domingo, 3 de fevereiro de 2013

Joyce DiDonato - Drama Queens - na Fundação Gulbenkian, 2 de Fevereiro de 2013


(Review in English below)

(site  da Fundação Gulbenkian)

Joyce DiDonato, aclamadíssimo meio-soprano americano, esteve na Fundação Gulbenkian na tournée de apresentação do seu último e muito galardoado álbum "Drama Queens" com a etiqueta da Virgin Classics. Este é o seu primeiro recital desde a sua brilhante actuação como Maria Stuarda na produção da ópera homónima de Donizetti no MET e de que aqui também demos conta.

O repertório é constituído exclusivamente por peças quase desconhecidas do século XVII/XVIII, sendo de particular interesse histórico na medida em que remonta aos primórdios da ópera, e, claro!, pela elevada qualidade e dramatismo da música e exigência virtuosística vocal e interpretativa que encerra e que nos transporta para o mundo do sublime.

A este propósito, a Fundação Gulbenkian apresenta um muito interessante e informativo texto de Susana Duarte de que aconselho vivamente a leitura. Aliás, o programa de sala do concerto traz, igualmente, um pequeno texto da própria Joyce DiDonato onde esta apresenta as razões do seu imenso entusiasmo neste projecto. Poderão consultá-lo aqui.
Recomendo, também, a visita ao site oficial da artista, uma vez que disponibiliza um óptimo e interessantíssimo documentário acerca desta produção e onde, naturalmente, Joyce DiDonato é extensamente entrevistada.

(site oficial de Joyce DiDonato)

Ouviram-se, entre outras, árias de Antonio Cesti (“Intorno all’idol mio” de Orontea), Monteverdi (“Disprezzata regina” de L’incoronazione di Poppea) e Johann Adolf Hasse (“Morte col fiero aspetto” de Antonio e Cleopatra).

DiDonato apresentou-se com um glamouroso vestido escarlate desenhado em exclusivo por Vivienne Westwood para a tournée, certamente na ideia de a entronizar num papel de rainha, e garanto-vos que nada ofuscou a beleza tímbrica da sua voz, a qualidade ímpar da sua modulação dramática, a projecção impecável da sua voz e, de assinalar, o esforço por uma dicção de qualidade. Destaco as árias "Madre diletta, abbraciami" de Giovanni Porta e "Lasciami piangere" de Reinhard Keiser pela sonoridade dramática e beleza melódica plangente.

(site da Fundação Gulbenkian)

O acompanhamento dado pelo Il Complesso Barocco sob direcção do muito virtuoso violinista Dmitry Sinkovsky foi exemplar, com uma sonoridade e um tempo perfeitos. De notar, ainda, as interpretações da Sinfonia de Tolomeo ed Alessandro de Domenico Scarlatti, do Concerto para violino e Cordas, RV 242, “per Pisendel” de Antonio Vivaldi e da Música do bailado de Armide de Christoph Gluck, reveladoras da qualidade artística de topo deste agrupamento.

Em suma, foi um concerto memorável de uma Senhora do mundo da ópera que revelou o seu todo artístico e exibiu uma simpatia transbordante. Será, certamente, um concerto que permanecerá na memória daqueles que tiveram o privilégio de o presenciar e de o sentir calorosamente ao vivo. Brava Joyce! É, sem dúvida, an Opera Queen!











--------
(Review in English)

Joyce DiDonato, acclaimed American mezzo-soprano, was at the Gulbenkian Foundation in her presentation tour of her latest and much awarded album "Drama Queens" with the Virgin Classics label. This is her first recital since her brilliant performance as Maria Stuarda production of Donizetti's homonymous opera at MET.

The repertoire consisted almost exclusively of not well-known (or even first recordings) of XVII/XVIII centuries opera arias, being of particular historical interest as it dates back to the origins of opera, and, of course!, the high quality and dramatic tone of the music and vocal and interpretive virtuoso challenges that takes us into the world of sublime.

Gulbenkian Foundation presents a very interesting and informative Susana Duarte’s text on these historical aspects that I would strongly recommend to read. The program also brings a small text by Joyce DiDonato where she presents the reasons for her immense enthusiasm in this project. You may read it on this link (but it is only in Portuguese).
I also recommend to visit DiDonato’s official website, as it provides a great and interesting documentary about this production and where, naturally, Joyce DiDonato is extensively interviewed.

(DiDonato's official website)

We heard, among others, Antonio Cesti ("Intorno all'idol mio" from Orontea), Monteverdi ("Disprezzata regina" from L'incoronazione di Poppea) and Johann Adolf Hasse ("Morte col fiero aspetto" from Antonio and Cleopatra) opera arias.

DiDonato presented herself with a glamorous scarlet dress exclusively designed by Vivienne Westwood for the tour, surely with the idea to enthrone her as a Queen, and I assure you that nothing has overshadowed the beauty of her voice timbre, the unique quality of her dramatic modulations, impeccable projection of her voice, and her diction quality. I highlight the arias "Madre diletta, abbraciami" by Giovanni Porta e "Lasciami piangere" by Reinhard Keiser by its dramatic and plaintive sonority and melodic beauty.

Il Complesso Barocco under the baton of virtuoso violinist Dmitry Sinkovsky was exemplary, with perfect tempo and crystal baroque sound. Note also the interpretations of Domenico Scarlatti'Tolomeo ed Alessandro Symphony, the Concerto for Violin and Strings, RV 242, "per Pisendel" by Antonio Vivaldi and Gluck's Armide ballet music, revealing the top artistic quality of this marvelous emsemble.

In short, it was a memorable concert of a Lady of the opera who revealed her as a complete artist and exhibits a terrific kindness for the audience. It will be certainly a concert to remain in the memory of those who had the privilege of witnessing and feeling it warmly and live. Brava Joyce! She is undoubtedly an Opera Queen! 

7 comentários:

  1. Também tive o privilégio de assistir a este concerto.

    A orquestra foi fantástica e a Joyce DiDonato fabulosa. Possuidora de uma extensão vocal assinalável, ofereceu-nos a possibilidade de apreciarmos uma coloratura fabulosa entre múltiplas outras nuances vocais.

    As interpretações foram emotivas, a cantora genuinamente simpática e os 4 encores no final encerraram de forma perfeita aquele que foi, para mim, o melhor concerto a que assisti nesta temporada na Gulbenkian.

    ResponderEliminar
  2. Caro colega de blog,

    Foi sem dúvida um excelente e memorável concerto!

    Confesso que senti o mesmo clima e o mesmo sentimento do concerto de Patricia Petibon da temporada passada, com as devidas diferenças nas intérpretes.

    A qualidade vocal e interpretativa de Joyce é singular e torna fácil o nosso comentário e prazeroso ter podido ouvi-la.

    Das árias apenas conhecia a ária do Giulio Cesare mas rendi-me por completo ao "Lasciami piangere" de Keiser (e ainda bem que o podemos ouvir por 2 vezes).

    A orquestra sublime e o virtuosimo imbatível.

    Deixe-me referir algo que, embora sem interesse particular por não estar directamente relacionado com a música, mas achei engraçado que, além da comunhão de qualidade e paixão musical entre Il Complesso e DiDonato, partilhassem o vermelho (ela no vestido, eles nas meias :) ).

    Mais um momento inesquecível (e que se adivinha poder vir a repetir no futuro) na Gulbenkian.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por acaso reparei nas meias vermelhas! Achei bizarro, mas divertido. Aliás, todo o ambiente à volta do concerto foi o de uma noite memorável com uma artista de topo, nada peneirenta e que, embora seja uma Opera Queen, está longe de ser uma diva à moda antiga. Só a forma como se dirigiu ao público com todo aquele à vontade e simpatia revelam a grande artista que é! Espero que venha mais vezes!

      Eliminar
    2. Penso que todos repararam e acharam graça ao pormenor das meias.
      Eu já tive oportunidade de falar com a Joyce DiDonato quando a encontrei na rua, em Londres, cantava ela a Cendrillon na Royal Opera House. Disso dei conta neste blogue em devido tempo. Ela foi de uma simpatia inexcedível o que, como o camo_opera salienta, revela a grande artista que é.

      Eliminar
  3. Vejo que os Fanáticos tiveram a mesma opinião que eu sobre este recital e sobre a cantora maravilhosa que é Joyce DiDonato.
    Também reparei nas meias dos músicos, um pormenor com muita graça.
    Parabéns ao camo_opera também pelas fotografias, que estão óptimas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo elogio, mas as fotos têm o mérito exclusivo do Fanático_Um.

      Eliminar
    2. Nesse caso, parabéns ao Fanático_Um :-)

      Eliminar