A associação qualidade, quantidade e diversidade condiciona a atribuição do estatuto de catedral da ópera pelos Fanáticos que, no caso de Londres, é inquestionável. Como inquestionáveis são o Met de Nova Iorque, a Staatsoper de Viena e, poucos mais.
A temporada 2010-2011 não é, infelizmente, muito estimulante (2008-2009 e 2009-2010 foram incomparavelmente melhores), mas tem alguns motivos de interesse que poderão justificar uma ida a Londres.
Indicamos a maioria dos espectáculos de ópera anunciados e, de entre eles, alguns que pensamos poderem constituir experiências gratificantes.
- Così fan Tutte (Mozart) em Setembro (10, 13, 15, 17, 19, 22 e 24) de 2010. A temporada abre com uma das melhores óperas de Mozart, numa encenação moderna de Jonathan Miller. Os dois pares apaixonados (e postos à prova…) serão interpretados por Pavol Breslik (tenor), Stéphane Degout (barítono) Jurgita Adamonyté (Mezzo) e Maria Bengtsson (soprano). Thomas Allen será Don Alfonso e Rebecca Evans, Despina.
- Don Pascuale (Donizetti) em Setembro (12, 14, 16, 18, 20 e 21) de 2010.
- Niobe, Regina di Tebe (Steffani) em Setembro (23, 25, 27 e 29) e Outubro (1 e 3) de 2010.
- Les Pêcheurs de Perles (Bizet), versão concerto, em Outubro (4 e 7) de 2010.
- Rigoletto (Verdi) em Outubro (11, 14, 16, 19, 21, 23, 27 e 30) e Novembro (2, 4 e 6) de 2010. Encenação de David McVicar (1ª – a primeira de 5 nesta temporada!) conta com intérpretes sonantes como Dmitri Hvorostovsky, alternando com Paolo Gavanelli num dos mais exigentes papeis de barítono de Verdi, o tenor Wookyoung Kim no Duque de Mantua e o soprano Eglise Gutiérrez como Gilda.
- Roméo et Juliette (Gounod) em Outubro (26 e 29) e Novembro (1, 5, 8, 11, 13 e 17) de 2010. Referência para os vários duetos entre os dias amantes, aqui encarnados por Piotr Beczala, excelente tenor polaco como Romeu e Nino Machaidze, soprano Georgiano, como Julieta (alternando com María Alejandres).
- Hänsel und Gretel (Humperdinck) em Dezembro (23, 28, 29 e 31) de 2010 e Janeiro (1, 3, 4 e 7) de 2011, numa produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier.
- Adriana Lecouvreur (Cilea) em Novembro (18, 22, 25, 27 e 30) e Dezembro (4, 7 e 10) de 2010. Uma nova produção de David McVicar (2ª) desta ópera que contém trechos musicais notáveis e que, nesta produção, conta com intérpretes de primeiríssima água, nomeadamente Angela Gheorghiu como Adriana Lecouvreur, Jonas Kaufmann como Maurizio , Olga Borodina como Princesa de Boullion, Maurizio Muraro como Príncipe de Boullion e Alessandro Corbelli como Michonet.
Angela Gheorghiu, ao que consta, é uma verdadeira prima donna (no sentido pejorativo do termo) e é talvez a campeã dos cancelamentos. Contudo, quando inspirada, nos papeis certos e no seu melhor, é uma cantora sublime. Quem poderá ficar indiferente à sua interpretação em concerto (ao vivo, no Covent Garden, em 2001, dirigida por Ion Marin, EMI Classics) da aria desta ópera Ecco respiro appena. Io son l’umile ancella. É um dos momentos marcantes da beleza transcendental do canto lírico.
- Tannhäuser (Wagner) em Dezembro (11, 15, 19, 22, 27 e 30) de 2010 e Janeiro (2) de 2011. Mais uma produção nova, de Tim Albery (que impressionou com a produção do Navio Fantasma em 2009 na ROH) com cantores notáveis, incluíndo o excelente heldentenor Johan Botha que assumirá o papel de Tannhäuser, a grande soprano Eva-Maria Westboek como Elisabeth e a mezzo Michaela Schuster como Venus.
- Il Barbiere di Siviglia (Rossini) em Janeiro (18, 21, 24, 26, 29 e 31) e Fevereiro (2, 5 e 8) de 2011. Uma produção animada de Moshe Leiser e Patrice Caurier que já viu melhores intérpretes (por exemplo na temporada passada!) mas que, ainda assim, inclui nomes que merecem referência, como Aleksandra Kurzak, Bruno Praticò e Ildar Abdrazakov.
- Die Zauberflöte (Mozart) em Fevereiro (1, 3, 7, 9, 11, 16, 22 e 24) de 2010. Produção muito engraçada da Flauta Mágica, de David McVicar (3ª), sempre uma boa escolha.
- Anne Nicole (Turnage) em Fevereiro (17, 21, 23 e 28) e Março (1 e 4) de 2011, em estreia mundial.
- Aida (Verdi) em Março (11, 14, 19, 22, 26 e 30) e Abril (2, 6, 10, 13 e 15) de 2011. Uma ópera de grande espectáculo em mais uma encenação de David McVicar (4ª) com nomes como Micaela Carosi, Roberto Alagna, Olga Borodina e Michael Volle.
- Fidelio (Beethoven) em Março (29) e Abril (1, 5, 9, 11 e 16) de 2011. Ópera de grande intensidade dramática que conta com as interpretações de dois grandes artistas, Endrik Wottrich e, sobretudo, Nina Stemme, o que faz prever que esta seja um dos melhores espectáculos da presente temporada.
- The Tsar’s Bride (Rimsky-Korsakov) em Abril (14, 18, 20, 23, 27 e 29) e Maio (2) de 2011. Uma nova produção maioritariamente cantada por intérpretes russos. Força seguramente não vai faltar, já harmonia vocal …
- Werther (Massenet) em Maio (5, 8, 11, 14, 17 e 21) de 2011. No elenco está anunciado Rolando Villazón (que já impressionou neste papel mas, na actualidade, é uma incógnita) e a fantástica mezzo francesa Sophie Koch.
- Macbeth (Verdi) em Maio (24, 27 e 30) e Junho (3, 6, 10, 13, 15 e 18). Uma notável ópera de Verdi, a primeira baseada em Shakespeare que tem como principal motivo de interesse (e que motivo!) o barítono inglês Simon Keenlyside no papel principal.
- Tosca (Puccini) em Junho (7, 11, 14, 17, 20, 23, 28 e 30) e Julho (14 e 17) de 2011. Talvez o expoente máximo da temporada, uma das melhores óperas de Puccini e de sempre, conta com uma constelação inultrapassável de estrelas que incluem Karita Mattila, Martina Serafin e Angela Gheorghiu alternando no papel de Tosca, Marcello Giordani e Jonas Kaufmann como Cavaradossi e Juha Uusitalo e Bryn Terfel como Scarpia.
A não perder, sobretudo as récitas de Julho, que têm Angela Gheorghiu (como são só duas talvez não cancele), Jonas Kaufmann (foi arrasador neste papel há poucos meses no MET) e Bryn Terfel (o melhor Scarpia da actualidade)!
- Peter Grimes (Britten) em Junho (21, 24 e 27) e Julho (1 e 3) de 2011.
- Madama Butterfly (Puccini) em Junho (25 e 29) e Julho (2, 4, 8, 12, 15 e 16) de 2011. Mais uma produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier em que actuarão nos dois papeis principais os cantores americanos Patricia Racette (uma habitual em Cio-Cio-San) e James Valenti.
- Cendrillon (Massenet) em Julho (5, 7, 9, 11, 13, e 16) encerra a temporada. O conto de fadas que inspirou La Cenerentola de Rossini, numa nova produção de Laurent Pelly, dirigida por Bertrand de Billy e com um elenco feminino de elevada qualidade, liderado pela estupenda mezzo americana Joyce DiDonato, acompanhada pela contralto polaca Ewa Podles e e pela soprano cubana Eglise Gutiérrez.
Não posso deixar de recordar Joyce DiDonato que, no ano passado no Barbeiro de Sevilha também aqui em Londres, cantou (de forma soberba!) o papel de Rosina numa cadeira de rodas, após ter partido o pé na récita havida dois dias antes. Numa época em que as grandes divas da ópera cancelam muito facilmente espectáculos, o comportamento de DiDonato foi notável e um brinde para todosos que tivémos o privilégio de a apreciar.
(As fotografias apresentadas são do Season Guide 2010-2011 da Royal Opera House)
Há ainda óperas contemporâneas na Royal Opera House 2.
Toda a informação disponível em:
http://www.roh.org.uk/season/index.aspx
Sem comentários:
Enviar um comentário