quinta-feira, 26 de abril de 2012

Die Zauberflöte / A Flauta Mágica, Liceu, Barcelona, Abril 2012



 A Faluta Mágica é um dos últimos trabalhos de W.A, Mozart, um Singspiel em dois actos com libretto de Emmanuel Schikaneder, baseado no conto Lulu oder die Zauberflöte de August Jacob Liebeskind.


 Tamino é salvo de uma serpente por três damas e apaixona-se pelo retrato de Pamina, filha da Rainha que, após ter sido avisada pelas damas, lhe diz poder ficar com ela se a salvar de Sarastro que a mantém prisioneira. Recebe uma flauta mágica. Papageno, um caçador de pássaros que vive para os prazeres elementares da vida (comer, beber, dormir), toca pífaro e diz ter morto a serpente. As três damas fecham-lhe a boca por mentir. Recebe uns sinos mágicos.
Reconhece Pamina no castelo de Sarastro e revela-lhe que Tamino está apaixonado por ela. São interceptados pelo mouro Monostatos mas as campainhas mágicas põem os mouros a dançar. Sarastro chega num carro puxado por leões, Pamina queixa-se da brutalidade de Monostatos mas Sarastro não permite o seu regresso para junto da mãe, a malvada Rainha da Noite. Trás consigo Tamino e decide admitir os amantes às provas iniciáticas para saber se poderão pertencer à sua irmandade.
A Rainha da Noite aparece e manda Pamina apunhalar Sarastro. Papageno e Tamino recebem ordem de silêncio. Tamino cumpre-a e não fala com Pamina quando a encontra, o que a deixa desolada. Papageno não cumpre a ordem e vê uma velha que diz ter 18 anos e dois minutos e que ele é o seu namorado. Desaparece e Papageno diz que quer apenas vinho e uma companheira. A velha reaparece e dá-lhe a escolher entre casar com ela ou ficar preso para sempre. Quando aceita casar-se, contrariado, a velha transforma-se na jovem Papagena, mas ele não é digno dela e tenta matar-se. É salvo, toca o pífaro e nada acontece, mas quando toca os sinos mágicos aparece a Papagena e ficam juntos e felizes. Monostatos junta-se à Rainha da Noite e seu séquito e todos desaparecem nas trevas. Pamina e Tamino passam por várias provas e terminam com trajos sacerdotais no templo de Sarastro, que agradece a Ísis e Osíris o triunfo do amor, beleza e sabedoria. É a vitória da luz sobre a escuridão.

O espectáculo levado à cena no Liceu de Barcelona foi de grande qualidade, não só pela qualidade e homogeneidade dos principais solistas, como pela encenação.


 Joan Font (Comediants) foi o responsável por uma belíssima encenação que, cheia de bom gosto, nos transportou para um conto infantil.
Logo no início, antes da música, é uma ave que dá a batuta ao Papageno, que a entrega ao maestro. Todas as personagens estão muito bem caracterizadas, mas a de Papageno é a mais interessante e bem representada. Ao longo da récita os diferentes cenários são sempre simples e eficazes. Animais feitos de papel e manipulados por figurantes, trajos vistosos e de bom gosto nos protagonistas dominam a récita. É uma leitura da obra centrada no Papageno e sua postura simples, hesitante, irónica e inocente, como a de tantos na vida.

A direcção musical de Pablo Gonzales foi regular e a Orquestra Sinfónica de Barcelona e Nacional da Catalunha cumpriu sem encantar e sem ter estado imune a algumas falhas. O Coro do Gran Teatro del Liceu esteve muito bem.

O tenor eslovaco Pavol Breslic foi um Tamino de qualidade vocal assinalável. Tem um timbre de voz bonito e potência, apesar de nem sempre projectar a voz da melhor forma. Mas canta muito bem e foi um prazer ouvi-lo. Cenicamente esteve mais parado do que seria desejável, mas a sua boa figura ajuda-o muito.


 Sensacional foi o barítono espanhol Joan-Martin-Royo no papel de Papageno. Tem uma voz bonita e de grande qualidade, sempre bem audível. Cenicamente foi insuperável no papel. Recheou a sua apresentação de momentos cómicos verdadeiramente hilariantes e, apesar da indumentária que envergava, foi de uma agilidade estonteante.


 Georg Zeppenfeld, baixo alemão foi um Sarastro de voz profunda e autoritária.  


 A Rainha da Noite, interpretada pelo soprano húngaro Erika Miklósia foi, de todos os cantores, a menos forte. Cenicamente não há nada a dizer, a voz é forte, a coloratura boa mas perdeu qualidade nas notas mais agudas, em esforço e menos audíveis.


 Susanna Phillps, soprano norte americano, foi uma Pamina deslumbrante. Tem uma voz belíssima mas o que mais impressionou foi a qualidade emotiva do canto. Foi doce, suave, triste ou exuberante, de acordo com os momentos, e sempre bem audível, mesmo quando apianava. Para mim, a melhor cantora da noite.


 A Papagena do soprano espanhol Ruth Rosique foi cómica, ágil e cumpriu vocalmente o papel.


 O barítono estanhol Vicenç Esteve Madrid interpretou o Monostatos da melhor forma, mesmo tendo em conta os momentos acrobáticos, numa rede, em que teve que cantar uma das partes.


 Também bem estiveram as três damas Maria Hínosa, Anna Tobella e Inés Morelada, os Sacerdotes / Homens de armas Mikhail Vekua e Kurt Gysen, e as três crianças Laia Azcona, Isabel Freijo e Pol Guix.















Uma Flauta mágica de qualidade no Liceu de Barcelona.

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Die Zauberflöte / The Magic Flute, Liceu, Barcelona, ​​April 2012

Die Zauberflöte is one of the last works of WA Mozart, a Singspiel in two acts with libretto by Emmanuel Schikaneder, based on the tale Lulu oder die Zauberflöte by August Jacob Liebeskind.

Tamino is saved from a serpent by three ladies and falls in love with a portrait of Pamina, the daughter of the Queen, who tells him she will be her´s if he will save her from Sarastro. He receives a magic flute. Papageno, a bird catcher, plays the fife and says he killed the snake. The three ladies shut his mouth for lying. He receives magic chimes. He recognizes Pamina in the castle of Sarastro and reveals to her that Tamino is in love with her. They are intercepted by Monostatos but the magical chimes put the moors dancing. Sarastro arrives in a chariot drawn by lions, Pamina complains about the brutality of Monostatos but Sarastro does not allow her return to her mother, the evil Queen of the Night. He appears with Tamino and decides to test the lovers to see if they can belong to the brotherhood.
The Queen of the Night appears and orders Pamina to stab Sarastro. Tamino and Papageno are ordered to silence. Tamino obeys and does not talk to Pamina
when he meets her, leaving her heartbroken. Papageno fails the order and sees an old woman who claims to have 18 years and two minutes and says he is her boyfriend. She disappears and Papageno says he only wants wine and a common woman. The old woman reappears and gives Papageno the option of marrying her or getting stuck forever. When he accepts to marry, reluctantly, the old woman becomes a young Papagena, but he is not worthy of her and tries to kill himself. He is saved, plays the fife and nothing happens, but when he plays the chimes Papagena appears and both stay together and happy. Monostatos joins the Queen of the Night and her entourage and all disappear in the darkness.Tamino and Pamina undergo several proofs and end with priestly garments in the temple of Sarastro, who thanks to Isis and Osiris, the triumph of love, beauty and wisdom. It is the victory of light over darkness.

 The show brought to the scene at the Liceu in Barcelona was of great quality, not only by the high level and homogeneity of the main soloists, but also by staging.

Joan Font (Comediants) was responsible for a beautiful staging that took us into a fairy tale.
Early on, before the music, a bird gives the baton to Papageno, the delivers it to the maestro. All the singers are very well characterized, but Papageno is the most interesting and well played. Throughout the performance the different scenarios are always simple and effective. Animals made of paper and manipulated by people in them, flashy costumes and good choices in artists dominate the performance. It is a reading of the work focused on Papageno and his simple, tentative, ironic and innocent life, like so many others in live.

Musical direction by Pablo Gonzales was regular and the Orquestra Sinfónica de Barcelona e Nacional da Catalunha played well but with some occasional failures. The Coro do Gran Teatro del Liceu was very good.

Slovak tenor Pavol Breslic was a remarkable Tamino. His voice has remarkable quality. He has a beautiful timbre and power, though he does not always project the voice the best way. But he sings very well and it was a pleasure hear him. Artistically he was more static than desirable, but his good figure helps a lot.

Sensational was the Spanish baritone Joan Martin-Royo in the role of Papageno. He has a beautiful high-quality voice that can be always clearly heard. Artistically he was unbeatable on the role. He included in his humorous presentation truly hilarious moments, and although the “fat” clothing he wore, he was of a dizzying agility.

Georg Zeppenfeld, German bass, was a Sarastro of deep and authoritative voice.

The Queen of the Night, played by Hungarian soprano Erika Miklósia was, of all the singers, the less strong. Nothing to criticize about her behaviour on stage, the voice was strong, the coloratura ok, but she lost quality in the top notes, which were sang in effort and were less audible.

Susanna Phillips, american soprano, was a fabulous Pamina. She  has a beautiful voice but what most impressed me was the emotive quality of the singing. She was sweet, gentle, sad or exuberant, according to the situations, and she was always well audible, even when she was singing piani. For me, she was the best singer of the night.

Spanish soprano Ruth Rosique was comical, agile Papagena that fulfilled the role vocally.

Spanish baritone Vicenç Esteve Madrid layed Monostatos pthe best way he could, even taking into account the acrobatic moments on a net he had to sing one of the parties.

Also well were the three ladies Maria Hínosa, Anna Tobella and Inés Morelada, the Priests / Men of arms Mikhail Vekua and Kurt Gysen, and the three children Laia Azcona, Isabel Freijo and Pol Guix.

A high quality Magic Flute at the Liceu in Barcelona.


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3 comentários:

  1. É uma das minhas óperas preferidas de Mozart a par com Don Giovanni. Tem a particularidade de poder ser interpretada sob uma infinidade de prismas.
    Ainda bem que gostou: aliás, quando o Papageno é bom, acaba sempre por valer a pena. Ainda para mais se a encenação é baseada nele. Esse pormenor da entrega da batuta para o início da récita é uma excelente jogada cénica, e deixa logo todos bem-dispostos.
    Espero que na próxima temporada me possa dedidar mais a Mozart, apesar de nesta ter tido o Don Giovanni em Milão (que, como aqui deixei escrito, foi uma pequena decepção) e o Così fan tutte do TNSC que teve uma qualidade digníssima.
    Veremos se o nosso São Carlos no ajuda nessa tarefa...

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  2. Se Deus quiser, no sábado, lá estarei em Barcelona para assistir também a esta produção. A encenação parece deliciosa e fiquei fan do Joan Martin Royo depois de o ver como Fígaro em Fevereiro. Genial! Obrigado por este aperitivo, recheado de fotos ao mais alto nível! Cumprimentos.

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  3. Caro Fanático,
    é um prazer sempre renovado ler as suas crônicas. Eu já disse mais de uma vez que consigo "ouvir" os cantores, a orquestra... Também "vejo" os cenários e a encenação boa, regular, ruim, fantástica...
    Grande crônica!
    Um abraço de todos do atelier

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