A
Fundação Gulbenkian trouxe-nos, no ciclo das Grandes Orquestras, a Gustav
Mahler Jungendorchster dirigida pelo jovem maestro alemão David Afkham
que já dirigiu a Orquestra da Fundação esta temporada num soberbo Concerto para
violino de Shostakovich com o violinista arménio Sergey Khachatryan.
Começámos
por Anton Webern com a peça de 1900 — Seis peças para orquestra, op.6
— que foi dedicada a Schonberg. É fruto do dodecafonismo e, podemos dizer, não
é o tipo de música que mais apreciamos. A interpretação foi de elevada
qualidade, da qual destacamos, pelo lento crescendo dramático, a quarta peça
Sehr massig que tem um forte componente de percussão.
(fotos/photos FCG)
Seguiu-se
a música inspiradíssima de Wagner — "Prelúdio" e
"Morte de Isolda" da ópera Tristão e Isolda. Começemos
pelo soprano sueco Iréne Theorin: o texto que cantou é magnífico, mas, se bem
que um pouco abafada pela orquestra, nunca foi capaz de projectar a voz de modo
audível, perdendo-se totalmente nos tons mais graves. Diria-se-ia que quase não
esteve presente. Mas a interpretação da orquestra foi soberba, com um brilho e
uma energia, carregada de tensão trágico-dramática. Soberba!
A
segunda parte iniciou-se com Bernd Alois Zimmermann com a peça Photoptosis
("incidência de luz"). Sofre influência de diversas artes e de obras
musicais famosas, a saber: Sinfonia n.º 1 de Beethoven, Poème de l'extase de
Scriabin, e ainda Bach e Tchaikovsky. Confessamos que nunca tínhamos ouvido
esta peça e que ficámos surpreendidos positivamente pela intensidade e
variabilidade rítmicas, quase doentias, muito próprias da loucura e tragédias
vividas no século XX.
Terminámos
com Alexander Scriabin, Le poème de l'extase, op. 54. Scriabin
entendia a música como religião, sendo que ele era o próprio Messias… A peça
foi escrita na procura do transcendente e a estreia foi em 1908 em Nova Iorque.
E é fantástica! Assistimos a uma interpretação exuberante e terminámos em
extase.
Devemos
deixar uma nota muito positiva à orquestra que é óptima e foi dirigida
superiormente por David Afkam. O maestro já nos tinha deixado uma impressão
magnífica aquando do concerto supra mencionado, mas hoje deixou-nos
completamente rendido à sua música, ao seu gesto preciso, à sua energia e
brilho intensos e à precisão ímpar com que conduz os músicos que o brindaram
com um bravo e um enorme aplauso no final. Não temos dúvidas de que tem tudo
para deixar a sua marca e ser um dos grandes maestros internacionalmente. Nem
sabemos o que esperarmos de amanhã, mas o resultado só poderá ser assombroso!
In
dem wogenden Schwall,/in dem tönenden Schall,/in des Welt-Atems/wehendem All
–/ertrinken,/versinken –/unbewusst –/höchste Lust! (Na torrente encapelada,/no
bramante som,/na corrente universal/do alento do mundo –/mergulhar,/afundar
–/inconsciente –/supremo prazer!)
_________________
(review in
English)
The
Gulbenkian Foundation has brought us, in the Great Orchestras cycle, the Gustav Mahler Jungendorchster directed
by David Afkham, a young German
conductor who has directed the Gulbenkian Orchestra this season in a superb
Shostakovich's Violin Concerto with the Armenian violinist Sergey Khachatryan.
We started
by Anton Webern - Six pieces for orchestra, op.6 - which
was dedicated to Schonberg. We can say this is not the kind of music we enjoy
the most. The interpretation was of high quality, which we highlight, the slow
dramatic crescendo of the fourth piece Sehr mäßig that has a strong component
of percussion.
It was
followed by the quite inspired Wagner's
music - "Prelude" and
"Death of Isolde" of the opera Tristan and Isolde. Let us start by Swedish soprano Irene Theorin, who sang a magnificent
text, but, though slightly muffled by the orchestra, was never able to project
her voice audibly, losing herself completely in the lower tones. We would say
that she was almost not present. But the interpretation of the orchestra was
superb, with a brightness and energy, full of tragic-dramatic tension.
Outstanding!
The second
half began with Bernd Alois Zimmermann with
Photoptosis ("incident
light"). Various arts and famous musical works influence it, namely: Symphony
no. 1 by Beethoven, Poème de l'extase of Scriabin, and even Bach and
Tchaikovsky. We confess that we had never heard this piece and we were
positively surprised by the intensity and variability rhythmic, almost sick,
fit of madness and tragedy experienced in the twentieth century.
Ended with Alexander Scriabin, Le poème de l'extase,
op. 54. Scriabin understood music as a religion, and he was the Messiah...
The piece was written in the search of the transcendent and the debut was in
1908 in New York. And it's fantastic! We have seen an exuberant interpretation
and ended in ecstasy.
We should say
that the orchestra was amazingly great and was directed by David Afkam superiorly. The conductor had already left an extremely
good impression in the concert above mentioned, but today let us completely involved
with his music, his precise gesture, his energetic and intense brightness and
accuracy. The musicians gave him a bravo and a huge applause at the end. We
have no doubt that he has everything to be one of the greatest conductors
internationally. We do not know what to expect tomorrow, but the result can
only be amazing!
In dem wogenden Schwall, / in dem tönenden Schall / in des
Welt-Atems/wehendem All -/ertrinken, / versinken -/unbewusst -/höchste Lust!
Também assisti a este concerto e, para mim:
ResponderEliminar- a orquestra foi espantosa!
- o jovem maestro David Afkham foi excepcional!
- o soprano Iréne Theorin foi decepcionante, quase não se ouviu.
- as peças de Webern e Zimmermann foram muito penosas de ouvir, não obstante a qualidade superior da orquestra e maestro.
- a peça de Scriabin foi interessante.
Tenho grandes expectativas para o concerto de amanhã.
Apenas assisti ao segundo concerto e gostei muito da orquestra (já tinha gostado na temporada passada, com Salonen) e do maestro. Estava sentado na segunda fila e fiquei com a sensação de que a voz de Theorin não devia projectar para o fundo do Grande Auditório quando ela cantava baixinho(*) (Ruhe, ruhe, du Gott mal se ouviu).
ResponderEliminarGostava de saber qual é a vossa opinião, uma vez que não tenho termo de comparação.
(*Não digo pianissimo, porque não acho que fosse esse o caso.)
A Gulbenkian, sempre a liderar.
ResponderEliminarCumprimentos,
Luís Henriques
- está convidado a seguir o meu website em www.luiscfhenriques.com
@ Paulo,
ResponderEliminarOntem foi melhor que Domingo. Desta vez também estive sentado na 3ª fila ao centro, pelo que me é difícil a comparação com o dia anterior no que respeita ao soprano. Mas não esteve bem e, seguramente, não se ouviu no fundo do auditório em vários momentos.
A orquestra excelente e foi um consolo ver de perto a direcção de Afkham. Sensacional.