sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

La Giuditta – Oratória de Francisco António de Almeida (c1702 – 1755)



(review in english below)

Editada pela primeira vez há 18 anos pela editora Harmonia Mundi, a oratória La Giuditta de Francisco António de Almeida, sob a direcção de René Jacobs (grande responsável pelo seu ressuscitar) regressa agora, após período em que esteve esgotada, às estantes da FNAC em reedição exclusiva para Portugal.

O compositor é, por certo, desconhecido para muitos dos melómanos nacionais e internacionais. No fundo se reflete o que se passa, de um modo geral, com a composição musical nacional. A ideia de que muito existe mas que não é interpretado e gravado é certa e isso impede que enaltecemos o que é nacional que, em muitos casos, está ao nível do melhor que foi feito pela Europa fora nos últimos séculos. É isso que acontece com esta obra de Francisco António de Almeida.

A biografia de Francisco António de Almeida é pouco conhecida. Pensa-se que terá nascido em 1702 e que o terramoto de 1755 em Lisboa tenha posto fim à sua existência, bem como a um bom leque das suas obras. Foi um dos poucos a serem enviados pelo Rei D. João V para Roma para estudar a música italiana (1722-1726); chegou a ser organista da Sé Patriacal, foi professor de príncipes e provavelmente terá sucedido a Domenico Scarlatti como Mestre da Capela Real quando este partiu para Madrid.



A oratória La Giuditta é realmente uma obra de alto nível da história da música portuguesa.

A Introdução transporta-nos claramente para a sonoridade barroca. Facilmente diríamos que seria uma obra de Haendel mas existe, ao mesmo tempo, algo que a torna individual e diferente. Segundo historiadores, Francisco António de Almeida provavelmente nunca terá ouvido música de Haendel mas ambos passaram por Roma no primeiro quartel do século XVIII e as influências foram as mesmas. Organizada em 2 partes, desenvolve-se em sequências de recitativo – ária. Os dois primeiros conjuntos de recitativo – ária lembra muito uma sonoridade Vivaldiana (cordas, ritmo rápido...) e aquele sentimento de singularidade perde-se um pouco.

Mas, é na ária “Tortorella”, interpretada pela personagem Ozia (faixa 6 – CD1), que paramos e pensamos: “Eh lá! Isto foi escrito por um português?!”. Sublime a forma como a linha melódica de grande inspiração nos transporta para um Barroco de 5 estrelas. O sentimento torna-se mais forte ainda com a ária “Pallida e scolorita” pela personagem Achiorre (faixa 10 – CD1) e se ainda não estamos rendidos à capacidade deste compositor, ficamos com o dueto “Vanne adio” (faixa 14 – CD1), entre Ozia e Giuditta. Fiquei com a sensação de que as árias são tendencialmente mais longas do que as de Haendel, por exemplo, mas não deixam de ter uma magia similar. Sinceramente não me preocupei muito com a história e um dos pontos negativos do CD é até o facto do libreto vir apenas em italiano.

Se há 18 anos esta gravação fez furor e elegeu Francisco António de Almeida como o “Handel português”, esperemos que esta reedição traga de novo esse furor mas que compare este compositor português com um só compositor: Francisco António de Almeida, ele próprio, como grande compositor português na sua individualidade, ao nível de todos os grandes compositores do Barroco.


La Giuditta - Oratorium by Francisco António de Almeida (c1702 - 1755)




Francisco António de Almeida’s Oratorio La Giuditta was recorded for the first time 18 years ago by René Jacobs (Harmonia Mundi), the biggest responsible for its ressurection. Sold-out for a lond time, it returns now as a exclusive edition for Portugal, and is for sale at the FNAC stores.

The composer is, of course, unknown to many of the national and international music lovers. This reflects what keeps on happening with the national musical composition. The idea that there is a lot of works who are not performed nor recorded is right and this prevents us to listen to, probably, a lot of great compositions, with the same level of quality seen on other european composers.

We know very little about Francisco Antonio de Almeida. It is believed to have been born in 1702 and the 1755’s earthquake in Lisbon has ended his live and probably led to destruction the vast majority of his works. He was one of the few to be sent by King John V to Rome, to study Italian music (1722-1726); he became organist of the Lisbon Cathedral, was professor of princes and might have succeeded Domenico Scarlatti as Master of the Chapel Royal when this composer went to Madrid.



The Oratorium La Giuditta is really a high-level work in the history of Portuguese music.

The Introduction takes us to an obvious Barroque atmosphere. Easily we could say that this was a work by Handel, but there is something that makes it individual and different. According to historians, Francisco Antonio de Almeida has probably never heard Handel's music but they both moved to Rome in the first quarter of the eighteenth century and the influences were the same. Organized into 2 parts, this Oratorium is developed in sequences of recitative - aria. The first two sets of recitative - aria resembles Vivaldi (too many strings, fast pace ...) and that feeling of uniqueness is lost a little.

But it is in the aria "Tortorella," played by the character Ozia (track 6 - CD1), we stop and think: "Hold on! This was written by a Portuguese?!". It is sublime the great inspiration of the melodic line – a 5 star barroque cenario. The feeling becomes even stronger with the aria "pallida e scolorita" by the character Achiorre (track 10 - CD1). And if we're still not surrendered to the ability of this composer, we get it by the duet "Vanne adio" (track 14 - CD1) between Ozia and Giuditta. I was under the impression that the arias tend to be longer than those of Handel, for example, but not without at least a similar magic. Honestly I payed little attention to the story, and one of the downsides of the CD is to see that the libretto is in Italian only.

If 18 years ago this recording was a triumph and elected Francisco Antonio de Almeida as the “Portuguese Handel”. I hope this reissue brings back the same feeling but comparing this Portuguese composer with one single composer: Francisco Antonio de Almeida himself, unique, as a great Portuguese composer Portuguese, at the same level of all the great composers of his time.

7 comentários:

  1. Hey,
    Saludos de un gran fan, de Wagner!
    Estuvo recientemente en Bellagio, con familiares de Cosima.
    Groeten,Willy

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  2. ...E ainda pensam que Portugal é um público de analfabetos...
    Willy, manda cumprimentos meus aos familiares da Cosima! xD

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  3. Hi wagner_fanatic,

    Thanks for the posting.
    I've heard "La Spinalba" by Francisco Antonio de Almeida. You're right. His music sounds similar to Händel's and Vivald's. It's natural that the composers in the same epoch are influenced to each other.

    It shouldn't be always Händel or Bach. Discovering something new is great.

    Regards,

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  4. Hello lotus-eater,

    Yes. It is great when we find new composers, new ways of doing music, new melodic ideas. I have been enjoying this Oratorium very much and the arias I mention are absolutely superb.

    Best regards.

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  5. Caro wagner_fanatic,
    Confesso que desconheço a obra, mas vou rapidamente colmatar essa falha. A sua descrição aguça o apetite. Muito obrigado.

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  6. Pela capa posta na foto, esta deve ser a 3ª reedição, calculo. Apanhei a "La Giuditta" há muitos anos, quase por milagre na discoteca Roma, quando esta ainda era uma referência. É uma peça absolutamente INESQUECÍVEL!!

    For the non-Portuguese speakers, this oratorium is a must-have, absolutely compulsory. It is a magnificent recording.

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