quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

La Traviata, Royal Opera, Londres, Janeiro 2012



 La traviata, de G. Verdi com libretto de Francesco Maria Piave é uma das óperas que mais gosto e que já vi muitas vezes, incluindo esta produção. O enredo pode ler-se aqui.

A encenação de Richard Eyre é deslumbrante, rica e de extremo bom gosto. Mas foi a protagonista que me fez vir a Londres rever a ópera. Como já referi aqui, as coisas não correram como esperava.

O maestro italiano Maurizio Benini imprimiu um ritmo algo irregular, por vezes excessivamente lento mas noutras muito rápido. Não gostei. Apesar do maestro, a orquestra esteve ao seu nível habitual de excelência.


 O soprano norte americano Ailyn Pérez, em substituição de Ermonela Jaho (que cancelou por doença), por sua vez em substituição de Anna Netrebko (que também cancelou), foi uma Violetta deslumbrante. A cantora, que nunca tinha ouvido, tem uma voz de grande beleza, muito harmoniosa e bem audível, tanto em forte como nos pianissimi fabulosos. Mas é a expressividade vocal que mais marca. Foi absolutamente notável, nunca gritou e conseguiu transmitir todas as diferentes emoções da personagem com grande sensibilidade e credibilidade. Cenicamente foi igualmente perfeita. Um espanto!


 Alfredo foi interpretado pelo tenor norte americano Stephen Costello. Foi o elo mais fraco da noite. O cantor tem uma voz audível, o timbre é agradável, mas foi monocórdico, sem quaisquer mais valias vocais assinaláveis. A expressão foi idêntica tanto nos momentos de felicidade como nos de desespero, em total contraste com o desempenho vocal de Violetta. Cenicamente esteve bem, mas a boa presença em palco não compensou a monotonia do desempenho vocal.


 O barítono italiano Paolo Gavanelli foi um Giorgio Germont correcto. Voz forte, grave e bem timbrada. Foi frio e insensível quando pediu a Violetta que deixasse o filho, mas a expressão de arrependimento no final da ópera poderia ter sido mais expressiva.


 De entre os cantores secundários, duas outras vozes impressionaram pela positiva, a de Hanna Hipp como Annina e a do conceituado Robert Lloyd como Doutor Grenvil, e uma pela negativa, o coreano Ji Hyun Kim como Gastone de Letorières. Os dois mais jovens pertencem ao Jette Parker Young Artists Programme da Royal Opera mas o coreano não tem nem qualidade nem potência vocal para qualquer papel em que cante isoladamente.






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La Traviata, Royal Opera, London, January 2012

La traviata is one of my favorite operas of G. Verdi, with libretto by Francesco Maria Piave.  I've seen it many times, including thisproduction. The plot can be read here.

The staging by Richard Eyre is gorgeous and rich. But it was the main soloist that made me go to London to see the opera again.
As I mentioned here, things did not go as expected.

Italian conductor Maurizio Benini imposed a somewhat irregular rhythm, sometimes too slow but others very fast. I did not like it. Despite the conductor, the orchestra was at its usual level of excellence.

North American soprano Ailyn Pérez, replacing Ermonela Jaho (who canceled due to illness), in turn replacing Anna Netrebko (who also canceled), was an exceptional Violetta. The singer, who I had never heard, has a beautiful voice, very smooth but well audible, both in forte as in the fabulous pianissimi. Fabulous vocal expressiveness. She was absolutely remarkable, she never screamed and managed to convey all the different emotions of the character with great sensitivity and credibility. Artistically she was also perfect. A wonder!

Alfredo was interpreted by North American tenor Stephen Costello. He was the weakest link of the night. The singer has an audible voice, the timbre is nice, but he was monotonous, without any remarkable vocal nuances. The expression was identical both in scenes of happiness as in despair, in stark contrast to the vocal performance of Violetta. Artistically he was ok, but the good stage presence did not offset the monotony of the vocal performance.

Italian baritone Paolo Gavanelli was a correct Giorgio Germont. He has a strong voice, especially in the lower register and the timbre is nice. He was distant and insensitive when asking Violetta to leave his son, but the expression of regret at the end of the opera could have been more expressive.

Among the other singers, two voices impressed me positively, Hanna Hipp as Annina and Robert Lloyd as Doctor Grenvil, but one was very fragile, the Korean Ji Hyun Kim as Gastone de Letorières. Both the younger singers belong to Jette Parker Young Artists Programme of the Royal Opera but the Korean has not yet  a vocal quality to sing a soloist role.

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2 comentários:

  1. Caro FanaticoUm,

    Que pena não ter assistido à Anna Netrebko! Para o meu gosto, é a melhor Violetta que ouvi até hoje. E a pena é ainda maior quando a ouviria nessa produção que é, de facto, sublime.
    Mas ainda bem que Ailyn Pérez o surpreendeu, o que é sempre muito agradável!

    Lamento, também, que o restante elenco não tenha sobressaído. No fundo, acaba por ser uma récita que gerou enorme entusiasmo e expectativa e que, no fim de contas, foi um fiasco. Melhores dias virão!

    Saudações musicais

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  2. Caro FanaticoUm,

    Realmente foi um conjunto de azares que às vezes são mais facilmente tolerados pelos "locais", que saem de casa e andam uns minutos de autocarro ou metro e estão na casa de ópera.

    Reporto para tudo o que disse sobre a Ailyn Pérez no meu post. Excelente! O elenco da récita de Dezembro a que assisti era, à partida e no fim, muito melhor.

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