sábado, 22 de outubro de 2022

Gotterdammerung — Staatsoper Berlin - 9.10.2022

(Text in English below)


O  Crepúsculo dos Deuses começa no loft com a mesma configuração do de Sieglinde e Hunding. Desta vez, são Brunnhilde e Siegfried que aí estão deitados. Brunnhilde, ao ver três idosas chegarem, levanta-se. As idosas corcundas, lentas e parkinsónicas são as Nornas. Entretanto, para a primeira ronda narrativa, cai o pano onde é projetado o esquema arquitetónico do centro de investigação. Depois da primeira ronda, o pano sobe. Brunnhilde já não está no loft, mas as Nornas vão para lá e bebem chá enquanto fazem a segunda ronda. Quando os inexistentes fios do destino se rompem, Brunnhilde assiste. Aqui não há sequer novelos para as idosas fazerem tricot… Saem as Nornas.

Brunnhilde prepara agora o pequeno-almoço de Siegfried e apronta-o para a sua jornada enquanto este, que dormia agarrado ao peluche Grane, toma banho. Muito satisfeito, veste-se enquanto se prepara para sair aos pulinhos e de peluche na mão. Sai.


Voltamos aos cenários horizontais. Quase iguais aos anteriores, mas desta vez com cores frias. Gutrune e Gunther, muito divertidos, bebem. Hagen, alto e com uma mancha vermelha na face (penso que cego de um olho, ao contrário de Wotan…), conta-lhes da existência do herói e da mulher ideais para os irmãos. À porta de uma das salas, surge Siegfried. Vem a pé, sem barco ou cavalo que o transporte porque Tcherniakov não precisa de meios de transporte. Os demais olham-no sorridentes. Acolhem-no e prometem-se fidelidade. O juramento faz-se com sangue, mas não com um corte da Nothung. A coisa é mais primária. Siegfried parte (claro!) um copo de vinho, que o vidro serve igualmente o propósito e a espada estava cansada, para não dizer desaparecida. Gunther, muito infantil, queixoso e espalhafatoso, vê a ferida desinfetada e ligada por uma gentil Gutrune. A poção que faz Siegfried esquecer Brunnhilde era aqui, muito provavelmente, apenas o vinho. Quem não conhece as suas propriedades obliviantes? Essa «poção» pode, aliás, ser partilhada por todos, o que facilita o convívio. Desejosos de conquistar Brunhilde, Gunther e Siegfried partem, sem cavalo visível, barco ou rio Reno.


Hagen fica a guardar as salas. Canta enquanto o cenário sai do palco e Hagen fica no palco vazio. De fora, encostado à parede, está Alberich, hirsuto, apenas de cuecas e muito envelhecido. Caminha parkinsónico, mas sem interagir com Hagen.


Voltamos novamente ao loft. Brunnhilde tenta acabar com a insónia mudando-se para o sofá. Surge Waltraute vestida com uma discreta capa azul. Interagem sem grande acção cénica — estão até bastante distantes — e Waltraute sai, desiludida.


Brunnhilde sente agora a chegada do herói. Siegfried, de voz mais grave, vem na sua habitual forma. Brunnhilde fica assustada por este não a reconhecer. Enquanto o palco vai girando sobre si, dá-se o roubo do anel. Apesar de mencionada a Nothung, esta volta a não aparecer. O anel está na mão de Siegfried e Brunnhilde está humilhada, sendo convidada para se deitar no sofá e a despir o robe (o resto fica subentendido…), ficando em camisa de noite. O pano cai.


O segundo ato passa-se exclusivamente no conhecido anfiteatro, desta vez cheia de cadeiras laranjas. Hagen, triste, fala sobre si enquanto se descalça e semi adormece deitado sobre as cadeiras. De um esconderijo no topo do anfiteatro sai Alberich, novamente quase nu como no ato anterior. Vem a fazer, parkinsonicamente, tricot! À falta de ouro, aqui a lã não faltava e o novelo era grande. Teve mais sorte do que as Nornas que isto a vida não são só agruras… Fala com Hagen sobre a necessidade de se manter fiel e calça-lhe uma botas de lã. Depois sai pelo esconderijo. Hagen vai sentar-se aí, como que acordado de um sonho, e Alberich retira-lhe as botas através do esconderijo. Afinal, quem estava nu era ele… O propósito das botas e do calça e descalça é desconhecido, mas eu não tenho a criatividade de Tcherniakov. Chega Siegfried que procura, muito alegre, Gutrune. Depois de se reencontrarem, saem ambos. Hagen chama os homens das armas, aqui, como, expectável, distintos investigadores do famoso centro. Reúnem-se em anfiteatro e aí decorre toda a cena da acusação de Brunnhilde. Não há lança alguma sobre a qual se prestem os juramentos, mas não faltavam testemunhas, convenhamos. A lança e o seu simbolismo são dispensáveis… Sai toda a gente, ficando Gunther combalido junto a Brunnhilde e a Hagen. Estes últimos conspiram e urdem a vingança da traição de Siegfried. No fim, o casal Siegfried e Gutrune ainda vêm dançar no anfiteatro perante os olhos dos demais presentes. Uma dança alegre, valha-lhes a felicidade! Acaba o ato.


O terceiro ato começa na sala de diálise onde o Anel começa. Desta vez com o título «Stress labor» (trabalho sob stress?). Três investigadoras tomam chá, enquanto um divertido Siegfried, equipado desportivamente de verde e com o nome estampado nas costas, se deita na marquesa e tira os ténis. Elas são as filhas do Reno, claro. Não seduzindo o herói a entregar o anel, as investigadoras voltam ao chá e saem, deixando bem sublinhado o fatal destino que espera a Siegfried, este provavelmente sedento, tal foi a sua falta de chá com as senhoras.


O cenário mexe-se novamente na horizontal e vamos para o pátio central. Desta vez sem a árvore, mas com uma tabela de basquete. Os bancos são agora azuis e tudo se parece a um pavilhão desportivo. Gunther e Hagen, juntamente com os demais caçadores, equipam da mesma forma de Siegfried. Siegfried conta a sua história e não chega a beber da água que Hagen lhe oferece, o que não o impede, ainda assim, de se recordar de Brunnhilde. Não há antídoto para o vinho. Afinal, todos sabemos que os efeitos do vinho não duram assim tanto tempo… Hagen pega num porta estandarte para abater Siegfried, com enorme comoção de Gunther. Não era propriamente uma lança, mas era um objeto que, de algum modo, não deixa de sê-lo e estava à mão. Temos de ser práticos. O efeito, quando se viam os portas estandartes era muito previsível, claro. Com o corpo já moribundo, é o próprio Siegfried quem se leva para a sala anterior (a de diálise e de várias experimentações) onde acaba por sucumbir. Colocado na marquesa onde antes de deitara feliz, inicia-se a marcha fúnebre, aqui transformada numa procissão de gente a chegar consternada: investigadores, Gunther, as Nornas, as filhas do Reno… Até Erda e Wotan se juntam em pesar.


Depois voltamos ao pátio. Gutrune está só e surda para a corneta de Siegfried. Hagen anuncia-lhe a morte do suposto marido para grande desgraça desta. Chegam, de seguida, os demais com uma marquesa funerária — daquelas com rodas — com um Siegfried totalmente coberto. Hagen e Gunther, sob o olhar de Wotan (que aqui não resistiu a cirandar fora de Walhalla), combatem aos murros. Hagen, vitorioso, sai para não mais voltar e Gunther sobrevive sem sequelas. Inesperado? Atendendo ao que se foi vendo, nem por isso! Foi um combate que não ficou para a história, isso é óbvio… Vem Brunhilde que acaba por ficar sozinha com o corpo de Siegfried. Sozinha não, com Wotan e o aparecido peluche Grane, esse poderoso cavalo. O pai Wotan sai quando ela deixa de falar nele. De seguida, ninguém obedece a Brunnhilde. Não há gente, não há pira, não há fogo. Não foi por falta de imaginação, mas por desobediência, creio eu… Ou porque não se brinca com o fogo… Não lhe restando alternativa, Brunnhilde e Grane deitam-se na marquesa funerária por cima do corpo fúnebre de Siegfried.


O palco fica, entretanto, vazio. Só temos a caixa negra do teatro. Brunnhilde, de mala na mão, parte para uma nova viagem, ao estilo do que sucedeu no fim de Die Walküre. Para espanto de todos, Erda aparece com o desaparecido pássaro mecânico. Tenta entregá-lo a Brunnhilde, mas esta recusa-o. Erda desiste e sai. Tcherniakov doutrina-nos imediatamente sobre a sapiência de Brunnhilde e em como tal lhe permitirá recusar tudo, deixando tudo para trás: os deuses desde logo. Tal foi feito com recurso a um texto seu que faz passar projetado. Cai o pai com o projeto arquitectónico do centro de investigação. Antes de se fechar completamente, Brunnhilde trava-o, o que faz com que a projeção se desfaça. Aí o pano cai completamente. Brunnhilde, à sua frente, observa o vazio até que a música acaba e as luzes se apagam. E lá se acabaram as experiências no centro de investigação. Devemos esperar pelas cenas dos próximos capítulos desta saga?



Finalizado o Anel, não apenas somos doutrinados pelo encenador sobre o significado a retirar do Anel, como vemos a história modificada sem propósito claro. O Anel de Nibelungo foi desmistificado e privado do seu simbolismo. A apresentação foi feia, desinteressante, desfavorável à transmissão de emoções e desligado do texto. Por isso, não deixará saudades e esperemos que os responsáveis do teatro não a reponham além dos dois ciclos já agendados. O encenador, aparecido para os aplausos, levou um booo histórico: foi um uníssono na sala impressionante. Não creio ver uma reação negativa do público tão consensual e expressiva nos próximos anos! Mas foi merecido e tive muito gosto em contribuir! 




Passando para os cantores e começando pelos melhores. Claro destaque para Schager e Mika Kares como Siegfried e Hagen, respetivamente. Ambos enormes vocalmente! Agudos incríveis, emissão sem falhas e com grande controlo. Transmitiram as emoções que lhes foram pedidas pelo encenador. Até um pouco mais, mas não lhes foi facilitada a tarefa.


A Brunnhilde de Anja Kampe, uma das grandes estrelas da produção, esteve bem, mas algo irregular. No primeiro ato, bastante estridente, com alguns agudos descontrolados. No segundo, mais contida no volume, mas mais eficaz nos agudos. O terceiro ato foi o mais equilibrado. Sem deslumbrar, cumpriu bem, mas podemos ouvir Brunnhildes melhores.


Violeta Urmana foi Waltraute. Teve uma boa interpretação cénica e vocal, tendo sido capaz de transmitir a sua preocupação sobre o destino dos deuses de forma eficaz.


Lauri Vasar foi um Gunther vocalmente pequeno, convenhamos, nunca se sentindo muito presente, dada uma falta de expressividade vocal evidente que compensava com a cénica. Mandy Fredrich foi uma Gutrune desinteressante, mas vocalmente acertada.


Alberich foi novamente Johannes Martin Kranzle: esteve bem na sua muito curta intervenção. 


As Normas foram Noa Beinart, Kristina Stanek e Anna Samuli: todas estiveram bem e representaram bem o que lhe foi pedido. As Filhas do Reno foram Evelin Novak (Woglinde), Natalia Skrycka (Wellgunde) e Anna Lapkovskaja (Flosshilde) que estiveram igualmente bem.


O Staatsopernchor também esteve em bom plano, naquela que é a sua única intervenção no Anel de Nibelungo.



A Staatskapelle Berlin sob direção de Christian Thielemann teve uma nova leitura superlativa da obra: sempre muito clara e emotiva, sem falhas nos tempos e entre os diversos naipes e com um respeito imenso pelos cantores. Foram novamente a estrela maior da produção.


___________________

Gotterdammerung


Twilight of the Gods begins in the loft with the same setting as Sieglinde and Hunding's. This time, it is Brunnhilde and Siegfried who are lying there. Brunnhilde, seeing three elderly women arrive, gets up. The hunchbacked, slow, parkinsonian old women are the Norns. Meanwhile, for the first narrative round, the curtain falls where the architectural scheme of the research centre is projected. After the first round, the curtain rises. Brunnhilde is no longer in the loft, but the Norns go there and drink tea while they do the second round. When the non-existent threads of fate break, Brunnhilde watches. There aren't even any yarns for the old ladies to knit here... out come the Norns.


Brunnhilde now prepares Siegfried's breakfast and gets him ready for his journey while Siegfried, who was asleep clutching his stuffed Grane toy, takes a bath. Very pleased, he gets dressed and gets ready to leave, jumping up and down, teddy bear in hand. He goes out.


We return to the horizontal scenes. Almost the same as before, but this time with cool colours. Gutrune and Gunther, very amused, drink. Hagen, tall and with a red spot on his face (I think blind in one eye, unlike Wotan...), tells them about the existence of the hero and the ideal woman for the brothers. At the door of one of the rooms, Siegfried appears. He comes on foot, with no boat or horse to transport him because Tcherniakov does not need means of transport. The others look at him smiling. They welcome him and pledge their loyalty. The oath is taken with blood, but not with a cut of the Nothung. The thing is more primal. Siegfried breaks (of course!) a glass of wine, which glass serves the purpose equally, and the sword was tired, not to say missing. Gunther, very childish, whimpering and scatterbrained, sees the wound disinfected and bound by a gentle Gutrune. The potion that makes Siegfried forget Brunnhilde was here, most likely, only wine. Who doesn't know its obliviating properties? That "potion" can, in fact, be shared by all, which makes it easier to get along. Eager to conquer Brunhilde, Gunther and Siegfried set off, without visible horse, boat or Rhine river.


Hagen is left to guard the rooms. He sings as the set leaves the stage and Hagen stands on the empty stage. Outside, leaning against the wall, is Alberich, hirsute, in only his pants and very aged. He walks parkinsonically, but without interacting with Hagen.


We return again to the loft. Brunnhilde tries to end her insomnia by moving to the sofa. Waltraute appears, dressed in a discreet blue cape. They interact without much stage action - they are even quite far apart - and Waltraute leaves, disappointed.


Brunnhilde now senses the arrival of the hero. Siegfried, in a deeper voice, comes in his usual form. Brunnhilde is startled that he does not recognise her. As the stage is revolving about itself, the theft of the ring takes place. Despite mentioning Nothung, she again fails to appear. The ring is in Siegfried's hand and Brunnhilde is humiliated and invited to lie down on the sofa and take off her dressing gown (the rest is implied...), remaining in her nightdress. The curtain falls.


The second act takes place exclusively in the familiar amphitheatre, this time filled with orange chairs. Hagen, sad, talks about himself as he takes off his shoes and semi-sleeps lying on the chairs. Out of a hiding place at the top of the amphitheatre comes Alberich, again almost naked as in the previous act. He comes doing, parkinsonically, knitting! Lacking gold, here the wool was not lacking and the ball of yarn was large. He was luckier than the Norns that life is not all hardships... He talks to Hagen about the need to stay faithful and puts on wool boots. Then he goes out through the hiding place. Hagen goes to sit there, as if awake from a dream, and Alberich removes his boots through the hiding place. After all, the one who was naked was him... The purpose of the boots and the trousers and barefoot is unknown, but I do not have the creativity of Tcherniakov. Siegfried arrives who is looking, very cheerfully, for Gutrune. After they meet again, they both leave. Hagen calls the men-at-arms, here, as expected, distinguished researchers of the famous centre. They meet in an amphitheatre and there the whole scene of Brunnhilde's accusation takes place. There is no spear on which to take the oaths, but there is no lack of witnesses, let us admit it. The spear and its symbolism are dispensable... Everyone leaves, leaving Gunther weakened next to Brunnhilde and Hagen. The latter plot and plot revenge for Siegfried's treachery. In the end, the couple Siegfried and Gutrune still come to dance in the amphitheatre before the eyes of the others present. A joyful dance, praise be to them! The act ends.



The third act starts in the dialysis room where the Ring begins. This time with the title "Stress labor" (work under stress?). Three female researchers are having tea, while an amused Siegfried, sportily outfitted in green and with his name stamped on the back, lies on the couch and takes off his trainers. They are Rhine's daughters, of course. Failing to entice the hero to hand over the ring, the female investigators return to tea and leave, leaving well underlined the fatal fate that awaits Siegfried, this one probably thirsty, such was his lack of tea with the ladies.


The scene moves horizontally again and we move to the central courtyard. This time without the tree, but with a basketball table. The benches are now blue and everything looks like a sports hall. Gunther and Hagen, together with the other hunters, equip themselves in the same way as Siegfried. Siegfried tells his story and doesn't get to drink from the water Hagen offers him, which still doesn't stop him from remembering Brunnhilde. There is no antidote for the wine. After all, we all know that the effects of wine don't last that long... Hagen takes a standard-bearer to shoot Siegfried down, to Gunther's enormous commotion. It wasn't exactly a spear, but it was an object that somehow doesn't stop being one and was at hand. We have to be practical. The effect, when the standard-bearers were seen, was very predictable, of course. With his body already dying, it is Siegfried himself who is taken to the previous room (that of dialysis and various experiments) where he eventually succumbs. Placed on the table where he had previously lain happily, the funeral march begins, here transformed into a procession of people arriving in dismay: researchers, Gunther, the Norns, the daughters of the Rhine... Even Erda and Wotan join in grief.


Then we return to the courtyard. Gutrune is alone and deaf to Siegfried's bugle. Hagen announces the death of her supposed husband to her great dismay. Then the others arrive with a funerary marquee - the kind with wheels - with Siegfried completely covered. Hagen and Gunther, under the gaze of Wotan (who could not resist circling outside Walhalla), fight with punches. Hagen, victorious, leaves never to return and Gunther survives without after-effects. Unexpected? Considering what we saw, not really! It was a fight that didn't go down in history, that's obvious... Brunhilde comes and ends up alone with Siegfried's body. Not alone, with Wotan and the apparent stuffed Grane, that mighty horse. Father Wotan leaves when she stops talking about him. Next, no one obeys Brunnhilde. There are no people, no pyre, no fire. It was not for lack of imagination, but for disobedience, I believe... Or because one does not play with fire... There being no alternative, Brunnhilde and Grane lie down on the funeral table on top of Siegfried's funeral body.


The stage is, however, empty. All we have is the black box of the theatre. Brunnhilde, suitcase in hand, leaves for a new journey, in the style of what happened at the end of Die Walküre. To everyone's astonishment, Erda turns up with the missing mechanical bird. She tries to give it to Brunnhilde, but Brunnhilde refuses. Erda gives up and leaves. Tcherniakov immediately indoctrinates us about Brunnhilde's wisdom and how this will allow her to refuse everything, leaving everything behind: the gods from the start. This is done with recourse to a text of his that passes for projected. The father falls in with the architectural design of the research centre. Before it closes completely, Brunnhilde brakes it, which causes the projection to fall apart. Then the curtain falls completely. Brunnhilde, in front of her, watches the void until the music ends and the lights go out. And so much for the experiments at the research centre. Should we wait for the scenes of the next chapters of this saga?


Once the Ring is finished, not only are we indoctrinated by the director about the meaning to be taken from the Ring, but we see history modified without clear purpose. The Ring of Nibelungen was demystified and stripped of its symbolism. The presentation was ugly, uninteresting, unfavourable to conveying emotions and disconnected from the text. Therefore, it will not be missed and let's hope that those in charge of the theatre will not repeat it beyond the two cycles already scheduled. The director, appearing for applause, took a historic booo: it was a unison in the impressive room. I don't think I'll see such a consensual and expressive audience backlash in years to come! But it was well deserved and I was happy to contribute! 


Moving on to the singers and starting with the best ones. Of course I highlight Schager and Mika Kares as Siegfried and Hagen respectively. Both vocally enormous! Incredible highs, flawless emission and great control. They conveyed the emotions that were asked of them by the director. Even a little more, but their task was not made easy.




Anja Kampe's Brunnhilde, one of the big stars of the production, was fine but somewhat uneven. In the first act, quite strident, with some uncontrolled treble. In the second, more restrained in volume, but more effective in the highs. The third act was the most balanced. Without dazzling, it did well, but we can hear better Brunnhildes.


Violeta Urmana was Waltraute. She had a good stage and vocal performance and was able to convey her concern about the fate of the gods effectively.


Lauri Vasar was a vocally small Gunther, admittedly never feeling very present, given an obvious lack of vocal expressiveness that he made up for with the scenic. Mandy Fredrich was an uninteresting but vocally right Gutrune.


Alberich was again Johannes Martin Kranzle: he did well in his very short speech. 


The Norms were Noa Beinart, Kristina Stanek and Anna Samuli: all were fine and represented well what was asked of them. The Daughters of the Rhine were Evelin Novak (Woglinde), Natalia Skrycka (Wellgunde) and Anna Lapkovskaja (Flosshilde) who were equally good.


Staatsopernchor was also in good form, in what is their only intervention in the Ring of Nibelungen.


The Staatskapelle Berlin under the direction of Christian Thielemann gave a new superlative reading of the work: always very clear and emotional, with no gaps in the tempos and between the different suits, and with immense respect for the singers. They were again the major star of the production.

2 comentários:

  1. Com base na sua crítica, parece uma pena - vinda a enecenação de um nome que nos deu um Parsifal absolutamente inesquecível neste mesmo teatro. Tive o prazer de o ver justamente com o imbatível Schager.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado por estas descrições tão completas do Anel. Os encenadores (e os teatros) tanto querem inovar que acabam por fazer espectáculos visualmente e conceptualmente medíocres e, sobretudo, muito distantes do conceito original (ainda que haja lugar a inovação, desde que esta não deturpe totalmente o sentido da obra).
    Como aqui referi, também eu fui recentemente confrontado em Bayreuth com um Anel excelente no que à interpretação musical respeita, mas com encenação muito criticável e de mau gosto.

    ResponderEliminar