quarta-feira, 21 de julho de 2010

Die Meistersinger von Nurnberg - BBC PROMS 2010 - 17 Julho - Royal Albert Hall - Londres





Foi com grande prazer que, no passado fim-de-semana, fiz o meu baptismo nessa grande festa da música que são os BBC PROMS que conta já com 116 edições. Para quem desconhece, trata-se no fundo de uma espécie de Festa da Música do CCB mas em vez de ser em 2 dias intensivos com vários concertos à mesma hora, decorre de Julho a Setembro todos os anos no Royal Albert Hall de Londres. A qualidade do que se pode ouvir e assistir, sem desprezo elevado pela produção nacional, não é, como esperam, comparável...


E que fim-de-semana este! Juntos os Mestres Cantores de Cardiff já revistos por mim neste blog e o Simão Boccanegra da Royal Opera, do qual farei o comentário alargado amanhã, incluíndo as 2 récitas na Royal Opera e a dos Proms...

Queria então falar-vos hoje dos Mestres Cantores que subiram ao palco em versão de concerto semi-encenada e que contou, obviamente, com o mesmo elenco de Cardiff.

Os cantores masculinos surgiram vestidos de igual forma - camisa e calças negras, reservando-se os vestidos elegantes mas discretos para as personagens femininas. Coro também de veste clássica.

No espaço de talvez 2,5 por 10 metros situado à frente da orquestra, conseguiram movimentar-se e transmitir alguma da magia vista em Cardiff. É claro que, como esperam, não se consegue a ambiência da encenação mas a possibilidade de visualização directa da orquestra e maestro, servindo no fundo estes de cenário por detrás dos cantores, cria uma magia diferente mas... magia.

O aspecto em arena do Royal Albert Hall, onde não entrava deste Outubro 2007 (na altura para uns Carmina Burana soberbos acompanhados da sinfonia nº 3 de Camille Saint-Saens) é magnífico. Toca profundamente o amante da música olhar em redor, ouvir a música que se interpreta, fechar os olhos e sonhar por momentos como em ausência completa do corpo terreno, tocando o céu em leveza de espírito. Será assim a eternidade?...

Em relação aos cantores:

Bryn Terfel esteve mais uma vez fantástico. Atrevo-me a dizer ainda melhor. Comparativamente achei-o mais em forma vocalmente principalmente nos agudos. Em Cardiff, embora muito bem, os agudos sairam com o que alguns chamam "ladrar" de Terfel, possivelmente resultante do tempo seco e algum cansaço vocal (penso que a última récita desta produção foi em Birmingham a 6 de Julho - 11 dias de descanço para a voz). Aqui pareceu-me mais limpida nestes momentos.

Christopher Purves é um cantor e actor nato. Beckmesser foi talvez escrito para ele... Soberbo como, utilizando alguns recursos diferentes, como por exemplo uma cadeira em vez da escadaria (3º acto), mesmo assim tropeça de forma cómica e convincente. Os olhares de sedução para Eva nas pausas da canção do prémio mais confusa da história da música foram de riso espontâneo fácil. Fantástico!!! Como será o seu Fígaro? O seu Dulcamara? A voz é forte e expressiva - 5 estrelas!!!

As senhoras estiveram igualmente à altura mas Raymond Very voltou a demonstrar ausência de projecção para Wagner, frequentemente camuflado vocalmente pela orquestra. Contudo, pareceu-me melhor neste aspecto, principalmente na canção final.

Mais uma vez realço David Soar como o Guarda Nocturno - SOBERBO!!! A síncronia da Orquestra com o coro no "Wach auf" foi simplesmente fantástica e, no geral, estiveram ambos muito bem (uma pequena gaffe dos metais e uma entrada prematura de um dos sopros, pelo menos que eu tivesse notado)

A quem quiser ainda restam uns dias no site da BBC PROMS a possibilidade de escutar a récita. Foi igualmente gravada em video mas não sei como poderemos posteriomente ter acesso fora do Reino Unido... Se alguém souber diga.

Deixo-vos algumas fotos.





4 comentários:

  1. Uma beleza.

    Diga-me lá: como é que é aquilo de as pessoas pendurarem as bandeiras dos camarotes? É só para a última noite?

    Cumprimentos

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  2. Caro Plácido Zacarias.

    Admito que sim.

    Tanto no sábado como no domingo não havia bandeiras nem as célebres "cornetas".

    O ambiente é descontraído, muitas das pessoas fazem o mesmo que fazem, por exemplo, na Royal Opera - levam o seu lanche em sacos de plástico - e vive-se a música no seu melhor.

    Os meus lugares eram no Grand Tier e algo laterais mas permitiram estar relativamente perto do palco e ver as expressões dos cantores com clareza. Contudo, acho que deve ser espectacular ver a partir da arena / plateia... são aqueles lugares de pé em que as pessoas parecem quase sardinhas em lata mas alguns conseguem estar a 30cm do palco...

    Mas em pé para ver os Mestres Cantores? Só com meias elásticas para evitar umas varizes instantâneas :)

    Falta-me uma Última Noite nos Proms para a vivência completa.

    Cumprimentos

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  3. Uma última noite nos Proms...
    Tive a sorte, há alguns (...) anos, quando estagiava em Londres, de assistir a uma. Foi até hoje a vivência musical mais arrebatadora em que participei. É uma experiência absolutamente proibida para cardíacos e, se não tive ali um enfarte do miocárdio, talvez nunca o venha a ter.
    Desde o início do espectáculo tudo é diferente e único, mas ouvir quase todo o público do Royal Albert Hall a cantar a Marcha de Pompa e Circunstância de Elgar "Land of Hope and Glory" é algo de arrepiante para o qual não consigo encontrar palavras que descrevam o que se vive!
    Gostaria muito de repetir esta experiência mas, actualmente, conseguir um bilhete é uma missão quase impossível!

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  4. Obrigado pelas informações. De qualquer modo, parece muito interessante!

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