segunda-feira, 23 de julho de 2018

CAVALLERIA RUSTICANA / PAGLIACCI, Royal Opera House, Londres Dezembro 2017 / London December 2017

(review in English below)

Foi um privilégio rever na Royal Opera House de Londres as óperas Cavalleria Rusticana de P. Mascagni e Pagliacci de R Leoncavallo.

A encenação de Damiano Michieletto trouxe a acção para os finais do século passado e é fabulosa. Num palco rotativo mostra 3 cenários em sucessão e há elementos comuns às 2 óperas como um crucifixo grande, uma imagem da virgem Maria, e vários outros elementos. Nas duas óperas é retratado um povo rude e agressivo do sul da Itália, como bem referiu o camo_opera aqui. O guarda roupa é muito cuidado e adequado à época e a postura do coro (o povo) é irrepreensível.

A Cavalleria Rusticana começa com o Turiddu morto, numa poça de sangue, e a mãe Lucia, chorando a morte. Depois a história retoma o curso habitual, passa-se numa padaria e ao seu redor. Um dos empregados da padaria é o Silvio da ópera Pagliacci que, no interlúdio musical, oferece um lenço à cliente Nedda, por quem se apaixona após um beijo. Tudo decorre sem canto e só na segunda ópera se percebe esta ligação. Também são colados cartazes a anunciar a ópera Pagliacci, que aparecerão na segunda ópera. Na procissão a imagem da virgem Maria ganha vida e aponta o dedo acusador à Santuzza, pecadora, num dos momentos cenicamente mais marcantes. A ópera termina como começou, com a morte do Turiddu.





 Pagliaci decorre no que poderia ser um salão de festas de um bairro popular. Toda a acção se passa no salão, onde decorre o espectáculo dos palhaços, no camarim anexo, e nas redondezas. Nas portas, estão os cartazes que o anunciam, já vistos no primeiro acto. No interlúdio musical entre os dois actos, aparece a Santuzza ainda a chorar a morte do Turiddu, consolada por um padre e que se reconcilia com a Mamma Lucia, informando-a que está grávida. Novamente, tudo acontece em silêncio.







Foi uma das encenações mais conseguidas que vi destas óperas.

A direcção musical de Daniel Oren foi boa mas pobre de quem estava próximo: É daqueles maestros que grunhem e até eu, que estava longe, ouvia e ficava incomodado porque não só distraia como perturbava substancialmente a audição da música.



O tenor norte americano Bryan Hymel foi o Turiddu e o Canio. Foi excelente. Tem uma voz muito bonita, de agudos aparentemente fáceis, generosos e de belo efeito. Para além da interpretação vocal, esteve sempre muito bem em cena.



O barítono Mark Doss fez um Alfio de grande qualidade. Tem uma voz potente, bem timbrada e foi muito eficaz no desempenho cénico.

Num naipe de cantores de topo, destacou-se Elina Garanca com um desempenho arrasador! Voz sublime em beleza, potência e afinação e um desempenho irrepreensível. Transmitiu desespero, angústia e revolta e na cena da procissão esteve particularmente bem. É a Santuzza que Mascagni deverá ter idealizado!



A Mamma Lucia de Elena Zilio foi outra intérprete de excepção,  cantou de forma impecável e representou como se estivéssemos a ver um filme.

A Lola de Martina Belli foi muito expressiva, voz bonita, afinada e presença muito sensual no palco.

O Tonio foi interpretado pelo barítono inglês Simon Keenlyside e, também ele, não deixou os seus créditos por mãos alheias. Tem sempre uma óptima presença em palco e na interpretação vocal esteve ao mais alto nível. Felizmente que já deverá ter ultrapassado os graves problemas que teve com a voz.



Carmen Giannattasio foi uma Nedda óptima, outra intérprete excelente tanto no canto como no desempenho cénico. A voz é muito poderosa, afinada, apenas nas notas mais agudas é ligeiramente áspera.



O Silvio de Andrzej Filonczyk aliou à interpretação vocal expressiva e afinada uma postura cénica de superior qualidade.



Finalmente o português Luis Gomes esteve à altura dos restantes colegas, interpretando o Beppe com garra e qualidade, em particular quando fez de Arlecchino na peça. Bravo!



Mais um espectáculo de topo na Royal Opera House.

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CAVALLERIA RUSTICANA / PAGLIACCI Royal Opera House, London, December 2017

It was a privilege to review at the Royal Opera House in London the operas Cavalleria Rusticana by P. Mascagni and Pagliacci by R Leoncavallo.

The direction of Damiano Michieletto brought the action to the end of last century and is fabulous. In a rotating stage it shows 3 scenes in succession and there are elements common to the 2 operas as a great crucifix, an image of the virgin Mary, and several other elements. In both operas is portrayed a rude and aggressive people of the south of Italy, as well referred camo_opera here. The way the people are dressed is very careful and appropriate to the time and the posture of the choir (the people) is irreproachable.

Cavalleria Rusticana begins with Turiddu dead in a pool of blood, and Mother Lucia, mourning his death. Then the story takes up the usual course, it happens in a bakery and around it. One of the bakery's employees is Silvio from the opera Pagliacci who, in a musical interlude, offers a handkerchief to the client Nedda, whom he falls in love with after a kiss. Everything happens without singing and only in the second opera this connection is understood. Also posters announcing the opera Pagliacci are placed on the walls, that will appear in the second opera. In the procession the image of the virgin Mary comes alive and points an accusing finger at the sinful Santuzza in one of the most striking moments. The opera ends as it began, with the death of Turiddu.

 Pagliaci takes place in what could be a party hall of a popular neighborhood. All the action occurs in the hall, where the spectacle of the clowns takes place, in the attached dressing room, and in the surroundings. At the doors are the posters that announce the opera, already seen in the first opera. In the musical interlude between the two acts, Santuzza appears still crying the death of Turiddu, consoled by a priest. She is reconciled with Mamma Lucia, informing her that she is pregnant. Again, everything happens in silence.

It was one of the most accomplished productions I've seen of these operas.

The musical direction of Daniel Oren was good but poor of those who were near: He's one of those grunting maestros, and even me, who was far away, could hear and was annoyed because it not only distracted but substantially disturbed the hearing of the music.

North American tenor Bryan Hymel was Turiddu and Canio. He was excellent. He has a very beautiful voice, with seemingly easy, generous and beautiful top notes. In addition to vocal performance, he was always very well on the scene.

Baritone Mark Doss was a high-quality Alfio. he has a powerful nice voice and was very effective in scenic performance.

In a group of top singers, stood out Elina Garanca with an amazing performance! She has a sublime voice in beauty, power and tuning and a blameless performance. She transmitted despair, anguish and revolt, and in the scene of the procession was particularly well. She is the Santuzza that Mascagni must have idealized!

Mamma Lucia by Elena Zilio was another exceptional performer, sang impeccably and performed as if we were watching a movie.

Lola of Martina Belli was very expressive, beautiful voice, and very sensual presence on stage.

Tonio was interpreted by English baritone Simon Keenlyside and he also did not leave his credits by hands of others. He always has a great presence on stage and the vocal performance was at the highest level. Fortunately, he must have overcome the serious problems he had with his voice.

Carmen Giannattasio was an excellent Nedda, another great performer in both the singing and on stage. The voice is very powerful, tuned, only the top notes are slightly rough.

Silvio by Andrzej Filonczyk allied to the expressive vocal interpretation a scenic presence of superior quality.

Finally Portuguese Luis Gomes was up to the other colleagues, interpreting Beppe with claw and quality, in particular when he made Arlecchino in the play. Bravo!

Another top performance at the Royal Opera House.

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