quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

PORGY AND BESS, METropolitan Opera, Outubro / October 2019



(review in English below)

Na fachada da Metropolitan Opera, para celebrar o regresso da ópera 30 anos depois, uma pintura do artista Kerry James Marshall.



Porgy and Bess de George Gershwin, com libreto de DuBose e Doroty Heyward e Ira Gershwin passa-se na década de 1920 na costa de Charleston, Carolina do Sul, na localidade (fictícia) de Catfish Row. Numa comunidade de negros, conta a história de um mendigo deficiente físico (Porgy), que tenta conquistar a sua amada (Bess) amante de um homem violento e assassino (Crown), e de um traficante de drogas (Sportin’s Life). Foi uma obra polémica, considerada racista na forma como retrata os negros americanos na época.



A música é muito rica e agradável, com influencias da folk e do jazz, e inclui diversas passagens transformadas posteriormente em canções bem conhecidas como o Summertime, que abre o espectáculo e reaparece posteriormente.



O espectáculo apresentado pela Metropolitan Opera de Nova Iorque é uma co-produção com a English National Opera (já foi comentada no blogue) e a Dutch National Opera. A encenação de James Robinson é excelente. O palco é rotativo e mostra as casas em madeira (e seus interiores) dos habitantes da comunidade piscatória e alguns dos seus modos de vida. A forma como o palco se move, bem como as estruturas sobre ele, permitem várias mudanças de cenário muito eficazes e de belo efeito. O guarda roupa (de Catherine Zuber) é também muito bom e os cantores e actores fazem o resto.





Dirigiu a orquestra o maestro David Robertson.



A Metropolitan Opera levou à cena um conjunto excelente de cantores negros, dada a abundância existente nos Estados Unidos. Começando pelas senhoras:

A soprano Angel Blue foi uma Bess excelente. A voz é de grande beleza, ampla, afinada e a cantora conseguiu transmitir na perfeição as forças e fragilidades da personagem, tanto na interpretação vocal como na cénica.



Latonia Moore (soprano) no papel de Serena teve a interpretação vocal mais fabulosa da noite quando cantou My man’s gone now, sobre o caixão do marido. Uma voz impressionante, cheia de sentimento, de uma potencia avassaladora e sempre afinada desde um registo mais grave até uns agudos arrepiantes. Um dos mais belos lamentos que alguma vez ouvi em ópera.



A Clara da soprano Golda Schultz (a única cantora não americana da noite) foi também espectacular, tem uma voz muito límpida pura e afinada e abre o espectáculo logo ao mais alto nível ao cantar o Summertime para o seu bebé.




A veterana mezzo Denyce Graves fez uma Maria eficaz e bem audível.



Merece um relevo muito particular uma muito jovem cantora, Leah Hawkins que teve uma interpretação muito curta, como vendedora de morangos, mas foi absolutamente extraordinária, com uma voz de uma beleza invulgar, um poderio fantástico e uns pianíssimos de arrepiar. Um nome a acompanhar no futuro.

Passando aos homens, o Porgy foi interpretado superiormente pelo barítono Eric Owens. Tem uma voz poderosa, bonita, sempre bem audível sobre a orquestra. Em palco esteve muito bem na figura de um deficiente.



Também ao mais alto nível esteve o baixo barítono Alfred Walker como Crown, cantando sempre de forma sólida, expressiva e muito credível.



O tenor Frederick Ballentine (Sportin’ Life) cantou de forma irrepreensível e teve uma excelente presença em palco como manipulador da Bess. 



Jake Ryan, marido da Clara, foi interpretado por outro tenor, Ryan Speedo Green, que também esteve em grande forma










Um espectáculo fantástico!

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PORGY AND BESS, METropolitan Opera, October 2019

On the facade of the Metropolitan Opera, to celebrate the return of the opera 30 years later, a painting by artist Kerry James Marshall.

George Gershwin's Porgy and Bess, with libretto by DuBose and Doroty Heyward and Ira Gershwin, takes place in the 1920s off the coast of Charleston, South Carolina, in the (fictional) locality of Catfish Row. In a black community, it tells the story of a physically disabled beggar (Porgy) trying to win over his lover (Bess) from a violent man and murderer (Crown), and a drug dealer (Sportin's Life). It was a controversial work, considered racist in the way it portrays black Americans at the time.

The music is very rich and pleasant, with influences of folk and jazz, and includes several parts later transformed into well-known songs such as Summertime, which opens the opera and reappears later.

The show performed by the Metropolitan Opera of New York is a co-production with the English National Opera (already commented on the blog) and the Dutch National Opera. The production of James Robinson is excellent. The rotating stage shows the wooden houses (and interiors) of the fishing community's inhabitants and some of their ways of life. The way the stage moves, as well as the structures on it, allow for many very effective and beautiful effect changes of scenery. The dresses (by Catherine Zuber) are also very good and the singers and actors do the rest.

The orchestra was conducted by David Robertson.

The Metropolitan Opera has brought to the performance an excellent ensemble of black singers, given their abundance in the United States. Starting with the ladies:

Soprano Angel Blue was an excellent Bess. The voice is of great beauty, wide, tuned and the singer was able to convey perfectly the strengths and weaknesses of the character, both in vocal and stage interpretation.

Latonia Moore (soprano) as Serena had the most fabulous vocal performance of the night when she sang My Man's Gone Now, over her husband's coffin. An impressive voice, full of feelings, of an overwhelming power and always tuned from a lower register to chilling top notes. One of the most beautiful laments I've ever heard in opera.

Clara was soprano Golda Schultz (the only non-American singer of the night) was also spectacular, has a very clear, pure and tuned voice and opens the show to the highest level by singing Summertime to her baby.

Veteran mezzo Denyce Graves was an effective and very audible Maria.

It deserves a very particular prominence a very young singer, Leah Hawkins who had a very short interpretation, as a seller of strawberries, but was absolutely extraordinary, with a voice of unusual beauty, fantastic power and a chilling pianissimi. A name to follow in the future.

Turning to men, Porgy was played superiorly by baritone Eric Owens. He has a powerful, beautiful voice, always very audible over the orchestra. On stage was very well in the figure of a disabled man.

Also at the top level was bass baritone Alfred Walker as Crown, always singing in a solid, expressive and very credible way.

Tenor Frederick Ballentine (Sportin 'Life) sang blamelessly and had an excellent stage presence as a Bess manipulater. Jake Ryan, Clara's husband, was played by another tenor, Ryan Speedo Green, who was also very well.

A fantastic performance!

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1 comentário:

  1. Há a 'Obra ao negr'o, L'Œuvre au noir, de Yourcenar, e há a Ópera ao Negro, que é a Porgy and Bess. E assim bem interpretada é na verdadae uma obra prima moderna, seguindo as convenções musicais clássicas - tonalidade, harmonia e melodia, etc.
    'My man’s gone now' talvez seja o ponto alto, não conheço Latonia Moore mas é bom saber que há um escol de cantores líricos negros; isso é também um sinal do mais saudável que há na cultura americana.

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