Já tive oportunidade de assistir a várias produções de Zeffirelli no Met e tenho dificuldade em eleger a melhor! Apesar de serem encenações já de há duas ou três décadas, é com pena que vejo que Peter Gelb (actual “manager” do Met) as está a substituir progressivamente por outras de menor qualidade (a nova Tosca deste ano, de Luc Bondy, que substituiu a de Zeffirelli, foi um escândalo colossal, segundo o que li e, sobretudo, o que ouvi lá). Mas, felizmente, ainda se pode assistir a esta Bohème. Toda a encenação é excelente mas a pujança do 2º Acto no Café Momus no Quartier Latin e a eficácia do 3º Acto na Barrière d’Enfer são de cortar a respiração.
Mimi foi Anna Netrebko. Que poderei mais escrever em relação a esta fabulosa cantora? Está cada vez melhor, a voz de soprano é de uma beleza única, os agudos são estratosféricos e arrepiantes, dá-nos sempre umas interpretações fabulosas e quando a ouvimos passamos para outra dimensão. Penso que, vocalmente, não há melhor na actualidade e, pelo que ouvi nas gravações das antigas, será uma das melhores de sempre.
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Piotr Beczala foi um Rodolfo à altura e, mais uma vez, mostrou que é um tenor seguro, de invulgar beleza tímbrica, voz grande e consistente em todos os registos, particularmente notável nos agudos. E, em palco, está cada vez melhor! É, sem dúvida, um dos melhores tenores da actualidade.
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Nicole Cabell foi uma Musetta de qualidade mas, face aos restantes, não brilhou tanto. Marcello foi Gerald Finley, Colline foi Sheyang e Schaunard foi Massimo Cavalletti. Todos estiveram bem, com particular destaque para Gerald Finley
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(Algumas fotografias apresentadas são de Andrea Mohin / The New York Times)
Esta récita foi um daqueles espectáculos mágicos que sempre ansiamos mas, poucas vezes, vivemos. Felizmente foi isso que aconteceu!*****
O PÚBLICO NO MET
Um comentário em relação ao público americano que é, de facto, muito especial. Tem uma impulsão para o apluso fácil e aplude tudo, desde o divinal ao banal. Aplaude intensamente os cantores mais conhecidos quando entram em palco, mesmo antes de cantarem (repetindo os aplausos no final de cada aria), aplaude a abertura do pano (presumo que será para os cenários que, de facto, são frequentemente excelentes) mas, infelizmente, aplaude também quando pensa que o final se aproxima, sem deixar ouvir a música até ao fim e também sem deixar ouvir os cantores em algumas das notas mais marcantes – chocante!
Seguramente que, entre todos os presentes, haverá conhecedores, mas ficam diluídos no meio dos aplausos da maioria que deverá ser constituida por espectadores ocasionais. Contudo, durante as récitas, comportam-se bem, não falam e, com sorte, não se apanham umas velhinhas a desembrulhar rebuçados nos momentos mais impróprios. Nos intervalos, metem conversa frequentemente e são de uma cordialidade e simpatia invulgares, sendo raros os snobs, tão frequentes noutras paragens.
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