sexta-feira, 31 de março de 2017

MADAMA BUTTERFLY – Royal Opera House, Londres, Março de 2017 / London, March 2017


 (review in English below)

A Madama Butterfly foi novamente levada à cena na Royal Opera House. Não sendo uma das minhas óperas favoritas de Puccini, foi um espectáculo excepcional, daqueles que nos enche a alma de prazer e satisfação. E os motivos foram muitos. A produção de 2003 de Patrice Caurier e Moshe Leiser e que já foi comentada neste blogue, aqui, foi melhorada. É uma encenação muito agradável, fiel ao libretto, sem grandes exuberâncias cénicas e sem abordar quer a pobreza, quer a exploração sexual da Cio Cio San. Contudo, tem vários momentos de grande beleza visual, nomeadamente o final dos dois primeiros actos.

O maestro titular, Antonio Pappano, (Sir Antonio Pappano, desculpem) dirigiu a orquestra de forma superlativa, impondo as cadências certas em cada momento. A orquestra respondeu ao mais alto nível, oferecendo-nos uma interpretação emotiva, insuperável.



A soprano albanesa Ermonela Jaho, que já várias vezes elogiei neste blogue, fez uma Cio Cio San arrasadora. A cantora tem uma voz muito bonita, de timbre claro e grande versatilidade. Os pianíssimos são fabulosos mas é segura em todos os registos. Transmite na perfeição toda a cascata de sentimentos da mais sofrida heroína de Puccini. É frágil e inocente no início e no dueto de amor do final do primeiro acto é fabulosa. Mostra-nos depois uma sucessão emotiva de sentimentos negativos, do desencanto ao desespero total numa interpretação de levar às lágrimas. Uma das melhores interpretações da Butterfly que vi até à data.






O tenor argentino Marcelo Puente foi o vilão Pinkerton que teve uma interpretação de grande qualidade. O timbre é escuro, agradável e, apesar de algo estático na presença em palco, foi excelente no dueto de amor do primeiro acto e convincente no arrependimento final.



A Suzuki foi interpretada pela mezzo americana Elisabeth DeShong. Cantora de voz fabulosa, quente, expressiva e enorme, foi excelente na demonstração de firmeza mas obediência à Butterfly. Uma das melhores da noite.



Scott Hendrics foi um Sharpless correcto que revelou bem a sua impotência em lidar com uma situação que lhe saiu do controlo.



Os papéis secundários foram bem entregues a Jeremy White como Bonze, Carlo Bosi como Goro, Yuriy Yurchuk como Príncipe Yamadoro e Emily Edmonds como Kate Pinkerton.






Uma Butterfly memorável na Royal Opera House!

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Madama Butterfly - Royal Opera House, London, March 2017 / London, March 2017

Madama Butterfly was again taken to the scene at the Royal Opera House. Not being one of my favorite operas by Puccini, it was an exceptional performance, one that fills our soul with pleasure and satisfaction. And the reasons were many. The 2003 production of Patrice Caurier and Moshe Leiser and which has already been commented on this blog here, has been improved. It is a very pleasant staging, according to the libretto, without great scenic exuberance and without addressing either the poverty or the sexual exploitation of Cio Cio San. However, it has several moments of great visual beauty, namely the end of the first two acts.

The conductor, Antonio Pappano, (Sir Antonio Pappano, sorry) directed the orchestra superlatively, imposing the correct cadences in every moment. The orchestra responded at the highest level, offering us an emotional, insurmountable interpretation.

Albanian soprano Ermonela Jaho, who I have several times praised in this blog, was a fabulous Cio Cio San. The singer has a very beautiful voice, with clear tone and great versatility. The pianissimi are fabulous but she is fantastic on all levels. She transmits to perfection the whole cascade of feelings of the most suffering character of Puccini. She is fragile and innocent at the beginning, and the love duet of the end of the first act was fabulous. She then shows us an emotional succession of negative feelings, from disenchantment to total despair in an touching to tears performance. One of the best Butterfly’s performance I've seen to date.

Argentine tenor Marcelo Puente was the villain Pinkerton who had a performance of great quality. The timbre is dark, pleasant and, despite some static posture on stage, he was excellent in the love duet of the first act and convincing in the final regret.

Suzuki was interpreted by American mezzo Elisabeth DeShong. Fabulous, warm, expressive, and enormous voice singer, she was excellent in showing firmness but obedience to Butterfly. One of the best of the night.

Scott Hendrics was a correct Sharpless who revealed well his impotence in dealing with a situation that got out of his control.

The secondary roles were well performed by Jeremy White as Bonze, Carlo Bosi as Goro, Yuriy Yurchuk as Prince Yamadoro and Emily Edmonds as Kate Pinkerton.

A memorable Madama Butterfly at the Royal Opera House!


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4 comentários:

  1. Por sugestão sua motivada pela Suor Angelica, vi a Butterfly de Jaho no Liceu há uns anos e, como lhe disse, fiquei arrasado. Vi entretanto outras intetpretações da Butterfly, incluindo a da Hui He na encenação de Minghella, e nem houve comparação possível. A Butterfly de Jaho emana emoção, sobretudo no acto II e, com base em gravações, considero que está entre as melhores de sempre.

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    1. É verdade Plácido Zacarias, a Jaho é uma cantora fabulosa, sobretudo no verismo. E teve mais sorte que eu, dado que conseguiu "ouver" a sua Butterfly bem mais cedo que eu.

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  2. Embora se trate de uma encenação datada de 2003 é forçoso reconhecer a esta produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier um inegável carácter de intemporalidade. Mas é sobretudo pelas extraordinárias interpretações de Ermonela Jaho e Elizabeth DeShong que o espectáculo permanecerá sem dúvida na nossa memória.

    Como complemento desta inolvidável experiência ficará também a excepcional qualidade da realização da transmissão, integrando inteligentemente momentos de registo ao vivo e sequências registadas anteriormente.

    Entre estas últimas merecem menção especial os magníficos extractos do trabalho de preparação e ensaio com Pappano e Jaho.

    Compreendemos assim melhor a importância que pode ter para o resultado final a direcção dos cantores quando, como é o caso, ela existe e é feita com inteligência e sensibilidade ímpares.

    O contraste com as transmissões do MET é abissal.
    JAM

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    1. Ao vivo, a Jaho foi estratosférica e a DeShong arrasadora. Houve umas projecções erráticas de luzes que, seguramente relacionadas com a transmissão para o mundo, não percebi a utilidade (mas também não perturbaram muito). Uma encenação muito fiel e funcional e duas interpretações femininas que não serão esquecidas tão cedo!

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