segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

TANNHÄUSER – Royal Opera, Londres, Dezembro de 2010


(review in English below)

Tannhäuser é uma ópera com libretto e música de Richard Wagner. De entre as suas primeiras obras é, musicalmente, a mais rica e sofisticada. No centro do enredo estão os torneios poéticos trovadorescos medievais, muito do agrado do compositor. Grande parte da obra wagneriana está imbuída da redenção pelo amor, tema dominante nesta ópera, apesar de a sua magnitude ultrapassar largamente o confronto entre o amor carnal (simbolizado por Vénus) e o espiritual (por Elisabeth).


A belíssima abertura da ópera é, talvez, a primeira grande página sinfónica do compositor e inclui os temas principais da ópera com valor simbólico. Os Leitmotive virão a ser uma marca indelével nas partituras de Wagner.

Tannhäuser, um trovador, está no Venusberg. Foi seduzido por Vénus mas decide regressar a Turingia pois está cansado dos prazeres carnais. Em Wartburg, castelo de Herrmann, reencontra Elisabeth, que o ama há muito e por quem se apaixonou profundamente. Num concurso poético sobre a essência do amor Wolfram, outro trovador amigo de Tannhäuser que ama secretamente Elisabeth, canta as virtudes do amor casto. Para escândalo geral, Tannhäuser elogia o amor físico em detrimento do espiritual e canta um hino a Vénus. É salvo da fúria de toda a corte por Elisabeth mas Herrmann obriga-o a ir a Roma espiar o seu pecado. Os peregrinos regressam sem Tannhäuser e Elisabeth, observada por Wolfram, reza desesperadamente à Virgem para a deixar morrer e, com a sua morte, salvá-lo. Wolfram pede à estrela da noite para guiar Elisabeth ao céu. Tannhäuser finalmente regressa sem o perdão papal e tenta desesperadamente voltar para Venusberg. No entanto, ao constatar que Elisabeth morreu para o salvar, comove-se até à morte. A confirmação do perdão surge quando o báculo papal floresce.

Nesta nova produção da Royal Opera House de Londres a direcção musical foi do maestro russo Semyon Bychkov que esteve à altura da partitura de Wagner. A Orquestra da Royal Opera foi, mais uma vez, excepcional, merecendo especial destaque os metais, nas cordas os violoncelos e, sobretudo, as harpas, que têm um papel fulcral na obra e foram tocadas de forma imaculada. O Coro da Royal Opera (ou melhor, os Coros, dado que houve um segundo, como reforço) foram sublimes e proporcionaram-nos alguns dos momentos mais imponentes do espectáculo, ora pela intensidade dramática, ora pela interpretação etérea que nos transportava para uma dimensão celestial. De arrepiar!



A encenação de Tim Albery foi excessivamente austera e pouco eficaz. Começou bem, com a visão por Tannhäuser de Elisabeth. O Venusberg é representado pelo palco da Royal Opera House. Foi uma Royal Opera dentro da Royal Opera (ideia interessante). A orgia inicial é dançada por seis casais de bailarinos que, com uma longa mesa como adereço, saltam sobre ela e à sua volta, abraçam-se intensamente à medida que se vão despindo, aumentam freneticamente a intensidade da execução, concretizando no final a relação sexual (com a decência esperada para um teatro como este). A movimentação em palco é vertiginosa mas perturba a audição da abertura da partitura.


Entra Vénus em cena, vestida de negro, numa cama de lençóis de cetim brancos e este é o único adereço, para além de uma cadeira onde Tannhäuser se senta durante grande parte da récita. Quando abandona o Venusberg surge uma criança sentada à sombra de uma árvore e depois os trovadores amigos de Tannhäuser, no palco totalmente vazio.
O 2º acto abre com o palco da Royal Opera em ruínas e toda a acção se passa aí. Quando entra o coro, os homens vêm armados de metralhadoras e as mulheres com velas nas mãos, que acendem e colocam juntas no chão.
Finalmente no 3º acto o palco está ainda mais vazio, só restando algumas das peças do teatro mais degradadas pelo tempo. O florescer final do báculo é representado pelo plantar de uma pequena árvore plástica por uma criança.
Enfim, uma encenação pouco clara, muito despida e ineficaz. Um caso em que não se perde nada em fechar os olhos, para só apreciar a música.


O heldentenor sul-africano Johan Botha foi um Tannhäuser com uma voz de potência insuperável mas, nem por isso, menos agradável ao ouvido. Esteve sempre afinado e manteve a qualidade e consistência no registo mais agudo. Foi marcante quando elogiou a beleza de Vénus (Dir, töne Lob), mas no segundo acto, durante o concurso, foi verdadeiramente arrasador. Já o ouvi várias vezes e, nunca falha! Cenicamente um desastre, mas outra coisa não seria de esperar, dada a sua obesidade.

Vénus foi interpretada pelo mezzo-soprano alemão Michaela Suster. Presença libidinosa e com boa movimentação cénica, a voz é respeitável, bem audível, à altura da personagem.


A soprano holandesa Eva-Maria Westbroek fez uma Elisabeth muito credível. Brilhou no início do 2º acto com Dich, teure Halle mostrando um soprano potente, seguro, mas ocasionalmente, em esforço, som metálico. No entanto, no 3º acto, quando pede à Virgem que a deixe morrer por Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) atinge uma qualidade interpretativa superior. Cenicamente esteve sempre bem.

Para mim a grande surpresa da noite foi Wolfram, interpretado pelo barítono alemão Christian Gerhaher. Só posso qualificar a sua interpretação com uma palavra – comovente! O timbre é claro, suave, doce e de beleza inigualável. E, ao contrário dos restantes, nunca cantou em esforço mas, apesar de ter sido a voz menos potente, ouviu-se cada palavra do que cantou. Verdadeiramente assombroso! Protagonizou os momentos mais belos da récita, entre eles, no 2º acto, o concurso de canto (juntamente com Botha, Robinson e a orquestra com as suas imaculadas harpistas) e, principalmente, no 3º acto, o canto à estrela da noite (O du, mein holder Abendstern) que foi de uma sensibilidade arrepiante. Só ele teria valido a récita.


Notável foi também o menino pastor no início do 2º quadro do primeiro acto, Alexander Lee.

Tiveram ainda boas prestações o baixo alemão Christof Fischesser como Herrmann e os trovadores Walther (tenor inglês Timothy Robinson), Heinrich (tenor americano Steven Ebel). Biterolf (baixo inglês Clive Bayley) e Reinmar (baixo inglês Jeremy White).

Mais uma noite de glória vocal em Covent Garden!





*****


Tannhäuser - Royal Opera, London, December 2010

Tannhäuser is an opera with libretto and music by Richard Wagner. It is, musically, the richest and the most sophisticated of his early works. In the center of the plot are the medieval tournaments of troubadour poetry, much to the appreciation of the composer. Much of the work is imbued with Wagnerian redemption by love, a dominant theme in this opera, although its magnitude goes well beyond the conflict between carnal love (symbolized by Venus) and spiritual love (Elisabeth).

The beautiful overture of the opera is perhaps the first great symphonic page of the composer and includes the main themes of the opera with symbolic value. The Leitmotive will become a permanent mark in the scores of Wagner.

Tannhäuser, a troubadour, is in Venusberg. He was seduced by Venus but decided to return to Turingia because he is tired of carnal pleasures. In Herrmann’s Wartburg Castle he finds Elisabeth, who loves him deeply for a long time. In a poetic contest about the essence of love Wolfram, another troubadour friend of Tannhäuser, who secretly loves Elisabeth, sings the virtues of chaste love. For general scandal, Tannhäuser praises physical love at the expense of spiritual love and sings a hymn to Venus. He is saved from the fury of the whole people by Elisabeth, but Herrmann forces him to go to Rome to expiate his sin. The pilgrims return from Rome without Tannhäuser and Elisabeth, observed by Wolfram, desperately prays to the Virgin to let her die, and with her death, save Tannhäuser. Wolfram asks the evening star to guide Elisabeth to heaven. Tannhäuser finally returns without papal forgiveness and tries desperately to get Venusberg. However, finding that Elizabeth died to save him, he was moved to death. Confirmation of forgiveness comes when the Pope’s staff flourishes.

In this new production at the Royal Opera House in London the musical direction was of Russian conductor Semyon Bychkov that made justice to the score of Wagner. The Orchestra of the Royal Opera was once again outstanding, with special mention to the metals, among the strings the cellos and, especially, the harps, which play a central role in the work and were played immaculately. The Choir of the Royal Opera (or rather the choirs, since there was a second one, as reinforcement) were sublime and provided us with some of the most impressive moments of the performance, sometimes by the dramatic intensity, sometimes by the ethereal interpretation that transported us into a heavenly dimension. Creepy!

The staging of Tim Albery was harsh and ineffective. It started well, with the vision of Elisabeth by Tannhäuser. The Venusberg was represented by the Royal Opera House stage. It was a Royal Opera inside the Royal Opera (interesting idea). The initial orgy is danced by six pairs of dancers who, with a long table as an adornment, jump on it and around it, hugging each other intensely while stripping. They increase the intensity of running frantically, culminating with sex (with the decency expected in a theater like this). The movement on stage was dizzying but disturbed the hearing of the overture.
Venus enters dressed in black, on a bed of white satin sheets and this is the only adornment, in addition to a chair where Tannhäuser sits for much of the performance. When he leaves Venusberg, a child arises sitting in the shade of a tree. The troubadours, friends of Tannhäuser, appear in a totally empty stage.
Act 2 opens with the stage of Royal Opera in ruins and all the action happens there. When the choir enters, men come with machine guns and women with candles. They are lighted up and put together on the floor.
Finally in 3rd act the stage is even more empty, leaving only some parts of the theater, more degraded by time. The final flourish of the Pope’s staff is represented by the planting of a small plastic tree by a child.
In summary, an unclear, very empty and inefficient staging. A case in which nothing is lost if we close our eyes and just enjoy the music.

South African heldentenor Johan Botha was a Tannhäuser with a voice of unsurpassed power and very pleasant to hear. He was always tuned and maintained vocal quality and consistency in top notes. He was impressive when he praised the beauty of Venus (Dir, töne Lob), but in the second act, during the song contest, he was truly fantastic. I've heard him several times and he never fails! Artistically he was a disaster, but nothing else could be expected, given his obesity.

Venus has been interpreted by German mezzo-soprano Michaela Suster. She was libidinous on stage and the voice was impressive and could be clearly heard at all registers.

Dutch soprano Eva-Maria Westbroek was a very credible Elisabeth. She was brilliant at the beginning of Act 2 with Dich, teure Halle showing a powerful intense soprano, but occasionally on effort, metallic sound. However, in 3rd act, when she asks the Virgin to let her die for Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) she reached a superior quality of interpretation. Artistically she has always been good.

For me the big surprise of the night was Wolfram, sung by German baritone Christian Gerhaher. I can describe his interpretation with one only word - moving! The tone is light, soft, sweet and of unparallel beauty. And unlike the others, he never sang in effort. Despite showing a less powerful voice, we could hear every word that he sang. Truly amazing! He sang the most beautiful moments of the performance including, in act 2, the singing contest (along with Botha, Robinson and the orchestra with its celestial harps), and especially in 3rd act, singing to the evening star (O du mein holder Abendstern). This was sung with a peerless sensitivity and emotion.
Only to listen to him, it would have been worth the performance.

Alexander Lee was notable as the shepherd boy at the beginning of the 2nd part of first act.
Also good performances were heard from German bass Christof Fischesser as Herrmann, and the troubadours Walther (English tenor Timothy Robinson), Heinrich (American tenor Steven Ebel), Biterolf (English bass Clive Bayley) and Reinmar (English bass Jeremy White).

One more night of vocal glory at Covent Garden!

*****

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DIE WALKÜRE – Teatro alla Scala, Milão, Dezembro de 2010


(review in english below)

Pela primeira vez neste blogue escrevo um comentário sobre uma ópera a que assisti na televisão. Trata-se de uma récita da Valquíria, de Richard Wagner, que foi transmitida em directo do Teatro Scala de Milão no dia 7 de Dezembro, data da estreia desta nova produção. Farei uma apreciação limitada pela observação televisiva. Incluirei umas fotografias de muito má qualidade, obtidas directamente da televisão.
Sou um admirador confesso da obra de Wagner mas, como há neste blogue um grande especialista no assunto, habitualmente não escrevo directamente sobre as suas óperas, apenas as comento. Mas não será o caso este mês, por duas vezes (Valquíria e Tannhäuser), dado que tanto eu como o wagner_fanatic assistiremos às duas óperas (embora, no meu caso, a Valquíria tenha sido nas condições que referi, por isso, duas realidades não comparáveis. O Tannhäuser será visto ao vivo por ambos, em récitas diferentes e o wagner_fanatic também verá esta Valquíria ao vivo). Consideramos que a dimensão das obras é compatível com duas apreciações distintas.

Antes do início do espectáculo Daniel Barenboim dirigiu-se ao Presidente da República Italiana, presente na sala, expressando a profunda preocupação de todos os artistas e restantes trabalhadores dos teatros italianos pelo futuro da cultura em Itália e leu o Artigo 9º da constituição italiana que afirma que a República promove o desenvolvimento da cultura e da investigação científica e técnica e defende o património artístico e paisagístico. Recebeu uma enorme ovação.

A ópera teve encenação do belga Guy Cassiers e foi dirigida por Daniel Barenboim. A encenação pareceu-me muito má e sem ideias (mas na televisão não se consegue apreciar devidamente). A orquestra foi suberba, sob a batuta do maestro Daniel Barenboim, um dos melhores a dirigir Wagner.

O elenco de solistas era verdadeiramente impressionante embora considere que as verdadeiras heroínas foram as senhoras.

Siegmund foi interpretado pelo tenor neozelandês Simon O’Neill. Tem um timbre claro, a voz não é muito grande, mas cumpre o papel, embora no registo mais agudo se torne excessivamente nasalada. Artisticamente não foi brilhante e achei que foi quebrando vocalmente ao longo da récita, aspecto particularmente notório no diálogo no 2º acto com Brünnhilde, que foi quase todo em esforço. Faltou o tenor heróico que esperamos em Siegmund.


O mezzosoprano alemão Waltraud Meier foi Siegliende. Assombrosa! A voz esteve sempre perfeita, timbre belíssimo, afinação imaculada e potência adequada a um papel wagneriano principal. Cenicamente foi a melhor, a expressão das diferentes emoções foi notável e, no segundo acto, deu-nos uma das interpretações mais marcantes da personagem. Ao contrário de O’Neill, foi crescendo ao longo do espectáculo.



O baixo britânico John Tomlinson foi um Hunding sólido, mas já se lhe nota algum desgaste vocal.


Wotan foi interpretado pelo baixo barítono ucraniano Vitalij Kowaljow. No início pareceu-me menos seguro, mas também cresceu ao longo da récita e no 3º acto foi muito bem. Não mostrou capacidades artísticas. Contudo, a voz, apesar de agradável, era pouco escura (pouco “à baixo”) para a personagem.


O mezzosoprano russo Ekaterina Gubanova foi uma Fricka excelente. Tem um vozeirão, de grande beleza, facilmente audível sobre uma orquestra wagneriana, sem perda de qualidade em fortissimi.


Finalmente, dos solistas principais, outra grande cantora wagneriana que muito aprecio – Nina Stemme, soprano sueco, que foi uma Brünnhilde sólida e convincente tanto cénica como vocalmente. A voz é enorme, capaz de coloridos sofisticados e nuances de bom gosto, não perdendo qualidade em qualquer registo nem com o decorrer da récita. No 3º acto deu-nos uma interpretação comovente. É o melhor soprano dramático wagneriano no activo.




Um espectáculo a não perder que, se percebi bem, voltará a ser transmitido no Mezzo nos dias 28 (às 19h30) e 31 (às 10h45) de Dezembro.
****

DIE WALKÜRE - Teatro alla Scala, Milan, December 2010

For the first time on this blog I write a comment about an opera that I watched on TV. This is the case of Valkyrie by Richard Wagner, which was broadcast live from the Teatro La Scala in Milan on Dec. 7, the debut of this new production. I will write a text conditioned by the limitations on television. I will include some photographs of poor quality, obtained directly from the TV screen.

I am an admirer of Wagner's work, but as in this blog there is a contributor who is a great expert on the subject, I usually do not write directly about Wagner’s operas, I only comment them. But it is not the  case twice this month (Tannhäuser and Valkyrie), since both wagner_fanatic and I will see the two operas (although in my case only Tannhäuser in the opera house, while wagner_fanatic will see both live!). We consider that the dimension of Wagner’s operas worth two different reviews in this blog.

Before the start of the performance, Daniel Barenboim addressed the President of Italy, present in the theater, expressing deep concern of all the artists and workers of Italian theaters for the future of culture in Italy, and read the Article 9 of the Italian Constitution which states that the Republic promotes the development of culture and scientific and technical research and defends the artistic heritage and landscape. He received a huge ovation.

The opera was staged by Belgian director Guy Cassiers and was conducted by Daniel Barenboim. The staging seemed very bad and without any interesting idea. (but on television you can not fully appreciate it). The orchestra was superb under the direction of Daniel Barenboim, one of the best conductors of Wagner operas.

The cast of soloists was truly impressive although I feel that the real heroes were the ladies.

Siegmund was interpreted by the New Zealand tenor Simon O'Neill. He has a clear tone, the voice is not very big but he sung the role in an acceptable way. However, in the top register, the voice is excessively “nasal”.. Artistically he was not brilliant and I thought he was breaking vocally throughout the performance, something particularly noticeable in the dialogue in Act 2 with Brünnhilde, who was sung in effort. The heroic tenor that we expect to see as Sigmund was not there.

German mezzo-soprano Waltraud Meier was Siegliende. Amazing! The voice was always perfect, beautiful tone, immaculate pitch and adequate power to a major wagnerian role. Artistically she was the best, with noticeable expression of the different emotions. In the second act, she gave us one of the most striking interpretations of the Siegliende. Unlike O'Neill, she improved throughout the performance.

British bass John Tomlinson was a correct Hunding, but his voice sounds “tired”.

Wotan was interpreted by Ukrainian bass baritone Vitalij Kowaljow. At first he seemed less secure, but he also improved over the performance and in the 3rd act he was ok. He did not show artistic qualities. However, his voice, though pleasant, was never dark enough for Wotan.

Russian mezzo-soprano Ekaterina Gubanova was an excellent Fricka. She has a powerful voice of great beauty, and she is easily audible over a wagnerian orchestra without loss of quality in fortissimi.

Finally, among the main soloists, another great wagnerian singer that I much appreciate - Nina Stemme, Swedish soprano, who was a solid and convincing Brünnhilde both vocally and artistically. The voice is huge but capable of sophisticated colors and fine nuances, without losing quality in any registration or in the course of the performance. In 3rd act she gave us a touching interpretation. She is the best performing wagnerian dramatic soprano of our days.

A performance not to be missed and that will be broadcasted again by Mezzo TV on the 28th  (19:30) and 31th (at 10.45) December.

****

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ANDREA CHÉNIER – Kungliga Operan, Estocolmo, Novembro de 2010

(review in english below)

Andrea Chénier é uma bela ópera de Umberto Giordano pertencente ao verismo musical italiano, com libretto de Luigi Illica.


Retrata o período da Revolução Francesa, suas esperanças e horrores. Numa festa no castelo da família, a jovem aristocrata Maddalena de Coigny, filha da condessa, é presenteada com um poema pelo generoso poeta Andrea Chénier, que defende a liberdade, amor e poesia. O mordomo Gérard queixa-se do luxo em que a família vive e demite-se. Em Paris começa a revolução mas os convidados ignoram-no. Anos mais tarde, o antigo mordomo, agora um revolucionário que quer vingar-se da opressão e injustiça, luta com Chénier por Maddalena, por quem estão ambos apaixonados. Gérard, contudo, avisa o poeta que é procurado como contra-revolucionário. Num tribunal revolucionário Chénier é condenado e Gérard é obrigado a assinar a condenação. Maddalena oferece-se em troca da vida de Chénier e comove Gérard quando relata a crueldade do povo francês no terror da revolução, ao assistir à morte da sua mãe, queimada viva. Aceita o amor de Chénier e são ambos condenados à morte pela guilhotina.

A encenação de Dmitri Bertman foi excelente. Uma ideia aparentemente simples, um quadro gigante ao qual se arranca a tela e toda a acção se passa à frente e atrás da moldura, que vai mudando de posição. O efeito cénico é brilhante.
O quadro que abre a cena é uma reprodução de um dos célebres retratos nús de Marie-Louise O’Murphy, pelo pintor francês François Boucher.
Marie-Louise O’Murphy, por François Boucher (Museu Wallraf-Richartz, Colónia)


Marie-Louise O’Murphy, por François Boucher (Museu do Louvre, Paris)



O maestro Pier Giorgio Morandi dirigiu superiormente a Orquestra da Ópera Real de Estocolmo que teve uma prestação de elevado nível. A orquestração da obra é brilhante e colorida e a orquestra conseguiu dar-nos tudo isso com invulgar qualidade.


Nesta ópera outro protagonista importante é o povo francês (representado pelo coro) com um papel decisivo na evolução dos acontecimentos revolucionários. O Coro da Ópera Real de Estocolmo esteve afinadíssimo, sempre à altura dos muitos momentos corais de grande efeito.


O tenor Lars Cleveman foi Andrea Chénier. Esteve bem em palco, a voz era forte mas não muito versátil, o timbre agradável mas, em esforço, perdia alguma qualidade. Nos duetos com Maddalena houve alguns desencontros. Mas, ainda assim, foi muito credível.

O soprano Angela Rotondo, em substituição de Katarina Dalayman (o que foi uma pena), foi uma Maddalena de Coigny pouco dada a representações cénicas mas com pretenções vocais. Na primeira parte e no registo médio cantou bem, mas nos agudos tendia para a estridência. Na belíssima aria La mamma morta esteve muito bem no princípio mas no final, onde a exigência é maior, optou por não dizer algumas palavras para ganhar fôlego para gritar outras. (Ter Maria Callas como referência para esta ária é impiedoso para as outras cantoras!). Foi pena esta opção na ária mais importante da personagem. Aliás, notei na cantora uma necessidade de emitir notas agudas finais sonoras que, frequentemente, eram mais gritadas que cantadas. Como já referi, teve desacertos com o tenor, mas admito que o tempo para ensaios não tenha abundado, dado ter sido uma substituta de última hora.

O barítono Ola Eliasson foi Gérard e, no que respeita aos solistas, foi o melhor. A voz era poderosa, de notável beleza, não desafinava nem gritava e era muito expressiva, sobretudo nos momentos mais dramáticos.


(parte das fotografias são do programa da Ópera Real de Estocolmo)

Os restantes solistas com papeis mais pequenos estiveram bem, merecendo referência a condessa de Coigny / Madelon, cantada pelo excelente mezzo Marianne Eklöf.

Foi um prazer inesperado rever esta ópera de que tanto gosto e que já não via há alguns anos.



****




ANDREA CHÉNIER - Kungliga Operan, Stockholm, November 2010


Andrea Chénier is an excellent opera by Umberto Giordano with libretto by Luigi Illica belonging to the Italian verismo period.

It is based on the period of the French Revolution, their hopes and horrors. At a party at the family castle, the young lady Maddalena de Coigny, daughter of the countess, is presented with a poem by the generous poet Andrea Chénier, who likes freedom, love and poetry. Gerard, the butler, complains of the luxury in which the family lives and resigns. The revolution begins in Paris but the guests ignore it. Years later, the butler, now a revolutionary who wants revenge for the oppression and injustice, fights with Chénier for Maddalena. Gerard, however, warns the poet that he is chased as a counterrevolutionary. In a revolutionary court, Chénier is sentenced to death and Gerard is required to sign the condemnation. Maddalena offers herself in exchange for the life of Chénier and Gerard is moved when she describes the cruelty of the French people in the terror of the revolution, while watching her mother's death, burned alive. She accepts the love of Chenier and both are sentenced to death.

The production by Dmitri Bertman was excellent. A seemingly simple idea, a giant painting of which the frame remains on stage, often changing position, and all the action takes place ahead and behind it.The scenic effects are brilliant. The painting that opens the scene is a reproduction of one of the famous nude portrait of Marie-Louise O'Murphy by French painter Francois Boucher.

Conductor Pier Giorgio Morandi directed the Orchestra of the Royal Opera of Stockholm which had a high quality performance. The orchestration of the work is bright and colorful and the orchestra managed to give us all that with quality.

Another important protagonist in this opera is the French people (represented by the choir), with a decisive role in the evolution of revolutionary events.The Choir of the Royal Opera of Stockholm was superb, always up to the many moments of great choral effect.

Tenor Lars Cleveman was Andrea Chenier. He had a good performance on stage, his voice was strong but not very versatile, the timbre pleasant but, in effort, losing some quality. In the duets with Maddalena there were some disencounters.

Soprano Angela Rotondo, replacing Katarina Dalayman (which was a pity), was Maddalena de Coigny. She was not a good dramatic actress but she had vocal credits. In her first interventions she was ok but in the high notes she tended to scream. On the beautiful aria La mamma morta she did very well at first but, in the end, where the demand is higher, she has chosen not to sing some words to get breath to scream others. (To have Maria Callas as a reference for this aria is merciless to the other singers!). It was a pity that this option was chosen for the most important aria of her character. Furthermore, I noticed in her an intention to deliver the final high top notes sound, which often became more shouted than sung.

Gérard was played by baritone Ola Eliasson and he was the best of the soloists, His voice was powerful, of great beauty, not detuning nor screaming, and he was very expressive, especially in the most dramatic moments.

The other soloists in smaller roles had good performances. Countess of Coigny / Madelon, sung by Marianne Eklöf deserves a special mention as she was an excellent mezzo on stage.

It was an unexpected pleasure for me to review this opera that I like so much and that I had not seen for years.

****

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

La Giuditta – Oratória de Francisco António de Almeida (c1702 – 1755)



(review in english below)

Editada pela primeira vez há 18 anos pela editora Harmonia Mundi, a oratória La Giuditta de Francisco António de Almeida, sob a direcção de René Jacobs (grande responsável pelo seu ressuscitar) regressa agora, após período em que esteve esgotada, às estantes da FNAC em reedição exclusiva para Portugal.

O compositor é, por certo, desconhecido para muitos dos melómanos nacionais e internacionais. No fundo se reflete o que se passa, de um modo geral, com a composição musical nacional. A ideia de que muito existe mas que não é interpretado e gravado é certa e isso impede que enaltecemos o que é nacional que, em muitos casos, está ao nível do melhor que foi feito pela Europa fora nos últimos séculos. É isso que acontece com esta obra de Francisco António de Almeida.

A biografia de Francisco António de Almeida é pouco conhecida. Pensa-se que terá nascido em 1702 e que o terramoto de 1755 em Lisboa tenha posto fim à sua existência, bem como a um bom leque das suas obras. Foi um dos poucos a serem enviados pelo Rei D. João V para Roma para estudar a música italiana (1722-1726); chegou a ser organista da Sé Patriacal, foi professor de príncipes e provavelmente terá sucedido a Domenico Scarlatti como Mestre da Capela Real quando este partiu para Madrid.



A oratória La Giuditta é realmente uma obra de alto nível da história da música portuguesa.

A Introdução transporta-nos claramente para a sonoridade barroca. Facilmente diríamos que seria uma obra de Haendel mas existe, ao mesmo tempo, algo que a torna individual e diferente. Segundo historiadores, Francisco António de Almeida provavelmente nunca terá ouvido música de Haendel mas ambos passaram por Roma no primeiro quartel do século XVIII e as influências foram as mesmas. Organizada em 2 partes, desenvolve-se em sequências de recitativo – ária. Os dois primeiros conjuntos de recitativo – ária lembra muito uma sonoridade Vivaldiana (cordas, ritmo rápido...) e aquele sentimento de singularidade perde-se um pouco.

Mas, é na ária “Tortorella”, interpretada pela personagem Ozia (faixa 6 – CD1), que paramos e pensamos: “Eh lá! Isto foi escrito por um português?!”. Sublime a forma como a linha melódica de grande inspiração nos transporta para um Barroco de 5 estrelas. O sentimento torna-se mais forte ainda com a ária “Pallida e scolorita” pela personagem Achiorre (faixa 10 – CD1) e se ainda não estamos rendidos à capacidade deste compositor, ficamos com o dueto “Vanne adio” (faixa 14 – CD1), entre Ozia e Giuditta. Fiquei com a sensação de que as árias são tendencialmente mais longas do que as de Haendel, por exemplo, mas não deixam de ter uma magia similar. Sinceramente não me preocupei muito com a história e um dos pontos negativos do CD é até o facto do libreto vir apenas em italiano.

Se há 18 anos esta gravação fez furor e elegeu Francisco António de Almeida como o “Handel português”, esperemos que esta reedição traga de novo esse furor mas que compare este compositor português com um só compositor: Francisco António de Almeida, ele próprio, como grande compositor português na sua individualidade, ao nível de todos os grandes compositores do Barroco.


La Giuditta - Oratorium by Francisco António de Almeida (c1702 - 1755)




Francisco António de Almeida’s Oratorio La Giuditta was recorded for the first time 18 years ago by René Jacobs (Harmonia Mundi), the biggest responsible for its ressurection. Sold-out for a lond time, it returns now as a exclusive edition for Portugal, and is for sale at the FNAC stores.

The composer is, of course, unknown to many of the national and international music lovers. This reflects what keeps on happening with the national musical composition. The idea that there is a lot of works who are not performed nor recorded is right and this prevents us to listen to, probably, a lot of great compositions, with the same level of quality seen on other european composers.

We know very little about Francisco Antonio de Almeida. It is believed to have been born in 1702 and the 1755’s earthquake in Lisbon has ended his live and probably led to destruction the vast majority of his works. He was one of the few to be sent by King John V to Rome, to study Italian music (1722-1726); he became organist of the Lisbon Cathedral, was professor of princes and might have succeeded Domenico Scarlatti as Master of the Chapel Royal when this composer went to Madrid.



The Oratorium La Giuditta is really a high-level work in the history of Portuguese music.

The Introduction takes us to an obvious Barroque atmosphere. Easily we could say that this was a work by Handel, but there is something that makes it individual and different. According to historians, Francisco Antonio de Almeida has probably never heard Handel's music but they both moved to Rome in the first quarter of the eighteenth century and the influences were the same. Organized into 2 parts, this Oratorium is developed in sequences of recitative - aria. The first two sets of recitative - aria resembles Vivaldi (too many strings, fast pace ...) and that feeling of uniqueness is lost a little.

But it is in the aria "Tortorella," played by the character Ozia (track 6 - CD1), we stop and think: "Hold on! This was written by a Portuguese?!". It is sublime the great inspiration of the melodic line – a 5 star barroque cenario. The feeling becomes even stronger with the aria "pallida e scolorita" by the character Achiorre (track 10 - CD1). And if we're still not surrendered to the ability of this composer, we get it by the duet "Vanne adio" (track 14 - CD1) between Ozia and Giuditta. I was under the impression that the arias tend to be longer than those of Handel, for example, but not without at least a similar magic. Honestly I payed little attention to the story, and one of the downsides of the CD is to see that the libretto is in Italian only.

If 18 years ago this recording was a triumph and elected Francisco Antonio de Almeida as the “Portuguese Handel”. I hope this reissue brings back the same feeling but comparing this Portuguese composer with one single composer: Francisco Antonio de Almeida himself, unique, as a great Portuguese composer Portuguese, at the same level of all the great composers of his time.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Peter Hofmann (1944 - 2010) - A morte de um Heldentenor rebelde



(english version below)

Faleceu ontem (29 de Novembro), aos 66 anos de idade, o tenor alemão Peter Hofmann.

Um dos grandes tenores Wagnerianos dos anos 70 – 80, começou a sua carreira como muitos outros, através do papel de Tamino na ópera a Flauta Mágica de Mozart, ingressando progressivamente na magia wagneriana.

Conheci Hofmann no seu excelente Siegmund na gravação em DVD do Anel do Nibelungo de Patrice Chéreau, sob a direcção de Pierre Boulez e acompanhado de outros marcos do canto wagneriano como Gwyneth Jones e Donald McIntyre.



Das suas duas gravações de Parsifal destaco, a quem o quiser conhecer ou lembrar, não a de Karajan mas sim a de Levine no Festival de Bayreuth, onde muitas vezes actuou.



Paralelamente à sua carreira de cantor lírico, manteve o seu gosto activo na música rock e em musicais (o Fantasma da Ópera). Um verdadeiro artista multifacetado.

Padecendo de Doença de Parkinson desde 1994, não resistiu a uma pneumonia.

Não tendo tido a oportunidade de o ouvir ao vivo, ficam as memórias sempre renováveis pelos DVDs e CDs.


Peter Hofmann (1944 - 2010) - The death of a rebel Heldentenor


The German tenor Peter Hofmann died yesterday (29th November), at the age of 66.

One of the great Wagnerian tenors of the 70s – 80s, he began his career as many others, through the role of Tamino in Magic Flute opera by Mozart, gradually joining in the Wagner magic world.

I first got acquainted with Hofmann in his excellent Siegmund in DVD recording of Der Ring des Nibelungen by Patrice Chéreau under the direction of Pierre Boulez (the centenial production at Bayreuth). In that production, he joined several other Wagnerian singers of high excelence such as Dame Gwyneth Jones and Sir Donald McKintyre.



Of the two recordings of Parsifal I know I clearly recommend not the Karajan but the Levine one, at the Bayreuth Festival, a place where he performed so many times.



Alongside with his career of opera singer, he remained active in rock music and musicals (Phantom of the Opera). A truly multifaceted artist.

Suffering from Parkinson's disease since 1994, he succumbed to pneumonia.

Not having had the opportunity to listen him live, the memories will always be renewable through DVDs and CDs.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

SERSE – Kungliga Operan, Estocolmo, Novembro de 2010


(review in english below)

Serse, uma ópera de G F Handel com libretto de Bononcini é uma obra não muito conhecida do compositor, embora contenha uma das mais belas árias operáticas alguma vez escritas – Ombra mai fu.



Xerxes (Serce), rei da Pérsia, goza a sombra de uma árvore quando chega o irmão Arsamene, procurando Romilda, por quem estão ambos apaixonados. A noiva do rei, Amastre, é preterida por Romilda, mas esta ama o irmão e recusa sempre Xerxes que, apesar dos seus esforços, não consegue ver o seu amor correspondido. Amastre e Arsamene provocam uma série de situações de intriga para conseguirem levar a bom termo as suas preferências amorosas. No final, Xerxes fica com Amastre, que o ama fielmente. Romilda e Arsamene casam e acabam como um casal feliz, abençoado por Xerxes.

Para além da Ombra mai fu, também conhecido como o Largo de Handel, a ópera tem várias outras árias de interesse, como Piu che penso e Cruda furia de Xerxes, uma notável ária de bravura. Para os apreciadores do barroco, entre os quais me incluo, a obra está muito acima do banal.


A encenação de Daniel Slater trás a acção para o início do Século XX. A ópera abre com a recepção de um hotel e a célebre ária de entrada (Ombra mai fu) tem como árvore alvo uma planta da recepção do hotel. Depois este transforma-se em spa, bar e aeroporto. Uma abordagem moderna com alguma graça, mas não mais que isso.
O maestro foi Andreas Stoehr que dirigiu com elevação a Kungliga Hovkapellet, uma orquestra barroca de qualidade. O Coro da Opera Real de Estocolmo também esteve bem.

As interpretações, todas por cantores desconhecidos para mim, foram de nível muito bom e dominadas por intérpretes femininas. Não houve intervenção de contra-tenores.

O mezzo-soprano Karolina Blixt foi um rei Xerxes de qualidade notável. Voz de grande potência e beleza, com graves possantes e agudos seguros foi a melhor em cena. O papel é muito exigente, está quase sempre em cena e, embora tenha começado com alguma intranquilidade (e o início é logo a ária Ombra mai fu), quando aqueceu cresceu em volume e qualidade.


((parte das fotografias são do programa da Ópera Real de Estocolmo)

Matilda Paulsson, mezzo-soprano, interpretou o irmão Arsamene. Também este globalmente bem, mas a voz era pequena e, nem sempre bem projectada.

Romilda foi interpretada pelo soprano Ida Falk Winland que foi outra grande da noite. Voz potente, timbre claro e bonito, agudos seguros e mantidos caracterizaram a interpretação ao longo da récita.

O mezzo-soprano Katarina Leoson fez a Amastre numa interpretação banal mas agradável, embora com pouca potência vocal.



***



SERSE - Kungliga Operan, Stockholm, November 2010

Serse, an opera of GF Handel with libretto by Bononcini is not one of the best known operas of the composer, although it contains one of the most beautiful operatic arias ever written - Ombra mai fu.

Xerxes (Serce), king of Persia, enjoys the shade of a tree when his brother Arsamene arrives, looking for Romilda. Both are in love with her. The bride of the king, Amastre, is changed by Romilda, but she loves her brother and always refuses Xerxes who, despite his efforts, can not see his love accepted by her. Amastre and Arsamene cause a range of intrigues to be able to reach their loved choices. In the end, Xerxes joins Amastre, who loves him faithfully. Romilda and Arsamene get married and end up as a happy couple, blessed by Xerxes.

Apart from Ombra mai fu, also known as the Largo of Handel, the opera several other arias of interest, such as Piu che penso and Cruda furia by Xerxes, a remarkable bravura aria. For lovers of the Baroque, including myself, the work is far above the banal.

The Staging of Daniel Slater puts the action at the beginning of the twentieth century. The opera opens with the reception of a hotel and the famous first aria from (Ombra mai fu) is dedicated to a plant from the hotel reception. The hotel reception becomes a spa, a bar and an airport. A modern funny setting, but not more than that.

The conductor was Andreas Stoehr who did a very good job with the Kungliga Hovkapellet, a baroque orchestra of quality. The Choir of the Royal Opera of Stockholm was also good.

The soloists, all unknown to me, showed a very good level and were dominated by female singers. There were no counter-tenors in the cast.

Mezzo-soprano Karolina Blixt was a king Xerxes of high quality. The voice had great power and beauty with powerful low range and steady top notes. She was the best on stage. The role is very demanding, she's almost always on stage and, although she started apparently with some discomfort (and the beginning is the aria Ombra mai fu) when she warmed up, the voice grew in volume and quality.

Matilda Paulsson, mezzo-soprano, played Arsamene, the brother. She was also well, although the voice was small and not always with good projection.

Romilda was interpreted by soprano Ida Falk Winland. She was another great singer. Strong voice, clear and beautiful timbre, top notes were strong and steady and characterized the interpretation along the performance.

Mezzo-soprano Katarina Leoson played Amastre in a normal but pleasant interpretation, though without a big vocal power.


***

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

La Traviata, com Edita Gruberova - Hamburgische Staatsoper - 12 de Novembro de 2010






























No dia 12 de Novembro de 2010, a Ópera de Hamburgo recebeu uma das maiores cantoras líricas de todos os tempos - Edita Gruberova - que interpretou, alegadamente pela última vez em versão encenada, o papel de Violetta Valéry em La Traviata, de Giuseppe Verdi.

Como sempre, a presença da Primadonna Assoluta levou a que a casa estivesse esgotada, com inúmeras pessoas no exterior a desesperar por um bilhete. O ambiente era de grande expectativa. E, uma vez mais, a expectativa foi coroada de êxito e o milagre voltou a acontecer: Edita Gruberova revelou ser uma das maiores intérpretes de sempre deste papel, deslumbrando o público que enchia por completo a Hamburgische Staatsoper.

Os cenários eram clássicos e grandiosos. No primeiro acto, Edita surgiu com um vestido de noite branco, na sala de baile. Deslizava com graciosidade sobre o palco, enchendo de champagne os copos dos seus convivas. Enquanto o fazia, sorria e fazia soar as primeiras notas que, com a maior elegância, brotavam da sua voz cristalina.

E foi, precisamente, logo neste primeiro acto, que a Gruberova triunfou ao cantar com um vigor impressionante È strano! ... Ah, fors'è lui. Follie! Follie! ... Sempre libera. O público foi levado ao delírio, perante o desempenho não só vocal, mas também interpretativo, que foi verdadeiramente impressionante.

No segundo acto, Edita transmitiu duma forma absolutamente tocante a dor de Violetta ao aceitar a separação de Alfredo, a pedido de seu pai. As lágrimas brotavam verdadeiramente dos seus olhos enquanto cantava, num pianissimo arrepiante, Ah! Ditte alla giovane.

No terceiro acto, a Gruberova também arrepiou o público enquanto cantava, tombada no solo após a humilhação a que Violeta tinha sido submetida por Alfredo na casa de Flora, Alfredo, Alfredo, di questo core.

Mas o clímax do dramatismo interpretativo, surgiu no quarto e último acto. No final da leitura da carta, a Gruberova exclamou com uma profundidade e uma dor arrepiantes "È tardi", transmitindo um desespero imenso. Seguidamente, Edita Gruberova emitiu os mais supreendentes agudos em pianissimo, na ária Addio del passato. No final desta dificílima ária, houve uma ovação em cena impressionante, de vários minutos, em que o público não cessava de gritar "Brava! Brava!". Edita, reconhecida, inclinou-se em sinal de agradecimento.

Mas a ópera ainda não havia terminado. Seguiram-se duos formidáveis com José Bros (Alfredo). No final, Edita conseguiu comunicar ao público a sensação de que a sua alma principava a elevar-se, antes de tombar inanimada no solo, no momento em que a ópera termina. Notem que, apesar dos seus 64 anos, Edita Gruberova mantém uma capacidade física notável, não se coibindo de toda a gestualidade e actividade física cénica, tal como cantar em posições difíceis, inclinada ou deitada, bem como tombar no solo. Impressionante!

Após uma interminável sucessão de aplausos no final da ópera, em que Edita foi premiada com numerosos ramos de flores que lhe foram atirados pelo público, seguiu-se, no palco, uma homenagem prestada pela Hamburgische Staatsoper. Nesse dia (12 de Novembro), comemoravam-se exactamente 40 anos desde a primeira vez que Edita Gruberova actuou naquele palco. No palco foi colocada uma mesa e um pequeno canapé, no qual Edita se sentou. Atrás de si, estavam de pé todos os cantores. Ao lado de Edita e em pé, estava a maestrina titular da Orquestra Filarmónica de Hamburgo - Simone Young - que proferiu palavras de profundo agradecimento a Edita Gruberova por todos os magníficos momentos que tinha oferecido ao público, naquele palco, ao longo dos últimos quarenta anos. Enumerou os diversos papéis que Edita interpretou naquela casa. Por fim, ofereceu a Edita uma fotografia sua no papel de Zerbinetta (na ópera Ariadne auf Naxos de Richard Strauss), no início dos anos setenta, naquele palco. O público aplaudia de pé, vigorosamente.

Por fim, Edita Gruberova tomou a palavra para agradecer a homenagem e, entre outras palavras simpáticas, para dizer ao público "vamo-nos vendo por aí nos próximos... 40 anos?!". Com um enorme sentido de humor e, ao mesmo tempo, revelando uma energia fantástica, Edita disse assim ao público que pode continuar a contar com a sua presença. O público aplaudiu intensamente e Edita teve ainda de regressar inúmeras vezes ao palco, perante o público que gritava incessantemente pelo seu nome: "Edita!!!"
Ao lado de Edita, estiveram José Bros (Alfredo), Dalibor Jenis (Giorgio Germont) e Renate Spingler (Flora).