O Festival de Salzburgo, que este ano celebra 90 anos de existência, incluiu no seu programa a conhecida ópera de Charles Gounod, Roméo et Juliette, baseada na obra homónima de William Shakespeare.
O elenco era verdadeiramente promissor, com destaque para a cantora da moda - Anna Netrebko - como Juliette.
A récita teve lugar na peculiar Felsenreitschule. A encenação foi muito interessante e enquadrou-se perfeitamente nas arcadas da sala, que rodeiam o palco, e que foram incluídas no cenário. O guarda-roupa era esplêndido.
A entrada em cena de Anna Netrebko ocorreu pouco depois do início do primeiro acto. A cantora entrou em passo de corrida, transmitindo jovialidade, inocência e alegria. E foi precisamente neste acto que Anna Netrebko teve um dos seus melhores momentos, com a conhecida ária "Je veux vivre". Netrebko cantou a ária rodopiando e dançando no palco, tendo sido, de facto, brilhante. Conseguiu transmitir uma enorme alegria de viver. São seguramente as suas qualidades de presença em palco, beleza feminina e jovialidade, aliadas a um bom uso que faz da sua voz redonda e cheia, que justificam toda a atenção que, ao longo dos últimos anos os media lhe têm dado e toda a popularidade que Anna Netrebko tem tido a nível mundial.
A seu lado, esteve um Roméo muito bem desempenhado pelo tenor polaco Piotr Beczala. O cantor, que fez a sua primeira aparição no Festival de Salzburgo em 1997, tem desenvolvido uma carreira internacional fulgurante. Detentor duma voz vigorosa e metálica, consegue entusiasmar o público facilmente. Na ária "Ah! Lève-toi, Soleil!" o tenor demonstrou claramente as suas qualidades vocais, entoando-a com linhas longas, projectando a voz com brilho e entusiasmo. A difícil nota aguda final foi intensa, longa e cheia. O público aplaudiu intensamente.
Ao longo de toda a ópera, Netrebko e Beczala conseguiram transmitir em toda a sua actuação a jovialidade e a paixão que as personagens requerem. Os restantes cantores, bem como o coro da Wiener Staatsoper que os acompanhou foram excelentes. Saliento, contudo, o barítono canadiano Russell Braun, que desempenhou muito bem o papel de Mercutio (amigo de Roméo).
O jovem maestro canadiano Yannick Nézet-Séguin, conduziu admiravelmente a Mozarteumorchester de Salzburgo.
Apesar de ser "a cantora da moda", tenho muita pena de não ter podido assistir a esta representação ao vivo. Anna Netrebko, sempre que entra em palco, transporta-nos para outra dimensão, o que poucos cantores da actualidade conseguem fazer. E Piotr Beczala também é, na minha opinião, um dos melhores da actualidade.
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