sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Requiem de Fauré e extras - Fundação Calouste Gulbenkian - 28 de Outubro 2010

A Gulbenkian oferece-nos, esta semana, um trio de obras interessantes, duas delas corais, motivo pelo qual decidimos incluir este concerto neste blog.



O concerto para órgão, orquestra de cordas e timbales de Francis Poulenc é uma obra surpreendente. De início algo áspero e dissonante, evolui para linhas melódicas suaves, agradáveis, por vezes valsiadas, pairando na maior parte do tempo um espírito bucólico. Yves Rechsteiner esteve seguro no órgão, hábil na mudança de registos, utilizando até, perto do final, um dos pés para este fim.

Não posso dizer que Vivaldi seja um dos meus compositores favoritos. A esta impressão não foge o seu Gloria. Não é uma obra marcante do Barroco. Vive do seu primeiro número, cuja melodia todos facilmente poderão identificar. O restante é muito vivaldiano, claro está, mas pouco imaginativo e vibrante. O Coro Gulbenkian esteve muito bem. Ana Quintans e particularmente Lucia Duchonova, dotadas de vozes profundas e de timbre limpo e bonito, equipararam-se à performance do Coro. Senti a Orquestra muito mais no sentido Clássico. Tive alguma dificuldade em sentir o espírito Barroco em algumas das passagens.

O ponto alto deste concerto era e foi, sem dúvida, o Requiem de Fauré. Considero que esta obra é talvez a mais celestial das criações musicais de todo o sempre. Contudo, ocupa o 2º lugar do meu pódio de Requiem. Após um início (Intróito e Kyrie) solene e possante, a obra encontra as suas melhores passagens no Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei e In paradisum. Luís Rodrigues esteve bem, melhor no Libera me do que no Ofertório mas a estrela foi Ana Quintans. Voz celestial num Pie Jesu sublime e tocante. A Orquestra esteve fantástica sob a direcção de Rolf Beck e o Coro Gulbenkian, mais uma vez ao mais alto nível.

A assistir ainda a 29 de Outubro às 19h e a descobrir ou reviver em duas das melhores gravações disponíveis:

Sob a direcção de John Eliot Gardiner...



Ou com um Bryn Terfel cristalino e uma Cecilia Bartoli celestial...




Fauré's Requiem and extras - Calouste Gulbenkian Foundation - 28th October 2010

The Calouste Gulbenkian Foundation offers us, this week, a trio of interesting works, including two choral ones, which is why we decided to include this concert on this blog.



The concerto for organ, timpani and string orchestra by Francis Poulenc is a striking work. It starts harshly and discordant, but the melodic lines develop into a soft, pleasant, sometimes valse-like, bucolic spirit. Yves Rechsteiner was secure in the organ, skilled in changing registers even using, near the end, a foot for this purpose.

I cannot say that Vivaldi is one of my favorite composers. His Gloria does not escape this feeling. It is not a landmark work of the Baroque. It lives of its first number, whose melody we can all easily identify. The rest is very vivaldi-like, of course, but unimaginative and unvibrant. The Gulbenkian Choir was perfect. Ana Quintans and particularly Lucia Duchonova, with their deep voices and clean and beautiful tone, matched to the performance of the Choir. I felt the Orchestra much more towards a Classic style. I had some difficulty in feeling the spirit of the Baroque in some passages.

The highlight of this concert was, without doubt, the Fauré’s Requiem. I believe that this work is perhaps the most heavenly of musical creations of all time. However, it occupies the 2nd place of my Requiem podium. After a slow solemn and powerful start (Introit and Kyrie), the work finds its best passages in the Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei and In Paradisum. Luís Rodrigues sang very well better than in the Libera me than in the Offertory, but the star was Ana Quintans. Her heavenly voice created a sublime and touching Pie Jesu. The Orchestra was superb under the direction of Rolf Beck and the Gulbenkian Choir was, once again, at the highest level.

To see again on the 29th of October at 7pm and to discover or hear again in two of the best available recordings.

Under the direction of John Eliot Gardiner...



Or with a cristal clear Bryn Terfel and a celestial Cecilia Bartoli...


3 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Fui hoje (ontem) à Gulbenkian e concordo que se assistiu a mais um óptimo espectáculo. O concerto para órgão, orquestra de cordas e timbales, de Poulenc foi muito bom. Não conhecia e foi uma agradável surpresa.
    Sou um confesso apreciador do barroco e este Gloria de Vivaldi não defraudou. Coro, orquestra e solistas estiveram em grande e ofereceram-nos uma boa interpretação.
    O Requiem de Fauré também está entre os que mais gosto, sobretudo pela contenção e serenidade da música. Quando bem interpretado, como foi o caso, é de uma beleza quase celestial. A orquestra e o coro estiveram excelentes, mas os solistas foram bem diferentes. Enquanto Ana Quintans foi irrepreensível na interpretação de um Pie Jesu etéreo, já Luís Rodrigues esteve mal no Offertoire e sofrível no Libera me. De facto este cantor está a atravessar uma fase má, pois também na Dona Branca de há pouco tempo no São Carlos esteve longe do que já fez.
    Contudo, no geral, mais um óptimo espectáculo e, mais uma vez, estamos de acordo na apreciação, situação que tem tido algumas grandes excepções.

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  2. Caro FanaticoUm,

    Comparado com a Dona Branca, no concerto de 5ª feira, o Luís Rodrigues não esteve tão mal. Mas nota-se uma postura de desolado com algo, uma postura triste que se reflete na forma como canta. O timbre está menos bonito do que das duas vezes prévias que o vi num papel de assinatura como é o Figado do Barbeiro de Sevilha que tão bem sabe (ou pelo menos soube...) fazer. E neste concerto até nem podemos dar as desculpas dos agudos (como na Dona Branca) porque o registo escrito é maioritariamente médio.

    Não sabemos o que se possa estar a passar (além ou não de um declínio natural da idade)mas espero que seja uma fase e que ainda possa elevar-se ao seu excelente nível.

    Cumprimentos musicais.

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  3. O Requiem do Fauré é o mais adequado como entrada para a outra vida, após a terrena. É pena ouvir-se tão poucas vezes.
    Obrigado pela crítica

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