sexta-feira, 21 de setembro de 2012

PELLÉAS ET MÉLISANDE, Theatro Municipal de São Paulo, Setembro de 2012


A SIMPLICIDADE DE PELLÉAS ET MÉLISANDE NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO- 17/09/2012 . CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


O sonho do compositor Claude Debussy era musicar uma versão de Tristão e Isolda, mas o tema já fora obra do alemão Richard Wagner. Obra prima com mais de quatro horas de música delirante. Debussy percebeu que se a fizesse teria o mesmo destino da ópera La Bohème de Leoncavallo, cairia no esquecimento e ficaria mofando em algum arquivo morto devido a La Bohème de Puccini. Essa superior e com música inesquecível, Puccini ganhou de goleada.

A escolha de musicar Pelléas et Mélisande vem do amor de Debussy pelo tema de Tristão e Isolda. Semelhanças entre as obras tem aos montes: Rei, casamento com um cidadão mais velho, paixão pelo jovem bonitão e a morte por amor.

 Cena de Peléas et Mélisande -Foto Internet.

A música de Pelléas et Mélisande não contém árias ou grandes números corais. A ópera é um longo recitativo vocal. Fragmentos musicais expressam emoções, dúvidas e sentimentos. Muitas vezes interessantes, muitas vezes perdidos. A música de Debussy pode parecer estranha em primeira audição, mas nela temos passagens interessantes, a ligação das cenas é feita com belos trechos orquestrais. Obra atemporal, envolta em mistérios, onde um triângulo amoroso define tudo.

Louvável é apresentar essa raridade no Brasil, nem imagino se essa ópera já foi montada ou apresentada por essas terras. Acertou o Theatro Municipal de São Paulo em fazê-la. Montar Pelléas et Mélisande não é tão fácil quanto parece.

 Cena de Pelléas et Mélisande - Foto Internet

A escolha do elenco foi acertada, estava receoso quanto à escalação de Rosana Lamosa. Depois de uma desastrada Violeta Valery da ópera La Traviata de Verdi em Abril nesse mesmo teatro, imaginava que a moça não daria conta da empreitada. Lamosa se entendeu com a personagem, sua Mélisande apresentou um belo lirismo vocal com belas nuances, excelente fraseado e um timbre sedutor. Atuou bem e convenceu.

 Rosana Lamossa e Fernando Portari, cena de Peléas et Mélisande- Foto Internet

 Fernando Portari tem um excelente padrão de qualidade, o rapaz sempre canta bem. Com Pélleas não foi diferente, mostrou bela voz, um timbre lírico afinado e agudos com um colorido especial. O personagem exige o que os franceses (sempre eles) chamam de barítono "Martin" (considero Sebastião Teixeira nosso grande barítono Martin), voz lírica, próxima a do tenor e com graves. Portari não tem toda essa extensão vocal, mas com inteligência superou a carência de graves e conseguiu o principal, emocionar.

O Golaud de Vincent le Texier mostrou ser um barítono com bons graves, pode parecer estranho, mas tem muito barítono que carece deles. Sua voz impõe respeito ao personagem, pujante e extensa. Algumas vezes forçada, mas com belo vigor. Kismara Pessati é um contralto com graves escuros, vigorosos. Sua Geneviev mostra uma voz cheia, madura, um soco no estômago do espectador. Grande cantora, pena que esteja radicada na Europa.

 Cena de Pelléas et Mélisande- Foto Internet

A direção de Iacov Hillel fez o básico, direção simples, sem grandes inovações, é como comer um bife a cavalo no boteco do centro. Você já sabe o que vai vir no prato: Arroz, bife e dois ovos fritos bem grandes. Os cenários seguem a mesma linha, quase inexistentes, projeção de pinceladas ou pequenos trechos de obras de Monet em nada acrescentam ao enredo. Tudo básico e simples.

A regência de Abel Rocha mostrou uma orquestração peso-pesado, em alto volume, muitas vezes encobrindo os solistas. Faltou a delicadeza e a sonoridade que a música de Debussy expressa nos personagens. Trechos orquestrais que exigem delicadeza foram massacrados com música potente e volumosa. Os solistas tiveram que se matar para não serem sempre encobertos.

3 comentários:

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