(review in English below)
Fireworks – barroco da mais alta qualidade na Gulbenkian
O jovem contratenor francês Philippe Jaorussky apresentou-se na Gulbenkian com a orquestra barroca americana Apollo’s Fire sob a direcção da cravista Jeannette Sorell, sua fundadora.
O contratenor, para mim, é aquela voz que não me deixa indiferente. Ou gosto muito, ou detesto (o que acontece mais vezes, confesso). Neste caso já ia predisposto a gostar, apesar de ter sido a primeira vez que vi Jaroussky ao vivo.
Com o sugestivo título de Fireworks, o concerto foi um pitéu para os apreciadores de Vivaldi e Häendel, entre os quais me incluo. Jaroussky interpretou este reportório barroco com um virtuosismo marcante e notável capacidade vocal. A voz é cristalina e de uma beleza celestial invulgar.
(fotografias do site e do programa de sala da Gulbenkian)
Logo no início ouvimos a ária de Oreste Agitato da fiere tempeste, bem cantada e exuberantemente ornamentada. Seguiu-se Ho perso il caro bem de Parnasso in Festa. O contraste não podia ser maior. Nesta intervenção Jaroussky conseguiu transmitir um dramatismo e uma tristeza atrozes, noutra sublime interpretação vocal. Pensei que o melhor tinha-nos sido dado logo no início. Mas enganei-me.
Seguiu-se o concerto para dois violoncelos em Sol menor de Vivaldi. A orquestra Appolo’s Fire, de 14 elementos e instrumentos da época, ofereceu-nos a magnífica sonoridade barroca. No prelúdio em Lá maior, para cravo solo Jeannette Sorell brilhou.
Mas o ponto alto viria mais tarde, na apresentação do Concerto Grosso sobre La Follia, também de Vivaldi. Uma interpretação exímia, de qualidade estonteante que, só por si, teria valido o concerto.
Mas tivemos muito mais. Jaroussky foi cantando Händel e Vivaldi de forma imaculada, ora o mais exuberante e colorido, ora o mais sério e de linha melódica contínua (muito mais do meu agrado, ao contrário do que pareceu ser o gosto do público).
No final, após uma merecida ovação de pé, três encores, incluindo árias das óperas Rinaldo e Serse, terminando com Ombra mai fù. Um maravilha!
*****
Philippe Jaroussky + Apollo's Fire - Gulbenkian, November 2011
Fireworks - Highest quality Baroque at the Gulbenkian
The young French countertenor Philippe Jaorussky sang at the Gulbenkian Foundation with the American baroque orchestra Apollo's Fire with the direction of harpsichordist Jeannette Sorell, its founder.
The countertenor is that voice that does not leave me indifferent. Or I really like it or I hate it. In this case I was already predisposed to like it, despite having been the first time I saw live Jaroussky.
Fireworks - Highest quality Baroque at the Gulbenkian
The young French countertenor Philippe Jaorussky sang at the Gulbenkian Foundation with the American baroque orchestra Apollo's Fire with the direction of harpsichordist Jeannette Sorell, its founder.
The countertenor is that voice that does not leave me indifferent. Or I really like it or I hate it. In this case I was already predisposed to like it, despite having been the first time I saw live Jaroussky.
With the evocative title of Fireworks, the concert was a delicacy for lovers of Vivaldi and Händel, among whom I include myself. Jaroussky has interpreted this Baroque repertoire with fantastic virtuosity and remarkable vocal ability. His voice is crystal clear and with as unusually heavenly beauty.
Right at the beginning we heard Oreste’s aria Agitato da fiere tempeste, exuberantly decorated and well sung. It was followed by Ho perso il caro bem from Parnasso in Festa. The contrast could hardly be greater. In this intervention Jaroussky managed to convey a dramatic and appalling sadness, another sublime vocal performance. I thought the best we had been given at the start of the concert. But I was wrong.
These first interpretations were followed by the concert for two cellos in G minor by Vivaldi. The orchestra of 14 elements and baroque musical instruments gave us the magnificent baroque sound. In the prelude in A major for harpsichord solo Jeannette Sorell was magnificent.But the highest moment would came later, in the interpretation of the Concerto Grosso on La Follia, also by Vivaldi. It was an interpretation of stunning quality that, by itself, would have been worth the concert.
But we had much more. Jaroussky with is immaculate singing of Händel and Vivaldi, either the most exuberant and colourful arias, or the most dramatic with continuous melodic lines (the ones I prefer, in contrary to what appeared to be the audience's preference).
In the end, after a deserved standing ovation, three encores, including arias from Händel’s operas Serse and Rinaldo, closing with Ombra mai fù. A wonder!
*****
Não sou grande admirador de Jaroussky mas acho que houve momentos belíssimos neste concerto. A começar pelo "Concerto Grosso sobre La Follia". Pouco canónico, tratando-se de um arranjo de Jeannette Sorrell, foi verdadeiramente estonteante.
ResponderEliminarTal como o FanaticoUm, também gostei muito mais do Jaroussky lento e meditativo que nas árias de bravura. Penso que foi em "Vedrò con mio diletto" e em "Alto Giove", de Porpora (já em fase de extras), que ele esteve melhor.
Como muita pena minha, este foi mais um concerto que teria muito gosto em assistir e que não me foi possível.
ResponderEliminarGosto bastante da voz de Jaroussky, embora prefira Daniels. Isto em gravação, uma vez que nunca ouvi nenhum ao vivo.
Obrigado FanaticoUm pelo excelente texto.
Caro Fanático,
ResponderEliminareu posso imaginar e quase ouço, através do seu texto, o concerto espetacular!
Obrigado por nos presentear com ótimas crônicas.
Um grande abraço
Também gostei muito. Os Apollo's Fire brilharam e Jaroussky encantou. Como o FanaticoUm e o Paulo, também preferi as árias mais lentas, que aliás lhe saem claramente mais fáceis.
ResponderEliminarAdoraria ter ido. Infelizmente, no nosso país quem não vive na capital vê a sua vida cultural muito empobrecida. Confesso que, à parte de algum que outro recital que vi no canal Mezzo e de vídeos no YouTube não conheço muito bem este contra-tenor, mas pelo pouco que (ou)vi pareceu-me muito bom. Em Dezembro teremos a oportunidade de apreciar a incursão no repertório barroco de uma conterránea de Jaroussky, a excêntrica Petibon.
ResponderEliminar@ Paulo, Antonio Machado e Gi,
ResponderEliminarObrigado pela simpatia dos comentários
@ Alberto,
Estou certo que teria apreciado muito o concerto, foi muito dentro daquilo que mais aprecia (e encerrou com um Ombra mai fù de elevada qualidade).
@Pizpireta,
Seja bem-vindo a este blogue. O wagner_fanatic marcará presença no concerto da Petibon e aqui relatará a sua experiência.
Eu espero poder ir a esse concerto. A programação da Gulbekian está fantástica, apetece ir a quase todos os concertos. Acontece-me com a Petibon o mesmo que com o Alagna: apesar das "parvoíces" que fazem não posso deixar de sentir simpatia por eles.
ResponderEliminarOutro a que não assisti mas que deve ter sido fenomenal. Obrigado pelo relato.
ResponderEliminarObrigado pela attençao continuaçao por mi blogue!
ResponderEliminarAbraço,Willy
Foi um dos concertos da minha vida. Estive com «pele de galinha» quase todo o tempo. Confesso que não gostei de duas coisas: a referência ao «Farinelli» que me soa a lugar-comum do gosto por música barroca. Creio que o público português vai mais além. Segunda coisa, foi a interpretação de «La Follia» que achei demasiado «pop». um abraço
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