segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Die Zauberflöte – Royal Opera House – 9 Fevereiro 2011



(review in english below)

De há alguns meses a esta parte, coincidindo com o lançamento da gravação de René Jacobs, que venho redescobrindo a Flauta Mágica de Wolfgang Amadeus Mozart como uma das suas maiores criações. Penso que podemos compará-la quase à Carmen no sentido em que a sequência de árias é de qualidade consistente e de bela marcante. Se escutarmos e vermos com atenção, talvez seja também, a mais moralizadora das óperas deste compositor.

A oportunidade de assistir à já clássica e consagrada encenação da obra pela Royal Opera House foi, assim, imperdível.

Tal como o Barbeiro de Sevilha, também esta produção está imortalizada em DVD, com o elenco de estreia em 2003 com Diana Damrau como a Rainha da Noite, Will Hartmann como Tamino, Dorothea Röschmann como Tamina, Simon Keenlyside como Papageno, restando como únicos links a esta reposição, Franz-Josef Selig como Sarastro e Colin Davis no pódio.



Nem mesmo o anúncio da indisposição de Joseph Kaiser e a sua substituição por um desconhecido para mim, de seu nome Lothar Onidius, fez estragar a récita até porque este se revelou uma excelente aposta. Embora na primeira ária de Tamino tenha duvidado da adequação da sua voz ao papel (Tamino tem de ter uma voz clara de tenor, sem grande peso baritonal), o desenrolar da récita fez-me voltar atrás neste pensamento porque se demonstrou um excelente Tamino, perfeitamente entrosado na encenação e apaixonante na sua entrega.

Kate Royal, que foi mãe recentemente, era outra das grandes antecipadas audições. Li algumas críticas negativas sobre o facto da sua voz se ter tornado mais grave após a maternidade e de que o papel de Pamina não seria já adequado. Conhecendo-a apenas de gravações de CD, devo confessar que não notei que o papel não se enquadrasse à sua voz. Muito lírica, segura, emotiva, perfeita!

Jessica Pratt é uma das jovens promessas do canto lírico inglês e não desiludiu (apesar de algumas e iguais críticas negativas). Não esta, neste momento, ao nível de outros grandes nomes que interpretam o papel nos dias de hoje, como Diana Damrau, por exemplo, mas a sua voz revela segurança, afinação, e muito bom ensino de respiração entre frases que é uma capacidade a ter para cantar a dificílima ária do 2º acto. Gostei.

Agora, na minha opinião, os reis da noite foram 2: Christopher Maltman e Franz-Josef Selig.

Christopher Maltman é simplesmeste espectacular! A sua vivência jocosa do terreno Papageno (em oposição ao espiritual Tamino...) é simplesmente deliciosa. A sua voz de barítono é de classe, timbre bonito, flexível. É um dos que consegue transmitir sentimentos quase só pela voz mas que junta a essa capacidade, a capacidade cénica. Genial!

Franz-Josef Selig é um marco como baixo. Aqui fez um papel de qualidade estrelar. Difícil por em palavras o que se sente quando canta “O Isis und Osíris”... Soberbo!

Os restantes elementos estiveram muito bem, incluindo o trio de rapazes, embora tenha ficado com a ideia de alguma assimetria de qualidade entre os três mas sem capacidade de os distinguir.

Colin Davis, apesar da idade, ainda é capaz de levar a cabo uma Flauta ao estilo de Karl Bohm, ou seja, como eu adoro. Imprime um andamento balanceado, demonstrando profundo conhecimento dramático da obra.



A Orquestra e o Coro, como habitual, magníficos!



Se não conhecem esta obra façam por a conhecer!

Se a conhecem, revivam-na na sua genialidade!




Die Zauberflöte - Royal Opera House - February 9, 2011



Since the release of Rene Jacobs recording, a few months ago, I have been rediscovering the Magic Flute by Wolfgang Amadeus Mozart as one of his greatest creations. I think we can compare it almost to Carmen in the sense that the sequence of arias is of consistent quality and beauty. If we see and listen carefully, this opera is also perhaps the most moralistic of this composer.

The opportunity to attend the classic and consecrated staging of the work at the Royal Opera House came as a treat.

Like Il Barbieri di Siviglia, this production has been immortalized on DVD with the original cast of 2003 - Diana Damrau as the Queen of the Night, Will Hartmann as Tamino, Dorothea Röschmann as Tamina, Simon Keenlyside as Papageno, leaving as the only links for this revival, Franz-Josef Selig as Sarastro and Colin Davis on the podium.



Not even the announcement of the unwillingness of Joseph Kaiser and its replacement by a stranger to me, named Lothar Onidius, did spoil the evening because this singer has proved to be an excellent bet. Despite doubting the appropriateness of his voice to the role (Tamino must have a clear tenor voice, without much weight baritonal), the course of the opera made me go back on this thought because Onidius end out to be an excellent Tamino, perfectly mingled in the staging and passionate in his delivery.

Kate Royal, who recently became a mother, was another much anticipated voice to hear live. I read some negative reviews about the fact that her voice became more low pitched after the maternity and that the role of Pamina would not be appropriate to her voice nowadays. Knowing her only from CD recordings, I must confess that I did not notice that the role did not fit in her voice. Very lyrical, safe, emotional, perfect!

Jessica Pratt is one of the British promising young opera singers and did not disappoint (despite some bad reviews). She may not be at the almost perfect level of other big names who play the role today, as Diana Damrau, for example, but her voice reveals security, tuning, and she has a very good knowledge of the breathing technique between sentences which is a must have when you try to sing the very difficult Queen of the Night aria from Act 2. I liked her.

Now, in my opinion, the kings of the evening were two: Christopher Maltman and Franz-Josef Selig.

Christopher Maltman is simply spectacular! His comic experience of the hearthy Papageno (as opposed to a spiritual Tamino ...) is simply delicious. His baritone voice has class, a beautiful tone, is flexible. It is that kind of voice that manages to convey feelings almost exclusively by itself. You feel the emotions and the drama even with your eyes shut. Genial!

Franz-Josef Selig is a landmark as a bass. Here he made a star-quality role. It is difficult to put into words what one feels when he sings "O Isis und Osiris" ... Superb!

The other elements were very good, including the trio of boys, although I felt some asymmetry in quality between the three but hard to tell who was less good.

Colin Davis, despite his age, is still able to carry a flute in the style of Karl Bohm, just the way I like. He conveys a balanced pace, showing a profound understanding of this work.



The Orchestra and Choir, as usual, magnificent!



If you do not know this Opera, go out there and discover it!

If you know it, relive it in its geniallity!

6 comentários:

  1. Nunca vi esta produção da Flauta Mágica (uma das minhas óperas favoritas) e espero que a Royal Opera a mantenha em cena por longos anos.

    Também tinha lido algumas críticas menos favoráveis mas, na ROH, é difícil assistir-se a um espectáculo de pouca qualidade (essa é, pelo menos, a minha experiência e, pelo que li com muito agrado, também a do wagner_fanatic).

    Obrigado pela partilha da experiência.

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  2. "Die Zauberflöte" always reminds me of it's librettist Emanuel Schikaneder. He wrote not only the text, but also sung, played and produced this opera. Through the success of "Die Zauberflöte" he made a fortune, so that he could build his own theater "Theater an der Wien" which was the most mordern theater in Europe at that time. He hired Beethoven as house componser and dreamt that B. would write an unforgettable opera like "die Zauberflöte". Bevor the dream came true, schikaneder went bankrupt. Such an excellant staging producer he was, but knew nothing about managements. He became insane and 1812 died in poverty. On the Papageno door at the "theater an der wien" we can see the sculptures of himself and his 3 sons who sung and played in "Die Zauberflöte".

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  3. MET 2011 Nabucco 17 Nov

    Conductor: Paolo Carignani
    Abigaille: Elisabete Matos
    Fenena: Elizabeth Bishop
    Ismaele: Yonghoon Lee
    Nabucco: Željko Lucic
    Zaccaria: Carlo Colombara

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  4. A sua crítica sobra a "flauta mágica" é espetacular, sonora e competentíssima!
    Obrigado pelas aulas sr. Fanático!
    Um abraço

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  5. @lotus-eater

    Thank you for your comment, lotus-eater. Always a pleasure to learn something new.

    @António Machado

    Obrigado eu por viver os meus comentários. Continuação de boa música e boa pintura.

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