terça-feira, 8 de novembro de 2011

Celebração dos 40 anos de Plácido Domingo na Royal Opera House – 30 Outubro 2011




(review in english below)

Para celebrar os 40 anos passados sobre a estreia de Plácido Domingo na Royal Opera House, esta casa de ópera levou a palco, nos dias 27 e 30 de Outubro, dois concertos, onde o mítico tenor (agora “baritenor”), acompanhado de outros nomes célebres, nos trouxe os últimos actos encenados do Otello, do Rigoletto e do Simão Boccanegra, todas, como sabem, de Giuseppe Verdi.

Foi a primeira vez e, por certo, a última oportunidade que tive de ver Domingo como Otello. Tenho pena de não ter visto ao vivo a sua interpretação deste papel há vários anos atrás, quando era considerado um dos melhores Otello de sempre. Embora com uma pose e caracterização exímia, Domingo claramente esticou a corda demasiado num papel que já não se adapta à sua voz de momento. Contudo, e como sempre, não quebrou, embora alguns dos agudos tenham sido em defesa com diminuição da projecção de som. Esteve com o apoio maioritário de Marina Poplavskaya que não esteve, na minha opinião, à altura do evento. Desafinou muito durante a canção do salgueiro e o Ave Maria, principalmente nos agudos mantidos, o que, embora procurasse disfarçar com um canto em choro, não me convenceu minimamente que tal se devia a opções de dramatismo vocal. A Orquestra também entrou mal, com pelo menos dois momento de descoordenação com Pappano e algumas notas ao lado.



Como Rigoletto, Domingo apresentou-se claramente mais confortável mas confesso que, se como Boccanegra a sua presença, postura e voz se enquadram bem com a personagem, em Rigoletto não o sinto assim. Depois de o ver na produção em directo para televisão de 2010, acho que numa casa de ópera e ao vivo não funciona, embora a sua qualidade vocal e interpretativa não estejam em causa e permaneçam de elevado nível. Talvez por isso, e do modo sensato que o caracteriza, ainda não tenha prosseguido para uma produção como cabeça de cartaz desta ópera. Francesco Meli foi arrasador como o Duque, com a sua voz jovial, cristalina, segura e expressiva. Ailyn Pérez como Gilda esteve bem, a prometer vir a tornar-se uma soprano de relevo mas, pelo menos para já, sem estrelinha de genialidade. Paata Burchuladze cumpriu bem como Sparafucile bem como Justina Gringyte no papel de Madalena.





Como Simão Boccanegra, Domingo domina com uma classe impressionante. Utilizando uma produção da que assistimos em 2010 e que se encontra disponível em DVD, a sua interpretação mantém-se estratosférica, sem me ferir o facto da sua voz não ser a de um verdadeiro barítono. O modo como, no último acto, chama os guardas quando ouve a voz de Fiesco sem ainda saber que é este que lhe fala é feito de um modo só ao alcance de quem compreende o papel e sabe tornar estas personagens operáticas como reais. Continua também a cair de morto de forma atleticamente surpreendente, sem quebrar um único osso. Paata Burchuladze foi um Fiesco com qualidade embora me pareça uma voz já cansada e sem brilho interpretativo. Mais uma vez, e embora em modesta passagem como Adorno, Francesco Meli este excelente, acompanhado por uma Marina Poplavskaya em melhor forma do que no Otello (também, numa passagem vocal menos exigente…). Jonathan Summers foi Paolo e esteve irrepreensível nos momentos que antecedem a sua execução.





Foi uma tarde interessante mas o facto de, embora se conheçam as óperas apresentadas, só se assistir aos últimos actos, acabou por obrigatoriamente faltar alguma emoção e alma, mesmo com encenação. Acho que a Orquestra e Pappano entraram menos bem mas compuseram com o desenrolar da matiné. Fica a impressão de que se quer homenagear um grande cantor mas que não se constrói um espectáculo à altura estrelar que se desejaria.















Placido Domingo Celebration (40 years at the Royal Opera House) - 30 October 2011




To celebrate the 40 years after the debut of Plácido Domingo at the Royal Opera House, the Opera House took the stage, on the 27th and 30th October, two concerts, where the legendary tenor (now "baritenor"), accompanied by other famous names, brought us the staged final acts of Otello, Rigoletto and Simon Boccanegra all, as you know, by Giuseppe Verdi.

It was the first time and probably the last opportunity I had to see Domingo as Otello. I regret not having seen him live on this role several years ago when hr was one of the greatest Otello ever. Although with an excelent pose and characterization, Domingo too clearly “stretched the rope” in a role that no longer fits his voice. However, as always, he did not crack, although some of the high notes were sung in a defensive way with a decrease in sound projection. He was mainly supported by Marina Poplavskaya who was not, in my opinion, on the expected level of the event. Frequently of tune a lot during the Willow song and the Ave Maria, especially in the acute notes, I find hard to accept that they came out that way only in a overdramatic sense she wanted to give to Desdemona. The Orchestra had a bad start, with at least two moments of clumsiness and some notes on the side.



As Rigoletto, Domingo presented clearly more comfortable but I confess that, as Boccanegra his presence, posture and voice fit well with the character. This I do not feel in Rigoletto. After watching the live television production in 2010, I believe that live in an opera house it does not work, although his vocal quality and interpretation are not in question and remain a high level. Maybe so, and in a so prudent way that characterizes him, he has never accepted a production on live stage with his name as Rigoletto.. Francesco Meli was superb as the Duke, with his cheerful, clear, safe and expressive voice. Ailyn Pérez was good as Gilda, and she promises to become a very good soprano but, at least for now, we don’t see a perfect star of genius. Paata Burchuladze was ok as Sparafucile just like Justina Gringyte as Magdalene.





As Simon Boccanegra, Domingo rules with an awesome class. Using a production different from the one we saw in 2010 and is available on DVD, his interpretation remains stratospheric, without hurting me that his voice is not that of a true baritone. How, in the last act, he calls the guards when he hears the voice of Fiesco without even knowing who is talking to him is done in a way only possible to those who understand the role and know how to make these operatic characters look real. He also continues to drop dead in an athletically amazing way, without breaking a single bone. Paata Burchuladze was a good quality Fiesco though I sensed a tired voice and dull interpretation. Again, although in the modest passage as Adorno, Francesco Meli was excellent, accompanied by a Marina Poplavskaya in better shape than in the Otello act (also, in less demanding vocal passage...). Jonathan Summers was a magnificent Paolo in the moments before his execution.





It was an interesting afternoon but the fact that only the final acts were presented it lead to a must have feeling of lack of emotion and soul, despite knowing the operas content and previous actions and despite the staging. I think Pappano and the Orchestra started not so well but they went better in the course of the concert. The overall impression is that the purpose is to honor a great singer but the result does not end to be as memorable as it should be.
















6 comentários:

  1. Sólo he tenido la oportunidad de escuchar en directo un fragmento de Otello a Plácido Domingo, el dueto del primer acto, la primera vez que le escuchaba en vivo parte de esta ópera, que al igual que tu, tambiénme hubiera gustado escuchársela toda y en directo, pero para esto hubiera tenido que nacer por lo menos, 10 años antes.

    Debió ser todo un maratón de emociones la de estos dos días, y me hubiera gustado tanto estar allí...

    Grácias por contárnoslo. Tengo pendiente escuchar la gala, que grácias a Dios, he podido conseguir.

    Un abrazo,

    brunilda

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  2. Caro wagner_fanatic,
    Sabendo eu da sua "brutal" admiração por Placido Domingo, fico satisfeito por saber que teve oportunidade de assistir a este espectáculo tão especial. Contudo, as suas palavraa parecem revelar algum desencanto, ou estarei errado?
    Pessoalmente admiro muito Domingo, acho que todos o admiramos mas, confesso, o elenco feminino que o acompanhou, apesar do mediatismo que lhe tem sido proporcionado, está muito longe do meu agrado.

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  3. A very fair review, with obvious respect for the greatness of Placido Domingo. Thank you for the audio curtain calls. I very much enjoyed them.

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  4. Nem mais, FanaticoUm... Como referi: querem fazer uma celebração que honre um grande artista mas depois não conseguem uma qualidade "brutal" nos cantores que o apoiam em palco.

    Thank you for you comments.

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  5. Sou fã de Plácido Domingo, o que é fácil!
    Difícil é ter capacidade para perceber todos os nuances de uma interpretação. Isso você tem, e nos passa de forma primorosa e entusiasmada!
    Um grande abraço

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  6. Respect for Placido, one of the best opera singers.
    Greetings,Willy

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