terça-feira, 15 de maio de 2018

PARSIFAL – Staatsoper unter den Linden, Berlim /Berlin, Março / March 2018


 (review in English below)
Mais um texto sobre o Parsifal de R. Wagner, este sobre a produção da Staatsoper unter den Linden Berlim.

A Orquestra com sonoridade fantástica, contudo Barenboim muito rápido na música da transformação... e no 1º acto os metais com algumas fífias e no 3º acto demasiadas para a Staatsoper (ao nível do ataque nas entradas)...

Schager excelente e com uma potência vocal brutal sem gritos :) roçou o histriónico no 2º acto mas acho que assim o obrigou o encenador. Em Bayreuth, embora estivesse na fila 28, não soou tão exagerado. Mas esteve ao mais alto nível e isto não é uma crítica negativa.





Stemme regular e igual em tudo às suas Kundry, mantendo aquela questão da dissociação dos agudos (abre boca, atraso na saída do som). Embora reconheça que é uma excelente Wagneriana, acho que ainda não está no ponto como Kundry (nem sei se vai estar)... Ruxandra Dunose emocionou-me mais no Parsifal de Baden Baden e a Elena Pankratova foi brutal em Bayreuth, já para não falar na batida Anja Kampe que prefiro ouvir à Stemme.




Pape com voz excelente, muito mais solto dramaticamente no 3º acto do que no 1º mas com períodos de alguma rigidez dramática, ou seja, algumas posturas e movimentos que me pareceram impostos pela encenação e que impedem a transmissão credível voz-corpo das emoções.




Há cantores que nasceram para fazer o papel de vilão e Falk Struckmann é um deles :) Ele que já foi dos melhores Amfortas no activo, que sem grande sucesso tentou ser Gurnemanz, encontra aos 60 anos, um papel que lhe encaixa como uma luva e que é o de Klingsor. Absolutamente espectacular! Esta encenação, o que tem de melhor é mesmo o 2º acto e foi o melhor acto da noite.



Reinhard Hagen fantástico como Titurel em tudo o que se lhe pede.


Lauri Vasar, repetindo o papel de Zurich, não é espectacular... esteve melhor no 3º acto mas não é um Amfortas lírico, emocionalmente credível mas é bem melhor do que ver o Wolfgang Koch passear os seus pneus em palco (na estreia desta encenação e que está em DVD). O Koch também é daqueles que é brutal para papel de mau e que não encaixa mesmo no Amfortas... Depois de ouvir o Gerald Finley a semana passada, o que hoje ouvi não me impressionou muito...


Acho que a Staatsoper e em particular esta encenação, coloca os cantores muito no fundo do palco e, embora estes sejam do mais alto nível e com potência eficaz de voz, a acústica contraria-os um bocado.

Já vi 3 Parsifal nesta temporada, faltam 2 (Paris e Bayreuth) e acho que daria nota *** ao de Zurich, ****+ ao de Baden Baden e **** a este da Staatsoper de Berlim.

Texto de wagner_fanatic.



PARSIFAL – Staatsoper unter den Linden, Berlin, March 2018

Another text on R. Wagner’s Parsifal, this one on the production of the Staatsoper unter den Linden, Berlin.

The Orchestra with fantastic sonority, however Barenboim very fast in the music of the transformation ... and in the 1st act the metals with some mistakes and in the 3rd act too many for the Staatsoper (to the level of the “attack” in the entrances)...

Schager excellent and with a brutal vocal power without shouts :) graced the histrionic in the 2nd act but I think that was forced the director. In Bayreuth, although I was in row 28, it did not sound so overdone. But he was at the highest level and this is not a negative review.

Stemme was regular and equal in all to her Kundry, keeping that question of the dissociation of the top notes (open mouth, delay in the output of sound). Although I recognize that she is an excellent Wagnerian, I think she is not yet at the point as Kundry (I do not know if she will ever be) ... Ruxandra Dunose moved me more in the Parsifal of Baden Baden and Elena Pankratova was brutal in Bayreuth, not to mention Anja Kampe that I prefer to listen to Stemme.

Pape with excellent voice, much more dramatically loose in the 3rd act than in the 1st but with periods of some dramatic rigidity, that is, some postures and movements that seemed to me imposed by the staging and that prevent the credible voice-body transmission of the emotions.

There are singers who were born to play the role of villain and Falk Struckmann is one of them :) He who was once the best Amfortas in the active, who without great success tried to be Gurnemanz, finds at age 60, a role that fits him like a glove and which is that of Klingsor. Absolutely spectacular! This staging, what has best is the 2nd act and it was the best act of the night.

Reinhard Hagen was fantastic as Titurel in all that is asked of him.

Lauri Vasar, repeating the role of Zurich, is not spectacular ... he was better in the 3rd act but he is not a lyrical, emotionally credible Amfortas but he is much better than watching Wolfgang Koch ride his tires on stage and that is on DVD). Koch is also one of those who is brutal to bad characters and does not fit into Amfortas ... After listening to Gerald Finley last week, what I heard today did not impress me very much...

I think Staatsoper, and in particular this staging, puts the singers in the back of the stage, and although they are of the highest level and with effective power of voice, the acoustics contradict them a bit.

I have already seen 3 Parsifal this season, there are 2 left (Paris and Bayreuth) and I think I would give a mark *** to Zurich, **** + to Baden Baden and **** to this one from the Berlin Staatsoper.


Text from wagner_fanatic.

4 comentários:

  1. Agradeço o comentario que apreciei. Gostei muito deste Parsifal que vi em 2015 na despedida de Waltraude Meier em Kundry. Dei 5. Perdi o Parsifal de Paris pelos problemas técnicos na Bastilha e aguardo agora o de Bayreuth.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. o wagner_fanatic também perdeu o Parsifal de Paris pelas mesmas razões.

      Eliminar
  2. A Parsifal de Berlim foi boa. Gostei muito da orquestra: não se ouviram as fífias da récita do Wagner Fanatic 1 no dia 2. Apenas um pouco em forte aqui e ali, de modo a abafar os agudos finais do Pape. Pape é um excelente Gunermanz (estático, mas culpa do encenador). O Amfortas foi pouco lírico, mas tem uma excelente voz e fez um bom Amfortas, sobretudo no primeiro acto, uma vez que no último, por culpa do encenador, parecia que não tinha ferimento nenhum. O Parsifal foi magnífico: voz enorme, de agudos pontudos como se gosta no Wagner. O Klingsor de Struckmann foi fabuloso: o melhor da noite. A Kundry da Stemme é muito boa: percebo o que o WF1 quer dizer. De facto, por vez parece haver um pequeno turbo lag, mas nada que estrague a performance. A Damas-flores estiveram também bem. Mas todas as interpretações foram, exceptuando talvez o Parsifal, prejudicadas pela encenação. É daquelas feitas por um realizador narcísico que quis ser diferente “porque sim”. Há coisas ridículas: por exemplo, no segundo acto, Kundry conta a história de Herzeleide e Parsifal com dois figurantes. Um deles Parsifal. Outra uma rapariga que tira o soutien e a quem o jovem Parsifal “aplapa” as mamas. Depois vem a Herzeleideve expulsa-a, bate em Parsifal e este bate na mãe e nunca maus volta. As flores são meninas com bonecas com vestidinhos às flores. As cantoras são adultas, mas todas se atiram ao Parsifal e o seduzem, numa cena de pedofilia que não passaria na América de hoje. O último ato acaba por determinar que a encenação não presta: o Amfortas surge cheio de vitalidade a tentar evitar mostrar o Graal. Depois atira o graal cenário fora e este nunca mais é mostrado. É quase torturado pelos cavaleiros. No fim, a lança não lhe toca para o curar, mas ele, ao invés de se redimir, apalpa, beija, agarra a Kundry numa cena de grande excitação. Depois, Gunnermanz (logo ele!), mata Kundry com uma faca pelas costas e esta é levada por ele e Parsifal que desaparecem, enquanto Amfortas fica encolhido e agarrado ao casaco de Kundry num grande pranto. Os cavaleiros terminam todos de joelhos e com as mãos no ar, quais maluquinhos em transe. Uma porcaria de encenação, sem gosto, sem fluidez, sem pormenores e, pior de tudo, com um final incompreensível que nada acrescenta se não muito ruído.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. camo_opera: Logo vi que esse Falstaff do dia 1 não era razão suficiente para ir a Berlim! Quanto à encenação, recomendo a leitura desta crítica, que contribui para a compreensão de algumas das controvérsias introduzidas por Cherniakov: http://fanaticosdaopera.blogspot.pt/2016/04/parsifal-staatsoper-unter-den-linden-no.html
      Que pena não nos termos encontrado lá - conheci pessoas fantásticas nessa récita e trocámos muitas ideias sobre a encenação e a obra.
      wagner_fanatic: Este Parsifal estava na minha "bucket list" desde que li a crítica acima referida mas, desde que escreveu sobre o de Viena, tenho andado bem curioso!!
      Saudações wagnerianas

      Eliminar