sexta-feira, 19 de julho de 2019

LA FILLE DU RÉGIMENT, Royal Opera House, Julho / July 2019




 (review in English below)

Mais uma vez tive oportunidade de ver a opera de Donizetti La Fille du Régiment na muito engraçada encenação de Laurent Pelly



É um daqueles casos em que se transforma uma opera de segunda categoria num espectáculo excelente.



O maestro Evelino Pidò conduziu a orquestra e coro da Royal Opera House.






A Marie foi interpretada pela soprano francesa Sabine Devieilhe. Teve uma excelente presença em palco, muito ágil, expressiva e cómica. A voz é agradável, afinada mas relativamente pequena, o que é manifesto numa personagem vocalmente exigente como é o caso. Foi brilhante no início do 2º acto, na desafinação durante o ensaio de canto com a Marquesa, talvez o seu melhor momento.
Diz o programa que é uma digna sucessora da Natalie Dessay. Discordo, apesar da boa interpretação, não é comparável com a Dessay, essa sim, uma interprete absolutamente excepcional nesta personagem, que tive o privilégio de ver nesta produção e neste teatro há mais de 10 anos, contracenando com o Juan Diego Florez. A Dessay marcou indelevelmente esta produçãoo e penso que não será possível superá-la.



O Tonio foi o tenor Javier Camarena que também já tinha visto interpretar este papel. Em cena é um pouco pesado para o papel mas neste caso si, estamos face a um cantor absolutamente excepcional, sobretudo no registo agudo que lhe parece sair sem esforço, com notas estratosféricas sempre afinadas e num volume que se deve ouvir até fora do teatro. Fabuloso! Como sempre vi acontecer com ele, repetiu a aria dos 9 dós Ah! mes amis... mas, pela primeira vez na Royal Opera vi um cantor ser longamente aplaudido de pé em pleno primeiro acto. Um público em delírio completamente rendido à arte do cantor!



A mezzo albanesa Enkelejda Shkoza fez uma Marquesa de Berkenfield muito inspirada e, no 2º acto, foi insuperável no registo cómico. A encenação também ajuda muito.



O bom Sulpice criado por Pietro Spagnoli foi mais um intérprete de topo. Voz grande, afinada e sempre bem projectada. E uma presença em palco muito simpática, protectora e paternalista, como o papel exige.



Também Donald Maxwell foi óptimo na interpretação de Hortensius, o incompreendido mordomo da marquesa, inconformado com a presença militar no seu castelo.



A Duquesa de Carkentorp é uma personagem que não canta e é habitualmente atribuída a uma actriz consagrada um a uma grande cantora já retirada. Desta vez foi interpretada por Miranda Richardson, uma actriz britânica desconhecida para mim. Já vi bem melhor neste papel.

Foi um espectáculo muito divertido e agradável que ilustrou bem que a ópera também pode ser uma festa alegre e muito cómica.








Até o BJ não resistiu a participar no coro J!




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LA FILLE DU RÉGIMENT, Royal Opera House, July 2019

Once again I had the opportunity to see Donizetti's opera La Fille du Régiment in Laurent Pelly's very funny production. It is one of those cases where a second-rate opera becomes an excellent show.

Maestro Evelino Pidò conducted the orchestra and choir of the Royal Opera House.

Marie was played by French soprano Sabine Devieilhe. Shee had an excellent presence on stage, very agile, expressive and comical. The voice is pleasant, tuned but relatively small, which is manifest in a vocally demanding character as is the case. She was brilliant at the beginning of the 2nd act, in the disenchantment during the singing rehearsal with the Marquise, perhaps her best moment.
It is said that she is a worthy successor of Natalie Dessay. I disagree, despite the good perfromance, it is not comparable to Dessay, that yes, was an absolutely exceptional interpreter of Marie, that I had the privilege to see in this production and in this theater more than 10 years, opposite Juan Diego Florez. Dessay has indelibly marked this production and I think it will not be possible to overcome her.

Tonio was tenor Javier Camarena who I had also seen playing this role before. On stage he is a little heavy for the role but in this case yes, we are faced with an absolutely exceptional singer, especially in the top register that seems to be sung without effort, with stratospheric notes always tuned and in a volume that must be heard outside the theater. Fabulous! As I have always seen with him, he gave an encore the aria of the nine high Cs Ah! mes amis ... but for the first time at the Royal Opera I saw a singer receiving a long standing up applause within the first act. A delirious audience completely surrendered to the singer's art!

Albanian mezzo Enkelejda Shkoza was a very inspired Marquise de Berkenfield and, in the 2nd act, was unsurpassed in the comic register. The production helps a lot.

The good Sulpice created by Pietro Spagnoli was another top performer. Great voice, tuned and always well projected. And a very nice, protective and paternalistic stage presence, as demanded by the character.

Donald Maxwell also excelled in the interpretation of Hortensius, the nonconformist butler of the Marquise, unhappy with the military presence in his castle.

The Duchess of Carkentorp is a character who does not sing and is usually attributed to a consecrated actress or to a great singer already retired. This time was played by Miranda Richardson, a British actress unknown to me. I've seen much better in this role.

It was a very fun and enjoyable performance that illustrated well that the opera can also be a cheerful and very comical party.

Even BJ could not resist participating in the choir ☺!


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1 comentário:

  1. Pena os cantores / produções na ROH, serem há anos amplificadas.

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