(review in English below)
Quartett é uma ópera com música e libretto de Luca Francesconi, segundo a peça homónima de Heiner Müller inspirada em Les liaisons dangereuses de Pierre-Ambroise-François Choderlos de Laclos. Foi a estreia mundial.
A Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont, outrora jovens amantes mas agora envelhecidos, provocam-se mutuamente afirmando que amam outros. O Visconde diz que ama Mme de Tourvel, o que irrita a Marquesa, que lhe sugere que deveria antes seduzir a jovem e inocente Volanges. Invertem os papéis e a Marquesa finge ser o Visconde a seduzir a Mme de Tourvel (interpretada pelo Visconde). Depois o Visconde finge seduzir Volanges (interpretada pela Marquesa). Interrompem o jogo e iniciam um diálogo destrutivo para ambos. A Marquesa dá um copo de vinho envenenado ao Visconde e vê-o morrer. Depois, actuando como Ophelia (Die Hamletmaschine, de Heiner Müller) destrói a sua casa/prisão, tira e queima a roupa, arranca o coração do peito e sai para a rua banhada no próprio sangue.
O libretto (em inglês) é focado essencialmente no sexo, a linguagem é vulgar, algumas cenas procuram retratar relações sexuais ou violações mas não trazem nada de inovador ou sofisticado, caem em lugares comuns e no desinteressante.
A encenação foi de Àlex Ollé (La Fura dels Baús). Toda a acção se passa num cubo suspenso no meio do palco, aberto para o exterior. As diversas cenas sucedem-se com muito poucos adereços, duas cadeiras, depois mais uma mesa, depois só um sofá e, finalmente, de novo as duas cadeiras. Há um jogo de luzes interessante. No final, a Marquesa destrói as paredes interiores do cubo e caem vários livros de prateleiras que estavam na sua espessura, invisíveis. Enxertada na acção em palco existem, frequentemente, projecções de imagens muito diversas, procurando ilustrar, de forma explícita ou metafórica, o que se vai passando no palco. Essas imagens são frequentemente acompanhadas de canto amplificado, ora por vozes solistas, ora pelo coro. Enfim, aceitável.
A orquestra era reduzida, tinha poucos instrumentos de cordas e era dominada pelos metais e percussão. A direcção musical foi de Susanna Mälkki que fez o que pôde com uma partitura musical agreste, frequentemente estridente, nada harmoniosa e, para mim, de audição muito penosa. Toda a ópera durou uma longa hora e vinte minutos.
Apenas dois cantores apareceram ao vivo em palco e estiveram sempre em cena:
Allison Cook mezzo escocesa foi a Marquesa de Merteuil. O papel é vocalmente exigente e esteve à sua altura. Boa projecção de voz, com muitos gritos (mas a partitura assim o deveria exigir) e timbre corrente.
Robin Adams, barítono inglês foi o Visconde de Valmont. Esteve aquém da sua colega pois a voz é incaracterística, não tem grande beleza tímbrica e, ocasionalmente, era afogada pela orquestra.
Cenicamente estiveram ambos bem, dentro do que a encenação permitia.
Um espectáculo que não voltarei a ver!
À saída, lembrei-me da ópera Banksters que vi há pouco tempo também em estreia mundial no Teatro de São Carlos e que tão criticada foi (mas não pelos membros deste blogue). Que diferença! Os que foram tão críticos deveriam ver este espectáculo que, apesar de ter alguns “chamarizes” (Teatro Scala, Luca Francesconi, Àlex Ollé de La Fura dels Baús) foi incomparavelmente inferior ao Banksters.
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QUARTETT - Teatro alla Scala, Milan, May 2011
Quartett is an opera with music and libretto by Luca Francesconi, based on the homonymous text by Heiner Müller, inspired in Les liaisons dangereuses by Pierre-Ambroise-Francois Choderlos de Laclos. It was the world premiere.
The Marquise de Merteuil and Viscount de Valmont, once young lovers but now aged, tease each other saying they love others. The Viscount says he loves Madame de Tourvel, which irritates the Marquise, which suggests that he should rather seduce the innocent young Volanges. They switch roles and the Marquise pretends to be the Viscount to seduce Mme de Tourvel (played by the Viscount). Then the Viscount pretends to seduce Volanges (played by the Marquise). They interrupt the game and begin a destructive dialogue to both. The Marquise gives a glass of poisoned wine to the Viscount and watches him die. Then, playing Ophelia (Die Hamletmaschine by Heiner Müller) she destroys her home / prison, strips and burns the clothes, tears the heart out of her chest and goes into the street covered with her own blood.
The libretto (in English) is focused primarily on sex, the language is vulgar, some scenes mimic sex or violation but there in not anything innovative or sophisticated, all are commonplaces and uninteresting.
The staging was by Àlex Ollé (La Fura dels Baus). All the action takes place in a cube suspended in the middle of the stage, opened to the outside. The various scenes follow one another with very few props, two chairs, then a table, then just a couch, and finally again the two chairs. There is an interesting lights projection and effects. In the end, the Marquise destroys the interior walls of the cube and several books fall from the shelves that were in its thickness, invisible. Scattered along the action are very different projections of images, illustrating, explicitly or metaphorically, what is going on onstage. These images are often accompanied by amplified singing, sometimes by solo voices, sometimes by the chorus. The staging was acceptable.
The orchestra was small, had few strings and was dominated by percussion. Musical director was Susanna Mälkki who did her best with a harsh, often shrill musical score without harmony. For me it was very painful to listen to. All the opera lasted one long hour and twenty minutes.
Only two singers appeared live on stage and were always on the scene:
Allison Cook Scottish mezzo was the Marquise de Merteuil. The role is vocally demanding and she was well. Good voice projection, with lots of screaming (but the score should so require) and a common timbre.
Robin Adams, English baritone was the Viscount de Valmont. He was not as good as his colleague because the voice was vulgar, the timbre was not beautiful and, occasionally, it was drowned by the orchestra.
Artistically they were both well within what the staging allowed.
An opera that I will not see again!
On leaving, I remembered that I saw recently the opera Banksters, also a world premiere, at the Teatro de São Carlos and that was much criticized (but not by the members of this blog). What a difference! Those who were so critical should have seen this opera. Although with some “appealing elements” (Teatro alla Scala, Luca Francesconi, Alex Ollé of La Fura dels Baus) it was incomparably inferior to Banksters.
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Just going to Teatro alla Scala is a fantastic experience!
ResponderEliminarEu não sou contra a inovação musical, nem ouvi. VOu ser se aparece por aqui alguma gravação, mas a coisa parece perigosa.
ResponderEliminarThanks, for your visit and comments!
ResponderEliminarWagner greetings from Gent,Willy
Caro FanaticoUm, eu não sou nada dado e este tipo de "espectáculos", desculpe o termo, pelo que não lhes sei fazer qualquer tipo de comentário.
ResponderEliminarCumprimentos musicais
I like the way you express yourself about this opera;-)
ResponderEliminarWell, there're many "strange pieces" in the contemperary works. According to your criticism this opera might be one of them.
Pity, "Dangerous liason" could have beeen a perfect story for an opera.
I've just read "Quartett" will be on stage during the Wiener Festwochen in 2012.
...de facto que pena os abutres do costume não terem visto isto e só criticarem o Banksters...olha, afinal parece que lá fora também se fazem destas!!!
ResponderEliminar@ Alberto, Lotus-eater e Anónimo,
ResponderEliminarFoi, para mim, uma experiência penosa. E acontece esporadicamente verem-se lá fora espectáculos tão maus quanto os maus de cá.