sexta-feira, 8 de outubro de 2010

L'elisir d'amore - Teatro alla Scala - 5 de Outubro de 2010













No passado dia 5 de Outubro, a cidade de Milão recebeu um elenco promissor para a ópera L'elisir d'amore, de Gaetano Donizetti, no teatro alla Scala.

O tenor Rolando Villazón interpretou um papel que conhece bem: Nemorino. A própria figura franzina do cantor, o seu facies, são ideais para o desempenho dessa figura cómica e algo desajeitada. O cantor exprimiu com grande carisma e entusiasmo a essência da personagem, tendo sido brilhante em toda a movimentação em palco, e na atitude que assumiu. Contudo, sob o ponto de vista vocal, Rolando Villazón não estava na melhor forma e defendeu-se bastante, mercê, porventura, dos graves problemas vocais que sofreu ultimamente e que motivaram, inclusivé, uma intervenção cirúrgica e uma paragem prolongada. O cantor mantém o seu timbre característico, mas a voz estava com pouco volume, sem a potência vocal que teria sido desejada. Os agudos foram sempre contidos, inclusivamente na ária Una furtiva lacrima, que o cantor terminou com alguma emoção, mas que cantou com algum esforço. Nas notas mais graves, notava-se alguma "sujidade", arranhando um pouco a sonoridade.

A soprano Nino Machaidze esteve bastante à vontade no papel de Adina. Possuidora duma voz timbricamente um pouco escura, mas ao mesmo tempo fresca e ágil, teve um desempenho bastante bom. Evidenciou também uma grande alegria em palco e uma grande jovialidade, que eram necessárias para a configuração da personagem.

O meu maior elogio vai, contudo, para o barítono Ambrogio Maestri. Foi, de facto, brilhante. Possui uma voz potente e dinâmica, que impressiona. Desempenhou o papel de Dulcamara com enorme graça e à vontade pelo que foi, dos três cantores principais, o mais completo.
Os cenários e guarda-roupa tinham qualidade. Destaco a cortina que desceu numa troca de cenário e também no intervalo (e que podem ver numa das fotografias que aqui apresento), que exibia anúncios ao "elixir Dulcamara": um elixir que alegadamente poderia curar todos os males, servindo para tudo, podendo até ser um elisir d'amore.

3 comentários:

  1. É de facto uma pena o que aconteceu a Rolando Villazón. Conto-me entre os seus grandes admiradores na época em que deslumbrava nos palcos (e DVDs), aliando uma interpretação vocal notável a uma presença em palco excelente. É um actor nato que empresta sempre grande credibilidade às personagens que representa. A observação que mencionou do seu aspecto físico desajeitado (e olhar a condizer, acrescento) é, realmente, uma mais valia cénica. O intérprete tem muitos críticos ferozes, alguns que visitam regularmente este espaço, mas não sou um deles.
    A verdadeira tragédia que lhe aconteceu é lamentável! Diz-se que fruto de excesso de actuações quase sem dar descanso, de cantar reportório não adequado à sua voz, de problemas surgidos na parceria que manteve durante anos com a Netrebko (esta parece-me uma razão menos verosímil), a verdade é que nunca recuperou vocalmente e, da última vez que o ouvi (no Don Carlo em Londres) há mais de dois anos, também já estava com grandes problemas vocais.
    Curiosamente, a última vez que vi o Elixir do Amor (relatada neste blogue) também o intérprete que mais apreciei foi o Ambrogio Maestri que fez um Dulcamara inesquecível! Nessa récita Nemorino foi o tenor José Bros que teve uma interpretação desastrosa. Ainda bem que melhorou substancialmente, conforme ouvimos na última récita de Lucrezia Borgia de há dias.

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  2. Li com entusiasmo esta sua crítica ao Elixir de Amor do Scala. Tenho pena do que aconteceu a Villazón. Nunca fui um grande apreciador do cantor, não lhe achando grande beleza no timbre e parecendo-me sempre um pouco "pateta" na interpretação. Reconheço, no entanto, que foi um grande cantor. O que lhe está a acontecer é lamentável, mas penso que ele próprio terá tido culpa do que lhe aconteceu.
    Acho a Nino Machaidze um soprano muito prometedor. Gosto do seu timbre e da presença em palco. Fez uma Gilda fantástica ao lado de Leo Nucci.
    O barítono Ambrogio Maestri não conheço, de qualquer forma investigarei.
    Quanto ao comentário do FanáticoUm ao Nemorino de Bros, devo confessar que não o imagino a interpretar o papel, pelo que acredito que tenha mesmo sido um desastre. Já vi o cantor na Lucrezia Borgia e na Lucia di Lammermoor, ao lado da Gruberova e achei-o bastante digno.

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  3. Caro FanaticoDois,

    Tive a oportunidade de assistir a esta mesma produção em Londres em Maio de 2009 com Diana Damrau e Guiseppe Filianoti e em Outubro do mesmo ano em Paris com Anna Netrebko e também Filianoti. É simplesmente genial! Cor, sonho e inocência transparecem de cada pormenor. Espero que não tenha faltado o cãozinho branco a passar de um lado ao outro do palco.

    Quem quiser conhecer esta produção ela está disponível em DVD, filmada na Opera da Bastilha, Paris, mas com elenco menos famoso.

    Dos 3 fanáticos que contribuem para este blog sou o único que nunca viu e ouviu Villazon ao vivo. Tenho pena de ter passado a oportunidade de o ouvir em grande estilo. Conheci a voz de Villazon, se não me engano, em Dezembro de 2005, numa transmissão do Rigoletto do Met. Achei-o fantástico e talvez o que todos comentavam - o sucessor de Domingo (no carisma talvez mas respeitando-se as diferenças vocais). Pensei no mesmo momento: continuas a cantar assim e não duras muito... e assim foi. Enfim, só espero que não caia (ou caia poucas vezes) no ridículo de récitas frustradas...

    Cumprimentos musicais.

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