sábado, 30 de abril de 2011

IL TROVATORE – Met, NY – 27 Abril 2011



(review in english below)

Regressado há poucas horas de Nova Iorque onde, como sabem, estive com o FanaticoUm a assistir a uma fantástica sequência operática: 2 Valquírias, 1 Rigoletto e 1 Il Trovatore (o FanaticoUm ainda ficou mais um dia para um Orfeu e Euridice), e não tendo disponibilidade para hoje comparecer na Gulbenkian para reviver o Il Trovatore através do MetLive, deixo aqui o meu comentário em relação a esta produção.

Antes de mais deixem-me dizer que o Met é um dos locais mais fantásticos para se assistir a Ópera. Ambiente descontraído, qualidade cénica e interpretativa elevada, apoiadas numa cidade com espírito singular onde a grandiosidade se revela no plano da arquitectura mas também no mais pequeno pormenor como a amabilidade das pessoas que a constituem.

De todas as récitas, o Trovador foi a mais equilibrada em termos vocais e, por isso, a eleita como a melhor, apesar de saberem que sou um fervoroso wagneriano...



A encenação é clássica, como a grande maioria das do Met, facilitando a interpretação dos cantores e, ao mesmo tempo, apaixonando quem assiste.





A orquestra, sob a direcção consistente de Marco Armiliato, esteve sem falhas.

Marcelo Álvarez foi Manrico, estando ao seu mais alto nível. O lirismo celestial das sua voz foi evidente durante toda a récita e particularmente nos momentos de canto sem a presença física em palco (passagens do 1º e último acto). Como gostava que tivesse cantado o Duque no Rigoletto da noite anterior... Mas sobre isto falará o FanaticoUm.



Sondra Radvanovsky esteve muito bem. Não digo excelente porque não o foi, apesar dos gritos e aplausos efusivos do público do Met. Sondra é uma verdadeira força vocal em palco. Canta com uma potência invejável (a um nível que a colocaria como excelente cantora wagneriana), capaz de encher uma sala equivalente a 4 Met’s. Mas está a cantar em 1 só Met e sempre que a potência se eleva acima do que é necessário ocorre o que se passou: a voz (que é rica em harmónicos graves) perde beleza de timbre. Após ingerir o veneno no último acto, o timbre recuperou a beleza que guardava em memória das récitas do Cyrano com Domingo a que tive o prazer de assistir no passado em Londres e Valência. Tudo isto porque diminuiu o volume ao tamanho de 1 só Met... De resto, sem nada a apontar de negativo, muito pelo contrário, em termos de capacidade dramática, lirismo e actuação cénica em palco, os quais foram sublimes.



Dmitri Hvorostovsky foi o Conde di Luna. Espectacular!!! Ouvi-o pela primeira vez ao vivo e comprovou a minha excelente impressão a partir de audições radiofónicas prévias. Uma voz de barítono de beleza inigualável, aliada a uma presença de palco forte e segura, deslumbrou em todas as suas intervenções.



Dolora Zajick encarnou Açucena. A mezzo norte-americana é talvez a melhor intérprete do papel desde há alguns anos a esta parte. O seu conhecimento do papel é profundo, permitindo com a sua fantástica voz, transmitir toda a complexidade dramática da personagem. A forma como introduz uma entoação quase falada em algumas das passagens foi arrepiante.



Stefan Kocán foi Ferrando. Este jovem cantor apresenta claramente uma técnica acima da média mas um timbre que se torna pouco bonito quanto mais grave for a tessitura do papel que interpreta. Assim, bem melhor esteve como Ferrando no Trovador do que como Sparafucile no Rigoletto da noite anterior.

A récita de 27 de Abril foi gravada em vídeo (varias eram as câmaras em locais estratégicos) e provavelmente será lançada em DVD. A se confirmar, estamos na presença de um DVD a guardar na estante de qualquer melómano como uma das melhores de sempre.

Espero que a récita de hoje no MetLive seja ao mesmo nível.

Sei que todos os leitores assíduos deste blog esperam os meus comentários sobre A Valquíria... Deixem-me dizer que o facto de ter assistido às 2 récitas abonou em relação a Jonas Kaufmann: ao contrário do que o FanaticoUm achou, Kaufmann esteve banal (e atrevo-me a dizer abaixo do exigido) no dia 25... Depois de levantar um pouco o véu neste comentário, o resto seguir-se-á lá para 4ª feira.

Deixo-vos com o já tradicional vídeo da chamada ao palco do final do Il Trovatore de Giuseppe Verdi no MET.




IL TROVATORE - Met, NY - April 27, 2011

Returning a few hours ago from New York where, as you know, I was with the FanáticoUm to attend a fantastic operatic sequence: 2 Die Walkure, one Rigoletto and one Il Trovatore (the FanaticoUm stayed one more day to see an Orpheus and Euridice) and not having availability to attend the Gulbenkian today to revive the Il Trovatore by MetLive, here are my comments regarding this production.

First of all let me say that the Met is one of the hottest spots to watch the opera. Relaxed atmosphere, high scenic and interpretative quality, supported in a city with a unique spirit and sense of grandiosity which reveals itself in terms of architecture but also in the smallest detail like the friendliness of the people who live in it.

Of all the operas seen, Il Trovatore was the most balanced in terms of vocal quality and therefore elected the best, although you all know that I am an ardent Wagnerian...



The scenario is classic, as the vast majority of the Met productions, facilitating the interpretation of the singers and the passion of the audience.





The orchestra, under the consistent direction of Marco Armiliato, was flawless.

Marcelo Álvarez was Manrico, being at his highest level. The heavenly lyricism of his voice was evident throughout the opera, and particularly in moments of singing without the physical presence on stage (passages of the first and last acts). I wished he had sung the Duke in the Rigoletto of the night before... But about this FanaticoUm will talk more.



Sondra Radvanovsky was very good. I do not say excellent because she was not, despite the cheers and applause from the audience at the Met. Sondra is a real vocal strength on stage. She sings with an enviable power (at a level that would place her as an excellent Wagnerian singer), capable of filling a room equivalent to 4 Met's. But she is singing in just one Met and when the power rises above what is needed it happens what happened: the voice (which is rich in bass harmonics) loses beauty. After ingesting the poison in the final act, the tone regained the beauty that I held in memory of the Cyrano productions with Domingo which I had the pleasure of watching in the past in London and Valencia. All this because the volume diminished to the size of a single Met... In terms of dramatic ability, lyricism and scenic action on stage she was sublime.



Dmitri Hvorostovsky was the Count di Luna. SUPERB!!! I heard him live for the first time and proved my excellent impression from previous radio broadcasts. A baritone voice of incomparable beauty, coupled with a strong and secure stage presence, dazzled in all his interventions.



Dolora Zajick embodied Azucena. The American mezzo is perhaps the best interpreter of the role for several years now. Her knowledge of the role is deep, allowing, with her fantastic voice, to convey the full dramatic complexity of the character. The way she introduces an almost spoken intonation in some of the passages was creepy.



Stefan Kocán was Ferrando. This young singer clearly presents a technique above-average but a tone that becomes less pretty the lower pitched the tessitura of the role gets. Thus, as Ferrando he was much better than in Rigoletto as Sparafucilethe night before.

The opera on the April 27 was recorded on video (many were the cameras in strategic locations) and will probably be released on DVD. If this is confirmed, we are in the presence of a DVD to store on the shelf of any music lover as one of the best ever.

I hope that today, at the MetLive, the final result ends to be the same.

I know that all the frequent readers of this blog are waiting for my comments on Die Walkure... Let me say that the fact of having attended it for 2 times abbonates in favor of Jonas Kaufmann: on the contrary of what FanaticoUm thought, Kaufmann performance on the 25th was common (and dare I say less than hoped, expected and allowed)... After this small comment on the Wagner opera, I leave you in expectation for the rest which will follow here by next Wednesday.

I leave you with the traditional video of the final curtain call of Il Trovatore by Giuseppe Verdi at the MET.

6 comentários:

  1. Tivemos uma semana fantástica no Met. Temos algumas divergências de opinião, que já não são de agora e que versam, sobretudo, os tenores. Também tenciono comentar as diferentes ópers a que assisti mas não quero deixar de, desde já, fazer dois comentários:

    1- Em relação a este Trovador, estou de acordo com a sua apreicação.´Muito bom e muito homogéneo na qualidade dos cantores, com pequenos apontamentos que referiu e, para mim, ainda outros que a seu tempo mencionarei, sobretudo sobre Dolora Zajick.

    2- Temos, de facto, grandes divergências na apreciação de alguns tenores da actualidade. Disse-me que Giuseppe Fiianoti era muito bom e foi o que se ouviu! Um desastre (que a seu tempo descreverei).
    Sei que não aprecia nem o Kaufmann nem o Calleja, dois dos cantores que considero entre os melhores da actualidade. (Numa observação muito popular, gostava de ver o seu caixote de lixo!)
    Ainda bem que divergimos nestas apreciações, seria muito desinteressante se todos gostássemos apenas dos mesmos.
    Mas não posso esquecer que me disse, no final do 1º acto da Valquíoria, que só para ter ouvido esse acto, teria valido a pena vir ao Met. Presumo que não se estaria a referir apenas a Eva-Maria Westbroek|

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  2. Caro FanaticoUm,

    O Filianoti teve uma noite má e que se previu assim que começou a cantar em "estado rouco". Mas não é o seu estado natural.

    Eu nunca disse que não apreciava o Kaufmann! A afirmação que fiz no final do 1º acto de A Valquíria foi essa mas não no dia da primeira Valquíria (a 25 de Abril) mas sim da 2ª a 28... Por isso refiro na minha crónica "que o facto de ter assistido às 2 récitas abonou em relação a Jonas Kaufmann".

    Mas 4ª feira explicarei tudo :)

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  3. O FIlianoti não é mau. Tem um timbre bonito, nem sempre mostrando grande controlo. Mas é natural que não tenha potência para ser um grande tenor. É um dos amigos do Domingo, do Operalia.

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  4. Mais uma vez, um excelente comentário. Ouvi apenas uma parte da récita na rádio e concordo com a maioria das apreciações. No entanto considero que Zajick e Hvorostovsky foram os melhores da noite. Não há, actualmente, melhor mezzo verdiano que Zajick (na minha opinião). Radvanovsky tem um vibrato que às vezes me desagrada.

    Nunca ouvi nenhum dos cantores ao vivo. Todos os meus comentário são baseados em gravações.

    Cumprimento musicais

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  5. Caro Alberto Velez Grilo,

    Obrigado pelo seu comentário. Zajick e Hvorostovsky estiveram realmente especatulares.

    Continuação de boa música.

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  6. I like Dmtri H. very much. A wonderful singer! Once he gave a Liederabend in Frankfurt. Imagine, on the piano accompanied Evgeny kissin! That concert I missed on account of the sickness. It still makes me sad.
    In the next season at the Wiener Staatsoper he will sing as Simon Boccanegra. I hope I'd be able to hear him there. Not only singers, but also we audience have to "cancel" our opera visiting because of different reasons. You know, in the theater one can get a cold easily. The majority of the audience is old and they cough a lot. Sometimes I think they come to the theater to cough;-)

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