segunda-feira, 6 de junho de 2011

2ª Sinfonia ("Ressurreição") de Gustav Mahler - Coliseu de Lisboa - 6 Junho 2011



Como seria de esperar, a Temporada 2010 – 2011 da Fundação Calouste Gulbenkian, 19 dias depois de se assinalarem 100 anos passados da morte de Gustav Mahler, tinha de encerrar com uma obra deste compositor, fazendo-lhe merecida homenagem.

E foi assim que hoje, Michael Tilson Thomas (o "Júlio Isidro" americano) e a sua Orquestra Sinfónica de São Francisco, pela primeira vez em Portugal, acompanhados pela soprano Laura Claycomb e Katarina Karnéus e pelo Coro Gulbenkian, encheram o palco do Coliseu de Lisboa para interpretar, no meu ponto de vista, a mais espectacular das sinfonias de Mahler: a 2ª Sinfonia – Ressurreição.



A interpretação foi de muito boa qualidade de uma forma geral. A orquestra é capaz de fabricar um som Mahleriano de grande profundidade e dinâmica e a direcção de Tilson Thomas vive do detalhe. As vozes femininas estiveram bem mas não me impressionaram particularmente. O Coro esteve igualmente bem, embora por vezes, e nas vozes masculinas, não tenha mantido a dinâmica de naipe e tenha sido ligeiramente assimétrico na projecção.


Para mim não houve outro Maestro que tenha compreendido e vivido tão bem Mahler, deixando-nos magníficas interpretações, como Leonard Bernstein. A única maneira de alguém o suplantar é imitando-o. Talvez quem mais se aproxime seja Simon Rattle...

Assim, e compreendendo que as gravações não são o mesmo que as récitas ao vivo, este concerto deixou-me algo aquém do som e do sentimento que procurava. Penso que, responsável por tudo isto, foi também o facto de o concerto ter sido realizado no Coliseu. Cadeiras a ranger como nunca tinha ouvido, acompanhados da já habitual tosse, agitação entre andamentos e um ou outro chocalho de colares e pulseiras, um ou outro toque dissimulado de telemóvel, fruto da já por mim referida pacovice intelectual portuguesa, escreveram linhas inexistentes na partitura assinada por Mahler. Num dos momentos mais solenes da obra, no último andamento quando o coro entra e canta “Auferstenh, já auferstehn wirst du, Mein Staub, nach kurzer Ruh!” a plateia cumpriu de certo modo ao mover-se nas cadeiras e a ranger as mesmas. Foi impossível fechar os olhos e interiorizar a música e a mensagem. Espero que o preço do meu bilhete sirva para comprar um bocadinho de óleo para as mesmas...

Não querendo fazer analogias políticas, espero que o facto de este concerto ter sido interpretado hoje, um dia após as eleições, seja um bom prenúncio para um Portugal que se espera ressuscitado. Que nos consigamos voltar a erguer as cinzas e que o futuro nos traga algo melhor...

6 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Obrigado por este relato, quase "ao vivo". Não fui a este concerto porque me recuso a ir ao Coliseu. A última vez que lá fui, os barulhos que refere, associados ao desconforto da sala, destruiram por completo a magia do espectáculo que muito ansiava ouvir e que tão caro tinha sido.
    Embora o encerramento da temporada da Gulbenkian não tenha sido (para nenhum de nós) em grande espera-nos, no próximo ano, uma bela temporada.

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  2. Também estive lá e subscrevo a sua opinião. Julgo que nunca é demais referir que, uma vez mais, os funcionários que deveriam estar a guardar a porta de acesso à galeria não estavam no seu devido lugar e permitiram que a mesma batesse por diversas vezes. Também me parece lamentável a entrada no final do 1º andamento de diversos atrasados, com a perturbação que se seguiu e obrigando o maestro a esperar que se fizesse silêncio.
    Agora a incapacidade de manter a concentração e a falta de bom senso de muitos que nem sequer tentam disfarçar as tosses, pelo menos com uma mão à frente da boca, é de facto inaceitável.
    Valeu a interpretação e a sublime música de Mahler que, com mais ou menos barulhos estranhos, vale sempre a pena ouvir.

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  3. Concordo com a sua avaliação deste concerto, que considerei de grande nível. Entrando em pormenores relativamente a alguns dos naipes da orquestra, de realçar a beleza das madeiras, muito particularmente o flautista de excelente qualidade. Quanto aos primeiros violinos pareceu-me haver, pontualmente, alguma descoordenação, que, no entanto, não comprometeu a globalidade da execução. Esta sensação poderá também ter sido devida às péssimas condições acústicas do Coliseu dos Recreios, nomeadamente o exageradíssimo eco produzido pela sua estrutura. Também a projecção do Coro me pareceu comprometida por um palco que gera um som "encapsulado" que não se "espalha" por todo o auditório como, por exemplo, no Grande Auditório Gulbenkian. Sei que estes concertos são sempre brindados por uma grande afluência de público, número incomportável no auditório da Fundação Gulbenkian e, portanto, quem sabe se uma parceria com o CCB não seria uma hipótese a considerar (António Mega Ferreira esteve, aliás, presente neste concerto).

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  4. É por essas e por outras que não voltarei a ver óperas no Coliseu - quanto mais um concerto sinfónico!!!

    No Coliseu, paga-se caro para:
    1. se ouvir mal (a sala tem uma acústica
    p é s s i m a ),
    2. se ver os atrasados a chegar com a música já a ser tocada (há tempos vi lá uma Traviata em que não obstante quase não se ouvir o prelúdio por natureza da sala, ainda havia gente a ser sentada à minha frente, dando passos pesadíssimos que quase os julgaria pomposamente propositados)
    3. os espectáculos são, geralmente, de qualidade duvidosa (exceptuando estes que são feitos em parceria com a Gulbenkian, e, talvez, o circo)
    4. a fauna costuma ser pouco disciplinada (veja-se essas tosses e as cadeiras irrequietas)
    5. as cadeiras são desconfortáveis.

    Chega bem para não voltar lá desde essa tal Traviata no ano passado!!! :\

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  5. Também detesto o Coliseu, e mais ainda o Pavilhão Atlântico, por causa da acústica.

    Quando à ressurreição de Portugal, será mesmo por milagre...

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  6. Caro Fanático,
    Gosto muito dos seus textos, mas hoje eu vou elogiar o retrato de Mahler, de quem eu sou um grande fã!
    Aqui no Brasil acontecem os rangidos de poltrona... A falta de educação é internacional!!
    Um abraço

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