domingo, 9 de dezembro de 2018

CARMEN, Royal Opera House, Novembro / November 2018



(review in English below)

Assisti ao assassinato da Carmen na Royal Opera House logo desde o primeiro acto. A encenação de Barrie Kosky procura e consegue ser muito inventiva e original, mas nada tem a ver com a Carmen de Bizet.
O cenário, do início ao fim, limita-se a uma longa escadaria que ocupa todo o palco. Poucos mais adereços aparecem, para além de uma corda, pétalas de uma flor e de cartas. Os solistas e os membros do coro sobem e descem as escalas ao longo de toda a récita, fazendo grande barulho com os sapatos, o que perturba ainda mais a audição musical, já que não há nada de interessante para ver.


A ópera abre com a Carmen vestida coloridamente de toureiro no cimo das escadas, desce-as e desaparece. Na sua próxima aparição, vem mascarada de gorila! Todo o guarda-roupa (de Katrin Lea Tag) é preto, branco ou em tons de cinzento, excepto os trajos de toureiro, os únicos com cor. As partes faladas são substituídas por uma narradora.
Há um corpo de bailarinos (excelentes!) que estão quase sempre em cena mas as suas intervenções são maioritariamente ridículas. Procuram ser cómicas mas não têm graça nenhuma.


Não há qualquer imagem alusiva a Espanha, o desfile das personagens e elementos dos coros quase parece um espectáculo rasca da Broadway. E não há expressões dramáticas em palco. Os solistas estão estáticos e muito afastados uns dos outros. No dueto final não há qualquer clima trágico e, após morrer, a Carmen ressuscita e encolhe os ombros.




Finalmente a música não é a que habitualmente se ouve, tem partes para mim desconhecidas porque, segundo o programa de sala, foram usados também trechos que haviam sido descartados por Bizet.
Diria que o eurotrash (mesmo com encenador australiano) chegou em força à Royal Opera House, o que não tem sido habitual. Mais teria valido uma Carmen em versão concerto, ouvir-se-ia melhor porque seria menos ruidosa.

A maestrina Keri-Lynn Wilson deu-nos uma versão aceitável da música, embora sem a vivacidade que vários momentos exigem. No início teve um percalço, fugiu-lhe a batuta da mão que deu várias voltas pelo ar até cair ao lado de um dos violinistas. Foi a parte mais engraçada de todo o espectáculo.



Em relação aos cantores principais, a melhor foi a mezzo francesa Gaëlle Arquez (uma substituição de ultima hora) na Carmen. É jovem, tem uma bela figura e a voz é bonita, bem colocada e sempre audível, mesmo quando está no cimo da escadaria, no fundo do palco.



A Michaéla da soprano Eleanora Buratto também foi agradável, a cantora tem uma voz poderosa mas com tendência para a estridência nas notas altas. Cenicamente foi totalmente desinteressante, mas não por culpa sua.



O tenor Brian Jagde fez um Don Josè amorfo, apenas preocupado com o canto. A voz é aceitável mas nada mais que isso e perde qualidade no registo agudo.




O baixo Alexander Vinogradov é um cantor habitual no papel de Escamillo. Cumpriu sem deslumbrar.



Os cantores secundários foram globalmente bons, Jean Teitgen (Zuniga), Aigul Akhmetshina (Mercédes), Gérman Alcántara (Dancaïro) e François Piolino (Remendado) embora dois deles, Domminic Sedgwick (Morales) e Haegee Lee (Frasquita) tenham tido interpretações fracas.







Como um mal nunca vem só, ao meu lado estava uma mulher chinesa que ora bebia água (?) de um recipiente com tampa de rosca, ora se assoava ruidosamente. Também por ali havia alguém que se peidava silenciosamente mas com grande periodicidade, tudo contribuindo para uma noite de ópera para esquecer!

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CARMEN, Royal Opera House, November 2018

I watched Carmen's assassination at the Royal Opera House from the very first act. Barrie Kosky's production seeks and manages to be very inventive and original, but has nothing to do with Bizet's Carmen.
The stage, from start to finish, is limited to a long staircase that occupies the whole stage. Few more props appear, in addition to a rope, petals of a flower and letters. The soloists and members of the choir go up and down the ladders throughout the performance, making great noise with the shoes, which disturbs the musical hearing even more, since there is nothing interesting to see.
The opera opens with Carmen dressed colorfully as a bullfighter at the top of the stairs, descends them and disappears. On her next appearance, she comes as a gorilla! All dresses (from Katrin Lea Tag) are black, white or in gray patterns except for bullfighter's suits, the only ones with color. The spoken parts are replaced by a narrator.
There is a body of (excellent!) Dancers that are almost always on stage but their interventions are mostly ridiculous. They try to be comic but they are not funny at all.
There is no part allusive to Spain, the parade of characters and elements of the choir almost looks like a scratchy Broadway show. And there are no dramatic expressions on stage. The soloists are static and very far from each other. In the final duet there is no tragic emotions and, after dying, Carmen resurrects and shrugs.
Finally the music is not what one usually hears, there are parts unknown to me because, according to the program, parts were also used that had been discarded by Bizet.
I would say that eurotrash (even by an Australian director) came in force to the Royal Opera House, which has not been usual. More would have been worth a Carmen in concert version, would be heard better because it would be less noisy.

Musical director Keri-Lynn Wilson gave us an acceptable version of the music, though without the liveliness that several moments require. At first she had a mishap, fled the baton of her hand that went several times through the air until it fell next to one of the violinists. It was the funniest part of the whole show.

Concerningto the main singers, the best was French mezzo Gaëlle Arquez (a last minute replacement) in Carmen. She is young, has a beautiful figure and the voice is pleasant, well projected and always audible, even when she is at the top of the staircase. But she lacked dramatic emotion.

Michaela from soprano Eleanora Buratto was also interesting, the singer has a powerful voice but with a tendency to strident high notes. On stage she was totally uninteresting, but it was not her fault.

Tenor Brian Jagde was an amorphous Don Josè, only concerned with the singing. The voice is pleasant but loses quality in the high register.

Bass Alexander Vinogradov is a frequent singer of Escamillo. He was ok without dazzling.

Support singers have been globally fine, Jean Teitgen (Zuniga), Aigul Akhmetshina (Mercédes), Gérman Alcántara (Dancaïro) and François Piolino (Mended) although two of them, Domminic Sedgwick (Morales) and Haegee Lee (Frasquita) have had weak interpretations.

As “an evil never comes alone”, beside me was a Chinese woman who frequently drank water (?) from a screw-capped container, and frequently blowing loudly. Also there was someone who farted silently but periodically, all contributing to an opera night to forget!

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