quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Andreas Scholl, Kammerorchester Basel, Fundação Gulbenkian, Fevereiro de 2012

(Algumas fotografias / photos do site da Fundação Gulbenkian)

A Fundação Gulbenkian proporcionou-nos, uma vez mais, a possibilidade de ouvir ao vivo o contratenor alemão Andreas Scholl, desta vez acompanhado pela orquestra de câmara de Basileia, Kammerorchester Basel. Interpretaram J. S. Bach, no âmbito da divulgação do recente CD do cantor com a orquestra.

O concerto iniciou-se com a breve sinfonia da cantata Ich steh mit einem Fuss im Grabe seguida da cantata Ich habe genug. Na segunda parte tivemos o Concerto para cravo nº5 em Fá menor e a cantata Got soll allein mein Herze haben.

A orquestra, dirigida pela violinista Júlia Schröder, deu-nos uma bela sonoridade barroca. O início não saiu bem a Krestin Kramp no oboé, mas tudo o resto foi excelente, merecendo destaque o cravista e organista Giorgio Paronuzzi, responsável por momentos altos no concerto.Os instrumentistas cantaram também o trecho coral final da última cantata, uma mais valia pouco frequente e muito interessante.



Andreas Scholl é um cantor de excepção e demonstrou-o mais uma vez. Cantou com uma suavidade insuperável, fraseando na perfeição e imprimindo nuances interpretativas notáveis. A voz, sempre afinada, mantém um timbre puro e belíssimo. Está mais maudra e perdeu o tom angelical de outros tempos, mas soa cada vez melhor. O cantor, na sua postura informal e simpática, consegue estabelecer uma invulgar empatia com o público, quer quando canta, quer quando está sentado enquanto toca a orquestra. Um artista de referência que sempre encanta.




O público, que esgotou a sala, foi generoso mas não esfuziante nos aplausos mas, nem por isso, alguns dos seus membros deixaram de aplaudir a entrada dos funcionários da Gulbenkian no palco, quando foram retirar o cravo, confundindo-os com elementos da orquestra J!

*****



Andreas Scholl, Kammerorchester Basel, Gulbenkian Foundation, February 2012

The Gulbenkian Foundation has given us, once again, the opportunity to hear live the German countertenor Andreas Scholl, this time accompanied by the Kammerorchester Basel. They interpreted J. S. Bach, within the recent CD release of the singer with the orchestra.

The concert began with a brief symphony from the cantata Ich steh mit einem Fuss im Grabe followed by the cantata Ich habe genug. In the second part we heard the Concerto for harpsichord No. 5 in F minor and the cantata Got soll allein mein Herze haben.

The orchestra, directed by violinist Julia Schröder, gave us a beautiful baroque sound. The start did not go well for Krestin Kramp in the oboe, but everything else was excellent, with emphasis on the harpsichordist and organist Giorgio Paronuzzi responsible for high moments in the concert. The musicians also sang the choral part of the last cantata, an infrequent and very interesting approach.


Andreas Scholl is an exceptional singer and proved it once again. He sang with an unsurpassed smoothness, phrasing perfectly and with remarkable interpretive nuances. The voice, always in tune, keeps a pure and beautiful tone. It is more mature and lost the angelic tone of previous times, but it sounds better. The singer, in her informal and friendly posture, was able to establish an unusual empathy with the public, either when singing or when sitting while the orchestra was playing. An artist of reference that always delights us.

The audience (the room was sold out) was generous but not too effusive in applause, but even so, some members applauded the entry on stage of workers of the Gulbenkian Foundation, when they were removing the harpsichord, confunding them with elements of the orchestra
J!

*****

7 comentários:

  1. Caro FanaticoUm,

    Também gostei muito do concerto e concordo com tudo o que refere na sua excelente crítica.

    Apreciei muito o transparecer da humildade de Scholl em palco. Aliada à qualidade vocal e interpretativa, na minha opinião, esta é uma das características que fazem grandes artistas perdurar na carreira e a sua memória ficar viva para sempre, mesmo depois de a terminarem.

    ResponderEliminar
  2. Caros,
    Também não podia estar mais de acordo com as observações de ambos.
    Realmente, Andreas Scholl não só tem uma voz de uma absoluta e imaculada qualidade, como é de uma técnica assombrosa.
    Gostei muito do cravista/organista: deu realmente excelentes momentos de música à plateia da FCG.

    ResponderEliminar
  3. Eu, talvez por estar em dia não ou com expectativas muito elevadas, fiquei um pouco desiludido com o concerto. Fui um concerto muito "técnico"... cumpriram mas não iluminaram. E, como diz, o público não foi efusivo (como o foi, por exemplo, com Jarrousky).
    De qualquer forma, foi uma bela noite... mas desconfio que sobreviva na minha memória.

    Já o cravista foi outra conversa. A sua actuação depois do intervalo foi celestial.

    ResponderEliminar
  4. @ Danies,

    Comparar dois contratenores do calibre de Jaroussky ou Scholl não é tarefa fácil. Também assisti ao inesquecível concerto do Jaroussky, onde ele nos ofereceu diversas arias de bravura muito ornamentadas, de Vivaldi e Häendel.
    Talvez fosse isso que o público ontem também estivesse à espera, mas as cantatas de Bach, pela sua essência, não se prestam a essa abordagem. Mas nem por isso deixaram de ser cantadas de forma sublime.
    Obrigado pelo seu comentário.

    ResponderEliminar
  5. Scholl is a good singer. However in my point of view, comparing to other great countertenors such as Jaroussky, Mehta and Fagioli, Scholl's voice is not rich enough and his falsetto doesn't sound natural. That might be the reason why the audience was not so effusive in applause.

    ResponderEliminar
  6. Só para referir o belíssimo encore com que se despediu Scholl, a cantata BWV 53, Schlage doch, gewünschte Stunde, e a que, infelizmente, o público não parece ter aderido inteiramente.

    ResponderEliminar
  7. @ Anónimo,
    Obrigado por este apontamento. Eu não tinha identificado o encore. Penso que o público ia à espera de fogo de artifício e talvez seja essa a explicação da reacção pouco exuberante.

    ResponderEliminar