quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AIDA, METropolitan Opera, Nova Iorque, Março de 2012



 (review in english below)
Aida é uma ópera de G. Verdi com libretto de Antonio Ghislanzoni. O enredo pode ler-se aqui.


 Quando me perguntam qual a ópera que recomendo para quem quer começar, habitualmente sugiro a Carmen ou a Aida. A produção do Met preenche todos os requisitos que espero que uma ópera ofereça a quem quer ver este tipo de espectáculo pela primeira vez. É também óptima para quem já tem experiência, claro!


 A encenação de Sonja Frisell é grandiosa e espectacular. É impossível fazer mais num teatro de ópera. Os cenários transportam-nos ao Egipto faraónico, mudam com frequência, o guarda-roupa é adequado à época, os adereços são muitos e de grande diversidade. Na marcha triunfal do 2º Acto até cavalos entram em cena. Uma encenação conservadora mas verdadeiramente espectacular.
É o esplendor da ópera no seu apogeu e um exemplo perfeito de que a ópera é para ouvir mas também para ver. Na próxima temporada esta será uma das transmissões no Met Live em HD. Não é a mesma coisa do que ver ao vivo, perde-se sobretudo a grandiosidade da encenação mas, se nos for dada a possibilidade de a ver em Portugal, é imperdível.



Dedico este texto em particular aos iniciados, permitam que os chame assim, incluindo neste grupos todos os que nunca assistiram a um espectáculo de ópera ou já o fizeram mas consideraram que foi uma experiência menos agradável. Este é o espectáculo para ouvir e ver.

E há muito que ouvir. A ópera inicia-se de forma suave e comedida mas rapidamente surgem as grandes sonoridades, orquestrais, corais e dos solistas. Os cantores principais (Aida, Radamès, Amneris e Amonastro) têm tipos de vozes diferentes, papeis de enorme exigência e, se forem de qualidade, como seguramente acontecerá no Met, terão interpretações inesquecíveis. Os coros são também grandiosos e atingem o expoente máximo no 2º Acto. A música é de muito fácil apreensão e inclui muitas partes que são conhecidas de todos. A encenação (esta encenação) faz o resto mas, repito, é uma ópera que enche o olho e o ouvido.

Na récita que vi, a Orquestra do Met foi superiormente dirigida pelo maestro italiano Marco Armiliato que fez um excelente trabalho. Houve grandiosidade, emoção ou intimismo sonoros sempre que necessário e solistas, coro e orquestra soaram sempre em uníssono e sem qualquer desencontro. Armiliato foi, merecidamente, muito ovacionado no final











Aida foi interpretada pelo jovem soprano americano Latonia Moore (em substituição de última hora de Violeta Urmana). Teve um triunfo absoluto em casa (foi a sua estreia no Met). A voz é de grande beleza. Alcança os agudos com facilidade e sem perda de qualidade, sempre sobre a orquestra. A cantora é negra, o que ajuda muito ao papel. Esteve muito bem cenicamente. Nas duas árias mais conhecidas, Ritorna vincitor! no 1º acto e Qui Radamès verrà! no 3º foi fabulosa. Penso que terá uma carreira brilhante à sua frente.


 Marcello Giordani  tenor italiano, surpreendeu-me muito positivamente em Radamès. Tem uma voz de uma enorme potência e agudos sonantes, embora no registo médio perca qualidade e, por vezes, não se faz ouvir. A ária Celeste Aida, logo no início do 1º acto, é de dificuldade elevada e é cantada quando os artistas ainda não aqueceram a voz, o que já vi ter efeitos muito negativos. Não foi o caso aqui, Giordani cantou-a sem mácula e, no dueto final da ópera, esteve também irrepreensível.




 Amneris, princesa egípcia, é o papel que mais gosto na ópera. Foi interpretada pelo mezzo americano Stephanie Blythe. Gosto muito da cantora que tem uma voz de excepção, a mais poderosa de todos os cantores em cena. No último acto tem as intervenções mais marcantes L'abborrita rivale a me sfuggìa e, sobretudo, Ohimè, morir mi sento. Mas, confesso, fiquei um pouco desiludido, não pela fantástica qualidade da voz mas pela forma como cantou. O fraseado foi deficiente. A figura da cantora também não a ajuda em palco.


 Amonastro, rei etíope e pai de Aida foi interpretado pelo barítono georgiano Lado Ataneli. Foi mais um cantor com elevado nível vocal e cénico, embora o seu papel seja menos exigente que o dos intérpretes anteriores. É no 3º acto, em dueto com a filha que a sua intervenção pode ser apreciada.


 Uma palavra final para os dois baixos norte americanos, o veterano James Morris (Ramfis, Sumo sacerdote) e o jovem Jordan Bish (Faraó egípcio), ambos com desempenhos vocais de grande classe.
















 Uma Aida inesquecível e muito recomendável.

*****



AIDA, Metropolitan Opera, New York, March 2012

Aida is an opera by G. Verdi with libretto by Antonio Ghislanzoni. The plot can be read here.

When people ask me what is the opera that I recommend for beginners, usuallt I suggest Carmen or Aida. The Met production meets all the requirements that an opera should offer to those who want to see this type of show for the first time. It is also great for those who already have significant experience, of course!

The staging by Sonja Frisell is grand and spectacular. It is impossible to do more in the opera house. The scenarios bring us to pharaonic Egypt, they change frequently, the dresses are appropriate at the time, the props are many and diverse. In the triumphal march of the 2nd Act even horses come onto the stage. A truly conservative spectacular staging.
It is the splendour of the opera in its top quality and a perfect example that opera is a show to listen but also to see. Next season this opera will be a broadcast from the Met Live in HD. It is not the same thing as to see it live, especially the grandeur of the scenario is lost, but if we are given the possibility to see it in Portugal, it  is a must.

I dedicate this text in particular to beginners, let me call them so, this including all those who have never attended an opera performance, or that have already seen one but felt that it was a less pleasant experience. This is the opera to hear and see.

And there is much to hear. The opera begins smoothly but quickly great sounds emerge, by the orchestra, the chorus and the soloists. The main singers (Aida, Radamès, Amneris and Amonastro) have different types of voices, roles of great demand, and if they will be of top quality, as surely will happen at the Met, they will give us unforgettable performances. The choirs are also great and reach the pinnacle in the 2nd Act. The music is very easy to grasp and includes many parts that are well known to everyone. The scenarios (these scenarios) do the rest, I repeat, it is an opera that fills the eye and ear.

In the performance I saw, the Met Orchestra was directed with superior quality by Italian conductor Marco Armiliato. He did an excellent job. There was grandeur, emotion or intimacy in music where necessary and soloists, chorus and orchestra sounded always in tune and without any coordination problems. Armiliato much applauded at the end, and he deserved it.

Aida was played by the young American soprano Latonia Moore (a last minute replacement of Violeta Urmana). She had an absolute triumph at home (it was her debut at the Met). The voice is large and of considerable beauty. She reachede the top notes with ease and without loss of quality, always over the orchestra. She is a black singer, which helps a lot to the role. Artistically she was very well. In the two most famous arias, Ritorna vincitor! in the 1st Act and Qui Radamès verrà! in the 3rd Act, she was fabulous. I think she has a brilliant career ahead of her.

Italian tenor Marcello Giordani, surprised me very positively as Radamès. He has a voice of tremendous power and sharp top notes of quality, although in the medium register the voice looses quality and, sometimes, is not heard.  The aria Celeste Aida, early in the 1st act, is of high difficulty and is sung when the singers have not warmed up their voice, I've seen bad performances in this aria before, but.it was not the case here, Giordani sang it without problems. And at the final duet of the opera, he was also excellent.

Amneris, the Egyptian princess, is the role that I prefer in this opera. It was interpreted by American mezzo Stephanie Blythe. I like this singer very much. She has an exceptional voice, the most powerful of all the singers on stage. In the last act she has the most striking interventions L'abborrita rivale a me sfuggìa, and especially
Ohimè, morir mi sento. But, I confess, I was a little disappointed, not by the fantastic voice quality but by the way she sang. The phrasing was poor. The figure also does not help the singer on stage.

Amonastro, Ethiopian king and father of Aida was played by Georgian baritone Lado Ataneli. He was one more singer with vocal and artistic high quality, although his role is less demanding than those of the previous singers. It is in the 3rd act, in a duet with his daughter that his intervention can be appreciated.

A final word for the two low north American basses, veteran James Morris (Ramfis, High Priest) and Jordan Bish (Egyptian Pharaoh), both with vocal performances of great class.

An unforgettable and highly recommended Aida.

*****

10 comentários:

  1. Ouvi há tempos uns excertos desta "Aida", precisamente os momentos de Latonia Moore. Também fiquei muitíssimo bem impressionado com a qualidade da voz.

    (E é bonito ver uma "Aida" que se passa no Egipto faraónico e não na China actual.)

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  2. As usual, very complete info!
    Greetings from Gent,Willy.

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  3. Por acaso não seriam as minhas recomendações para quem quisesse iniciar-se na Ópera... Mas ainda bem que gostou.
    Os bilhetes para a Gulbenkian esgotaram, claro.

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  4. Como referi, quando me perguntam eu sugiro a Aida (quando encenada assim) ou a Carmen. Quais são as suas sugestões Gi?

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    1. A Traviata ou o Rigoletto. As histórias são interessantes, a música é muito bonita, com árias que emocionam e sem partes aborrecidas pelo meio. O mesmo se pode dizer da Tosca, mas deixo-a para uma segunda fase.

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    2. São 3 óperas marcantes. A Traviata é, para mim, muito especial. Foi ela que me despertou para a ópera e a ela ligam-me laços que excedem apenas a questão musical.
      A Tosca é uma das melhores óperas de Puccini e tem tudo.
      O Rigoletto é talvez a ópera que vi mais vezes porque é uma das mais apresentadas pelo mundo fora (regressei hoje de San Francisco e tive oportunidade de a ver lá mais duas vezes).

      São opções excelentes, obrigado por partilhar as suas preferências, Gi. Considero que temos uma "responsabilidade acrescida" em fazer sugestões a quem nunca foi à ópera (ou a quem acha que não gosta). Concordo que as suas são também óptimas opções nesse contexto.

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  5. Penso que qualquer uma delas serve para aconselhar a uma pessoa que vai pela primeira vez à ópera.

    Eu estreei-me com Rigoletto, mas Aida (em versão faraónica, por favor) tem todos os ingredientes necessários, tal como Carmen. E além de Tosca e La Traviata, La Bohème, que na sua aparente simplicidade fala directo aos corações.

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  6. Caro Fanático,
    devido a compromissos profissionais tenho andado sumido da blogosfera. É um prazer ler as suas crônicas, sonoras e dramáticas, fantásticas!
    Um grande abraço

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  7. Excelente elenco e que récita que deve ter sido! Fico contente por continuar a subir na sua consideração as prestações de Marcello Giordani :)

    Concordo consigo em relação à Carmen ser uma das melhores óperas para quem quer começar a escutar ópera. Isto porque praticamente qualquer das suas árias já foi ouvida por quase toda a gente em qualquer lugar e em qualquer altura da vida.

    Mas não esqueça outras que podem fazer abrir o gosto pela Ópera: A ternura do Elixir do Amor (que sei que não parecia particularmente, mas...) ou a magia musical de A Flauta Mágica.

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