sexta-feira, 14 de março de 2014

IL TROVATORE, Theatro Municipal de São Paulo

IL TROVATORE NO MUNICIPAL DE SÃO PAULO COM O SOPRANO HUI HE. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE DO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
  


   Quando debutei na ópera em tempos pretéritos o fabuloso Municipal tinha muitas récitas com público minguado. Cansei de ver apresentações com cem ou no máximo duzentos gatos pingados. Fico jubiloso ao entrar no nobre teatro paulistano e encontrar, em uma noite de terça-feira do dia 11 de Março, a casa abarrotada. Sinal que os espetáculos de ópera incutem cada vez mais pessoas. Público juvenil ao mais senil mostra interesse na nobre arte e lota as belas cadeiras amadeiradas.

   A apresentação teve o mesmo padrão cênico da estreia com um bardo diferente. O soprano Hui He apresentou voz potente, com pequenos contratempos nos agudos compensados com médios e graves excelentes. Depositaria de uma técnica esmerada conseguiu imprimir classe a protagonista Leonora com uma atuação aforada.

   A Orquestra Sinfônica Municipal regida por John Neschling mostrou equilíbrio dos naipes, uma ou outra derrapada sempre acontece e é passível de compreensão devido a sonoridade complexa da obra. Musicalidade verdiana de grande venustidade. A utilização de um órgão eletrônico destoa do compreensível, a casa possuí um órgão de inaudita qualidade e por motivos não explicados ele não foi empregado. O Coral Paulistano mostrou qualidade vocal esmerada, os naipes masculinos destacaram-se pela precisão nas entradas e pelo equilíbrio nas notas.

   Detalhe final: ovações efusivas se ouvem ao final da récita de um público embevecido e a cortina não se abre. Os solistas recebem os apupos derradeiros assim mesmo, o regente John Neschling vem receber sua quota e se exibe com uma barba grisalha e um paleto garboso, com asserção o mais janota da noite.


Ali Hassan Ayache

quinta-feira, 13 de março de 2014

IL TROVATORE, Theatro Municipal de São Paulo, Março de 2014

IL TROVATORE ABRE A TEMPORADA 2014 DE ÓPERAS DO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE DO BLOG DE ÓPERA E BALLET

O Theatro Municipal de São Paulo abriu a temporada de óperas 2014 no último dia 08 de Março com Il Trovatore de Giuseppe Verdi, título esse que possuí características ímpares na ópera Verdiana. Começando pelo libreto: História maluca, cheia de reviravoltas e absurdos onde boa parte da ação se passa antes de subir a cortina. A violência do texto e a falta de coesão estão presentes em toda a ópera, consegue ser mais confuso que a ópera  L'Africaine de Meyerbeer. Desfilam uma cigana, cavaleiros apaixonados, morte por engano, assassinato de criança, guerras e sangue por todo lado. Tudo sem nexo que beira ao absurdo.
Il Trovatore segue em cartaz nos teatros líricos devido à música de Verdi, essa sim um absurdo de criatividade. Cenas com impacto dramático de alto nível onde são exploradas a valsa e a mazurca com melodias expressivas. Árias extensas, duetos carregados de emoção e cenas corais tem música arrebatadora. Verdi vence o obstáculo de um libreto fraco e pífio compondo música da mais alta qualidade, melodias que penetram como uma flecha na alma dos espectadores.
 A produção do Theatro Municipal de São Paulo mostrou acertos na escolha dos solistas e algumas derrapadas. Os cenários de Sergio Tramonti são interessantes, trazem dois blocos que se movem em uma única direção e caracterizam bem algumas cenas, após o terceiro ato ficam demasiadamente repetitivos e entediantes. A luz de Pasquali Mari deixou tudo na penumbra, uma escuridão condizente com o enredo, embora algumas cenas pudessem ter melhor tratamento. A opção pelo monocromático da luz amarela soa repetitiva demais e sem criatividade. Os figurinos de Alessandro Ciammarughi optam pelo tradicional e mostram uma Espanha de antigamente.
A direção de Andrea de Rosa oscila entre momentos interessantes e alguns absurdos. Utiliza os cenários de forma criativa explorando todo o espaço cênico. Os personagens são caracterizados para mostrar as mazelas e torturas que sofrem por amor e o desejo de vingança. Teatro e canto se unem para tocar o espectador. A ideia de colocar uma fogueira estilizada no centro do palco é uma bela sacada, nela a história começa e termina. Fazer Manrico morrer queimado e de pé soa tão absurda como o libreto, se está no inferno que abrace o capeta. 

Susanna Branchini, foto Internet

Vocalmente os solistas se mostraram de excelente nível, comecemos com a Leonora de Susanna Branchini, soprano detentora de bela voz lírico-spinto com agudos sólidos, projeção vocal enorme, daquelas que enchem o teatro e interpretação cênica convincente. Sua Leonora esbanja vigor e densidade vocal, mostra uma interpretação moderna da personagem, teatro e canto unidos em uma inesquecível interpretação. Stuart Neill esteve no Municipal em 2013 cantando Radames da ópera Aida de Verdi, fez um Manrico com belos agudos, tenor de voz pouco extensa compensa isso com agudos brilhantes e uma boa sustentação das notas. Interpretação cênica fraca, seu personagem se mostra sem emoção e consistência. 
Alberto Gazale mostrou bons graves com seu Il Conte de Luna, abusou deles em termos de força e vigor. Sua voz se mostra sempre consistente colocando credibilidade no personagem. Aliado a uma boa interpretação cênica fez com que seu personagem fosse sempre regular ao longo de toda a apresentação. 
A dona da noite, a rainha da cocada foi o mezzo-soprano Marianne Cornetti, a mulher arrebentou como Azucena, sobraram graves extensos e uma vocalidade de timbre impressionante. Voz escura, densa, arrebatadora e consistente em todos os registros que sobrevoam a orquestra e chegam limpos à plateia. Interpretação cênica louvável de uma grande atriz, Marianne Cornetti conhece a fundo sua personagem e a interpreta com segurança e convicção. Um grande achado essa mezzo-soprano. 

 Stuart Neill,foto Internet
Destaque o mezzo-soprano Ana Lucia Benedetti, em sua pequena participação mostrou boa musicalidade com agudos coloridos e um fraseado correto. Fez uma Inez de bom nível cênica e vocalmente, cantora que entende a importância de fazer papéis menores e se dedica a eles com afinco, quero muito vê-la cantando personagens de maior expressão.
Correta, mas correta mesmo a cobrança de R$ 5,00 pelo programa completo. Antes distribuído gratuitamente não era devidamente valorizado pelos espectadores e muitos o descartavam nas lixeiras do centro. Cobrando ele passa a ser valorizado e só quem se interessa em tê-lo paga. Quem não compra recebe um programa menor e bem mais simples.

sexta-feira, 7 de março de 2014

LA SONNAMBULA, Liceu, Barcelona, Fevereiro de 2014 / February 2014


(review in english below)
(www.facebook.com/fanaticos.opera)

 Mais uma vez assisti a La Sonnambula de V. Bellini, na encenação de Marco Arturo Marelli, desinteressante e já muito vista, passada num hotel / estância de inverno. O enredo pode ler-se aqui.



 Embora a orquestra tenha tido um bom desempenho, o maestro Daniel Oren não foi empolgante, impôs um tempo frequentemente "empastelado" e, com frequência, não deu a primazia aos cantores. O coro esteve em grande forma.


 A primeira nota de grande louvor vai para a Amina do soprano italiano Patrizia Ciofi. A cantora tem uma presença em palco impecável e com enorme sentido dramático, para além de uma boa figura, apesar de já não ser a jovem noiva que retrata. A voz tem uma invulgar musicalidade e, embora no registo grave ser menos sólida, no médio foi excelente e brilhou nos agudos, apesar de serem alcançados aparentemente em esforço, mas sempre lá. Acima de tudo, o que mais me impressionou foi a entrega total da cantora à personagem e a verdade com que a interpretou. Fantástica!




 Juan Diego Florez já adquiriu o estatuto de estrela planetária no firmamento operático há muito e, aqui em Barcelona, é particularmente apreciado, com toda a justiça, diria eu. São precisas décadas para surgir um cantor com as qualidades vocais de Florez para a interpretação belcantista. Tem uma musicalidade imaculada, o canto é de uma elegância única e o resultado final é fabuloso. Já tive o privilégio de o ver ao vivo várias vezes (como está registado neste blogue), até comoElvino. Nunca cancelou uma récita das que assisti e também nunca me desiludiu nas interpretações que presenciei. Continua a ser, para mim, um dos muito poucos cantores no activo que proporcionam interpretações que ilustram que a ópera é a mais fascinante expressão artística e que, nos dias de hoje, se conseguem viver momentos de prazer tão únicos como os melhores de que há registo discográfico. Apesar de ser Elvino, personagem idiota que encarna nesta ópera, encanta-nos em cada uma das suas intervenções.




 A Lisa do soprano italiano Eleanora Buratto foi óptima. A cantora tem uma voz cheia, bonita e projectou-a com mestria. A interpretação cénica foi outra mais valia que não deixou ninguém indiferente. Estou certo que a ouviremos cada vez mais vezes em papéis solistas, dada a qualidade que revelou.


 O baixo barítono italiano Nicola Ulivieri foi o elo menos forte como conde Rodolfo. A voz é agradável e esteve sempre bem nas diversas intervenções, mas vi vários outros condes mais expressivos.


 Nos papéis secundários a mezzo Gemma Coma-Alabert, apesar de ter tido um ataque de tosse em pleno segundo acto, esteve bem como Teresa. Também cumpriram sem destoar Àlex Sanmartí como Alessio e Jordi Casanova como notário.




 Mas a noite foi de Patrizia Ciofi, de Juan Diego Florez e de todos os que assistiram a esta Sonnambula inesquecível no Liceu de Barcelona!






*****

La Sonnambula, Liceu, Barcelona, February 2014

I had the chance to see again La Sonnambula by V. Bellini, in Marco Arturo Marelli’s unattractive staging, in a winter hotel / resort. The plot can be read here.

Although the orchestra performed well, conductor Daniel Oren was not exciting, often imposing a "jammed" time and often not giving primacy to singers.
The choir was excellent.

The first note of high praise goes Italian soprano Patrizia Ciofi’s Amina. The singer has a immaculate stage performance and a huge dramatic power, in addition to a nice figure, although no longer the young bride being portrayed. The voice has an unusual musicality and although in the lower register she was less solid, the medium register was excellent and she was fantastic in the top notes, although apparently achieved in effort, but always in tune. Above all , what impressed me most was that Ciofi gave everything she has to her interpretation of the character. Fabulous!


Juan Diego Florez has long acquired the status of a planetary star in the operatic world, and here in Barcelona he
​​is particularly appreciated. I totally agree. We have to wait decades for a singer with the vocal belcanto qualities do Florez to appear.Has has an immaculate musicality, his singing has a unique elegance and the final result is fabulous. I've had the privilege of seeing him live several times (as is recorded in this blog), including asElvino. He never cancelled a performance that I attended and he also never disappointed me in the performances that I witnessed. For me he remains one of the very few singers still singing which provide performances that illustrate that opera is the most fascinating artistic expression and that in present days, we can live moments of pleasure as unique as the best that have been recorded so far. Despite being Elvino, an idiot character of this opera, he delighted us in each of his interventions.

Italian soprano Eleanora Buratto was great Lisa.She has a powerful, beautiful voice and she projected it masterfully. The artistic performance was another asset that left no one indifferent. I am sure we will hear her more often in soloist roles, given the qualities revealed.

Italian bass baritone Nicola Ulivieri was the weaker link as Count Rodolfo. The voice is pleasant and he was always well, but I have seen saw several other more exciting counts.

In secondary roles, mezzo soprano Gemma Coma-Alabert, despite having a coughing fit in the middle of the second act, was fine as Teresa. Also very well were Àlex Sanmartí as Alessio and Jordi Casanova as the notary.

But the night was of Patrizia Ciofi, Juan Diego Florez, and all who attended this unforgettable Sonnambula at the Liceu in Barcelona!

*****

quinta-feira, 6 de março de 2014

Siga o nosso blog no Facebook / Follow our blog at Facebook


Caros bloggers, a partir de agora poderão seguir o nosso/vosso blog Fanáticos da Ópera no Facebook.

Dear Bloggers, from now on you could follow our/your blog Opera Fantics at Facebook.



Bastará ir a:
You only have to go to:


e clicar no botão "Seguir".
and click on the button "Follow".


Obrigado e esperamos que possam continuar a desfrutar do mundo da ópera.
Thanks and we all expect you could continue enjoying opera world.


domingo, 2 de março de 2014

O PRÍNCIPE IGOR, MetLive, Março de 2014 / Prince Igor, MetLive March 2014

(review in english below)

 O Príncipe Igor é uma ópera de Alexander Borodin que a New York Metropolitan Opera estreou esta temporada.
 Igor, um príncipe russo na cidade de Putivl, junta o seu exército para atacar os polovetsianos. É derrotado e, juntamente com o filho Vladimir, é feito prisioneiro. Galitsky, irmão de Yaroslavna, mulher de Igor, tenta ser eleito novo príncipe. Vladimir apaixona-se por Konchakova, a filha do Khan Konchak, líder dos polovestianos, que procura no seu prisioneiro um aliado potencial, desde que este prometa que não volta a pegar em armas contra os polovestianos. Igor recusa e foge para a sua cidade. Putvil é atacada e cai. Igor regressa à cidade em ruínas mas, ainda assim, é aclamado pelo povo.

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)

A encenação e cenografia de Dmitri Tcherniakov é vistosa e a acção é transportada para o início do Sec XX. A parte mais original surge no final do primeiro acto, após a derrota militar de Igor. Aparece num campo com mais de 12000 papoilas, onde vive ou imagina o que se passou e o que poderá acontecer. A acção é apoiada por curtas imagens filmadas a preto e branco. Os actos seguintes são convencionais, com a cidade cercada, depois destruída e, finalmente, com o início da reconstrução.

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)


A direcção musical foi da responsabilidade do maestro italiano Gianandrea Noseda.
O Coro da Metropolitan Opera esteve omnipresente e sempre muito bem.

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)

O príncipe Igor foi o baixo-barítono russo Ildar Abdrazakov. Foi o melhor da tarde, aliando as suas excelentes qualidades vocais a uma interpretação cénica exemplar da personagem atormentada que o encenador lhe atribuiu.

Todos os restantes solistas ofereceram-nos interpretações de grande qualidade. Mikhail Petrenko, baixo russo, como príncipe Galitsky, irmão de Yaroslava, Sergey Semishkur, tenor russo, como Vladimir, filho de Igor, Oksana Dyka, soprano ucraniano (timbre algo metálico) como Yaroslava, mulher de Igor, Anita Rachvelishvili, mezzo georgiana, como Konchakovna, filha de Konchak e, Stefan Kocan, baixo eslovaco, como Konchak.

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)

(fotografias de Cory Weaver / Metropolitan Opera)

****


PRINCE IGOR , MetLive , March 2014

Prince Igor is an opera by Alexander Borodin, a new production of the New York Metropolitan Opera this season .

Igor, a Russian prince in the city of Putivl, joins his army to attack the polovetsians .He is defeated and  together with his son Vladimir is made prisoner. Galitsky, Yaroslava´s brother (Yaroslava is the Igor’s wife), attempts to be elected new prince. Vladimir falls in love for Konchakova, the daughter of Khan Konchak, leader of polovestians, that looks at his prisoner as a potential ally, since he promise him that he will not fight again against the polovestians. Igor refuses, and runs away to his city. Putvil is attacked and falls. Igor returns to the city in ruins but is still acclaimed by the people.

The staging and set design by  Dmitri Tcherniakov are fine and the action is transported to the beginning of the twentieth century . The most unique part comes at the end of the first act, after the military defeat of Igor. He appears in a field with more than 12,000 poppies, where he lives or imagines what happened and what might happen. The action is supported by short film segments in black and white. The following acts are conventional, with the siege city destroyed and, finally, the beginning of reconstruction.

Musical direction was the responsibility of the Italian conductor Gianandrea Noseda.


The Chorus of the Metropolitan Opera was omnipresent and always excellent.

Prince Igor was the Russian bass-baritone Ildar Abdrazakov. He was the best singer of the performance, combining his excellent vocal qualities to a perfect artistic interpretation of the tormented character that the director assigned him .

All other soloists offered us performances of great quality. Mikhail Petrenko, Russian bass, as Prince Galitsky, Yaroslava´s brother, Sergey Semishkur, Russian tenor, as Vladimir, son of Igor, Oksana Dyka, Ukrainian soprano (sometimes with metallic timbre) as Yaroslava, wife of Igor, Anita Rachvelishvili, Georgian mezzo, as Konchakovna, daughter of Konchak, and Stefan Kocan, Slovak bass as Konchak.

****

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Dido e Eneias (Purcell) e muito mais, Fundação Gulbenkian, Fevereiro de 2014 / Dido and Eneias (Purcell) and something else, Gulbenkian Foundation, February 2014

(review in english below)

Sob a direcção do maestro grego Teodor Currentzis, a Orquestra e Coro de câmara do teatro de ópera e ballet Tchaikovsky de Perm, MusicAeterna, apresentaram na Fundação Gulbenkian duas obras, Dixit Dominus HWV232 de Georg Friedrich Händel e Dido e Eneias de Henry Purcell.


 O salmo Dixit Dominus integra partes corais muito expressivas alternadas com árias, emprestando à obra uma beleza assinalável.
Dido e Eneias é, para mim, a melhor ópera inglesa, rica em intervenções corais, recitativos e árias. Aqui interpretada em versão concerto, é uma obra de grande intensidade emocional que culmina com uma pungente representação da dor e sofrimento na ária final, o lamento de Dido, When I am laid in earth. Desta famosa e sublime página, Victoria de los Angeles e Janet Baker, entre outras, deixaram-nos interpretações insuperáveis.

Teodor Currentzis apresenta-se com uma figura sui generis: vestido de negro, cabelo cortado e penteado à dread, calças justas e botas. A sua direcção é (excessivamente?) enérgica e ruidosa, faz muito barulho com os tacões das botas no solo. Mas, com o desenrolar do concerto, esquece-se esse aspecto desagradável, tal o impacto que a sua direcção causa. Disse que a sua missão é ser fiel ao que o compositor escreveu e trazer a vida real à música. Fá-lo de forma impecável e o seu misticismo é impressionante ou, direi melhor, arrepiante.


 MusicAeterna, orquestra e coro por si criados, permitiram que pudéssemos apreciar as qualidades de excepção do maestro. Se a interpretação musical com instrumentos da época e músicos excepcionais foi fantástica, o coro foi sublime em harmonia, expressividade, intensidade dramática e sincronismo. Parecia a uma só voz. 


 Os solistas não destoaram. O soprano alemão Anna Prohaska esteve muito bem como rainha Dido e num dos encores.


 Tobias Brendt, barítono alemão, foi o príncipe troiano Eneias e também esteve à altura.


 Belinda, irmã de Dido, foi fabulosamente cantada pelo soprano grego Eleni StamellouA feiticeira foi Maria Forsström, mezzo sueco que não destoou e, nos papéis secundários, estiveram o soprano grego Eleni Lydia Stamellou como 1ª bruxa, o mezzo russo Daria Telyatnikova como 2ª bruxa, o baixo russo Victor Shapovalov como marinheiro e o soprano russo Valeria Safonova como espírito.

Terminado o concerto, o melhor ainda viria nos encores (estou a ser injusto para com o final da Dido e Eneias): um primeiro que não identifiquei, interpretado apenas pelo coro, com mão de Peter Sellars, ao que percebi. Foi avassalador, tanto na interpretação cénica como, sobretudo, na vocal. Inesquecível!

A terminar, um extracto da “The Indian Queen” de Purcell, também primorosamente interpretada por todos, orquestra, coro e solistas. Já muitos tinham saído do auditório. Terão perdido o melhor da noite…

O esplendor do barroco na Gulbenkian!
Foi um dos concertos do ano e será difícil assistir a melhor!

*****


Dixit Dominus (Handel) , Dido and Aeneas (Purcell) and more, Gulbenkian Foundation, February 2014

Under the direction of Greek conductor Teodor Currentzis, the chamber orchestra and choir of Perm theater opera and ballet Tchaikovsky, MusicAeterna, presented two pieces at the Gulbenkian Foundation, Dixit Dominus HWV232 by Georg Friedrich Händel and Dido and Aeneas Henry Purcell.

Dixit Dominus integrates very expressive choral sections alternate with arias,making
the work of a remarkable beauty.
Dido and Aeneas is, for me, the best English opera, rich in corals, recitatives and arias. Here interpreted in concert version, it is a work of great emotional intensity that culminates in a poignant representation of pain and suffering in the final aria, Dido 's lament, When I am laid in earth .Of this famous and sublime musical page, Victoria de los Angeles and Janet Baker, among others, left us unsurpassed interpretations .

Teodor Currentzis apppeared in a sui generis figure: dressed in black, hair cut and style to dread, tight trouses and boots. His direction was (in excess ?) energetic and noisy, making a lot of noise with the heels of his boots on the ground. But with the course of the concert , we forgot this unpleasant noise such the impact that his direction imposed. He said before that his mission is to be true to what the composer wrote and bring real life to music.He does so flawlessly and his mystic is awesome.

MusicAeterna ,orchestra and chorus created by him, allowed that we could appreciate the exceptional qualities of the conductor. If the musical performance with old instruments and exceptional musicians was fantastic, the chorus was in sublime harmony, expressiveness, and dramatic intensity. They
seemed to sing with only one voice .

The soloists were at high level. German soprano Anna Prohaska was very convincing as Queen Dido. Tobias Brendt, German baritone, was the Trojan prince Aeneas and also rose to the challenge. Belinda  Dido 's sister, was fabulously sung by the Greek soprano Eleni Stamellou. Secondary roles included the witch that was Swedish mezzo Maria Forsström, Greek soprano Eleni Lydia Stamellou was the 1st witch,  Russian mezzo Daria Telyatnikova was 2nd Witch, Russian bass Victor Shapovalov was a sailor, and Russian soprano Valeria Safonova was a spirit.

After the concert, the best was yet to come in the encores (I'm being unfair to the end of Dido and Aeneas) : a first (not identified by me), interpreted only by the choir  with Peter Sellars arrangement . It was overwhelming, both in the scenic interpretation as, specially, vocal interpretation. Unforgettable!

Finally , an extract from "The Indian Quee " by Purcell, also beautifully played by everyone, orchestra, choir and soloists . Many mmebers of the audience had already left the auditorium. They have lost the best of the night ...

The baroque splendor at Gulbenkian!
It was one of the concerts of the year and it will be hard to watch much better!


*****

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

RUSALKA de ANTONÍN DVORÁK, MET Live in HD, Culturgest, 09.02.2014


Rusalka, ópera em 3 actos, foi composta em 1901 por Antonín Dvorák. O libreto em checo é de Jaroslav Kvapil e baseia-se no conto de Kabel Jaromír Erben e Bozena Nemcová.

Pode ler-se uma sinopse no site do Metropolitan.


A encenação de Otto Schenk é clássica, de enorme beleza, cheia de pormenores sumptuosos, não falta nenhum elemento do texto que segue na perfeição, é muito agradável de seguir e transporta-nos para o mundo paralelo do fantástico. As caracterizações de Tritão, pai de Rusalka, e de Jezibaba são fabulosas. De uma perfeição absoluta e de grande impacto visual!


A interpretação de Yannick Nézet-Séguin aos comandos da New York Metropolitan Opera Orchestra foi óptima. Explorou as sonoridades mais dramáticas de forma intensa e colorida e as mais líricas de modo leve e etéreo. Em grande nível!


Renée Fleming era a estrela da tarde no seu aclamado papel de Rusalka. É verdade que a sua interpretação foi de qualidade, com excelente expressividade e desempenho dramático, os agudos saíram fáceis e a voz é melodiosa e tem a extrema beleza que lhe conhecemos. Ainda assim, já se ouviu em melhor nível neste papel.


A mais famosa ária da Canção à Lua cantou-a muito bem do cimo da árvore.


John Relyea foi um Vodník, o Tritão pai de Rusalka, com voz de baixo cheia, enorme potência, com modulações fáceis e com uma assinalável agilidade cénica. Grande performance.


Dolora Jajick, apesar de nas entrevistas estar com uma tosse que justificou com o frio de NYC, foi uma Jezibaba impecável. O tom escuro da sua voz é lindíssimo e a sua expressividade ímpar. Tudo isto aliado a capacidades interpretativas fora de série permitem-lhe que seja indiscutivelmente um dos melhores mezzo-sopranos da actualidade. Isto apesar da sua actualidade ter mais de 25 anos no MET!


O tenor polaco Piotr Beczala foi o Príncipe. Teve uma interpretação imaculada, tirando um agudo que lhe saiu um nadinha mais agreste e um pianissimi que não arrancou logo quando cantava já quase morto e deitado. Voz de beleza invulgar, potência avassaladora, figura extremamente adequada e enormes capacidades expressivas. É, para mim, talvez o melhor tenor da actualidade nos papéis que tem vindo a cantar. Em grande forma!


Emily Magee foi a Princesa estrangeira. Tem muita potência vocal, timbre delicado e cenicamente é convincente. Teve uma interpretação de grande qualidade. Poderemos ouvi-la ao vivo no dia 25 de Abril na Fundação Gulbenkian a cantar o espectacular conjunto de canções que Richard Strauss compôs aos 84 anos — Vier letzte Lieder — com base em poemas de Hermann Hesse e Joseph von Eichendorff. A fazer crescer água na boca até porque vai ser acompanhada pela Gustav Mahler Jundenorchester dirigida pelo jovem e magnífico maestro alemão David Afkham.


Os restantes elementos, Disella Làrusdóttir (primeira ninfa), Renée Tatum (segunda ninfa), Maya Lahyani (terceira ninfa), Alexey Lavrov (Caçador) e Julie Boulianne (rapaz da cozinha) tiveram todos em bom nível vocal e cénico.

Assistiu-se, pois, a uma récita de elevadíssima qualidade de todos os intervenientes potenciando a qualidade musical da partitura do grande compositor checo.

-------
(Review in English)

Rusalka, opera in 3 acts, was composed in 1901 by Antonín Dvorák. It has a Czech libretto by Jaroslav Kvapil and is based on the tale of Jaromír Erben and Kabel Bozena Nemcova.

You can read a synopsis of the Metropolitan website.

The staging of Otto Schenk is classic, of great beauty, full of sumptuous details, not missing element of the text that follows perfectly, is very pleasant to follow and takes us to the parallel world of the fantastic. The characterizations of Triton, Rusalka's father, and Jezibaba are fabulous. Of absolute perfection and great visual impact!

The interpretation of Yannick Nézet-Séguin conducting the New York Metropolitan Opera Orchestra was great. He explored the most intense and dramatic sounds with colorful fashion and the most lyrical with full of light and ethereal mystic. What an outstanding performance!

Renée Fleming was the star of the afternoon in her acclaimed role of Rusalka. It is true that her interpretation was of quality, with great expressiveness and dramatic performance, with high notes easily achieved and with a voice of extreme beauty that we all know. Still, we had heard her at better level in this role. She sang the most famous aria of the Song to the Moon very well from the top of the tree.

John Relyea was Vodník, Triton Rusalka’s father, with an exclellent bass voice, huge power with easy modulation and a remarkable scenic agility. Great performance.

Dolora Jajick, despite in the interviews being with cough that she justified witj the cold of NYC, was a flawless Jezibaba. The dark tone of her voice is beautiful and she has a unique expressiveness. All this combined with interpretative capabilities out of range allow her to be arguably one of the best mezzo-sopranos of our time. This despite her “our time” has over 25 years in the MET!

The Polish tenor Piotr Beczala was Prince. He had an immaculate interpretation, despite a little more rugged sharp high note and one pianissimo not plucked right but when he sang almost dead and lying on the stage ground. Voice of unusual beauty, overwhelming power, extremely appropriate figure and huge expressive capabilities. He is, for me, perhaps the greatest tenor of our time in the roles he has been singing lately. In great shape!

Emily Magee was the foreign princess. She has a lot of vocal power, delicate timbre and is scenically compelling. She had an interpretation of great quality. We can hear her live on April 25 at the Gulbenkian Foundation to sing the spectacular set of songs that Richard Strauss composed when he was 84 old based on poems by Hermann Hesse and Joseph von Eichendorff. Making mouthwatering up because Gustav Mahler Jundenorchester directed by the young and magnificent German conductor David Afkham will accompany her.

The remaining elements, Disella Lárusdóttir (First Nymph), Renée Tatum (second Nymph), Maya Lahyani (third Nymph), Alexey Lavrov (Hunter) and Julie Boulianne (kitchen boy) were all in good level vocal and scenically.


Therefore, it was performance of the highest quality for all stakeholders enhancing the quality of the musical score of the great Czech composer.