sábado, 22 de junho de 2019

A FLAUTA MÁGICA / THE MAGIC FLUTE, English National Opera, Março / March, 2019


(review in English below)

Na English National Opera vi uma das produções mais imaginativas da ópera A Flauta Mágica de Mozart. A encenação de Simon McBurnay é muito simples, multimédia, eficaz, cheia de momentos inovadores e de bom gosto e, sobretudo, original. É um excelente exemplo que atirar dinheiro para as produções operáticas não é condição obrigatória para fazer bons espectáculos.



A acção passa-se na actualidade. Do lado esquerdo do palco vemos serem desenhadas as figuras que são projectadas, muitas delas muito engraçadas, e do lado direito vemos produzir os efeitos musicais.
Há no centro do palco uma grande plataforma móvel, presa nos cantos por cabos, movimentada por elementos vestidos de negro, que a elevam, baixam ou inclinam, e tudo se passa sobre ou debaixo dela.



Os pássaros são simples folhas de papel movimentadas na mão dos membros de negro, formando um efeito muito simples e eficaz. 



O Papageno é um pintor sempre com um escadote, a Rainha da Noite uma velha de cadeira de rodas, o Sarastro um executivo de fato impecável e os três rapazes são velhos estranhos. O Tamino e a Pamina estão vestidos de branco e descalços na maioria da ópera, sobretudo quando decorrem as provas de submissão.
A orquestra está quase ao nível do palco e participa directamente na acção, com a flautista a subir ao palco e os cantores a atravessarem-na frequentemente.



Dirigiu a orquestra o maestro Ben Gernon. Houve ligeiros desencontros entre os cantores e a música. Nos papéis solistas houve alguma heterogeneidade. Contudo, na sua maioria, foram muito bons.



O jovem tenor Rupert Charlesworth fez um Tamino excelente. Com óptima presença em palco (a encenação assim o exige) cantou de forma segura, sempre afinado e sobre a orquestra. Tem um timbre muito agradável.



A soprano Lucy Crowe foi uma Pamina fabulosa, a melhor cantora da noite. Tem uma voz muito bonita, bem colocada, com agudos fantásticos, e um poderio vocal assinalável.



Outro grande cantor foi o baixo Brindley Sherratt que se impôs como Sarastro, numa interpretação vocal superior.



O Papageno do barítono Thomas Oliemans esteve bem, sem deslumbrar. O papel é um dos mais relevantes na ópera, incluindo a componente cómica, que cumpriu. O canto foi interessante mas sem grandes rasgos de invulgaridade qualitativa.



A soprano Rowan Pierce foi uma Papagena também correcta. O papel é relativamente curto, apesar do belíssimo dueto final com o Papageno.


Nas três damas, Susanna Hurrell, Samantha Price, Katie Stevenson, imperou a qualidade mas merece uma referencia muito elogiosa a mezzo Katie Stevenson que vocalmente foi excelente.



Também os três rapazes, vestidos de forma muito bizarra, cumpriram bem as suas intervenções, Alex McSweeney, Zeb Jenkins e Sasha Rose.



O Monostatos de Daniel Norman foi desinteressante e cantou sem grande vigor. Também a voz não ajudou, não é bonita nem extensa.


A grande decepção foi a soprano Julia Bauer como Rainha da Noite, uma das personagens vocalmente mais marcantes da ópera. Apesar de ter estado bem na coloratura da ária principal, cantou baixo, de forma irregular (parecia que ia quebrar a qualquer instante) e a voz não é nada cativante. Uma pena.


Mas foi um espectáculo muito bom, tanto pela originalidade como pela elevada categoria da grande maioria dos cantores.









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THE MAGIC FLUTE, English National Opera, March, 2019

At the English National Opera I saw one of the most imaginative productions of Mozart's opera The Magic Flute. The production of Simon McBurnay is very simple, multimedia, effective, full of innovative moments and, above all, original. It's a great example that throwing money on opera productions is not a prerequisite for good performances.
The action is set in the present. On the left side of the stage we see the drawings that are projected, many of them very funny, and on the right side we see the musical effects produced.
There is in the center of the stage a large movable platform, fastened in the corners by cables, moved by elements dressed in black, which raise, lower or incline, and everything happens on or under it.
Birds are simple sheets of paper moved in the hands of supernumeraries in black, forming a very simple and effective effect. Papageno is a painter always with a ladder, the Queen of the Night a wheelchair-bound old woman, Sarastro a flawless executive and the three boys are old strangers. Tamino and Pamina are dressed in white and barefoot in most of the opera, especially when the submission takes place.
The orchestra is almost at the stage level and participates directly in the action, with the flautist taking the stage and the singers crossing it frequently.

Maestro Ben Gernon directed the orchestra. There were slight mismatches between the singers and the music. In the soloist roles there was some heterogeneity. Most, however, were very good.

Young tenor Rupert Charlesworth was an excellent Tamino. With great presence on stage (the staging so requires) he sang firmly, always tuned and over the orchestra. he has a very nice tone.

Soprano Lucy Crowe was a fabulous Pamina, the best singer of the night. She has a very beautiful voice, well tuned, with fantastic top register, and a remarkable vocal power.

Another great singer was bass Brindley Sherratt who sang Sarastro, in a superior vocal interpretation.

The Papageno of baritone Thomas Oliemans was well, without dazzle. The role is one of the most relevant in the opera, including the comic component, in which he was well. The singing was interesting but without great bursts of qualitative surprises.

Soprano Rowan Pierce was also a correct Papagena. The role is relatively short, but includes the beautiful final duet with Papageno.

In the three ladies, Susanna Hurrell, Samantha Price, Katie Stevenson, prevailed the quality but mezzo Katie Stevenson deserves a very complimentary reference due to her vocal excellency.

Also the three boys, dressed in a very bizarre manner, sung well their parts, Alex McSweeney, Zeb Jenkins and Sasha Rose.

Daniel Norman's Monostatos was uninteresting and sang without impressing. Also the voice did not help, it is neither beautiful nor extensive.

The great disappointment was soprano Julia Bauer as Queen of the Night, one of the most vocal impressive characters of the opera. Although she was well in the main aria's coloratura, she sang low, irregularly (it seemed like she was going to break at any moment) and the voice is not very catchy. A disappointment.

But it was a very good performance, both for the originality and for the high category of the great majority of the singers.

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1 comentário:

  1. Conheço bem a Lucy Crowe, e também Rowan Pierce, que ouvi ainda há pouco na Casa da Música. Tem uma linda voz para música barroca (cantou Pergolesi). Mas sem Raínha da Noite não há Flauta... ah, saudades da Damrau !

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