact specially for the Guth conception of the work, and highlights in particular the end in which Amfortas lies with Klingsor and end up friends after everything it has passed.



My biggest expectation for this Parsifal was to hear the Gurnemanz of Matti Salminen and perhaps this was the least impressive of all ...



The singers who were in a higher level, with no doubt, were Stuart Skelton as Parsifal and Egils Silins as Klingsor.

Stuart Skelton had already been very good in London in March but here all his movements in the monologue of the 2nd act were astonishingly coherent with the sung text, something I had never seen as close to perfection (not even with Placido Domingo). The vocal delivery was excellent and Skelton knows he did a remarkable job and that is why he jumped on stage at the curtain call.





The Klingsor of Egils Silins was at the same level but in a shorter role. The voice and the way Silins is capable of an almost complete immersion in the character is impressive.



Yvonne Naef was an effective Kundry, with a powerful voice and very good acting.



The Amfortas of Detlef Roth was not bad, better in the second monologue than in the first, mainly because it was visible an almost constant deviation from looking at the conductor. I cannot say that I have been particularly impressed with Roth, maybe because I have as reference other singers like Falk Strukmann and Thomas Hampson (who I hope would sing this role as in June...).



Matti Salminen was my disappointment ... He began the opera with restrains in the power of his voice and his singing strength was very irregular, although he complemented this with an interpretation of high level from someone who has “digested” the role for years. For several times it seemed that there was some disynchrony between Salminen and stamina options by Gatti, which perhaps led him to reduce the volume in order to hear the orchestra as well. This ended up in several occasions in which his voice was drowned by the orchestra sound.



Pavel Breslik was a very good Titurel but unable to equal the depth of Ante Jerkunika vocal.



Daniele Gatti manages to produce a superb sound from the gut of the earth from the orchestra and, standing very close to him, I could not avoid listening to his aspiration noises and guttural singing during the opera.



It was a performance in which the best moment was its fabulous 2nd act, in a scenario that deserves to be seen in more opera houses than Barcelona and Zurich.