quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DON GIOVANNI – Teatro alla Scala, Milão – Abertura da Temporada – 7 Dezembro 2011 (transmissão TV canal ARTE)






(review in english below)






A abertura da Temporada do Scala é sempre um grande evento musical e social (embora para nós menos importante neste campo…). Coube a Mozart inaugurá-la este ano e, para tal, foi escolhido o Don Giovanni, com um elenco estrelar.



Infelizmente não podemos estar presentes ao vivo mas o canal ARTE possibilitou-nos assistir ontem a esta produção e trago hoje aqui a minha impressão geral.








A encenação de Robert Carsen não traz nada de novo, nem prima pela inovação ou interesse cénico. A utilização de referências à estrutura do Scala em reflexos ou constituintes do cenário não é nova e já se viu em outras produções operáticas. O colocar da lista de conquistas de Don Giovanni como uma estrutura com traços verticais feitos a caneta, semelhantes aos que classicamente surgem nos filmes em que o prisioneiro conta os dias de clausura, não me pareceu particularmente imaginativo. A vaidade de Don Giovanni é dada por uma constante e excessiva troca de indumentaria do protagonista. No trio “Ah taci, ingiusto core”, não assistimos à tradicional e sempre jocosa imitação de Don Giovanni por Leporello. A cena da refeição antes da chegada do Comendador faz passar uma quantidade diversa de pratos altamente elaborados pela mesa, com simulação de ingesta por Don Giovanni, sem que haja tempo para uma refeição completa, torna a cena demasiado irreal. Em resumo, penso que as encenações devem trazer algo de novo e imaginativo quando pretendem não ser clássicas. Assim, teria sido preferível uma encenação tradicional e procurando apostar em alguns pormenores de representação, que também falharam, e que são aqueles que conseguem elevar obras como o Don Giovanni à excelência que são.





Peter Mattei foi o eterno sedutor. Tem a voz perfeita para o papel e como a imagino para a personagem. Irrepreensível na sua prestação vocal. Contudo, não posso dizer que tenha sentido o Don Giovanni egoísta, altivo e sem respeito por ninguém. Faltaram as nuances vocais que por exemplo Johannes Weisser faz na gravação de Rene Jacobs. No “Non ti fidar, o mísera”, além de Barenboim ter colocado o andamento demasiado lento, Mattei pareceu demasiado apático e métrico na interpretação. Disse “È pazza, amici miei” como quem lê uma lista de compras, em vez de ter a atitude esperada de disfarce e relativizar o que Elvira acusa. Com uma Elvira altamente expressiva, destoou por completo alguns momentos mais à frente quando diz “Zitto, zitto, che la gente. Si raduna a noi d'intorno, Siate un poco più prudente, Vi farete criticar”. Muito longe da minha referência…





Bryn Terfel confirma que é um artista completo. Vocalmente em forma, muito expressivo corporalmente. Mas não conseguiu ser claramente evidente em todas as passagens cómicas da personagem. Estas são, sem dúvida, a cereja no topo do bolo desta personagem – conseguir ser cómico e não parecer foleiro é difícil. Esperava outra luz de Terfel neste campo.




Anna Netrebko esteve sublime! A voz inunda a sala de modo envolvente e doce. Canta em força e com sentimento, chegando a emocionar-se verdadeiramente no final das árias. Uma das melhores presenças em palco, sem dúvida.



Barbara Frittoli está fantástica! Perdeu uns quilinhos e, na maturidade da idade, revelou-se uma Donna Elvira muito expressiva quer vocal quer corporalmente. Vive os dramas da personagem com uma mestria inigualável e a voz está em excelente momento.



Giuseppe Filianoti foi muito lírico, cristalino, embora na maior parte das intervenções, com pouca expressividade facial.



Kwangchul Youn é o Comendador perfeito. Voz grave e ressonante é o que se pede à personagem, principalmente no final, e ele consegui-lo de forma perfeita.




Anna Prohaska
supreendeu-me muito pela positiva, com uma voz bastante bonita.

Stefan Kocan foi uma Masseto eficaz.



A condução de Daniel Barenboim foi bastante boa, exceptuando o já referido “Non ti fidar, o mísera” que achei muito lento.








Este elenco, na encenação do Met deste ano, e com alguns pormenores teatro-vocais melhorados seria um Don de referência, capaz de tocar qualquer um. Assim, é “só” e “apenas” mais uma boa produção desta ópera…






DON GIOVANNI - Teatro alla Scala, Milan - Opening of the Season - December 7, 2011 (broadcast TV channel ARTE)







The opening of the Scala season is always a great musical and social event (although less important for us in this field ...). Mozart fell to inaugurate it this year and, for that was named the Don Giovanni, with an all-star cast.





Unfortunately we can not attend live but ARTE enabled us to watch this production yesterday and today I bring you my overall impression.







The staging by Robert Carsen does not bring anything new, nor press for innovation or scenic interest. The use of references to the structure of the Scala with reflexes or constituting the scenario is not new and has been seen in other opera productions. The place of the list of achievements of Don Giovanni as a structure with vertical strokes made by pen, similar to that classically appearance in films in which the prisoner counts the days of closure, did not seem particularly imaginative. The vanity of Don Giovanni is given by a constant and excessive exchange of clothes by the protagonist. In the trio "Ah Taci, ingiusto core" I did not see the traditional and always humorous imitation of Leporello in Don Giovanni. The scene of the meal before the arrival of the Commendatore passes a diverse number of dishes of high cuisine, with simulated intake by Don Giovanni, with no time for a full meal, the scene becomes too unreal.






In summary, I think that the scenarios should bring something new and imaginative when they wish not to be classic. Thus, it would have been preferable a traditional staging and try to ameliorate some details of representation, which also failed, and those are the ones who can raise works like Don Giovanni to the excellence they are.






Peter Mattei was the eternal charmer. His voice is perfect for the role and how I imagine the character. Faultless in his vocal delivery. However, I can not say that he make me feel the Don Giovanni who is selfish, arrogant and lacking respect for anyone. He did not give the vocal nuances like Johannes Weisser does in the Rene Jacobs recording, and which I find helpfull in giving that superficial look of Don. In "Non ti fidar, o misera", and Barenboim was very slow here, Mattei seemed too apathetic and with a metric interpretation. He said, "È pazza, amici miei" as those who read a shopping list, instead of having the attitude expected of disguise and relativize what Elvira accuses. Elvira with a highly expressive, fully jars a few moments later when he says "“Zitto, zitto, che la gente. Si raduna a noi d'intorno, Siate un poco più prudente, Vi farete criticar”. Too far from my reference ...








Bryn Terfel confirms that he is a complete artist. Vocally in shape, very expressive. But he could not be clearly evident in all passages of comic character. These are undoubtedly the icing on the cake of this character – to manage to be humourous and not to look tacky is difficult. I expected another light from Terfel in this field.




Anna Netrebko was sublime! The voice fills the room in an engaging and sweet way. She sings in strength but with feeling, the emotion is true at the end of the arias. One of the best stage presence, no doubt.


Barbara Frittoli is fantastic! Lost a few pounds, and in the maturity of age, proved to be a very vocal and bodily expressive Donna Elvira. She lives the drama of this character with an unparalleled mastery of the voice.





Giuseppe Filianotti was very lyrical, crystalline, although most of the interventions, with little facial expression.Kwangchul Youn was a perfect Commnedatore. A resonant bass voice is what is required for this character, especially at the end, and he got it in a perfect way.







Kwangchul Youn was a perfect Commnedatore. A resonant bass voice is what is required for this character, especially at the end, and he got it in a perfect way.








Anna Prohaska surprised me very positively, with a very beautiful voice.



Stefan Kocan was an effective Masseto.







Daniel Barenboim conduction was pretty good, except for the aforementioned "Non ti fidar, o misera" which I found in a very slow pace.









This cast, the sets from this year’s Met production, and some enhanced theatric and vocal details would mader this a refence Don Giovanni. This way it is "only" and "just" a good production of this opera...

5 comentários:

  1. Também assisti a esta transmissão e concordo com a maioria do que o wagner_fanatic escreveu, nomeadamente no que à encenação e direcção musical respeita.

    Foi uma noite de glória para as cantoras: Anna Netrebko avassaladora como sempre, Barbara Frittoli excelente e Anna Prohaska também ao mais alto nível.

    Já nos homens a coisa foi diferente. Peter Mattei, vocalmente muito bem, foi um Don Juan excessivamente "bem comportado e asséptico". Bryn Terfel interpretou a personagem que mais gosto - Leoporello - mas achei que não esteve no seu melhor, sobretudo no registo mais grave que por vezes não se ouvia. Giuseppe Fillianoti, sempre em esforço, muito tenso, foi lírico mas apático. Stefan Kocan esteve muito bem e Kwangchul Youn também.

    Foi mais um bom espectáculo de ópera, sobretudo à conta das senhoras e, de entre elas, Anna Netrebko!

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  2. Mozart está na moda por aqui, isso, é claro, sem nunca ter deixado de estar aonde merecia! Me refiro a novos ouvintes que atualizam e perpetuam a grandiosidade do músico. A crônica, como sempre, de primeira!
    Um abraço do Brasil

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  3. Remarkable. With age und (more) weight Netrebko's voice's become even richer and more graceful.

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  4. Always nice, to read your reviews!!
    Greetings from Gent,Willy

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  5. I have been to La Scala only once. I wish I could see Don Giovanni there.

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